E então, a Lua escrita por Giu


Capítulo 1
Ela




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Então ele acordou. Sentou-se na cama abraçando os braços, respirou fundo, sentindo seu aspiro frio. Olhou pela janela, e viu os flocos de neve se aglomerando em sua sustentação. Piscou, e esfregou os olhos. A claridade pálida do dia estava cegando-o. Levantou-se e andou pelo quarto, querendo esticar as pernas e os braços. Esperou a preguiça passar. Vestiu-se com sua roupa de corrida, e deu uns pulinhos no quarto para se aquecer.

Quando desceu as escadas, Zeus, seu Husky preto e branco de um olho azul e o outro cinza, estava deitado no sofá, esperando que Matt acordasse. Ouvindo os passos do dono, o cachorro levantou a cabeça, e correu até ele, fazendo festa. Matt sentou-se no chão frio, e brincou com ele. Esperou o cão aquietar-se, para se levantar e comer uma barra de cereal e para depois correr. Finalmente tendo alimentado-se, colocou a coleira em Zeus, seus fones de ouvido, e saiu.

Na rua de sua casa, a brisa fria corria pelo seu rosto, e ele sentia a liberdade. "If I lose myself tonight, it would by your side. If I lose myself", ele deixava a música correr por suas veias e deixava que tomasse sua velocidade. Matthew não teve medo de nada naquela hora. Deixou-se levar como o vento levas as folhas. Sentiu-se direito dele mesmo, mas algo tirou sua atenção. Então, olhando para o lado, tinha uma mulher de cabelos presos, correndo no mesmo ritmo que ele. Ele acelerou mais a corrida, e assim fez ela. E em momento algum, ela olhou para o lado. Então ele acelerou mais, e ela fez o mesmo. Indignado com a atitude infantil dela, ele virou em direção oposta com o cão, e voltou correndo para casa.

Chegou em casa chateado. Que mulher era aquela? Pelo amor de Deus. Quem em plena sã consciência faz aquilo? Ele tirou a coleira de Zeus, e depois foi tomar uma ducha. Quando a água escorreu pelos seus ombros, molhando seus cabelos, suas costas, escorrendo pelo seu corpo, apoiou sua testa na parede. Quem era aquela mulher?, perguntou-se novamente. Louca? Sim, ela era, para fazer algo daquele tipo. Deixou sua mente ser engolida pelos seus pensamentos. Tendo saído do banho, enxugou-se e foi para o quarto, trocar-se. Deparou com o cão deitado na cama. Matt beijou a cabeça de Zeus, e logo recebeu uma mensagem no celular

"Não se esqueça de que você tem de ir ao terapeuta hoje. Vai ganhar nova medicação.

Mamãe."

Quando leu o texto, irritou-se consigo. Por que ele tinha que ter atacado aquele homem no bar? Então a imagem daquela noite apareceu na sua mente: ele espancando o homem que havia lhe agredido verbalmente. Mãos surgindo de todos os lugares para tirá-lo de cima daquele imbecil. Ninguém conseguiu. Então recebeu um soco no rosto, e ficou um pouco desnorteado, porém, seguiu com a sessão de socos. Até que sentiu uma furada ardente em sua nuca. Dor infernal descendo-lhe todo o corpo e subindo à cabeça. Desmaiou.

Vestindo um casaco e roupa de frio, saiu de casa e foi até o carro. Deu um suspiro, e foi direto ao terapeuta. Chegando lá, o escritório estava vazio, e ele agradeceu por isso. Não gostava muito da companhia das pessoas, nem gostava de muito barulho em um lugar só. Ele perdia a cabeça, e acabava quebrando tudo o que via pela frente. Roman, o terapeuta, o chamou e Matt fez uma careta. Levantou-se vagarosamente, fazendo questão de mostrar ao médico de que não queria estar ali.

Entrando na sala, sentou-se novamente no divã espaçoso, e Roman acomodou-se na cadeira que ficava de frente para o sofá. Matt sentiu-se desconfortável como sempre. Ninguém precisava saber da sua vida, nem de seus hábitos, nem o que pensa. Mas era puramente obrigado a aguentar aquela mesma burrice duas vezes na semana.

As pessoas disseram a ele que era bom, que ele ia se sentir renovado, mais leve. E tudo o que ele mais sentia era desconforto. Nada de leveza, nada de renovação. Ele ficou observando a sala, como sempre. Não queria começar falando. Não tinha assunto, não queria estar ali. O cômodo era cinza, com uma estante de livros no canto da sala. Móveis brancos com esculturas de argila, de ferro, de pedra. Todas pequenas, e seguidas de jarros com plantas. Era tão zen, que o irritava. Então começou a balançar a perna, sem paciência. Roman o analisou de baixo a cima, e resolveu falar:

– Então, Matthew. Como estão seus sintomas?

– O que?

– Seus sintomas.

– Ah, sim. Estão indo.

– Indo como?

– Somente indo.

– Olha, Matthew. Eu sei que você não quer estar aqui, mas você sabe que seu tratamento é necessário. Preciso saber, pra te recomendar os remédios certos.

Depois dessa frase, Matt ficou mais irritado do que já estava. Bufou, cruzou os braços e emburrou a cara.

– Estou sem remédios.

– Eu sei. Por isso que eu marquei para que você viesse hoje. Sei quando eles vão acabar e quando você vai precisar deles. - Roman diz, e o paciente revira os olhos.

– Tenho visto coisas.

– Que tipo de coisas?

– Hoje eu fui correr com Zeus, e uma mulher apareceu do meu lado, correndo.

– E como ela era? Ela era daquelas que você geralmente vê?

– Não... E-ela era bonita. Muito bonita.

– Muito bonita de que jeito?

– Não sei explicar... E eu também não sei se ela é de verdade.

– Então por que na próxima vez que você encontrá-la, você não tenta puxar um assunto, e me fala quando vier novamente?

Então, eles passaram mais vinte minutos conversando. E depois daquela consulta, Matt sentiu-se renovado como nunca. Roman lhe deu um potinho laranja com uma certa quantidade de remédios.

– São soníferos. Você tem que tomar dois uma vez por dia quando achar que precisa dormir. Esses derrubam de verdade. Recomendo que tome ou a tarde, ou a noite.

Andando para o carro, Matt brincou com o potinho, escutando o barulho dos remédios enquanto o chacoalhava. Então ele entrou no carro e pensou um pouco. Valeu mesmo a pena ter ido. Ele guardou o recipiente no bolso e sorri consigo mesmo, mas balançou a cabeça, como se quisesse voltar a realidade. Como se aquilo não pudesse realmente estar acontecendo. Mas ele sabia que estava, e seu orgulho não queria assumir isso.

Quando chegou em casa, foi diretamente para a cama. Deitou-se de bruços pensando no dia. Sua cabeça estava latejando, e suas pernas estavam doloridas, mas ela não saía de seus pensamentos. Ele ficou pensando nela. Pensando se ela não era uma alucinação, ou qualquer coisa do gênero. Sua cabeça estava muito confusa. Havia mais de quatro meses que ele não flertava com alguém. Especialmente uma mulher tão bonita. Tomou um ar e decidiu que da próxima vez que ele a visse, falaria com ela. Sem medo, e sem vergonha.

Cansado do dia, apenas quis dormir. Então, pegou o recipiente com os remédios, e engoliu duas cápsulas. Depois disso, deixou o corpo tomar conta e envolvê-lo no sono que se aproximava lentamente. Imagens dela apareceram em sua mente. Seus cabelos balançando, a velocidade que ela corria, seu maxilar inferior rígido... As pálpebras de Matt estavam fechando, e finalmente, embalou-se no sono e na aparência da moça misteriosa que tinha de alguma maneira o tinha ganhado.


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