Posso dizer que as aulas passaram normalmente, pelo menos como tinham sido nos últimos meses, mas com um clima de depressão a mais. Ninguém dizia nada, muito menos eu. Apesar de toda a tristeza, antes que pudéssemos perceber, o horário de almoço havia chegado. Caminhamos até o refeitório e cada um foi buscar sua própria comida.

Nos sentamos em uma mesa um tanto isolada. Observei todos, olhando para baixo, mexendo no prato com o garfo. Como uma boa coiote, eu não despediçava comida, então em poucos minutos meu prato estava vazio.

Aquele clima acabou me irritando um pouco. Passei tanto tempo sozinha, e quando finalmente volto a conviver com pessoas elas ficam em silêncio. Pode parecer um pouco de egoísmo, mas eles não entendiam. Eu não sou do tipo que confia em qualquer um, que conversa com qualquer um, só que o Stiles tinha alguma coisa...ele era especial. Naquele momento me senti mais sozinha do que nunca.

Olhei ao redor, tinha tanta gente ali. A maioria das pessoas eu nem conhecia. Voltei os olhos para a nossa mesa. Acho que esse é o pior tipo de solidão: no meio de várias pessoas. De certa forma, me parecia mais agradável ficar sozinha do que ali com eles. Talvez isso significasse que, lentamente, eu estava saindo do bando.

Espantando esse pensamento, resolvi quebrar o silêncio.

— Eu não acredito que já fazem seis meses.

— Pois é. — todos concordaram, sem muita vontade de conversar.

— Eu sinto falta dele.

Senti meus olhos marejarem. Me lembrava perfeitamente de cada detalhe do rosto de Stiles, de como era bom estar em seus braços. Ele era o que me mantinha sã e longe de confusão. Passei 8 anos na floresta, sozinha, não sabia como lidar com a maioria das coisas que enfrentava diariamente. E sem ele, tudo piorou.

Cada dia era mais difícil, a saudade só aumentava. Acho que o pior era que ninguém sabia o que realmente tinha acontecido. O último que o viu foi Scott. Ele nunca nos contou o que aconteceu naquela noite, e eu não o culpo. Novamente, senti o vazio que ele deixou e não consegui mais segurar as lágrimas.

— Malia... — Scott começou, mas eu saí correndo.

Eu odiava chorar na frente das pessoas, independente de quem fossem. Me sentia fraca e vulnerável. Assim que cheguei no corredor, encostei minha cabeça em um armário qualquer e respirei fundo. Acho que não haviam passado nem dez segundos, quando ouvi passos no meio do corredor vazio. Sabia que eram eles.

— Todos sentimos falta dele. Até eu que não o conhecia há tanto tempo. — Liam tentou me acalmar, colocando uma mão no meus ombros.

Finalmente, decidi falar o que já pensava haviam muitos meses.

— Eu não sei se consigo.

Não precisei nem ver para saber qual a reação deles. Todos sabiam ao que eu estava me referindo: talvez fosse mais fácil voltar a viver como um coiote, na floresta. Sozinha.

Esse tipo de acontecimento não era incomum. Eventualmente, alguém chorava ou quebrava tudo o que via pela frente. Cada um agia de uma maneira diferente. Era impossível evitar as lembranças de Stiles quando olhavamos para os armários, o campo, a reserva ou qualquer outro lugar da cidade. Todos passamos por muita coisa, alguns mais do que outros. Lydia, Stiles e Scott perderam Allison, Aiden e Isaac foi embora. Realmente, não conheci nenhum deles, mas imagino que foram especiais. Mesmo assim, apesar da dor, eles se mantiveram unidos. Era um pouco estranho que eu estivesse a ponto de desistir, só que nessa situação era diferente.

Mesmo que ninguém percebesse, Stiles era uma parte importante do bando. Todos eram, na verdade. Só que ele era a nossa “cola”, o humano, o equilíbrio. Acho que, aos poucos, cada um achava um novo equilíbrio, menos eu. Para mim, Stiles era mais do que insubstituível

Assim como Allison fora a “âncora” de Scott, Stiles era a minha. Eu estava cada dia mais confusa, mas procurava não demonstrar. Até aquele momento, todos achavam que eu estava aguentando.

— Posso falar com ela? A sós? — Scott pediu aos outros, que logo se afastaram.

Me sentei no chão, com as costas apoiadas nos armários, ele fez o mesmo.

— Eu sei o que você vai dizer. “Todos sentimos falta dele, mas você tem que aguentar. O Stiles não gostaria de te ver desistindo dsse jeito.”

— Também. Apesar de não gostar muito quando as pessoas falam desse jeito, elas fazem parecer que ele...

— Está morto. — completei e ele assentiu. — Ele não está morto, sei que não está.

— Eu acredito em você. E sei que é muito ruim não saber o que aconteceu, só que eu acredito que ele está em algum lugar tentando voltar para casa, para nós. E quero que você acredite nisso também. Vou entender se você quiser ir embora, mas peço que pense bem nisso.

Dito isso ele se juntou aos outros e eu fiquei ali. Para ser sincera, não sabia bem o que fazer. Eu sabia que ele não estava morto, mas era provável que ele nunca mais voltasse. Parte de mim queria simplesmente desistir, a outra parte queria ficar, pois logo tudo melhoraria. Não sabia em que lado de mim confiar, mas acabei tomando uma decisão.

Esperaria mais alguns dias, ver como as coisas aconteceriam. Infelizmente, antes que eu pudesse comunicar isso ao resto do bando, o sinal tocou e em poucos segundos o corredor já estava cheio de alunos. Com um pouco de dificuldade, encontrei os outros e fomos andando até a sala de aula.

De repente, ouvimos uma batida forte. Olhei na direção do barulho e percebi que a porta havia sido aberta. No primeiro momento achei que eu estava delirando, mas olhando para os outros percebi que não, aquilo era real.

O Stiles estava ali.