Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 27
Capítulo 26 - Recital


Notas iniciais do capítulo

Olá, gemtiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii o/
Desculpem a demora, mas esse capítulo aqui tinha que ser caprichado.
E foi até demais, considerando o tamanho dele.
Leiam as notas finais, plox.
Espero que gostem.



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Alguém estalou os dedos diante dos meus olhos: Jaden.

— Alguém está viajando em uma viagem — ele observou, sorrindo. Clint estava na outra janela, dando um cochilo. Os Pendlebury estavam na frente, Robert dirigindo, Adele também dormia.

— Só pensando um pouco. Diria que estou um pouco ansiosa.

— Não vai ter nada demais.

— É um recital da filarmônica de Sacramento, Jaden. — lembrei, sorrindo de lado. — Vai ter muita gente.

— Vai ser legal.

— Certamente.

Bem, resumo: Dave estava no outro carro, um Dodge Caravan cinza, juntamente com Ben, Mel e o pai de Clint. Carol disse que iria com Thomas depois e minha mãe iria com eles a Sacramento.

As duas semanas que se passaram foram tranquilas. Mel e Ben eram duas personalidades fortes, o que fazia que eles tivessem alguns choques de opinião, porém nada que fizesse com que eles terminassem. Vi Dave escrever um poema e descobri que ele escrevia para uma garota, mas acabou que não conseguiu nada com ela. Acontece. Finalmente criei coragem para pegar a minha bicicleta na loja. O dono da loja achou que eu nunca mais iria, mas é: agora, eu tenho uma bicicleta.

Clint finalmente criou coragem para dizer ao seu pai que estava namorando um cara e era nisso em que eu estava pensando quando Jaden chamou a minha atenção. Mr. Harrington foi muito compreensivo com o filho e tudo o que prevaleceu foi amor e respeito. Aparentemente, ele gostou de Donald e a recíproca foi verdadeira.

— Está tudo bem? — Jaden perguntou.

— Ah, claro, só gosto de olhar a paisagem.

Estávamos viajando na sexta-feira à tarde, quase de noite e o recital seria no sábado à noite. Eu não estava muito bem, para ser franca, a respiração estava um pouco incompleta.

— Só estou estranhando. Está tudo tão quieto. E também estou um pouco nervoso. Último recital e tudo o mais.

— Compreensível. — sorri. — As pessoas são legais?

— Claro. A maioria. Porém tem Mark, um pianista um tanto... Intrometido.

— Ele não deve ser tão ruim, Jaden — Mr. Pendlebury interveio.

— Vai por mim, pai, ele é ruim sim. Não costumo ter raiva de pessoas, mas Mark Curtis é uma exceção.

— Caramba... para você ter raiva de alguém, esse cara deve ter feito algo sério — comentei.

— Mais ou menos. — Jaden olhou ao redor: — Estamos perto.

— Fico feliz por isso — Clint falou em um bocejo.

— Que bom que o belo adormecido acordou. — o violinista sorriu.

— Foi um bom cochilo.

— Bem queria — suspirei.

— Chegamos — Robert anunciou.

Paramos de frente a uma casa térrea simples e verde. Era uma residência bonita exatamente por não ter muitos adornos modernos. A divisão de camas foi simples: um quarto para nós, as garotas, e a sala para os meninos. Minha mãe, Thomas e Carol viriam no dia seguinte pela manhã.

Adele foi muito gentil, como sempre. Mostrou onde era tudo na casa com pouca mobília, mas aconchegante, e nos preparou um jantar ótimo, juntamente com o pai de Ben. Os Snakes e eu ficamos conversando sobre Sacramento até que decidi ir dormir.

Sonhei que estava na casa dos Callahan, na atual. Tudo calmo, ninguém nela. Caminhei na sala e estava tudo na maior tranquilidade, mas por que aquela sensação de desconforto e um formigamento na nuca estavam impregnadas em mim? Fui em direção a cozinha quando ouvi gritos abafados vindos do quarto de Mel.

— Fique quieta — ouvi o rangido da cama. — Fique quieta ou farei muito mais que sexo gostoso com você.

Era a voz do pai de Mel. Fui em direção ao quarto dela e a porta estava aberta. Como eu não notei isso antes? Entrei no quarto, mas o homem parecia não se incomodar com o que fiz, pois estava estuprando Mel sem nenhum senso de pudor. Tentei fazer algo, sem sucesso. A garota debatia-se na cama, amarrada na cabeceira e amordaçada. Seus olhos jorravam lágrimas e ela soluçava. Tudo ficou em câmera lenta quando ela finalmente tirou a mordaça movimentando a boca e gritou alto.

Acordei sentando na cama, o coração aos saltos, suada, a respiração ofegante. Olhei para o lado: Melinda dormia calmamente na cama que lhe fora cedida. Tentei reaver o controle, mas tudo em mim tremia. Calma. Foi só um pesadelo. Respirei fundo, situando-me. Casa de Jaden, Sacramento. Fiquei um tempo olhando ao redor, garantindo que estava tudo bem. Que. Sonho Horrível. Torci para que aquilo fosse uma possibilidade que não acontecesse.

Decidi ir à cozinha beber água. Precisava me acalmar. Andei pé ante pé, procurando não fazer barulho, cheguei à cozinha e comecei a procurar um copo.

— Droga. Não tem nenhum copo aqui? — sussurrei baixinho. Senti uma mão em meu ombro e gelei por dentro, com medo. Um copo apareceu diante dos meus olhos, uma mão segurando-o. Virei-me:

— Procurando por isso? — Jaden me olhava com um sorriso divertido. Levei a mão ao peito.

— Meu Deus, que susto. — murmurei, tentando deixar o alívio me dominar. Peguei o copo e quando fui enchê-lo de água, o copo quase caiu.

— Desculpe pelo susto. Não foi por mal.

— Imagino, mas não é muito bom tomar um susto depois de um pesadelo. — retruquei, meio irritada e nervosa.

— Desculpe — ele pediu mais sinceramente dessa vez. — Estou acordado desde às 3:00 a.m., sem fazer nada muito útil, até que vim escutar música no MP3 no quintal e tocar violino. Pode vir, se quiser.

Terminei de beber água, decidindo se ia ou não.

— Suas mãos estão tremendo —, ele observou.

— Está tudo bem. Só um sonho ruim. — Bem, mentir para mim mesma era melhor do que surtar.

— Vamos lá, Queen Marie — ele passou o braço por cima dos meus ombros. — Deixe-me presenteá-la com boa música para tentar acalmar os meus e os seus ânimos.

Seu perfume estava diferente: cítrico ao invés de amadeirado. No pequeno quintal, o clima estava frio. Fiquei feliz por estar com meias, uma calça de frio e um bom casaco. Sentamo-nos na grama molhada.

— Estava tentando pegar essa música aqui — Jaden colocou os fones nas minhas orelhas e eu os ajustei.

Ele fez a música começar a tocar: música céltica. Um solo de violino acompanhado de um tambor e um baixo acústico, talvez. Em poucos segundos, já estava assobiando o solo de violino, porém parei e fechei os olhos, só querendo ouvir a batida constante e a música. Abri-os quando Jaden começou a tocar no violino a música que eu estava ouvindo. Ou tentando.

— Talvez seja uma ligadura ao invés do deslize — sugeri. Ele tentou e deu certo.

— É, verdade. — ele deixou o seu violino escuro em seu colo.

— Que música é essa? — indaguei, tirando os fones do ouvido.

— The Gael. Ela é a trilha principal do filme "O último dos moicanos". Ganhou um Oscar, se eu não me engano.

— Você já assistiu ao filme de história?

— Não sei se terei tempo próxima semana.

— O boxe está consumindo tanto assim o seu tempo?

Ele sorriu.

— Não. Pensando em arrumar um emprego.

— Um emprego? Que bacana! Seus pais já sabem?

— Ainda não. Já falei com um cara em Chinatown. Um pouco rígido, mas me deixou ser organizador de prateleiras na loja de enlatados dele. Quero ver se consigo dinheiro para morar só.

— Acho que sua mãe vai surtar se souber disso.

— Vai mesmo. Mas sei lá, não posso ficar o tempo todo no mesmo teto sem fazer nada. Para a faculdade, eles já estão juntando dinheiro há anos, mas... e para viver? Queria alguma garantia. Começarei segunda-feira.

— Você gostaria de estudar onde?

— Antes das faltas não justificadas, queria ir para Harvard, mas acho que vou ter que me conformar com alguma de Vancouver. Ou o MIT, não sei.

— Você é de biológicas, o que quer fazer no MIT?

— Eu sei lá! — Ri com a frase dele. — Só parece uma ideia legal. Massachusetts, o lugar onde minha mãe me teve. Ia ser tão... voltar às origens.

— É. — olhei para o chão, pensando na ilusão em que ele estava mergulhado. — Qual é o lance das faltas não justificadas?

— Eu era muito retardado. Faltava aulas para andar por Sacramento. Não era lá muita coisa, mas...

— Certeza de que era só isso? — questionei séria, olhando sua expressão receosa. — Há qualquer coisa sobre o seu passado que você parece não gostar.

— Eu... não sei se devo. Talvez algumas coisas devam ser guardadas para nós mesmos, não? Você parece entender isso.

Desviei o olhar para a grama.

— É, eu entendo.

— E você, o que pensa em fazer?

— Você é a segunda pessoa que me pergunta isso e a resposta é a mesma: eu não sei. Gosto de desenhos, gosto de física quântica, gosto de treinar arquearia. Nada disso parece muito útil.

— Você poderia ser engenheira, arquiteta, física teórica, do exército, projetista de pontes.

Sorri com a última sugestão. Era uma referência a ponte de macarrão que apresentamos na quarta-feira. A nossa aguentou 70 kg e foi a campeã. Nosso professor de física mandou que construíssemos uma ponte usando espaguetes. O que fez a nossa aguentar esse peso todo? Física, claro. E eu desenhei todo o planejamento e o modelo da ponte.

— Ah, por favor, não foi grande coisa — desdenhei. — O pessoal da Okanagan College nos deixa no chinelo. Eles fazem pontes que aguentam mais de 100 kg.

— O fato de fazerem algo melhor do que você faz não significa que você não seja incrível.

— Tão inspirado às 5 da manhã...

— Nem tanto. Enfim, vou só tocar violino.

Jaden pegou o seu violino e tocou The Gael, parecendo concentrado. Fiquei ouvindo a música de olhos fechados, me perguntando a reação dos Lancaster se eles reencontrassem seu filho.

"Quando", Elizabeth corrigiu na minha cabeça.

"O quê?"

"Quando e não se. Eles vão se reencontrar, é um fato".

"Ok, é um fato. Bom dia".

Bom dia”, ela respondeu em sua costumeira educação.

Suspirei, abrindo os olhos e vi o sol começando a nascer. Jaden continuava tocando, dessa vez os olhos semicerrados, envolto na música, executando-a com dedicação. Os cabelos loiros balançavam com os movimentos sutis, algumas mechas finas pairando na testa e próximo ao nariz reto. Sua respiração estava em sincronia com a música. Era algo bom de se ver. Tudo tão tranquilo...

— Talvez seja melhor tentarmos dormir, não? — sugeri.

Ele parou de tocar.

— Hã? — Repeti a pergunta e ele respondeu: — Não sei. É bom ficar assim. Sempre gostei do amanhecer. É bonito de ver.

— Verdade. Algumas vezes valeu a pena ver o amanhecer, em outras, o preço foi alto demais.

— Insônia não deve ser algo fácil, hein?

— É, não é. — dei de ombros. — Espero que hoje seja legal.

— Acho que você tem esperança nisso, certo? Não teria viajado quatro horas para um lugar desconhecido se não esperasse isso.

— É. — sorri sem graça.

— Algum problema?

Suspirei, passando a mão nos meus cabelos, um pouco angustiada, pensando em meus pesadelos, nas coisas que podiam acontecer, nas visões que eu tinha, no quanto eu sentia dificuldade vez ou outra em ser normal, me preocupar com coisas normais, como namorados, erros comuns, possíveis empregos e festas.

— Ah, só a respiração um pouco incompleta, mas ficarei bem. — Não era necessariamente uma mentira, mas não a verdade.

— Já tomou algum remédio?

— Lembra-se do que eu lhe disse sobre medicação? — cruzei os braços.

Jaden sorriu:

— Sim.

— Pois é.

— Mas você deveria tomar seu remédio. Bem-estar, não morrer e tudo o mais.

— Minha mãe cuidará disso quando chegar.

— Teimosa.

— Bastante.

— Acho que acatarei sua sugestão. Não podemos nos dar ao luxo de ficar com sono no meu recital.

— Verdade.

Entramos e cada um foi para o seu respectivo quarto.

************

Ouch! — reclamei com Melinda, que apertava o penteado.

— Já estou terminando. Tente manter a cabeça quieta. — Bufei, aborrecida. — Está acabando, garota, só calma.

Olhei-me no espelho da casa dos Pendlebury: batom vermelho cereja, maquiagem leve, vestido verde escuro tomara-que-caia de cetim com um xale de tecido fino indo até o joelho, salto dourado, unhas pintadas de rosa claro. Aquilo era tão... diferente. Gostava dos jeans e do meu tênis com amortecedor, mas nada como se sentir bonita de vez em quando.

— Terminei.

O penteado consistia na parte de trás do meu cabelo bem presa enquanto o resto ficava solto sob efeito do baby liss. E haja spray fixador.

— Graças a Deus — retruquei, me levantando da cama. — Vamos.

— Não seja chata, Shelly. — minha mãe colocou seus brincos. — Você está tão bonita!

Ela também estava. Vestido longo azul de um ombro só, os cabelos ruivos e ondulados, que iam até os ombros, soltos, o batom rosa choque com sombra mais escura.

— Posso dizer o mesmo sobre você, mãe.

— Obrigada.

— Melinda também está maravilhosa. — minha mãe considerou com os olhos brilhantes.

Bem, estava. Ela havia feito tranças na lateral da cabeça e deixado o resto do cabelo solto, usava um vestido vermelho.

— Obrigada, Ms. Revenry.

— Vamos.

Saímos do quarto e encontramos os garotos na sala. Clint penteava o cabelo, dividindo o espelho com Ben, Dave colocava os sapatos. Como o previsto, nem Adele nem Jaden nem Robert estavam à vista; Jaden, por participar da orquestra, precisava estar lá cedo.

— Belas damas — Ben nos cumprimentou.

— Você não tem ideia do quanto é estranho lhe ver sem sua jaqueta verde militar, Ben. — Mel comentou ao observar o fotógrafo em um terno.

— Você não sabe o quão estranho é estar sem ela — ele retrucou dando um beijinho na testa dela. Sussurrou algo em seu ouvido que a fez sorrir.

— Estão todos prontos? — Eve saiu da cozinha com seu marido.

— Eu estou. — Carol desceu as escadas com Thomas. Seu vestido bege estava deslumbrante e o senhor jovial estava elegante em seu terno risco de giz.

— Que pessoas bonitas! — ele comentou.

— O senhor é gentil. — Eve comentou.

— Vamos decidir quem vai com quem. — Thomas procurou nos organizar. — Robert me passou o local e estou com um GPS.

Os McCarthy levaram Clint, Ben, Dave e Melinda; Thomas levou Carol, minha mãe e eu.

Não demorou para que chegássemos ao espaço: um auditório e um salão de festas. Disseram-nos que aquele recital seria apenas para as famílias dos membros e seus convidados; mesmo assim, o auditório já continha um bom número de pessoas. Conseguimos um lugar perto da frente e vimos os músicos afinando seus instrumentos. Jaden estava conversando com três pessoas e parecia irritado com um cara. Talvez aquele fosse Mark. Ele finalmente pareceu nos notar e depois de rápidas palavras, veio falar conosco:

— Oi, gente. Caramba, vocês estão bem diferentes.

— Espero que isso seja um elogio, não algo como "vocês parecem extraterrestres" — Mel ergueu uma sobrancelha. Ben, Thomas e Clint abafaram uma risada.

— Não seja mal-educada, Melinda — Carol censurou.

— Você já sabe como ela é, mãe — Dave sorriu de canto. Até Mel sorria.

— Está tudo bem, meu filho? — Adele indagou.

— Já ensaiaram? — Robert perguntou.

— Está tudo bem e ensaiamos sim. Estamos afinando de novo os instrumentos. Acho que vocês vão gostar das apresentações. Todo mundo está bem animado e se dedicou para isso... enfim.

— Boa apresentação, Jaden — desejei educadamente. Todos desejaram o mesmo.

— Obrigado, pessoal.

Jaden se afastou de nós e voltou ao palco, voltando a conversar com o trio. Ficamos esperando as apresentações enquanto trocávamos algumas ideias. Algum tempo depois de o auditório ficar cheio, anunciaram que as apresentações iniciariam em 10 minutos. Sentamos em nossos cantos determinados e aguardamos. Um homem um tanto calvo e alto apareceu no palco:

— Boa noite a todos e bem-vindos as apresentações da Orquestra Filarmônica de Sacramento! Para os que não me conhecem, meu nome é Brian Robinson e eu sou o maestro da orquestra. Devo dizer que não será só ela que irá se apresentar; membros da orquestra também o farão. Nós esperamos que apreciem o espetáculo tanto quanto gostamos de prepara-lo. Obrigado.

As apresentações foram fantásticas. Houve duetos, trios, quartetos, a orquestra junta. Depois de tocarem a parte da primavera do Four Seasons de Vivaldi, uma mulher que aparentava ter uns 25 anos subiu ao palco e falou:

— Gostaria de cantar uma música para uma pessoa especial, que eu gosto muito e que, infelizmente, vai distanciar-se muito de mim. Jaden, Liza e Mark, vocês podem me ajudar a dizer o quanto amo Charles Sanchez?

Jaden entrou no palco com um sorriso do tipo "Não acredito que essa louca me pediu isso". Liza trouxe um violoncelo e Mark parecia bem tranquilo sentando-se ao piano. Nosso amigo deu uma piscadela para nós.

— Jaden está em todas — Clint brincou.

— O anjo xingador onipresente — Ben cruzou os braços, sorrindo.

O trio dos instrumentos ajeitou-se. Jaden ficou em pé e Liza sentou-se para tocar o violoncelo. "To Love You More" começou a ser tocada no violino de Jaden, com a linda realização do solo inicial. E então, a mulher começou a cantar muito bem:

            Take me back into the arms I love

            Need me like you did before

            Touch me once again

            And remember when

            There was no one that you wanted more

"Wow, ela canta bem", Elizabeth comentou em minha cabeça.

"É."

"Seus sentidos parecem... Distraídos, talvez? Estranhamente presentes e distraídos".

"Impressão sua".

A música chegou ao refrão com os solos de violino de Jaden:

            I'll be waiting for you

            Here inside my heart

            I'm the one who wants to love you more

            You will see I can give you

            Everything you need

            Let me be the one to love you more

"Ainda acho que você está estranha..."

"Gostaria de aproveitar a apresentação, obrigada".

"Ah, entendi. Uma fase de transição e desenvolvimento".

"Shh".

"Alguém está começando lentamente a cair nas teias da..."

"Não consigo lhe ouvir".

Ok, ok. Só não diga que eu não avisei”.

Elizabeth finalmente me deixou quieta.

            And some way all the love that we had can be saved

            Whatever it takes we'll find a way

 E então, chegou o solo principal da música. Jaden olhou a partitura, tocando com maestria e intensidade enquanto eu simplesmente me arrepiava dos pés à cabeça. Poderia dizer que tudo estava em câmera lenta, mas não estava. E então, ele fechou os olhos novamente.

            Believe in me

            I will make you see

            All the things that your heart needs to know

 

            I'll be... waiting for you

            Here inside my heart

            I'm the one who wants to love you more

            Can't you see I can give you

            Everything you need

            Let me be the one to love you more

A música chegou ao fim e choveram aplausos. Um cara subiu no palco e beijou a cantora. Provavelmente ele era Charles Sanchez. Os instrumentistas saíram discretamente do palco. Um cara falou ao microfone:

— Teremos um intervalo de 10 minutos enquanto a orquestra organiza-se para a apresentação final: a 4ª e última parte da 9ª sinfonia de Beethoven. Obrigado.

Levantamo-nos.

— Que apresentação! — Will exclamou, impressionado.

— Emocionante — Carol comentou.

— Maravilhoso. — Thomas concordou.

— Gente, que coisa linda. — Melinda comentou.

— A declaração? — indaguei.

— Tudo! — minha mãe e Mel responderam entusiasmadas. Fomos ao banheiro e, quando saímos, voltamos para os nossos lugares enquanto discutimos sobre as apresentações:

— E o dueto de saxofones juntamente com o coro de homens em Careless Wisper? — Adele comentou animada.

— Foi legal, embora o último cara do coral quase tenha caído ao sair do palco. — respondi rindo.

A última apresentação foi, como já esperado por mim, o quarto movimento da 9ª sinfonia de Beethoven. Jaden olhou para mim e eu sorri, dando-lhe o meu melhor olhar confiante. A orquestra foi incrível e houve a participação de um coral, o que deixou tudo melhor ainda. Choveram aplausos e as pessoas levantaram-se para fazê-lo. Quando a orquestra se recolheu e todos foram saindo para a área da festa, decidimos esperar Jaden.

— E então, conseguiu? — perguntei, um pouco ansiosa.

— Travei em umas notas, mas deu certo, não é? — ele sorriu, parecendo sem graça.

— Deu muito certo — retruquei sorrindo largamente.

Todos os que vieram de Vancouver o parabenizaram e seus colegas de orquestra também. Logo após, nos dirigimos a área aberta, que consistia em uma parte coberta, onde estavam as comidas, e uma parte com mesas, um palco com uma banda (talvez formada pelo pessoal da Orquestra) e um espaço no meio das mesas, provavelmente para dança. O local estava bem decorado com lanternas redondas de papel e flores.

Sentamo-nos a uma mesa e nos servimos. Tinha muita comida. Minha mãe, Mel, Thomas e Clint optaram por não comerem logo, foram dançar. Thomas era incrível. Um senhor dançando hip hop bem?! Chamou bastante atenção. Decidi levantar para dançar, mas nenhum dos garotos quis. Então Dave sugeriu um rodízio de garotos para as garotas (ou mulheres) que quisessem dançar. Dancei com Clint “You’re the one I want”. Estávamos meio tímidos no começo, mas demos um jeito nisso. E então, troca.

“Too much heaven” podia ser ouvida claramente pelos meus ouvidos enquanto Jaden e eu lentamente tentávamos começar a dançar. Acidentalmente, pisei em seu pé:

— Desculpe.

— Tudo bem, também tenho duas esquerdas quando o assunto é dançar, por isso que inicialmente não quis. Quer balinha de hortelã?

— Acho que depois de toda aquela comida, vou querer sim. — Quando abri a embalagem, reconheci a flexibilidade da guloseima: — É a minha preferida.

— Também! Gosto de morder minhas balas. — Seu sorriso foi tão espontâneo que me fez sorrir também. — Você está diferente.

— De uma forma boa ou ruim? — indaguei.

— Acho que só não estou acostumado a lhe ver assim, maquiada e com um vestido de gala.

— Por incrível que pareça, você combina de terno.

Ele gargalhou.

— Não sabia que você tinha uma veia humorística.

— Sério, depois de hoje... você toca muito bem. Acho que foi muito impressionante a apresentação com todo o show de luzes e música, foi tão... — suspirei, sacudindo de leve a cabeça. — Enfim, foi legal.

— De uma forma boa, acredito. — Demorei a entender que ele respondeu a minha pergunta. — Acho que nunca vi seu sorriso tão grande.

Acho que fiquei vermelha.

"Love is such a beautiful thing..." Elizabeth cantou em minha cabeça em conjunto com a música. Baixei meus olhos em conjunto com a minha cabeça.

— Quando vai dizer aos seus pais que você já tem um emprego? — mudei de assunto.

— Provavelmente segunda.

— Eu deveria fazer algo nesse sentido, mas não sei. Tudo parece tão insano.

— Você tem uma vida bem normal, até.

Abafei uma risada.

— É, mais ou menos.

Poucos segundos depois de aproveitar a música, ele comentou:

— Você está boa no arco e flecha.

— Você também está bom no boxe.

— É um hobby. — Depois de uns segundos em silêncio, ele agradeceu: — Obrigado por vir.

— Por que o agradecimento súbito?

— Não esqueço do tratamento nada gentil que lhe dei algumas semanas atrás.

— Ah, tudo bem, eu entendo. Digo, não é todo dia que o dia é bom.

— É. — ele baixou a cabeça e sorriu levemente.

— É uma boa música — comentei.

— Verdade. Aprendi tem um tempinho. Posso tocar para você depois.

"Que meigo, eu diria. Romântico, talvez?", Elizabeth comentou.

"Só fique quieta".

— Por falar nisso, você tocando "To love you more" foi uma surpresa.

— Beatrice é uma amiga, foi um prazer fazer esse favor a ela. Embora a música seja gay para caralho. — Franzi o cenho e acho que fiz uma careta. — Você não se conforma com a minha boca suja.

— De jeito nenhum — concordei. Ele riu:

— Ok, ok. A música não é nada máscula.

Sorri amistosamente e ele retribuiu, quase como se gostasse do fato de sorrir.

— Por que está sorrindo tanto? — questionei.

— Só estou feliz. Está sendo um bom momento.

— Parece-me tudo tão... Surreal.

— Bom demais para ser verdade?

— Mais ou menos isso.

A música acabou e ele me agradeceu pela dança. Ben me esperava para dançar.

— Impressão minha ou temos um casal se formando aqui?

— Só fique quieto, Benners.

Ele riu:

— Tudo bem, tudo bem.

— Como você está?

— Estou bem, eu acho. Mel está linda, meus pais estão dançando, meus amigos estão se divertindo. Ok, Mel fica um pouco zangada quando paro para tirar fotos, mas ela entende.

— Se você quiser tirar fotos, fique à vontade, estou um pouco cansada.

— Mas já?

— Não é todo dia que eu danço, certo?

— Vá sentar e comer algo.

— Mais do que já comi?

— Você comeu menos que qualquer um. Se eu tivesse seguro sobre meu intestino, eu comeria mais do que vocês todos.

Ri com a afirmação.

— Só vá tirar suas fotos, photoman.

Afastei-me para perto do balcão de comida, sem querer beliscar nada, mas acabei pegando um docinho. Vi minha mãe dançando e conversando com o maestro da orquestra. Subitamente, ela riu, divertida. Sorri, me divertindo.

— Sua mãe é um doce de pessoa. — Adele se aproximou de mim.

— Ah, sem dúvida. Um pouco sem parafuso, verdade, mas muito boa.

— Vi você dançando com Jaden enquanto dançava com Robert.

— Jaden é um cara legal. — dei uma resposta generalizada.

— Ah, claro. Sabe, acho que vocês são uma boa companhia para Jaden. Ele tem bons amigos.

— Fico feliz com isso — retruquei, observando Mel e Dave com seus parentes, Ben tirando fotos dos pais, que dançavam, Clint e Jaden conversando.

— Sinto falta das suas visitas, Shelly. — Sua sinceridade me deixou um tanto perturbada.

— De verdade?

— Por que não sentiria? Uma jovem discreta e ao mesmo tempo prestativa... acho que Jaden ficou muito grato com a sua ajuda.

— Talvez. Beethoven é o meu preferido, quis ouvir e ajuda-lo com isso. Enfim.

— Apareça lá em casa quando puder. As portas estarão sempre abertas.

Minha mãe aproximou-se de mim tão rápido que só a notei quando ela segurou meu punho:

— Shelly, nossa música!

Ela simplesmente me arrastou até o centro da área de dança como uma adolescente enquanto eu olhava para Adele apontando para minha mãe e meu braço. A mulher ria.

— Mãe, que música?

— Des yeux qui font baisser les miens... — minha mãe cantou ao mesmo tempo que a cantora do palco.

— Mãe...

— Un rire qui se perd sur sa bouche...

— Isso é sério?

— Voilà le portrait sans retouche...

Rendi-me à insistência de Mary Ann Revenry:

— De l'homme auquel j'appartiens...

E continuamos a cantar "La vie en rose" de mãos dadas. Foi praticamente meu primeiro contato com o francês. Minha avó, minha mãe e eu cantávamos essa música quando eu queria falar aquele idioma. Sem partes em inglês, a versão de Edith Piaf. Àgnes Revenry tinha um disco de vinil e uma vitrola.

Depois dessa música, dancei com Thomas, Dave, Ben e Clint. Quando fui dançar com Jaden, começaram a tocar Wonderwall. Sim, o repertório era bem variado.

— Foi divertido ver você e sua mãe cantando — ele comentou, sorrindo.

— Um pouco constrangedor, eu diria, considerando a minha completa desafinação.

— Sua mãe deu um jeito nisso. Por Deus, ela canta bem.

— Uma habilidade que não herdei dela.

Bem queria poder cantar bem ao invés de ver possibilidades.

— A genética é pouco generosa de vez em quando. Foi bom ver vocês cantando. Você finalmente pareceu estar em um lugar ao invés de seu corpo estar em um e sua mente em algum canto aleatório do universo. E parece agora.

Olhei para ele em dúvida. A frase fez tanto sentido na minha vida que temi que ele soubesse algo. Limitei-me a sorrir e baixar a cabeça, tentando desanuviar a imagem de Mel sendo estuprada da minha cabeça.

— Acontece. Talvez eu realmente queira estar aqui. Talvez eu esteja tentando fazer isso.

— Bem —, seu sorriso quase revelou alguma preocupação — Vamos só aproveitar que você está aqui, então. Não vou perder sua atenção essa noite, Queen Marie.


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Notas finais do capítulo

Jelly está melhor agora, não? ;)
Como vão, pessoas que chegaram até aqui? Vocês são guerreiros por terem lido 4500 palavras. Não gosto de fazer capítulos tão longos, mas quis fazer uma exceção com esse, por duas razões:
>Merecia;
>Pretendo finalizar a primeira parte no capítulo 30.
SIIIIM, faltam 4 capítulos para o fim da primeira parte! É PRA GLORIFICAR DE PÉ, IGREJA!!!
Se puderem torcer para eu passar em Letras Português no SISU, agradeço. Ou não, vou ficar sem tempo xD
Ah, sobre meu pc: meu namorado me emprestou a memória RAM dele, então o amem, porque sem ele, eu não teria postado hoje, e sim, amanhã! Thiago, seu lindo, te amo!
Estou animada por ter terminado esse capítulo :3
E é isso.
Críticas, comentários, sugestões, torcidas de shipp, desabafos e teorias da conspiração abaixo vvvvvvvvvvvvvvvv
Beijos e até o próximo o/



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