Apenas uma garota... escrita por Luana Nascimento


Capítulo 26
Capítulo 25 - Operação cupido


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO, GALERA o/
Tudo bem com vocês?
Nos vemos nas notas finais, onde trarei explicações.
Espero que gostem do capítulo :D



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Sonhei e o ambiente era um beco escuro, à noite. Vi dois garotos, um loiro e um moreno, sentados perto de uma caçamba de lixo, rindo. Ao olhar melhor, vi que eles estavam chapados.

— Melhor sensação! Acho que vou sair correndo! — o de cabelos negros gritou. O loiro riu:

— Você está viajando, cara. — a voz do loiro me soou animada e familiar. — Mas puta merda, essa é boa!

— Só imagino quando você injetar heroína, Jaden. Vai ficar loucão!

Jaden?! Ele me pareceu tão maltrapilho e sujo, tão... diferente. Os olhos agitados, os movimentos bruscos. Estava mais novo. Pareceu incomodado com a afirmação, mas ignorou.

— Só vamos fazer alguma coisa! Vou explodir se ficar parado.

— Agora!

Os dois saíram correndo sem rumo, rindo de nada.

O sonho mudou.

O cenário era a mesma casa simples e com pouca estrutura dos Callahan. Mel estava na sala, brincando com uma boneca.

— Olá, Mel — seu pai se aproximou.

— Oi, pai. — a menininha parecia temerosa. — O senhor não foi trabalhar?

— Estou de folga hoje. Sua mãe foi estudar, não sei para que ela quer isso.

— Eu gosto de ir à escola. Mamãe deve gostar também.

— Se você diz... — Então, ele fez algo repugnante: alisou um dos seios miúdos e crescentes da menina. — Papai vai sair agora. Volto já.

Melinda o olhou com um sorriso amarelo, parecendo incomodada, como se algo tivesse errado. E realmente estava. O homem sorriu e saiu.

Acordei em uma superfície macia. Quando me situei melhor, reconheci a sala de Mel e o seu sofá. Dave e Clint estavam em um saco de dormir, Ben abraçava Mel, Jaden estava no outro sofá. Eu ainda vestia a roupa de Samara. Fiquei sem entender o motivo de todos terem ido para dentro até ouvir a chuva batendo no asfalto no lado de fora. Ouvi passos e vi o Mr. Callahan na abertura que levava ao corredor.

— Bom dia, jovem coruja. — seu sorriso foi gentil. — Acordei você?

— Não, acho... acho que acordei só. — respondi, um pouco atordoada.

— Cheguei não faz muito tempo, minha filha já chegou, estamos comendo. Quer se juntar a nós ou quer dormir mais um pouco?

Jaden ajeitou-se no sofá, a respiração pesada.

— Acho que me juntarei a vocês.

— Está tudo bem? Não sei se você acredita nessas coisas, mas você dormindo tem uma variação de energia bem incomum, pequena coruja.

Eu não sabia se sorria por ele lembrar ou se me preocupava com o fato dele ter notado algo estranho comigo.

— Está tudo bem sim, obrigada. Acho que vou só lavar o rosto antes. Tomar banho.

— Fique à vontade.

Ele se afastou e eu fiquei olhando para Mel e Ben, parecendo um completar o outro. Estava tão distante daquele sonho, daquela época em que ela era assediada... senti raiva. Ela era apenas uma menina, o que passou pela cabeça imunda daquele homem?

"É revoltante, não?" Elizabeth apareceu depois de seu tempo de sumiço.

"Elizabeth!", exclamei mentalmente. "Você mal apareceu ontem!"

"Quis que você vivesse um pouco".

"Mas sim, é revoltante", respondi. "Meu Deus, ela era uma garotinha! Mal tinha traços de adolescente!"

"Há pessoas que sentem tesão pela inocência".

"Mas querer algo com a própria filha... Mel é forte".

"Depois que ele chegou em casa bêbado, teve uma briga feia e ela não queria mais viver ali, então fugiu de casa, foi para Oklahoma. A avó dela a escondeu durante os quatro primeiros meses até Thomas descobrir. Mais dois meses e ela teve que voltar para casa... você vai ver isso depois".

Senti lágrimas de revolta e tristeza encherem meus olhos.

"Em pensar que existem situações como essa e até piores..."

"E existem mulheres reagindo. As revoluções femininas estão chegando".

Desviei minha atenção para Jaden, que jazia deitado no sofá grande. A respiração bem-feita e um tanto ruidosa indicava o sono profundo em que se encontrava. O braço definido por cima da testa e as pernas para fora do estofado lhe empregavam um ar relaxado, tranquilo.

"Então esse é o seu segredo. Ele já foi usuário de drogas".

"Como ele mesmo já disse, ele não se orgulha muito disso".

"Por quê?"

"Ele já teve uma fase meio... rebelde".

"Como ele saiu dessa?"

"Só ele poderá dizer. Ah, uma coisa: se você juntar a conversa de ontem com esse segredo, terá o motivo do seu afastamento".

Procurei pensar. Jaden usava drogas, mas ele também salvou minha vida. Revisei toda a conversa com os snakes e a do sonho, tentando encontrar algo em comum.

"Nada?"

"Parecem conversas completamente diferentes".

"Tente de novo".

Ok, vamos tentar. Elementos do sonho: garotos, drogas, agitação, pensando em injetar heroína, corrida noturna. Elementos da madrugada louca: corte na perna, torniquete, curativo, doação de sangue com uma seringa... injetar, seringa. Seringas são descartáveis e provavelmente faltou uma seringa na maleta de primeiros socorros.

"Os Pendlebury acharam que ele tinha voltado a se drogar".

"Não foi tão difícil".

"Por isso que... Nossa".

"Vá logo tomar banho".

Procurei minha mochila, encontrei tudo o que precisava: roupas, toalha, escova de dentes, escova de cabelo. Entrei no banheiro, ainda impressionada com os fatos descobertos. Só relaxe. Deixei a água descer pela minha cabeça até o resto do meu corpo, lavando-me. Escovei meus dentes, vesti-me, saí do banheiro. Carol e o avô de Mel esperavam por mim:

— Bom dia, Shelly. — Carol cumprimentou.

— Bom dia. Tudo bem?

— Ah, claro. Só uma cirurgia difícil, mas nada que não se resolva. Acho que você dorme muito pesado. Ainda estava fantasiada quando cheguei!

— É, fiquei muito cansada depois da festa. Queria saber como me trouxeram para dentro.

Mr. Callahan riu.

— Será que alguém bebeu?

Sorri.

— Não, não bebi. — Como mentir descaradamente: só aprendam. — Só tenho o sono meio pesado.

— Certo. — Carol piscou. — Como foi ontem?

— Divertido. Ben e Mel dançaram bastante, mas dançamos também, venci o concurso de fantasia...

Fui discorrendo sobre a festa, sobre o cozimento de marshmallows no fogo das velas, procurei as fotos e os Callahan sorriram com a foto de Mel e Ben rindo um para o outro.

— Ela olha para ele como minha esposa olhava para mim — o avô de Mel comentou alegre.

— Verdade — Carol concordou. Ouvimos passos e Clint apareceu na cozinha, os cabelos molhados.

— Bom dia — ele cumprimentou, amigável.

— Bom dia, Clint — os Callahan cumprimentaram-no quase ao mesmo tempo.

— Dormiu bem? — Carol indagou, simpática como sempre.

— Sim, embora pouco. São o que, nove da manhã?

— 9:17 a.m. — o avô de Mel respondeu, olhando o relógio.

— Fomos dormir já era praticamente de manhã. Shelly, que sono pesado é esse? Jaden te carregou para dentro no maior temporal e você estava apagada!

— Sério?! Ah, meu Deus, que horrível!

Todos riram.

— Acontece — Mr. Callahan me defendeu. — Tem dias que estamos mais cansados.

— Ontem foi o meu — afirmei, tentando encerrar o assunto. — O que tanto vocês conversaram depois que eu dormi?

Fomos conversando e comendo. Ben juntou-se a nós depois de um tempo.

— Bom dia — ele pareceu-me um pouco sem graça. — O cheiro das panquecas me acordou.

— Bom dia, Ben! — Carol sorriu mais que o comum. — Sente-se. Precisa de algo?

— Ah, não, obrigado. — ele pareceu sem graça. — Só comer algo, como sempre.

Sorrimos com o bom humor.

— Shelly, você dorme como uma pedra. — Ben comentou depois de mastigar um pedaço da panqueca desejada.

— Podemos parar de falar sobre mim e meu sono pesado? — pedi. — Obrigada.

Todos riram.

— Bom dia. — a voz de Jaden soou rouca e os cabelos bagunçados lhe empregaram um ar sonolento. — Só quero água.

— Pode pegar ali, na geladeira. — Carol permitiu. — Tem copo no armário do lado.

— Está tudo bem, Jaden? — perguntei, preocupada.

— Acho que minha garganta inflamou um pouco ou estou resfriado, não sei. — ele respondeu antes de beber água. Depois de engolir, continuou: — Se vocês não se incomodam, vou dormir mais um pouco.

— Quer uma aspirina, filho? Talvez um chá — Thomas sugeriu.

— Agora não, muito obrigado.

— Posso medir sua temperatura? Você parece tão mole, querido.

— Tudo bem — ele concordou, aproximando-se da mulher, que encostou sua mão na testa dele e no seu pescoço, dando seu veredito logo depois:

— Está febril. Quer ir para uma cama? É mais confortável.

— Você pode dormir na cama de Dave, cara — Clint sugeriu.

— Pode ser.

— Naquela porta ali — Carol apontou para a primeira porta a esquerda da cozinha.

Jaden agradeceu e encaminhou-se para o quarto, esticando o corpo.

— Ele pareceu um zumbi de Thriller. — Ben brincou.

— Ben!

— Relaxe, Shelly. Até eu me senti assim quando fiquei doente.

Conversamos sobre aleatoriedades até que Mel cumprimentou:

— Bom dia. Que chuva boa que caiu hoje de manhã. Deixou tudo tão friozinho...

— Verdade — concordei.

— Acho que vou aproveitar para dormir — Carol falou, levantando-se, parecendo cansada. — Não façam muito barulho, certo?

— Tranquilo, mãe.

— Seu avô ficará olhando vocês.

— Ele irá se divertir conosco, é diferente.

— De certa forma, ela tem razão. — Mr. Callahan concordou com seu sorriso amistoso e ao mesmo tempo sagaz.

— Boa noite — Carol se despediu, fazendo todos rirem. — Oi, Dave, vou dormir.

— Boa noite, mãe — ele cumprimentou, sorrindo.

— Ele entende!

Dave sentou-se à mesa.

— Panquecas!

— Se quiser, pode comer a minha — Ben afastou o prato com mais da metade da panqueca. — Está uma delícia, mas não posso abusar.

— A gente divide. — Mel se pronunciou. — Se quiser, temos maçã na geladeira, Ben.

— É uma boa.

Ben pegou uma maçã.

— Por que Jaden está dormindo no meu quarto? — Dave perguntou. Provavelmente ele foi trocar de roupa e viu um ser loiro na cama dele.

— Ele acordou meio resfriado. — Clint esclareceu.

— Sua mãe mandou ele ir para lá — Ben complementou a informação.

— Tranquilo. — Dave deu de ombros. — Podemos filma-lo roncando. Parece um misto de serra elétrica com foca triste.

Rimos.

— Você tem uma mente perversa, Dave — Mel comentou, mas sorriu com a ideia.

— Acho que ele não se incomodaria. — o avô de Mel refletiu.

— Ok, quem tem uma filmadora? — perguntei, esfregando as mãos. — Temos travessuras a fazer.

Mel conseguiu uma filmadora e fomos, pé ante pé, até o quarto de Dave. Chegando lá, vi que o dono do quarto tinha razão. Provavelmente Jaden estava com o nariz entupido, pois seu ronco não estava nada normal. Parecia mesmo uma foca triste segurando uma serra elétrica. Risadinhas eram ouvidas de vez em quando logo depois do som estranho. Depois, saímos do quarto e nos divertimos com a gravação, cada um soltando as gargalhadas mais espontâneas.

— Meu Deus, minha barriga já está doendo de tanto rir — Ben comentou, fazendo todos os olhares se voltarem para ele. — Ei, foi só do riso mesmo.

— Assim espero. — Mel respondeu, cruzando os braços. — Vô, olha isso aqui!

O senhor riu ao ouvir o barulho.

— Vocês são travessos — ele comentou. — Lerei um livro. Se precisarem de mim, estarei na cozinha.

— Vamos jogar baralho, gente — Clint chamou.

— Para ontem. — Dave respondeu.

Jogamos vinte e um por um longo tempo até que Jaden finalmente juntou-se a nós.

— Olá, pessoas. — o som saiu nasalizado. — Como eu odeio ficar resfriado.

— Sério que você está falando isso na minha frente? — perguntei, sorrindo ironicamente.

— Deve ser uma porcaria, hein?

— Verdade.

— Ok, você dorme...

— Eu já sei — cortei e os snakes riram. — Mas você não pode falar nada, foca triste.

— Como assim? — risadinhas. — O que vocês fizeram?

Mel sacou a filmadora e mostrou o vídeo. Jaden riu:

— Puta merda, vocês não têm o que fazer. Ah, qual é, meu nariz está entupido!

— Mas que é cômico, é. — Dave opinou sorrindo, divertido.

— Podíamos fazer outra coisa. Sair, sei lá — Clint sugeriu.

— Não é má ideia. — Ben pareceu pensar. — Mas onde?

— Tem um lugar ótimo que vende chocolate quente.

— Gostei da ideia — Mel sorriu entusiasmada e os olhares voltaram-se para ela. — O que foi? Estou querendo chocolate.

— Benners McCarthy... O que você aprontou ontem? — indaguei, fazendo uma expressão maliciosa.

— Oi?! — o olhar do garoto pareceu assustado.

— Não sei se eu conto... — provoquei.

— Só fale, Queen Marie. — Jaden sorriu.

— Algum fotógrafo dono de uma Polaroid estava abraçado a certa ameríndia marrenta quando acordei — informei brincando com as cartas do baralho.

— Eu vivo falando. — Dave comentou sem mudar a expressão. — Alguém escuta?

— Na moral, por que vocês não ficam juntos logo? — Clint cruzou os braços. — Sério, todo mundo já sabe que vocês se gostam.

Melinda olhou Ben com raiva.

— Por que você está me olhando assim? Eu estava dormindo e você aceitou dividir o colchão comigo!

— Nós somos apenas amigos. — a garota impôs secamente.

Desfiz meu sorriso.

— Ei, Mel, desculpe se fiz algo que não devia...

— Está tudo bem. — Pela sua expressão e pela de Ben, não estava.

— Ok, melhor eu ficar quieta agora.

O clima ficou tenso até que Jaden lembrou:

— Trouxe meu violino.

— Toque para nós, cara. — Ben pediu, sorrindo fracamente.

— Vou pegar.

Jaden correu até suas coisas e pegou sua case de violino. Tocou algumas músicas e o clima melhorou. Dave, Clint e Ben ficaram jogando baralho enquanto Jaden tocava, ensaiando. Aproximei-me de Mel:

— Sério, Mel, desculpe, não tive a intenção de...

— Eu sei, Shelly. — ela pareceu triste. — Só é difícil.

— Quer conversar?

— Não sei... talvez eu precise, mas aqui?

— Quintal? — sugeri.

— Quintal. — ela aceitou minha sugestão.

Passamos pela cozinha, onde o avô dela cochilava em uma cadeira, e nos dirigimos à barraca, que ainda estava armada. Estava um pouco úmida, verdade, mas entramos nela mesmo assim. Sentamos uma de frente para a outra.

— O que foi, Mel? Qual é o problema entre vocês dois?

Ela suspirou.

— Ben e eu somos amigos há quase seis anos.

— Isso é um tempo considerável e não exatamente um problema.

— Ele sempre gostou de fotografia, desde que eu o conheci. Sempre foi esse espírito livre que conhecemos hoje. Sempre gostou do belo, de coisas simples e chamativas, sempre foi essa contradição ambulante de gentileza e brutalidade. Já ficou com algumas garotas, tirou foto de outras. Eu mesma já tive minha cota de relacionamentos e eles para mim são muito complicados.

— Por quê? — indaguei aproveitando a pausa.

— Como eu disse hoje de madrugada, meu pai já tentou me estuprar, mas antes disso, ele fazia... algumas coisas desagradáveis e íntimas.

— Entendo. Não precisa dar detalhes se não quiser.

Ela assentiu e continuou seu desabafo:

— E eu sempre tive uma neura imensa com isso, que os garotos se apaixonassem pelo meu corpo e não por mim. Porque, querendo ou não, eu sinto que sou uma garota que chama a atenção. Eu tenho um corpo quase de mulher e isso me preocupa, entende?

— Certo, mas como isso leva até Ben?

Mel suspirou.

— Hoje, quando fomos dormir, Ben e eu ficamos rindo do seu sono pesado e de como o povo estava deitado. Dave estava muito engraçado. Então, ficamos conversando, sentados no colchão, entre sussurros e ele me disse que eu era incrível, espontânea e as fotos preferidas dele eram as minhas. Fiquei muito sem graça. Perguntei sobre a afirmação dele sobre o sentimento dele não ser de hoje e ele concordou. Ele me olhava com tanto carinho... devagar, ele foi se aproximando e deu um beijo no meu pescoço e foi beijando e eu fiquei tão... — ela suspirou, sonhadora.

— Ele é um cara de atitude. — reconheci.

— E nós nos beijamos. Tipo, boca com boca.

— Ah, que feliz! — exclamei batendo palminhas.

Ela bateu na própria testa.

— Já entendi que você ficou feliz, Shelly.

— Conte-me tudo.

— Bem, nos beijamos e ele foi acariciando meu corpo, eu fui acariciando ele. E ele se entusiasmou um pouco e pegou na minha bunda.

— Ah. — percebi o problema de imediato.

— Senti como se ele estivesse testando até onde podia ir, mas foi um pouco demais para mim e eu acabei afastando-o e disse que só podíamos ser amigos.

— Mas... Mas vocês se gostam!

— Exato. Eu gosto muito dele, prezo muito a amizade que temos. Não queria torturá-lo com minha insegurança sobre homens.

Pensei um pouco no que ela pensava.

— O que ele respondeu?

— Pediu desculpas e disse que me achava linda de qualquer jeito, mas que não faria nada que eu não quisesse. Falou que talvez tivesse algo a ver com o meu pai e que entendia. E também que se eu quisesse conversar com ele outra hora, eu poderia. Então, perguntou se eu ainda queria dividir o colchão com ele, aceitei e fomos dormir.

— Ah, Mel, não faça isso com vocês. — pedi sentando ao seu lado. — Ben é um cara totalmente diferente do seu pai. Ele gosta de todos os seus aspectos, tanto por fora quanto por dentro.

— Eu sei, mas... — seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Ei, está tudo bem — sussurrei abraçando-a.

— Como eu queria não estar tão marcada, Shelly... — seus soluços estavam abafados. — É horrível você ter a chance de seguir adiante e ter um trauma desse em você...

— Imagino, mas nossa força precisa estar nisso. Em apanhar e se manter vivendo. Ser mais forte do que quem ou o que nos fere. Você não pode deixar o fantasma daquele homem manipule sua vida. Você é mais do que sua dor. Você é uma índia, uma estudante, uma snake, uma pessoa inteligente que merece ser feliz e é linda por dentro sim. Que garoto não desejaria estar e namorar você? Você é divertida, bem-humorada, brincalhona. Deixe acontecer e converse com Ben. Ele é compreensivo, vai entender você. Você devia dar uma chance para vocês. Se dar uma chance de ser feliz. Somos jovens.

Mel foi parando de chorar aos poucos.

— Sem falar que — continuei — ele não pode simplesmente ir pegando na bunda alheia sem pedir permissão.

— Foi só um carinho...

— Eu sei, tem mulher que fica à vontade com isso, mas tem outras como você que não se sentem confortáveis, seja compartilhando essa experiência ou não. Ele provavelmente não fez por maldade, mas é algo que precisa ser dito. Se dói em você, não deixe doer. Vocês podem até entrar em um esquema em que ele lhe peça permissão para tocar em você. Não é nada de outro mundo e não é nada demais, é seu corpo, sua individualidade. É seu e é algo que pede respeito. Ou não, vocês podem encontrar outra forma, mas...

— Shelly...

— Se sinta confortável. Não adianta só um ter prazer e o outro não.

— Shelly, nem estamos juntos ainda. — ela estava quase rindo. Acabei rindo também.

— Só sou adiantada. Se bem que temos que providenciar isso. Fique aqui, volto já.

— Shelly! — eu já havia saído da barraca. Entrei na casa e encontrei o avô de Mel preparando o almoço.

— Pequena coruja!

— Oi, Mr. Callahan...

— Me chame de Thomas, por favor.

— Ok, Thomas. É tão estranho. Enfim. O senhor aceita que Ben namore Mel?

Thomas engasgou-se com a saliva, mas acabou por dizer:

— Se minha kamama ficar feliz, ficarei feliz.

— Perfeito. Obrigada.

Saí da cozinha animada e fui à sala:

— Ben, preciso de você agora.

— O quê?! — Acho que ele se surpreendeu com o autoritarismo na frase.

— Mel quer falar com você.

Os garotos fizeram arruaça. Ben levantou-se:

— Tudo bem.

Peguei a mão de Ben, saí arrastando-o até o quintal e o fiz entrar na barraca.

— Mel, converse com Ben. Vocês só vão sair daí quando forem namorados.

Antes que algum dos dois fizesse algo, fechei a barraca por fora. Elizabeth riu na minha cabeça:

"Isso é o que chamo de empurrãozinho!"

"Agora é só esperar".

Entrei na cozinha com o meu melhor sorriso de "aprontei algo".

— O que você fez, pequena coruja?

— Nada que sua neta não queira. — respondi indo para a sala. — Daqui a pouco volto.

— E esse sorriso, Queen Marie? — Jaden comentou quando cheguei na sala.

— Ser cupido é bom de vez em quando.

— Se você conseguir com que eles se acertem, vamos respeitar sua suposta habilidade de cupido — Dave desafiou.

— Você vai merecer chocolate para sua vida toda se eles namorarem. — Clint reconheceu.

— Nada que uma conversa entre garotas não resolva tudo. — respondi. — Ah, tenho que abrir a barraca quando eles se resolverem. Vou estar no quintal.

Saí e sentei no batente do quintal, olhando para a barraca.

— Tudo bem, pequena coruja?

— Ah, claro! Só tenho que abrir a barraca quando eles pedirem.

— Você os trancou por fora? — ele estranhou.

— Foi por uma boa causa. — sorri, envergonhada. Thomas riu:

— Tudo bem. Eles sobrevivem. Se bem que são duas pessoas em uma barraca. Em algum momento, eles ficarão sem ar.

— Ah, meu Deus, verdade!

Corri até a barraca, abri-a.

— Bem, obrigado, estava começando a ficar sem oxigênio aqui — Ben segurava as mãos de Mel e ela parecia que estava quase chorando.

— Já se entenderam?

— Tentando — Mel sorriu morno.

— Enfim, esperarei no batente. Não saiam enquanto não estiverem namorando. — repeti. — Deem um sinal, tipo um pano branco sacudindo. Estarei com seu arco.

— Shelly!

— Me agradeça depois. Até daqui a pouco.

Voltei para o batente.

— Agora sim. Como o senhor vê Ben?

— Ah, Ben... Ele é um urso. Afetuoso, porém pode ser agressivo quando ameaçado. Protege os seus. Pode ser introspectivo também. Acho que vai fazer minha neta feliz.

— Verdade. Vou perguntar de todos agora. Clint?

— Não sei. Talvez uma raposa: ser astuto e bem pé no chão.

— E Jaden?

Thomas parou de sorrir.

— O nome do loiro é Jaden? Não tinha prestado muita atenção.

— Sim.

— Ele toca violino — ele observou.

— É. Ele é um cara bacana, simpático, sorridente.

— Hm. — Thomas pareceu preocupado e pensativo. — Parece uma pessoa calma, sensível e confiável. A lince, talvez. Parece conhecer o valor do silêncio.

— Interessante.

— Jaden está há muito tempo na cidade?

— Não, tem pouco mais de dois meses.

— Entendo.

Mel e Ben saíram da barraca, parecendo alegres, mãos dadas.

— Vocês são namorados? — indaguei erguendo o olhar, séria.

— Sim e acho que vai levar um tempo para eu me acostumar. — Mel sorriu.

Abracei os dois.

— Estou muito feliz por vocês. Sério. Agora temos que sair, certo? Dar um passeio pela molhada Vancouver. Mas antes...

Arrastei os dois para contar aos snakes a novidade. Todo mundo ficou tranquilo quanto a isso. Almoçamos e saímos para andar na cidade. Foi um bom dia. Era bom de vez em quando ser uma observadora. Achei curioso a curiosidade de Thomas sobre Jaden, mas era natural. Afinal, um garoto loiro com o mesmo nome do filho desaparecido dos seus chefes... o que ele faria quando descobrisse a verdade?


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Notas finais do capítulo

Não sei se todos viram meu recadinho no facebook, então direi por aqui: Estou sem computador em casa, a minha placa-mãe está com defeito e estou torcendo para isso ser reparável. Foi por isso que não postei e também estava de folga, viajei para uma praia muito legal. Maaaaaaas estou de volta. Não se preocupem, NÃO largarei essa fic.
Desejo tudo de bom para vocês nesse novo ano. Críticas, comentários, sugestões e presentes de ano novo para mim abaixo vvvvvvvvvvvvvvv
Até o próximo o/



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