Histórias Intrísecas escrita por Renata


Capítulo 4
Chuva e Aulas de Química - Especial do dia dos Namorados


Notas iniciais do capítulo

Depois de 84 anos, os ajudantes de Eros estão de volta. É um capítulo especial de Dia dos Namorados, então talvez seja preciso ler o primeiro capítulo dessa coletânea antes - Entre trabalhos secretos e setas quebradas - (mas é só esse capítulo mesmo, eu juro... se bem que seria legal se vocês lessem todos os contos, hahaha).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/626484/chapter/4

Eu estava realmente concentrada em todos aqueles livros na minha frente. Dei um suspiro quando voltei às anotações e estava torcendo para não fazer nenhuma besteira dessa vez. Eu era péssima com as poções. Péssima mesmo. Não que tivesse uma pontaria perfeita, mas em 90% dos casos, eu conseguia me virar. Esse era o segundo Dia dos Namorados desde quando assumi meu cargo, e as coisas estavam melhorando gradativamente. Eu já conseguia unir novos casais com bem mais frequência, o que me deixava mais tranquila quanto às minhas aptidões. Com exceção dos meus fracassos com poções. Eu nunca fui muito boa com química, então dava graças por ter deixado a matéria de lado assim que terminei o ensino médio e comecei minha faculdade de Comunicação. Bom, pelo menos até mês passado, quando Eros exigiu que eu começasse a aprender mais sobre as benditas poções.

Suspirei mais uma vez enquanto anotava uma fórmula e pensava na próxima receita que teria que preparar. Por sorte, hoje era meu dia de folga (apesar de ser dia dos namorados) então eu não precisava trabalhar unindo nenhum casal. A biblioteca do campus estava bem vazia,talvez por causa da chuva fina do lado de fora que fez com que as pessoas não sentissem vontade de estudar. Meu celular vibrou em cima da mesa, o que eu tentei ignorar, mas não pude deixar de espiar por cima dos livros a mensagem que tinha recebido há poucos instantes. Era uma mensagem de Miguel. Rolei os olhos, e não li o conteúdo. Voltei a escrever no meu caderno com folhas decoradas tudo o que achava necessário para recomeçar meus testes.

Meu celular voltou a vibrar quase que furiosamente. Tive vontade de jogá-lo contra a parede mais próxima, mas como me arrependeria, resolvi ler o que Miguel estava mandando.

 

“Hey Is, você veio pra aula?”

 

Li o restante, logo abaixo, que estavam marcadas como enviadas sem muitos segundos de distância entre elas.

 

“Me responde, é bem urgente”

“Eu posso te ajudar, mas você precisa me ajudar também”.

 

Torci meus lábios em um ângulo que não escondia meu desgosto. Respondi as mensagens, tentando escapar do que Miguel estava tramando.

 

—Hm, na verdade eu estou bem ocupada. Não apareci na aula hoje.

O que não era mentira. Sorte que minha matéria da faculdade estava adiantada.

 

“Você está na biblioteca, né?”

 

Resolvi mentir.

“Ih, foi mal, não. Eu estou bem ocupada mesmo.”

“Bel, eu vi você pela janela, você está na biblioteca sim. É melhor você vir aqui pra fora agora, ou eu entro aí e faço um escândalo pra você ser expulsa.”

 

Ergui meus olhos para a janela do outro lado da minha mesa e fechei a cara. Miguel estava no corredor, espiando para dentro da biblioteca e me lançou um sorriso presunçoso. Bati minhas mãos em cima do caderno com força, fazendo com que os olhares das pessoas à minha volta se fixassem em mim com desaprovação. Juntei minhas coisas e saí dali o mais rápido que pude.

—Por que você estava mentindo? - Miguel quis saber.

—Porque eu realmente estou ocupada? - Respondi ríspida.

—Correção: você estava ocupada. - Miguel segurou meu ombro e começou a me empurrar para longe da biblioteca. - E bom, digamos que é sobre o trabalho, de qualquer maneira.

Miguel me fez sentar em um banco no ponto mais afastado do corredor. Ele deu um sorriso amarelo e começou a revirar a própria mochila. Vi que ele estava puxando um caderno enorme, que parecia cheio de anotações. De repente, o caderno estava dançando em frente aos meus olhos e Miguel tinha um olhar suspeito.

— Tá-dan! - Miguel disse um pouco alto demais.- Sabe o que é isso? São todas as minhas anotações sobre poções. Bom, como deve saber, eu sou ótimo preparando essas belezuras que você está tentando aprender. Inclusive sei manipular umas ainda mais poderosas do que as que tem nesses livros que você emprestou lá do trabalho. E eu estou aberto a te ajudar a aprender e passar todo o meu conhecimento pra você.

Miguel fechou os olhos de maneira teatral e colocou uma das mãos no peito. Eu já estava me preparando.

—Mas, como você deve saber- Miguel abriu um dos olhos e me espiou.- Eu preciso da sua ajuda em troca. Aliás, uma troca justa, afinal, meu conhecimento em poções do amor valem ouro.

Eu ergui uma das sobrancelhas. É claro que Miguel estava armando alguma, mas no final das contas, seria uma boa aprender sobre as poções, já que meu chefe tinha deixado claro que gostaria que eu me envolvesse mais no laboratório. Eu suspirei mais uma vez, e encostei minha cabeça na parede, deixando meu corpo escorregar.

—E aí?- Ele me perguntou. 

—O que preciso fazer?

***

—Eu não sei se é uma boa ideia.

—É claro que é! - Miguel disse, olhando por cima dos meus ombros.

Estávamos escondidos atrás de uma árvore, espiando um potencial casal. A chuva tinha parado, mas como as árvores estavam molhadas, as gotas respingavam por todos os lados, o que me deixava completamente frustrada. O trato era o seguinte: iríamos trabalhar mesmo em nosso dia de folga, demonstrando nossa dedicação aproximando um casal da lista das semanas seguintes. Eu iria alegar que Miguel me ajudou muito e pedir para que o mesmo possa participar das minhas atividades no laboratório como um tutor. Até aí parecia bem fácil.

—E então?- Miguel disse.- Pronta?

—Eu não tenho certeza.

—Qual é? Já fizemos isso antes.- Ele saiu do nosso esconderijo e pegou seu arco.

Ás vezes eu me esquecia que as outras pessoas não conseguiam enxergar certas coisas, o que facilitava muito o nosso trabalho. Mas mesmo depois de um ano trabalhando, eu ainda ficava nervosa com isso. Miguel estava cantarolando alguma coisa, quando me aproximei dele. Ele me indicou sua mochila no chão, me abaixei e apanhei um frasco com um líquido rosa e brilhante que fez meus olhos arderem.

—Essa é uma das melhores. -Ele me disse orgulhoso.- Vamos, passa pra cá.

Eu abri o frasco e entreguei a poção para Miguel. A mesma borbulhou um pouco, e uma fumacinha rosa começou a escapar pela abertura. Miguel mergulhou a ponta da seta dentro da poção, e a mesma foi envolvida imediatamente. Eu olhei para o casal que ainda não era um casal. Me lembrava de ter lido a ficha deles. Ana e Pedro. Os dois se conheciam desde a escola secundária, ele fazia parte do time de basquete da faculdade e ela do centro acadêmico. Pareciam estar conversando amigavelmente, quando Miguel disparou uma seta que acertou o peito de Pedro imediatamente.

—Viu só?- Miguel deu uma olhada em minha direção. - É assim que se faz.

Fechei a cara e alcancei a seta par para ele. Ele fez o mesmo procedimento de antes: mergulhou a seta na poção e agora se preparava para atirar. Seus músculos estavam flexionados e os olhos semicerrados. Quando de repente alguém surgiu no meu campo começou a gritar pelo meu nome.

—Isa!- eu pisquei meus olhos confusa.

O cara na minha frente tinha um sorriso largo. E então eu comecei a sorrir também.

—Ah, oi Fernando!- Fernando era um colega do curso de línguas, estudamos por dois anos seguidos na mesma sala do espanhol.

O garoto se aproximou mais e me deu um abraço.

—Não sabia que você estudava aqui. -Ele disse.

—É, eu faço Comunicação. As aulas são nesse campus.- Eu disse um pouco constrangida.

Continuei conversando até ver que meu colega de trabalho estava estranho. Miguel estava abrindo e fechando a boca repetidas vezes. Eu o encarei e vi que a seta não estava mais no arco. Desviei o olhar para Fernando, que estava falando animadamente sobre estar ali naquele dia para tentar uma matéria eletiva. Miguel pigarreou ao meu lado.

—Esse é o Miguel. Ele, ah…-Eu encarei Miguel. - Trabalha comigo.

Miguel encarou Fernando e depois se voltou para mim.

—Is, nós temos um problema. - Ele disse parecendo irritado.

—Problema?

Fernando estava nos encarando sem entender nada.

—Se importa de nos dar um segundo? - Miguel disse para Fernando e me empurrou para o lado oposto.

—Aí, que grosseria!- Eu resmunguei.

—Você viu o que acabou de acontecer?

—Ah, meu amigo. Ele estuda na mesma sala que eu no curso de espanhol e…

—Não tô falando daquele cara, eu tô falando da seta.

—O que tem a seta?

—Eu acertei outra pessoa. Não a Ana.

—O QUÊ?

—A culpa não é minha.- Miguel contorceu as feições.- É culpa daquele tal de, como é mesmo o nome dele? Fernando? Ele me desconcentrou.

—Como assim?

—Ele passou no meu campo de visão e estava berrando. Eu errei o alvo!

Miguel apontou para o gramado. Pedro estava praticamente jogado aos pés de uma garota aleatória que estava rindo abobadamente para ele. Ana estava observando tudo sem entender nada, e o namorado da garota aleatória não parecia nem um pouco feliz.

—Oh céus!- Eu disse tapando a boca, reconhecendo os envolvidos.- São André e Marina. Eu juntei aquele outro casal na semana passada!

—Agora o casal é Marina e Pedro.

—Não, não podemos deixar as coisas assim!

Miguel bateu com mão na própria testa e disse alguma coisa que eu não entendi direito. Depois ele segurou meu braço e começou a me arrastar pelo pátio. Fernando fez uma cara confusa quando eu acenei pra ele dizendo que o via na aula de espanhol, mas assentiu sorrindo.

—Vamos precisar de uma nova poção.- Miguel disse se virando para me encarar.- Eu deixei as outras setas em casa.

—Sério?

—É, eu nunca ia imaginar que ia ser atrapalhando no meio de um serviço.- Ele disse rolando os olhos.

—Um serviço que nem devia estar em pauta.- Resmunguei.

—Bom, encare isso como uma aula de poções. E também como uma aula do que fazer quando as coisas dão errado. E talvez, uma aula sobre como escolher melhor suas amizades…

— Hm, tem razão. Se você fosse um bom parceiro, nada disso estaria acontecendo.

—Eu tava falando dos seus amigos que interrompem o seu trabalho.

—Ué, mas não foi você o distraído?

Miguel fez cara feia e voltou a me puxar pelo braço.

***

Estava sentada sobre a mesa enquanto Miguel andava de um lado para o outro na sala de reuniões abandonada do curso de design. Eu estava ficando nervosa, mas estava tentando não deixar transparecer.

—Tá, o plano é esse…- Já era a terceira vez que Miguel repassava o plano.- A gente faz a poção, convidamos esses quatro para ir tomar alguma coisa na lanchonete e pronto.

—Pronto?

—É, basicamente.

—Tá.- Respondi simplesmente e desci da mesa.

Miguel franziu o cenho enquanto me observava organizando os ingredientes para a poção.

—Onde você conseguiu tudo isso?- Eu disse erguendo uma embalagem cheia de alguma coisa que parecia glitter dourado.

Ele engasgou antes de começar a falar.

—Ah, tenho meus estoques.

—Você pegou no estoque de Eros, pode falar…

—Peguei, mas foi antes de ser banido do laboratório.

—Tá, e como vamos fazer com que eles bebam e se apaixonem pelas pessoas certas agora?

—Eles não vão literalmente se apaixonar, você sabe…

—É, eu sei. - Bom, as pessoas não se apaixonam do nada, isso era fato. Elas precisam de empurrões, e era isso que a gente fazia, apesar que esse tipo de confusão poderia acontecer. Eu não estava querendo ver a cara de Eros quando descobrisse o que havia acontecido, então era melhor a gente resolver tudo.

—Eu sei que a Marina e o André tem aula de Sociologia no último horário.Eu posso inventar que eles ganharam uma promoção de chás da lanchonete e entregar antes de eles entrarem na aula.

—E eu posso conversar com a Ana e o Pedro sobre esportes e o centro acadêmico. Eu dou uma desculpa qualquer e os faço me encontrarem no Café.

—Fechado!

—Ok, vamos começar logo com isso. - Dei de ombros.

Miguel ditava todos os passos que eu devia seguir e deixou com que eu realmente preparasse a poção. O que de certa forma, era mais fácil de entender do que só assistir. Eu estava apenas esperando o tempo de finalização agora, e Miguel tinha acabado de sair da sala para atrair o casal Marina e André (agora ex-casal) para a aula de Sociologia, inventando que tinha escutado boatos de que a professora iria passar uma atividade avaliativa. Eu estava cantarolando uma música velha sobre guarda-chuvas quando a porta foi aberta abruptamente. Eu deixei a última estrofe no ar quando vi Miguel entrar apressado e despejar algumas gotas da poção nos dois copos térmico que trouxe.

—Deu certo?- Perguntei.

—Até agora sim. - Miguel disse sorrindo de orelha à orelha, deixando seus dentes brancos à mostra.- Disse que estava fazendo um bico na lanchonete e que eles tinham ganhado um sorteio, mas que eu faria a entrega na sala de aula, porque a professora tinha dito que ia cobrar um trabalho da turma.

—E eles estavam juntos?- Eu quis saber.

—Não, mas estavam no mesmo corredor. O André parecia desolado…

—Puxa, eu realmente shippo eles.

—Você shippa?- Miguel gargalhou.- Isso não é como em uma série ou livro.

—Vou continuar shippando. - Eu disse, dando de ombros, mas fiquei ofendida.

—E como vai a sua parte do plano?

—Eu já mandei mensagem para os dois, inclusive eu devia estar indo agora mesmo para o Café.

—Então é melhor se apressar.- Miguel me entregou a poção.- Boa sorte e bom trabalho.

Eu apertei o frasco e me apressei pelo corredor. Corri quando vi Ana chegando ao café, e quando ela me viu, deu um sorriso amigável.

—Oi Ana!- Eu disse um pouco ofegante.- Obrigada por ter vindo me encontrar.

Ela deu um novo sorriso e fomos nos sentar.

—E então? Sobre o que você queria conversar mesmo?

—Ah, é. É sobre a comunicação nos centros acadêmicos e a ponte com os times esportivos.

Fiquei aliviada quando vi Pedro puxando uma cadeira do lado oposto ao de Ana. A garota abaixou o olhar e mexeu no celular.

—Oi Pedro!- Eu disse.- Eu estava falando com a Ana, sobre o centro acadêmico e os esportes e eu tenho algumas dúvidas, mas eu vou buscar alguma coisa pra gente beber antes.- Eu levantei e corri para o balcão.

Pedi três bebidas, dois chocolates e um espresso. O café era meu claro. Misturei a poção como quem adoça alguma bebida, o rapaz que fez as  me olhou confuso, o que me fez sorri nervosamente para ele.

—Meus amigos adoram açúcar.- Eu disse e saí equilibrando a bandeja até a mesa.

Ao chegar na mesa, pude ouvir Pedro tagarelando sobre como ele estava planejando um encontro com Marina e Ana estava com uma expressão apática no rosto.

—O que você acha?- Pedro disse.- Você é uma garota, o que ia preferir? Um jantar ou cinema?

Ana ergueu as sobrancelhas e não disse nada.

—Vamos, me ajude!- Pedro parecia suplicar.- Hoje é dia dos namorados…

—Como é que eu vou saber?- Ana disse ríspida.- Eu tenho um namorado por acaso?

—Você podia tentar o Tinder

Eu quase engasguei com meu café. Eu não conseguia acreditar nisso (Poxa Pedro!). Quando eu ergui meus olhos consegui focalizar Miguel em uma mesa mais ao fundo, que fez um sinalzinho de positivo com o polegar.

Ana parecia incrédula, e finalmente bebericou o seu chocolate. Ela deu um longo suspiro, e encarou Pedro. Pedro por sua vez, encolheu os ombros e resolver provar a bebida. Ele fez uma expressão esquisita, e voltou a tomar o chocolate quente. Eu fiquei tensa e esperei o que pareceu uma eternidade.

—É, pensando bem…- Pedro recomeçou.- Eu tenho certeza que você preferiria cinema.

—Eu iria adorar ver o novo filme do meu quadrinho favorito.

Bebi o resto do meu expresso rapidamente.

—Sabe de uma coisa?- Pedro disse.- Acho que dá tempo de pegar a próxima sessão, vamos?

Ana piscou algumas vezes e se levantou, mas antes me deu um olhar confuso.

Eu sorri e fiz sinal com a cabeça indicando que eles estavam livres. Fiquei muito aliviada quando vi os dois saindo pela porta do Café. Miguel sorriu e se levantou, passando pela minha mesa. Quando finalmente saímos do local ele se virou para mim e bagunçou meu cabelo, que já estava um caos por conta do clima. Eu segurei o braço dele e empurrei para longe, mas ele voltou a fazer a mesma coisa e eu desisti.

—Conseguimos!- Ele disse quase eufórico. -Agora só precisamos mostrar para o Cupido como somos dedicados e você pode me indicar como seu tutor e eu poderei voltar ao laboratório. Eu sou ou não sou genial?

Eu bufei e saí caminhando na frente.

—Ei!- Miguel me alcançou.- Você não precisa ficar brava, você foi muito bem também…

Miguel deu um sorriso tosco e eu parei de andar.

—É sério? - Eu cruzei os braços. - A gente podia ter estragado tudo. Foi muito irresponsável.

Miguel pareceu ponderar.

—Você está certa. - Ele passou as mãos nos cachos castanhos nervosamente.- E se você quiser, não precisa pedir nada para o Cupido. Foi uma ideia bem estúpida, na verdade…

—Tudo bem. - Eu disse.- Eu vou te ajudar. Não sei se vai funcionar, mas você é ótimo com poções e quer muito voltar ao laboratório. Você é irritantemente bom em quase todas as coisas, menos em se comportar bem e não fazer poções do amor mesmo que esteja impedido pelo nosso chefe. E se a sua volta ao laboratório significar que a probabilidade de você me arrastar para problemas diminua e ainda me ajudar com as poções, por mim, tudo ok.

Miguel sorriu de orelha a orelha e tentou novamente bagunçar meu cabelo. Eu dei um olhar mortífero para ele e ele desistiu.

—Vou te levar para tomar alguma coisa. Alguma coisa de verdade, não aquele café preto e forte. Urgh.

—Eu gosto de expresso. - Eu disse antes de seguir Miguel para fora do campus.

 

***

Eu estava mesmo irritada agora. Um carro tinha jogado água de uma poça em mim, eu tive que tirar meu casaco e as barras da minha calça jeans estavam molhadas. Para piorar, o lugar onde Miguel tinha me levado estava lotado, e uma fila gigantesca estava se arrastando. Já fazia quase quinze minutos que estávamos na fila, mas agora que tudo já tinha piorado, eu duvidava muito que sair de lá sem comer alguma coisa iria me poupar de um final de dia estressante. Quando finalmente chegamos ao caixa para fazer nossos pedidos, a atendente nos lançou um olhar estranho e eu fiquei sem entender. Miguel se remexeu ao meu lado, parecendo desconfortável.

—Se vocês se beijarem, ganham o combo do dias dos namorados!- A atendente disse com uma voz estridente.

Eu me inclinei para frente para tentar ler o encarte cheio de corações quando senti Miguel puxar meu braço esquerdo, colocar as mãos ao lado do meu rosto e me dar um selinho. Eu congelei e fiquei sem ação. Quando finalmente senti a pressão de seus lábios diminuírem e se afastarem dos meus, pisquei inúmeras vezes tentando processar as informações. Uma explosão de palminhas e chuva de papel laminado caiu sobre nós e a atendente chacoalhou o voucher da promoção em nossa direção.

—Ok, o que…- Miguel me interrompeu colocando uma das mãos em minha cintura, me conduzindo para buscar o lanche da promoção e depois para a mesa.

—Eu não ia perder a oportunidade de ganhar um lanche. - Ele me disse dando de ombros.

—Você é um belo oportunista. -Respondi incrédula.

—Eu achei que ia me dizer que também sou irritantemente bom em dar beijos. - Ele me deu uma piscadinha.

—Cala a boca, seu idiota.

—Foi mal, de verdade. Eu não queria te ofender, mas eu achei que seria uma boa conseguir aquela taça de sorvete e brownie, além do Café caramelizado. Me perdoa?

Eu ignorei a pergunta de Miguel, que ignorou minha falta de resposta. 

Eu provei meu café caramelizado. Era realmente muito bom, bem melhor que o expresso que tomei mais cedo. Eu estava realmente irritada com Miguel, mas agora que eu estava sentada e tomando uma bebida quentinha, eu iria relevar todas as coisas idiotas que ele faz, e também o fato de estar com o cabelo terrível e com a roupa molhada de água da chuva. Estava tudo indo até mais ou menos bem, até o momento que um envelope branco se materializou na mesa. Eu larguei minha caneca na mesa e apanhei a carta. Era de Eros. Puts. Eu li para que Miguel pudesse ouvir também.

 

Caros Isabel e Miguel,

Já estou ciente do trabalho fora de hora e de toda a série de problemas causados pela imprudência dos dois. Disparos de flechas antes do momento correto e roubo de ingredientes do laboratório. Devia convocá-los agora mesmo, mas quero os dois no minha sala amanhã cedo, afinal hoje é o dia de folga dos dois.

 

Atenciosamente,

Eros.

 

Miguel deu um sorriso nervoso e voltou sua atenção para a sua caneca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso pessoal. Não sejam tímidos, comentem. Boa parte da culpa de eu demorar 84 anos é não saber como estou escrevendo, o que preciso melhorar e não saber a opinião de quem está lendo o que escrevo. Tá, eu demoro também porque a criatividade não é um fonte inesgotável, but... um estimulo sempre ajuda, haha. Enfim, terminado os apelos, obrigada por chegarem até aqui e Feliz dia dos Namorados



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Histórias Intrísecas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.