School Days escrita por Isa


Capítulo 120
Capítulo 120: “Agradecimento”




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Com o fim da gravidez se aproximando, as dúvidas e os medos de Sue iam aumentando. Qualquer novo “sintoma” trazia consigo um novo alerta, mas seu medico – e a internet – diziam que não precisava se preocupar. Segundo ele, cada gravidez era diferente e não é porque sentia algo considerado incomum que havia algo errado. Porém, às vezes não conseguia evitar e acabava – com todo o apoio de Caleb, que em situações como essa se tornava outro neurótico – insistindo em fazer mais exames, para garantir a segurança da bebê. Ah, como era um alívio sempre ouvir que estava tudo bem com ela.

Não, ainda não haviam pensado em um nome. Mas tinham uma boa justificativa para isso: queriam escolher algo especial, com algum significado, não algo aleatório. Claro que teve de explicar para ele que referências à super-heroínas e jogadoras de ligas de basquete feminino não era o que deveriam procurar, mas agora as sugestões dele estavam melhorando.

Agora, em seus recém-completados oito meses de gestação, os sintomas eram bem diferentes do início: o cansaço começava a dominar e a barriga pesava.

Dormir acabava sendo o que se podia chamar de “tortura boa”, já que a bebê se mexia muito durante a noite. E encontrar uma posição para se deitar também era complicado. Por fim, sempre tinha que colocar vários travesseiros ao redor de si para poder ter uma noite de sono tranquila.

Algo que não conseguia explicar era o sentimento dentro de si. Existia aquela “coisa materna” que a fazia agir idiotamente, chegando a conversar com a criança dentro de si em alguns – vários – momentos.

Não dava para explicar a sensação de ser mãe com palavras. Era algo tão inimaginavelmente maravilhoso que alguém que nunca tivesse passado por aquilo jamais entenderia...

— Hey... – Caleb a chamou, vindo da cozinha com um copo de suco e outro de refrigerante em mãos. – No que estava pensando?

Nela... – Murmurou, abrindo um sorrisinho bobo enquanto passava delicadamente a mão pela própria barriga. – É meio surreal como as coisas podem estar tão... Boas. Não acha?

— Obviamente. – Ele afirmou, entregando-lhe o suco e sentando ao lado dela, para que continuassem com a maratona de Unbreakable Kimmy Schmidt. – Acho que nunca estive tão feliz antes...

— Eu também... – Sorriu para ele, que deu-lhe um selinho demorado em seguida. – Amo você, Cae... 

— Amo você também Sue. – Dessa vez, ele beijou sua bochecha, em uma demonstração de carinho que o “velho” Caleb jamais faria por ninguém.

(...)

À medida que arrumava seu quarto, Josh ia cantarolando Give Your Heart A Break da Demi Lovato. Ao contrário de Matt, o “mais novo” não se esforçava muito ao realizar as tarefas domésticas. Mesmo sabendo que, de certo modo, devia isso aos pais, que faziam de tudo por ele, tais atividades continuavam sendo extremamente entediantes. Claro que não “avacalhava” e errava propositalmente. Apenas não costumava se oferecer, na verdade. No entanto, se tratando do local onde dormia e passava 70% do tempo, obviamente as coisas mudavam de figurava. Era o único cômodo da casa – mansão – que realmente tomava a iniciativa de manter sempre limpo. O resto ficava para Matt, que estranhamente adorava ser prestativo.

Nesse quesito especificamente Frannie poderia se considerar sortuda. Principalmente levando em conta que ela assim como o amigo era meio “preguiçosa” com essas coisas. Às vezes, ele se pegava imaginando o quão bizarras seriam as coisas se o relacionamento dela e de Noah tivesse durado. Ou se Terry continuasse a ter um “crush” em Matt, Isaac em Gwen e a Harrison continuasse a ser uma inimiga dos losers de Roosevelt.   Uau, pelo visto estava mesmo muito acostumado às coisas como elas estavam atualmente, pois as “visões” que tivera em seu subconsciente não foram nem um pouco agradáveis...

Se pudesse mudar algo, sem dúvida nenhuma seria apenas o surto de Sebastian. Por mais errado que soasse, bem lá no fundo, se ignorasse toda a raiva e rancor que guardava, sentia sim um pouco de falta do ex amigo. Poxa, haviam crescido juntos... E o garoto que conhecia quase a vida toda não era aquele monstro capaz de tentar estuprar alguém.

— Oi! – Disse a voz animada – como sempre – de Rony, que foi adentrando o cômodo e vindo em sua direção, o abraçando por trás. – Muito ocupado?

A resposta correta seria “sim”, por estar realmente longe de finalizar a arrumação, no entanto, balançou negativamente a cabeça, se virando e ficando de frente para ele, então o puxando para um beijo apaixonado.

Caramba, essa foi definitivamente a melhor recepção da vida! – Comentou o loiro, meio sem fôlego, quando se afastaram. Só então, o menor reparou no envelope que ele segurava.

— O que é isso?

— Ah, nada demais... – Falou, com um sorriso que indicava o contrário. – Tirando o fato de eu, assim como o seu irmão, também ter conseguido uma bolsa para jogar futebol em uma universidade em Los Angeles.

Oh meu Deus! – Josh exclamou, puxando para si o papel e lendo-o. – Meu Deus, meu Deus, meu Deus! – O abraçou. – Ron... Isso é da... Oh meu Deus!

— Sim! – Confirmou, retribuindo o abraço. – Sabe o que significa?

— Vamos estudar juntos!

E, mais uma vez, Josh o beijou.

(...)

Yay! – Em um “pulo”, Terry levantou animada. – Não acredito que ganhei outra vez!

— Eu deixei. – Fabulou Isaac, tentando disfarçar sua surpresa e fazer parecer que era algo premeditado.

— Com certeza, amor, com certeza... – Ela ironizou, beijando-o na bochecha. – Apenas admita logo que nesse jogo sou melhor que você.

— Não é não. – Continuou a teimar. – Já falei, eu te deixei ganhar Terr...

Aham... – Obviamente, a desculpa esfarrapada não a convenceu. – Vou ao banheiro e já voltou para te vencer de novo.

— Dessa vez eu vou ganhar! – Exclamou e ela, antes de sumir de sua vista, lançou-lhe um olhar de “só nos seus sonhos”. – É sério! – Elevou um pouquinho mais o tom de voz, para que ela o ouvisse mesmo que do outro cômodo. – Eu te deixei ganhar!

— Não deixou não. – Discordou Frannie, sentando no braço do sofá e retirando o controle das mãos dele. – Até eu consigo te vencer nessa coisa, irmãozinho.

— Não consegue! – Pegou o objeto das mãos dela, não querendo nem testar tal hipótese. Perder para Terry? Beleza. Agora, para Frannie... Ela não o deixaria em paz nunca. – E sim, eu deixei.

Sei...

Diante da resposta sarcástica, ele revirou os olhos azuis. É, não conseguiria mesmo convencê-las. Mas também não podia admitir a derrota daquele jeito, sendo um especialista em videogames. Aquele era apenas... Simples demais para sua enorme habilidade. Isso.

Hey, passamos tanto tempo ontem conversando sobre a admissão de Terry em Columbia que acabei me esquecendo de perguntar sobre seu encontro com o Matt.

— Sério Isaac? Achou mesmo que eu não notaria que está fugindo do assunto? – Indagou, brincalhona. Ao arrancar dele um suspiro frustrado, sorriu satisfeita e decidiu parar de provocá-lo. Por enquanto.— Respondendo a sua pergunta, foi fantástico. Tomamos sorvete, caminhamos pelo parque... E ele me ajudou com aquele meu probleminha para escolher em qual universidade me inscrever.

— Mesmo? – Ficou verdadeiramente surpreso. Ela assentiu. – Qual você escolheu? Columbia ou Stanford?

— Me inscrevo nas duas e decido depois. – Disse, até que bem calma para quem dois dias atrás estava surtando por causa daquilo. – A sugestão pode parecer meio óbvia, mas eu não tinha pensado nisso até o Mattie sugerir.

(...)

Noah sentia-se perdido. Temia a possibilidade de não conseguir melhorar suas notas a tempo, se tornando o único do grupo de amigos a não sair do colégio naquele ano. O quão humilhante isso seria? Matt e Rony ganhando bolsas para jogarem futebol em universidades da Califórnia, Gwen e Josh – previsivelmente – se inscrevendo em uma mesma faculdade para estudarem cinema, Terry sendo aceita em Columbia, Isaac e Frannie fazendo grandes planos como desenvolvedor / programador de jogos e advogada, respectivamente, e Liz... Hã... Okay, a loira ele não tinha ideia do que pretendia ser, assim como Becky, Brittney e suas namoradas, mas com certeza todas deviam ter seus futuros assegurados. Sem falar em Jennifer, toda decidida a alcançar sucesso no ramo musical. Como um perdedor como ele podia estar incluído em tais planos?

E se, por acabar repetindo o ano, acabasse atrasando-a também? Oh, Deus, pior: e se isso a fizesse seguir em frente, com outro cara? Alguém que fosse mais... Digno?  Alguém com um futuro garantido? Alguém que conseguisse ser bom o suficiente para ela? E se ela o deixasse, para ficar com essa pessoa?

Não.

Não podia pensar dessa forma. Jenn não o deixaria. Ela o amava... Certo? Sim. As demonstrações eram muitas para que pudesse ter alguma dúvida. Além do mais, ela sequer precisaria cogitar tal hipótese, porque ele não fracassaria. Ele ia sim se formar e conseguir uma bolsa de estudos e tudo por fim ficaria bem.

(...)

“Espero que não esteja brava comigo...” – R

“É só que não posso desmarcar com a Ash assim. Ela é minha namorada, afinal de contas.” – R

“Não tem problema, Becky. :)” – B

“Eu acho que consigo escolher o presente da Claire sozinha, de qualquer maneira.” – B

“Que bom!” – R

“Você é minha melhor amiga, não quero que fique desapontada, sabe?” – R

“Mas como disse, eu já tinha combinado com a Ashley de passarmos a tarde juntas e posso correr o risco de fazê-la pensar que eu ainda sinto algo por você. A Claire pode até estar acostumada com a nossa amizade, mas ela ainda não...” – R

“Becky, relaxa. Já falei que está tudo bem. :v” – B

“Okay então.” – R

“Escolha o presente com cuidado.” – R

“Pode deixar. ;)” – B

“E você, divirta-se no seu encontro.” – B

“Vou querer saber de tudo depois. Haha.” – B

“Pode ter certeza que irei contar. :P”

“Até depois!” – B

“Até.” – R

Becky então desligou o celular, guardando-o na bolsa. Viu Ashley dar-lhe um sorriso e nele se perdeu por alguns minutos, mas logo “voltou à realidade”:

— Aonde vamos?

— À minha casa. – A outra morena respondeu, ainda sorrindo, mas sem desviar os olhos do trânsito.

— Mas... Seus pais estão trabalhando agora...

Uma risada. Inicialmente, Becky não entendeu. O que havia dito de tão engraçado? Era apenas a constatação de um fato, não é mesmo? Porém, suas dúvidas logo foram sanadas:

— Sim, eles estão. E é exatamente por isso que passaremos a tarde lá. Quero ficar realmente a sós com você.

Oh... – Deixou “escapar”, meio perplexa. Seria o que ela estava pensando?

Não, ainda não haviam de fato feito aquilo. Chegaram – muito – perto, mas não. Embora assim como ela Ashley não fosse mais virgem, seria a primeira vez dela com uma garota e não queria “estragar tudo”. Quer dizer, Britt nunca havia reclamado ou algo assim, nem aquela... Qual o nome dela mesmo? Bom, a questão é que era diferente com cada pessoa. Por mais que na teoria soubesse exatamente o que fazer, nem todo mundo gosta de ser tocada de determinada forma.

Calma, não precisa ficar nervosa. – Ashley lhe assegurou, por um curto instante tirando uma das mãos do volante e pousando-a sobre a dela e olhando-a com uma ternura incrível. – Não estou planejando que nada aconteça. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas o que eu quero mesmo é ficar sozinha com você e aproveitar a sua companhia. Okay?

Sem saber como responder com palavras, se limitou a balançar positivamente a cabeça e sorrir, admirada. É, era oficial: Ashley Bennet a fazia subir um nível na “escala de apaixonamento” a cada segundo.

(...)

— Não pode estar falando sério... – A baixinha encarava a mais alta com incredulidade e indignação. – Administração? Qual é, você odeia o trabalho do seu pai e, mais ainda, odeia aquela, como você mesma diz, “maldita empresa”...

— Você não entende... – A loira suspirou, pesadamente.

— Não mesmo. Como eu espera que entenda ou aceite sua decisão de fazer algo que não gosta só porque seu pai quer?

— Eu não tenho escolha. – Liz afirmou, cruzando os braços e olhando em outra direção. – Sou filha única, sou obrigada a assumir essa droga! Sem falar que, talvez, obedecer e fazer isso por ele o faça aceitar, sabe, nós...

— Liz... – Murmurou Gwen, ainda pensando no que dizer. – Ele não precisa aceitar, okay? E você não é obrigada a trabalhar com algo que te deixe infeliz pelo resto da vida só para tentar agradá-lo e...

— Eu não quero agradá-lo.  – A interrompeu, mas não bruscamente. – É só que, por mais que ele consiga ser um ignorante doutrinado, continua sendo meu pai e não posso fugir disso. Continuarei sendo obrigada a vê-lo todas as vezes que vier visitar a minha mãe e eu não quero ter que te tratar como uma amiga quando ele estiver por perto!

— Você não precisa. Sua mãe aceita. Se ele não, o problema é dele. Somos forçadas a conviver com muitas pessoas, certo? No colégio, eu quero dizer. Não nos escondemos mais e está tudo bem. O máximo que seu pai pode fazer é falar besteira. Gerar discussões. Não é nada que já não estejamos acostumadas...

— Sei disso, é só que... – Emudeceu-se, percebendo que não tinha argumentos. Sabia que Gwen estava indiscutivelmente certa. Não era certo escolher uma profissão que não a fizesse feliz, por mais que ela acarretasse em finalmente conseguir a aprovação do pai em algo. – Você tem razão.

— Claro que eu tenho. – A morena falou como se fosse a coisa mais óbvia do universo. – Como em 99,9% das nossas discussões, aliás.

Então, Liz sorriu. Deus, o que seria dela sem aquela garota? Estaria o quê? Ainda fingindo – tanto para os outros quanto para si mesma – sua heterossexualidade inexistente? Aceitando sem contestar as ordens do pai? Tendo uma relação distante com a mãe? Enganando Matt e seguindo em frente com a mentira que costumava ser aquele namoro?

— Obrigada... – Agradeceu, afundando o rosto no pescoço dela, em um abraço que foi prontamente correspondido.

Que isso, é minha obrigação como namorada te impedir de fazer besteira. – Gwen disse, divertida, arrancando uma leve risada por parte da mais alta.

— Não estou falando apenas disso. – Se afastou, com o objetivo de olhá-la com toda a seriedade e sinceridade que podia. – Estou falando de... Tudo.

— “Tudo”? – Gwen repetiu interrogativamente, franzindo o cenho.

— É, tudo. – Sorriu meio que bobamente. – Você é bem mais que minha namorada. – Pegou ambas as mãos dela e fixou os olhos verdes nos castanhos. – É a pessoa que conhece melhor que qualquer outra, mais até que a Becky, além de ser a única em que confio incondicionalmente, mesmo sendo vergonhosamente ciumenta às vezes. Mas, além disso, você fez de mim alguém melhor. Estarmos juntas me deixou menos egoísta e fútil. Claro, continuo sendo assim em várias situações, mas foi um enorme progresso. E tudo por sua causa. Porque, inconscientemente, eu sabia que a Liz obcecada com popularidade e atenção não te merecia. Então, estou te dizendo “obrigada” por tudo.  Mas principalmente por estar na minha vida desse jeito e me amar, mesmo que eu tenha sido uma cretina com você desde o momento em que te conheci.

Ao fim do “discurso”, Gwen estava completamente sem palavras. Sabia que deveria dizer algo, contudo não conseguia pensar em nada. Então, somente a ficou encarando, em silêncio, tentando encontrar qualquer coisa à altura de tudo que a namorada dissera.

— Eu...

— Não precisa falar nada. – Afirmou Liz, com uma expressão que a baixinha considerou como sendo indecifrável. – É só algo que eu precisava muito te dizer.

Uhum... – Mussitou Gwen, apesar de ainda achar que deveria respondê-la de alguma forma.

Sem motivo aparente – não que precisasse de um –, a loira a beijou e em seguida voltou a abraçá-la. Verdade seja dita, sentia-se sim meio mal pela conversa que tivera mais cedo com o pai. Odiava ter de confrontá-lo, mas não lhe restavam muitas opções. Gwen estava certa. Não podia estudar administração apenas porque ele queria que ela o fizesse. Era quase uma adulta, precisava começar a tomar as próprias decisões.

E bem, se iria mesmo ser sincera com ele, falaria também sobre a sua sexualidade, por mais que a mãe sempre a aconselhasse a não fazê-lo. Não queria mais mentir sobre quem era, para ninguém.


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