Cecília me levou diretamente ao lugar onde minha mãe mandou fazer o vestido do meu aniversário de quinze anos. Eu não lembrava exatamente como ele estava e na última vez que minha mãe veio, não pude vir porque o León não deixou. Antes de terminar com a Ludmila, ele precisava dividir o tempo e aí minha mãe queria me levar quando nós dois enfim tivemos um momento juntos. Mas ele continua assim, grudento – no melhor sentido. Se dependesse dele, eu estaria morando com a família Vargas. Todos os dias sou convidada para jantar e dormir lá. Ainda que ele me peça, não voltarei hoje. Meus pais viajarão na terça e quero ficar com eles. Depois que eles viajarem é certeza que passarei a semana na casa da Cecília.

— Gostou dos ajustes que pedi, filha? – Minha mãe perguntou pela primeira vez depois que coloquei o vestido.

— Ah, mãe. Eles deixaram o vestido perfeito, como não gostar?

Ela sorriu e eu retribui, sincera.

O meu sonho de ter uma festa de 15 anos estava se realizando e eu me contentava em saber que minha mãe se esforça com isso. Nos aproximamos mais desde que fiz o teste e entrei. Acho que para ela já era o bastante.

Eu não a odeio por ter me feito desistir do meu sonho para seguir os costumes da família, até porque ela não tem culpa da Tradição e também passou pelo mesmo que eu. O que senti – e sinto – foi a falta dela durante esses anos. Custava ter ficado mais perto e cuidado de mim? Ainda que não morássemos na mesma casa, ela poderia ter ficado perto de mim e por isso não estaria sofrendo com o choque de mudanças drásticas que a Tradição causou na minha vida.

Corri a mão pelo vestido longo enquanto a costureira reparava o que poderia melhorar. É a última vez que venho, depois só vestirei no dia da festa. Mal posso esperar!

— Tem certeza que não quer debutantes? – Ela perguntou.

— Sim e mesmo se quisesse não daria mais tempo.

— Daríamos um jeito, filha.

— A Fran é a única amiga que eu tenho e isso basta para mim.

Tirei o vestido assim que disse os ajustes para a costureira. Minha mãe ainda conversou muito com ela, enquanto eu e a Cecília olhamos os outros vestidos que lá tinha.

— Está gostando mesmo, Violetta?

Assenti sorrindo.

— É o sonho de sua mãe preparar uma festa do jeito que você quiser desde os 15 anos dela. Aliás, não só isso. Ela queria muito te ver crescer – comentou.

— Me ver crescer? Ceci, ela foi embora sem se despedir e disse para o meu pai que eu só podia visitá-la depois que completasse catorze. Por que só nessa idade? Por que será?

— Ela não contava com o divórcio, estava apaixonada e não queria se separar. No entanto, essa foi a única solução para acabar com a dor que sentia.

Olhei para ela, confusa. Ela não falou mais nada, pois minha mãe apareceu perto de nós duas.

— Vamos? – ela perguntou.

— Sim, daqui a pouco as amostras do buffet chegam e ainda estamos aqui.

Seguimos para casa no carro da Ceci. Elas duas passaram o caminho todo conversando, enquanto eu buscava entender porque os meus pais se amam e continuam na situação que estão. O pior é que se paro para escutar uma discussão entre eles, crio coisas na minha mente e sofro. Sei que nunca me dirão o motivo e não acho ético perguntar.

Então, essas questões ficarão sem respostas para sempre.

Em casa, nos foram apresentadas várias amostras, uma melhor que a outra. Foi muito difícil escolher.

Eu saboreava um doce, muito delicioso por sinal, quando meu pai chegou em casa com o seu assistente pessoal. Não pude resistir em me levantar da mesa e ir até ele e dar um abraço bem apertado.

Sentia saudades dele. Isso é impossível negar.

— Minha princesinha voltou! – exclamou. – Você está bem? Se comportou direitinho?

— Sim, pai – ri.

— Vou perguntar à Cecília, viu?

Abracei-o mais uma vez e o puxei para a sala de jantar. Meu pai sorriu ao ver minha mãe e a Ceci. As duas fizeram o mesmo, mas a minha mãe tinha feito com mais vontade. Ficaram se olhando por um bom tempo.

Eles estavam apaixonados. Isso era perceptível.

— Pai – chamei-o rindo. – Prova esse doce que a minha mãe quer colocar na minha festa.

— Ela que fez? – Perguntou sem tirar os olhos dela.

— Não, foi a equipe do buffet.

Cecília soltou um riso elegante e minha mãe curvou a cabeça, mordendo o lábio. Meu pai pegou o doce e degustou.

— Hmmm… é uma delícia. Por que não coloca na sua festa?

Não muito tarde, escolhemos todos os doces, salgados e até o bolo. Imagino o quão incrível será. Devo estar mais ansiosa para comer que para curtir. Não vou mentir.

Cecília logo teve de voltar para sua casa, não era legal deixar o Jonas sozinho. Olga apareceu segurando uma bandeja com três copos de suco que minha mãe havia pedido. Particularmente, eu não aguentaria comer mais nada, mas não vou negar um copo de suco.

Ela serviu a meus pais e na hora de me servir, se aproximou e sussurrou:

— Você tem alguma notícia da Francesca? Ligo tanto para a minha irmã e ninguém atende.

O que poucos sabem é que Olga é a mãe da Fran. Ela trabalha e mora aqui em casa desde sempre, pois precisa sustentar a sua pequena família. A Fran só veio para Buenos Aires quando, finalmente, uma condição boa foi alcançada.

— Não a vi hoje, mas sei que saiu com o León.

— Ora, mas o León não é aquele rapaz por quem você se mostrou tão apaixonada?

— Apaixonada? Não viaja, Olga! – Falei pegando o último copo da bandeja.

— Estão namorando? – Ela disse alto.

O meu pai estava conversando com a minha mãe e ao escutar o que Olga disse parou no mesmo instante, olhando para mim.

“Muito obrigada, Olga!” Pensei.

— Quem está namorando, filha? Você?

Hesitei antes de começar a falar. Eu não estava namorando, mas independente do que eu dissesse o meu pai desconfiaria e não duvido que contrate alguém para seguir os meus passos.

Ele é super protetor quando necessário.

— Não, pai. A gente tava falando do León que terminou o namoro há alguns dias.

— Ah, mas ele é um bom rapaz e vai conseguir uma namorada nova.

Sorri fraco. León rompeu o seu relacionamento com a Ludmila e está sofrendo por outra garota que não é ela. Enquanto eu estou há tempos querendo que ele não me veja só como amiga. Tanto que já nem sei mais o que sinto.

Meu pai voltou a conversar com a minha mãe e pedi que Olga voltasse para a cozinha imediatamente, antes que falasse qualquer outra besteira. Resolvi atrapalhar a conversa e fui até onde eles estavam reunidos. Nem perceberam que eu me aproximava. Sorriam e trocavam olhares. Foi aí que escutei meu pai perguntar:

— Aceita jantar comigo?