Segredos de vida escrita por Lana Talita


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Então galera, essa é a minha primeira fic , então por favor sejam bonzinhos kkkkkkkkk . De verdade, critiquem, falem se devo continuar, o que pensarem ( se não quiserem falar nada tá tudo bem também). Enfim, espero que gostem. Beijinhos.



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É estranho olhar para o passado, principalmente agora que a verdade está confusa, mas as mentiras cada vez mais claras. Tudo é tão clichê que ainda me pergunto como não vi o golpe chegando.

Chamo-me Ana, vinte e dois anos, cabelo ruivo, sardas no rosto, alta, magra e com um olho azul e o outro castanho. Não tenho do que reclamar em relação a minha aparência, todos me invejavam, todos queriam ser eu. Porém eles só viam meu corpo. Eu apenas servia para embelezar, um enfeite em uma casa rica. Nasci e cresci na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, meu pai é advogado e minha mãe atriz. A vida da minha pequena família sempre foi... perfeita. Bom, era o que eu pensava.

Quando tinha dez anos meus pais se separaram. Divorciaram-se no papel, quase toda noite, quando eu não conseguia dormir, ouvia risadas do quarto de minha mãe. Risadas sinceras, maliciosas, más. No começo demorei a entender o que era, até senti-me ferida por ver a felicidade rápida da minha mãe, como se o divórcio não tivesse importância. Mas um dia, depois de um pesadelo, ouvi as risadas. Como toda garota de dez anos curiosa, fui até a porta do quarto dela e olhei pela fechadura.

O máximo que consegui ver foram dois pares de mãos entrelaçados, afastei da fechadura e ouvi o nome de meu pai, Moacir, ser pronunciado por minha mãe. Quase um sussurro, não teria escutado se não tivesse colado o ouvido na porta de madeira. Corri até meu quarto e entrei debaixo das cobertas, era ingênua demais para entender o que estava acontecendo. A primeira coisa que pensei foi que mamãe queria o aumento da pensão, em diversas ocasiões reclamou que era baixa, mal dava para me sustentar. No entanto, a verdade é que dinheiro era algo que não faltava.

Meus pais tiveram papel essencial na repaginada que minha vida levou, e é impossível não contar sobre essa mudança. Porém não falarei disso, não ainda; começaremos pelos fatos do passado e do amor. Um amor que é a minha fraqueza, mas também minha força. Um amor que me fez cometer loucuras, que me conquistou como nenhum outro amor conseguiu.

Quando tinha dezessete anos visitava minha tia todo dia depois da escola, dispensava o motorista que me levava para casa e pegava um ônibus até o bairro Ipanema. Minha mãe trabalhava essa hora, então minha ausência não era notada. O apartamento da minha tia era na cobertura de um prédio, ela também era advogada. Chama-se Fernanda, tem quarenta anos e sempre foi a que sabe conversar e economizar da família.

Enquanto meu pai gastava exageradamente com coisas que nem eu nem minha mãe precisávamos, muitas vezes que eu não queria. A irmã dele separava o salário em grandes quantias e guardava mentalmente o destino delas. Ela sempre foi minha confidente e me conhece melhor do que eu mesma. Não preciso falar o que estou pensando e sentindo, ela sabe só de me olhar. Em uma terça-feira ensolarada estava indo para o apartamento dela. Ao entrar notei uma bagunça incomum na sala de estar. Havia papéis jogados no sofá preto, duas xícaras brancas na mesinha de centro e a televisão ligada em uma novela qualquer. Comecei a juntar os papéis com receio, minha tia sempre foi obcecada com limpeza e organização. A primeira e última vez que entrei na casa dela e me joguei no sofá, deixando as almofadas caírem no chão e o tênis no tapete, ouvi sermão o resto da semana.

Quando levei as xícaras para a cozinha ela levantou rapidamente da cadeira. O rosto estava pálido e o cabelo loiro preso em um coque, deixando-a mais velha.

– Oi querida. Não te vi chegando. – Ela falou.

– Oi tia. Eu toquei a campainha, mas você não atendeu, e como lembrei que tinha a chave da porta, resolvi entrar.

Meus olhos então capturaram algo diferente na cozinha, uma pessoa que não conhecia. Um menino que não devia ter mais que dezenove anos, cabelo castanho e pele morena. Não pude deixar de notar o quanto ele era bonito, meus olhos percorreram do rosto dele para os músculos do braço a mostra na camiseta azul e depois para o sorriso que abriu quando me viu. Um sorriso capaz de iluminar uma cidade inteira. Sorri de volta deixando as xícaras em cima da mesa, e ao notar que havia atrapalhado a conversa dos dois saí do apartamento e fui para uma praça a duas quadras de distância dali. Apesar do barulho dos carros em alta velocidade e buzinando, aquela praça era aconchegante, um bom lugar para passar o tempo. Na frente do banco em que estava sentada tinha um grupo de amigos, instantaneamente fui tomada por lembranças do ano anterior, quando tinha dezesseis anos.

*

Naquele ano eu e meus amigos do bairro íamos para a praça e bebíamos cerveja e vodca enquanto fofocávamos da vida alheia. Eles debochavam de mim porque eu sempre me recusava a tomar mais que dois goles, mas nesse dia quis agradá-los. Já estava na minha quinta lata de cerveja quando aconteceu. Lucas, o responsável por comprar as bebidas naquele dia porque era o único que portava a carteira de identidade, estava extremamente bêbado. Uma hora ele viu duas meninas do outro lado da praça e quis ir atrás delas, no entanto mal se aguentava em pé. Então uma das meninas, Lucimara, me mandou ajudá-lo, mas eu estava pior que ele.

Quando íamos atravessar a rua, Lucas me deu um empurrão leve dizendo que só ele ia atrás das meninas, eu o empurrei de volta e vi o mundo girar. Parei no meio fio tentando me recompor enquanto Lucas andava rindo de mim. De repente ele parou no meio da rua rindo exageradamente, em seguida apareceu um carro em alta velocidade e o atingiu. O corpo de Lucas caiu a metros de distância, Lucimara foi a primeira que teve uma reação. Ela correu até onde ele estava, caiu de joelhos e gritou. Júlia, a segunda mais velha do grupo, ligou para a polícia e ambulância, mas já era tarde demais. Já eu fiquei parada, olhando o carro fugir. A cena não parecia real, portanto apenas corri para minha casa e me tranquei no quarto.

Meus amigos não contaram para a polícia que estava com eles, sabiam que daria problema para eles se os pais descobrissem que compraram bebida para uma menor de idade, entretanto pararam de falar comigo por ter fugido e não ido ao enterro dias depois. Ao sentir uma mão no meu ombro virei assustada e com o coração martelando no peito por ser tirada das lembranças. Minha tia estava atrás de mim com um sorriso carinhoso.

– Você saiu sem me avisar, fiquei preocupada. – Fernanda falou.

– Desculpa, não queria atrapalhar a conversa com aquele garoto. E como não tinha nada para fazer na sua casa, resolvi passar um tempo aqui.

Ela sorriu, mas o olhar carregava um semblante triste. Algo estava errado, algo que marcaria o começo da minha nova vida.

– Vamos voltar pro apartamento? Lá você aproveita e me conta o que tem de novidade, faz um tempinho que não me visita, senti sua falta. Disse Fernanda.

– Vamos sim. Ah tia, na verdade não tenho o que contar, além de que a escola estava tomando muito meu tempo, semanas de prova, por isso não te visitei.

Ao chegar no apartamento vi o menino subindo as escadas para o segundo andar, o barulho que os passos rápidos de encontro com a madeira da escada eram extremamente altos. Minha tia pegou um filme de ação e o colocou parar rodar, dizendo que esse seria apenas o primeiro filme do dia.

De noite voltei para casa, minha mãe ainda não tinha chegado, então tomei banho, me joguei no sofá e coloquei um filme no último volume. Só podia fazer isso quando mamãe não estava, pois dizia que o barulho dos filmes que eu via a davam enxaqueca. Adormeci na metade do filme, mas rapidamente acordei com sons de risadas. As velhas risadas. Andei na ponta dos pés até a sala principal, vi meus pais conversando e trocando selinhos. Um desejo de acabar com aquela farsa tomou conta de mim, depois de sete anos do divórcio e encontros às escondidas ainda eram incapazes de se assumirem, de tornar oficial. Voltei para a sala de estar, desliguei a televisão e subi para o segundo andar onde fica meu quarto, ciente de que nunca conseguiria satisfazer meu desejo, tinha medo das consequências. Afinal, eles eram melhores em segredo.

Ao deitar na minha cama king size com um edredom azul claro, encarei a forma dos objetos no escuro. Creio que todo mundo alguma vez na vida já percebeu como as coisas mudam no escuro, se você leitor não o fez passe a fazer, é um mundo totalmente novo. Minha tia dizia que o estalo simples de uma madeira para uma mente criativa, alerta e impressionável se torna um bicho prestes a atacar. Uma sombra em uma pequena penumbra se transforma em um espirito do mal, e o coração acelerado no peito é motivo para cansar o ouvido de Deus pedindo proteção.

No entanto comigo nunca foi assim, as coisas mudavam sim. Mas não para isso. O que eu via era o vazio, um vazio prestes a me consumir se eu não conseguisse dormir para fugir. Um vazio que a luz do dia com as distrações se mantinha escondido, mas não deixava de crescer em uma mente desocupada.


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Notas finais do capítulo

O primeiro capítulo foi esse aí *-* . Irei tentar postar sempre nos finais de semana, porque dia de semana eu quase não tenho tempo.