A fera de Zarden - HIATUS escrita por Zia Jackson


Capítulo 9
Capítulo 8 ― Sangue fatal


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?
Queria pedir perdão pelo tempo sem postar ;(. Desculpa, de verdade.
Obrigada a todos que não desistiram
Bjs ♥



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James podia sentir o vento em seu rosto enquanto corria. Gelado, incômodo e veloz. Sentia os cabelos sendo despenteados, o rosto invadido por uma lufada de ar e os pulmões clamando por uma pausa. Ele, no entanto, não queria parar.

— James! — Gritou Eveline, correndo atrás do irmão. — James, pares de correr!

Lançou um olhar para trás, a tempo de ver a irmã se arquejar nos joelhos e ofegar. Estendendo a mão, clamou para que ele parasse.

— Não, Eve. — Disse o rapaz. — Hoje não.

Assim, retomou sua corrida até o estábulo. O sol já ia se pondo, tingindo o céu de rosa e laranja. Era algo belíssimo de se ver, tão belo que por um segundo o príncipe quase se esqueceu do que viria assim que o sol sumisse: A lua minguante, e com ela a fera também. Por isso, ele corria.

— Alteza — Disse o rapaz que cuidava do estábulo, fazendo uma reverência.

— Não deixe que a princesa entre aqui até segunda ordem, entendeste-me? — Ordenou o príncipe.

— Claro, Alteza.

Procurou apenas alguns segundos antes de encontrar o que estava procurando. Addai, o cavalo, animou-se com a presença do dono, ao mesmo tempo em que todos os outros animais se escolheram em um canto, certamente farejando a fera.

— James, pares agora mesmo! — A voz de Eveline soou ao mesmo tempo em que a garota o puxou pelo braço. — O que pensas que estás fazendo?

— Fugindo. — Respondeu ele. — Não lhe parece óbvio?

— Fugindo em uma noite de lua minguante? Totalmente irresponsável.

 Eveline bufou.

— Como entrastes aqui? — James indagou, confuso.

— Eu corri. De qualquer modo, não é o foco da conversa. O que pensas estar fazendo? 

— Já lhe disse, vou fugir.

Revirando os olhos, ela disse:

— Apressa-te, o sol está se pondo e ainda estamos longe das masmorras.

Começou a puxa-lo pelo braço, porém o rapaz relutou.

— Não, Eve, tu não me entendestes. Cansei de ficar preso nas masmorras, de correr o risco de escapar e matar algum servo ou a nossa família. Além disso, os hóspedes de Ollyer podem desconfiar de alguma coisa. E se Eliza descobrir sobre mim?

— Ela não irá descobrir, meu irmão. E, se não ficardes preso nas masmorras, a fera pode matar pessoas de todo o vilarejo. Agora me acompanhe, temos de nos apressar.

James queria esbravejar, explicar para a irmã o quanto o medo o consumia, mas sabia que seria perca de tempo. Eveline estava certa, o melhor a se fazer era seguir a rotina. Correntes grossas, faixas tão apertadas para prendê-lo às paredes que deixavam o sangue escorrer, a escuridão, a solidão e a dor. Principalmente a dor.

* * *

— Precisas sair logo daqui. — Disse James, observando o escuro do lado de fora através de um buraco nas masmorras.

— Não posso. — Ela resmungou.  — Não até terminar de prendê-lo...

Como um aviso, uma dor lancinante atingiu o rapaz, que soltou um grito.

— Corra, Eveline. Eu termino sozinho.

— Mas...

— Agora!

Largando as correntes no chão, ela saiu rapidamente, fechando as grossas portas das masmorras atrás de si.

Somente após ela sair foi que James notou. Na pressa, esquecera-se de apanhar o grande taco forjado em ferro que prendia a porta e, sem ele, bastava aplicar força à porta que ela cederia. E se tinha uma coisa que a fera tinha, era força.

— Mas que... — Murmurou James. — Eveline! Eve, volte aqui!

A irmã não respondeu, o que o fazia pensar que já estava longe dali.

— É tudo minha culpa. — Disse a si mesmo. — Se eu não tivesse apressado tanto...

A dor o invadiu mais uma vez antes que apagasse por completo.

Era hora de a fera o dominar.

* * *

Ao acordar, James soube que havia algo errado. Ao invés da pedra dura e fria das masmorras, sentiu sob seu corpo a grama quente. Abriu os olhos devagar, tentando se acostumar com a claridade. Estava em um vasto campo de grama seca e alta, sem sinal algum de árvores. Há alguns metros, havia uma casa simples, feita de palha. Resolveu se aproximar para pedir ajuda.

Deu cerca de cinco passos até notar o estrago que fizera. Havia uma trilha até alcança-la, mas não uma trilha de pedras ou de migalhas de pão. Uma trilha braços, cabeças, pés e troncos ensanguentados, separados do resto do corpo. Uma trilha de mortos, pessoas que a fera matara.

Baixou os olhos até suas vestes, percebendo só agora que estavam tingidas de vermelho-escarlate. Sem se conter, James desabou na grama e soltou um grito,um misto de pavor, horror e medo. Medo de si mesmo e do que poderia fazer.

* * *

— Irmão! — Gritou Eveline. 

— Fique longe de mim. — Disse ele, sem tirar o rosto do chão.

Ela continuou avançando. Estava disfarçada, usando uma capa de aspecto antigo e um capuz.

— Fique tranquilo, ninguém no vilarejo se machucou. Acabo de passar por lá.

Sentiu seu corpo tremer, o rosto molhado por lágrimas.

— Fiques longe. — Clamou.

—  Percebes o quanto isso é bom, irmão? Ninguém se machucou...

Ele levantou a cabeça para encarar a irmã e, assim que ela o viu sujo de sangue, soltou um grito.

— O que ela fez?

Em resposta, James apontou para onde os corpos estavam. Eveline caminhou até lá, mas ao ver os mortos, caminhou para trás novamente, em choque.

— Todos eles estão... mortos? — Indagou, embora a resposta fosse óbvia.

Incapaz de falar, ele apenas começou a chorar novamente.

— Era disso que eu estava falando, Eve. Cada vez é pior, mais forte, e eu não sei se posso aguentar... Sou uma aberração.

Eveline abaixou-se ao seu lado, tirando dos ombros sua capa marrom.

— Não, James, tu não és. A fera sim. Venha comigo, ali tem um rio para que possas se limpar.

Levantando-o, a garota serviu de apoio para que o irmão pudesse andar. E, enquanto ele chorava na beira do rio encostado à uma árvore, ela limpava do seu rosto o sangue dos inocentes que a fera destruíra. O sangue que deixava claro o maior medo do príncipe: que, um dia, a fera o dominaria por completo.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
bjs ♥