James estava inquieto, cada dia mais preocupado com a chegada da lua minguante. Seus pais, embora dissessem que tudo iria dar certo, também tinham um certo receio de que um dos hóspedes descobrisse o segredo que poderia manchar e acabar com o reinado dos Moureau.

— Irmão. — Chamou Eveline. —Creio que o sangue em tuas mãos seja um sinal de que deves se ocupar com algo.

Percebendo somente agora que suas unhas haviam feito um leve machucado em suas mãos, o rapaz afastou-as das palmas.

— Achas que descobrirão sobre a fera? — Sussurrou ele.

— James, acalma-te!

 — Não sou capaz de me acalmar, se descobrirem sobre mim...

— Não irão. — Falou Eveline, com tanta certeza que James se sentiu tentado a acreditar.

Passos ecoaram pelo corredor, seguidos de uma voz aguda e estridente.

— E é por este motivo, Rainha Adeline, que Ollyer é um país muito melhor que Zarden. — A voz de Eliza soou. — Sem querer ofender, é claro.

— Não foi ofensivo. — Disse a mãe de James e Eveline. — Mas creio que Zarden seja um país muito melhor. Fazes ideia de quantos cidadãos de nosso país fugiram do teu?

— Por mais perfeita que uma nação seja, sempre haverá pessoas insatisfeitas. É uma pena que troquem Ollyer por algo pior.

James teve de reprimir sua risada, pois parecia uma piada que alguém achasse que Ollyer fosse um país melhor que Zarden. Ollyer era, basicamente, uma nação de recursos naturais escassos, extrema pobreza e uma rainha desequilibrada que desperdiçava rios de dinheiro em jóias e comidas que iam parar diretamente no lixo enquanto seu povo via os filhos falecerem de fome e doenças que atingiam mais pessoas a cada dia.

— Sim, é uma pena. — Disse Adeline, sem emoção. — Caso não te importes, tenho de resolver algo muito importante agora. Nosso passeio pelo castelo continua depois.

As rainhas partiram, cada uma para um canto.

— Aposto uma moeda de ouro que mamãe não tem nenhum compromisso nesse momento, que isso não passa de uma desculpa para se livrar da Eliza. — Sussurrou Eveline.

— Apostado. — Concordou James. — Agora, por favor, vamos nos ocupar com alguma coisa antes que tu tenhas de ficar de babá para Catenísia novamente.

— Catenísia é uma jovem adorável, irmão. Não entendo como alguém consegue ser agradável com aquela família... Talvez tu devesses passar um tempo com ela. 

E, sem dizer mais nada, Eveline deixou o corredor à passos largos.

“E ainda tem isso agora.” Pensou o rapaz. “Além de ter que aturar Eliza, tenho de ficar sem companhia.”

— É um hábito as pessoas ficarem perambulado pelos corredores nesse castelo? — Disse Hans, atrás de James.

Assustado pela presença repentina do servo de Eliza, o rapaz se virou para encará-lo.

— Pensei que tu andasses o dia todo atrás da rainha.

— Fui dispensado, ela queria explorar o castelo sozinha. Embora eu tenha dado uma informação muito importante para ela noite passada...

Sem entender o que estava acontecendo, James continuou a encarar o homem.

— Não me leves a mal, Alteza, mas creio que os que sofrem do sonambulismo não possam relatar com riqueza de detalhes a conversa entre mim e minha senhora ontem.

— Hans...

— Não te preocupes, Alteza. Só achei um pouco estranho e, após contar para a rainha, ela também achou. Enfim, deves estar ocupado e não irei causar mais atrasos para ti.

O homem se retirou depressa, deixando um James espantado demais para tomar alguma atitude para trás.

Se aquele homem ouvira o relato de James aos seus pais, isso seria no mínimo perigoso e no máximo... bom, o rapaz não se atrevia a pensar no que Eliza poderia fazer.