Paramos em um restaurante pequeno, mas aconchegante. Tobias pede uma mesa pra dois, e logo somos encaminhados à uma mesa perto de uma parede de janelas. As mesas eram quadradas e dispostas pelo salão de maneira irregular, ficando distantes umas das outras. Olho para Tobias e ele está sorrindo para mim, e vejo nele o mesmo Quatro de sempre, meu melhor amigo, presente em todas as etapas da minha vida.

–Obrigada. - sussurro para ele, que sorri e toca em minha mão, que estava sobre a mesa.

–Se você continuar, vou começar a me achar - sorrio de volta pra ele.

–Não que você já não se ache - dou uma piscadela e ele levanta uma sobrancelha e sorri, afirmando com a cabeça.

O garçom chega e recolhe nossos pedidos, enquanto isso, vejo que Tobias está respondendo alguma coisa em seu celular e faz uma careta.

–Está tudo bem? - pergunto.

–Sim, só resolvendo alguns problemas, nada de importante. - ele sorri - falando em problemas, estou com um bem sério. - ele franze a sobrancelha.

–O que houve? - pergunto preocupada.

–Eu estava planejando entrar em uma liga da faculdade, você sabe, pra estar no meio médico, sempre aparecem boas oportunidades, mas eles só aceitam pessoas "certinhas"– diz ele fazendo aspas imaginárias e rolando os olhos.

–Como assim, "certinhas"? - pergunto imitando as aspas e franzindo a sobrancelha.

–Independentes, que não aprontam, normalmente os caras moram sozinhos, têm namorada, orgulho dos pais. - ele revira os olhos.

–Bem, mas você é o orgulho de Marcus, não? Que pai não se orgulha de um filho que vai ser médico! - digo rindo.

–Tris, o líder da liga deixou a entender que eu sou muito galinha para estar ali. Ele disse que eles levam as coisas a sério, e com o meu jeito eu não pareço levar. - ele diz bufando.

–Mas como não? - pergunto revoltada - as suas notas são excelentes, você é um dos melhores alunos da turma, melhor até que Will!

–Eu sei disso... mas a única solução é eu encontrar uma namorada e dar um jeito de parecer mais responsável. Eu preciso entrar nessa liga, entende?

Enquanto conversávamos, o garçom trouxe nossos pedidos e eu agradeci.

–Claro, entendo... mas pra você não vai ser difícil arrumar uma namorada - digo bebericando meu refrigerante.

–Infelizmente vai. Eles analisam a menina, ela também precisa ser "séria", é como se estivéssemos entrando na alta sociedade dos futuros médicos.

–Cara gosta de você, e com alguma ajuda, ela pode parecer mais...

–Nem pensar! -ele me corta- ela é muito... erm... Pegajosa. - ele bufa.- apenas em último caso, se eu realmente não achar alguém.

–Mas ela gosta de você, Tobias! - digo revirando os olhos- é claro que ela vai aceitar ser sua namorada, se ela aceita ser isso que vocês são, nem sei como nomear.

–Vou pensar. Na verdade, preciso de uma namorada por três meses, é o período que eles analisam, e logo após tem a festa, onde eles anunciam os selecionados. Depois disto, não preciso mais estar namorando. Depois que eu estiver lá dentro, dou um jeito. Eu só preciso de sua ajuda para achar alguém. E de preferência alguém que não se apegue.

–Tudo bem, vou pensar em alguém para você... - ele olha pra mim por um momento e apenas sorri. - Sabe aquela minha colega, Molly, o que acha dela?

–Você está louca?– ele pergunta arregalando os olhos - ela me dá medo, há um tempo atrás vi ela dando um soco em um menino, Beatrice... Só porque ele disse que o perfume dela era bom!- ele exclama alterado.

–E que tal Tori, aquela oriental que estudou conosco no ensino médio? Ela sempre gostou de você!

–Eu nunca sequer falei com ela, Tris! - ele parece indignado - sabia que não podia deixar pra você arrumar alguém - ele parece emburrado bebendo seu refrigerante.

–Ah Tobias, sinto muito... Eu juro, vou pensar em alguém que seja legal, mas o seu gosto é muito complicado pra quem precisa desesperadamente namorar alguém - franzo a sobrancelha.

–Não sou exigente, só não quero correr o risco de ser agredido por minha suposta namorada - ele diz arregalando os olhos, demonstrando seu pavor, e eu sou obrigada a rir.

–Tudo bem, tudo bem! - digo me rendendo - Vou pedir ajuda à Chris, ela vai pensar em alguém.

Eu juro que estava tentando pensar em alguém, mas minha mente se negava a encontrar uma pessoa que pudesse ser a namorada de Tobias. Terminamos nosso jantar e fomos para o carro, já eram cerca de onze horas da noite, então imaginei que voltaríamos para casa.

–Já está com sono ou topa fazer mais alguma coisa? - Pergunta Tobias.

–Eu achei que iríamos pra casa, mas se você quiser, eu topo - digo sorrindo. - mas vamos fazer o quê?

–Surpresa. - ele diz sorrindo.

Andamos por alguns minutos com o carro, e vejo que Tobias está se aproximando da praia, então abro o vidro do carro e fecho os olhos, sem pensar em nada, apenas sentindo o vento que traz o cheiro do mar e algumas boas lembranças. Quando abro os olhos, Tobias já parou o carro, e vejo que ele me observa com um pequeno sorriso nos lábios, então pergunto:

–O que foi?

–Nada, estava apenas olhando você. - ele sorri. Sinto que minhas bochechas coraram, e agradeço pelo carro estar escuro.

–Erm... Vamos até a areia? - pergunto meio sem jeito.

O clima estava esfriando, o que só deixava a noite mais bonita. O céu estava limpo, então era possível ver a lua cheia acima de nós. Tobias achou um tronco de madeira, então sentamos virados para o mar, em silêncio por uns instantes, apenas observando as ondas.

–Eu te trouxe aqui porque sei que você gosta da praia à noite - diz Quatro me cutucando.

–Então quer dizer que você acha que me conhece, senhor Eaton? - pergunto em tom de desafio.

–Melhor do que ninguém, senhorita Prior - ele diz erguendo uma sobrancelha, como se aceitasse o desafio.

–Então me diga, qual a minha cor favorita?

–Essa é fácil, preto.

–Certo, certo. Qual a minha bebida favorita?

–Beatrice, você está me subestimando - ele diz franzindo os lábios e a sobrancelha - é coca-cola.

–Tudo bem, essa é mais difícil: quem eu beijei quando dei meu primeiro beijo?- pergunto rindo.

–Beatrice! Isso não é coisa pra se perguntar - ele faz cara de bravo, mas como sei que é orgulhoso, ele precisa responder - meu melhor amigo, Eric - ele enfatiza o melhor - e ainda por cima, na minha frente! - então ele levanta os braços, como se fosse a coisa mais absurda do mundo, e eu caio na risada.

–Isso mesmo, e falando nisso, por onde anda o Eric? - pergunto apenas para provocar Quatro, que apenas me olha com uma cara ranzinza e nem se dá ao trabalho de responder. - Tudo bem, última: por que você ainda é meu amigo, apesar de todos esses anos?

Ele parece pensar um pouco, e me olha com um olhar doce, então responde:

–Porque eu sei a menina incrível que você é, apesar de ser chata, e as vezes me irritar um pouco, você é uma das melhores pessoas que eu já conheci. Admiro muito você, Tris, desde que éramos pequenos, você sempre foi corajosa e audaciosa. Não posso nem pensar na hipótese de ficar longe de você. - ele diz sorrindo docemente. Meu coração falha de um jeito estranho, de um modo que nunca havia acontecido. Eu fico extremamente constrangida e abaixo a cabeça sorrindo, então ele levanta o meu rosto e tira o cabelo da frente dos meus olhos e me dá um beijo suave na testa, mas parece pensar em alguma coisa e logo se afasta. Ficamos um pouco em silêncio, e pra quebrar o clima, digo a única coisa que se passa por minha cabeça:

–Está ficando frio. - ele me olha e então levanta, apenas dizendo:

–Fique aí.

Eu obedeço e fico o obsevando, ele parece estar procurando alguns gravetos, caminha de um lado pro outro e então para em minha frente e começa a tentar montar uma mini fogueira, mas logo ela desaba e ele desiste e bufa.

–Acho que você não foi um bom escoteiro- digo o cutucando.

–Mil perdões, acho que perdi meu posto de melhor amigo, não consegui fazer fogo para esquentar a donzela com frio - ele brinca, e nós dois rimos. Então ele tira a jaqueta e coloca gentilmente sobre os meus ombros.

–Tobias, o que você fez com a pizza? - pergunto o olhando. - estou ficando com fome.

–Também estava pensando nela. Deixei na bancada da cozinha - ele faz uma cara de triste.

–Poderia ser a nossa versão de marshmallow no palito, já que não temos fogo - falo rindo, e ele me acompanha. O telefone de Tobias toca, e ele atende, mas só consigo ouvir o que ele diz:

–"Alô... Não, hoje eu não posso. Sim, estou com ela. Sim, prefiro sair com ela, Cara.- ele revira os olhos- Não... Tudo bem."

–Problemas com a namoradinha, Tobias? - digo revirando os olhos.

–Ela queria sair comigo, parece que tem uma festa acontecendo na casa do Eric– ele me olha e franze a sobrancelha.

–Tudo bem, me leva pra casa e pode sair com ela, a noite foi ótima. - eu digo sorrindo.

–Não, eu prefiro estar com você, Tris. - ele diz encerrando o assunto. Ficamos em silêncio, enquanto eu absorvo as palavras de Tobias, então ele começa a cantarolar uma música, batucando no tronco em que estávamos sentados:

If you love somebody
Better tell them while they're here 'cause
They just may run away from you

You'll never know quite when, well
Then again it just depends on
How long of time is left for you

Ele canta calmamente On top of the World, com sua voz rouca e incrivelmente afinada, como se estivesse fazendo um show acústico.

–Bela escolha - digo sorrindo.
Ficamos mais algum tempo observando o mar e conversando, a sensação é de que os dois estavam tentando colocar a amizade em dia, que havia se afastado nesses últimos meses. Resolvemos ir embora, pois já eram quase duas horas da manhã. Tobias para o carro em frente à minha casa e me olha com um sorriso discreto no rosto.

–Obrigada pela noite, foi incrível - eu sorrio, agradecendo.

–Foi incrível mesmo. Você estava linda, Tris. - Ele beija meu rosto. - Boa noite.

–Boa noite. - Eu me despeço entregando seu casaco. Desço do carro e o observo até o carro desaparecer pela rua. - O que diabos aconteceu esta noite?