–Ai, tá doendo! - digo fazendo beiço enquanto Tobias troca o curativo em minha cabeça.

–Calma, calminha... Já estou quase acabando, só mais um minuto... Pronto - ele diz assim que termina de fixar a gaze por cima do corte, recolhendo as coisas e indo para meu banheiro.

–Graças a Deus que pude tirar aquela atadura horrorosa - digo revirando os olhos, e o ouço rindo.

–Você fica linda de qualquer jeito. - ele diz quando aparece na porta, e eu sorrio timidamente.

–Me sinto mal por ter faltado aula essa semana- digo franzindo o cenho.

–Ei, o médico te proibiu de fazer esforços, lembra? Além do mais, eu também não deixaria. O corte é grande e foi na cabeça, é sempre bom ter cuidado, afinal você perdeu sangue. Só por essa semana, certo? - ele franze o cenho em preocupação. Tobias veio todos os dias aqui em casa realizar a troca dos curativos para mim, e isso me deixou imensamente grata, já que não precisei ir até o consultório do médico nem da enfermeira.

–Certo, certo... - digo dando de ombros - Essa é a vantagem de ter um... Hã, bem... - paro no meio da frase, sem saber o que dizer. O que nós somos? - Enfim, de ter você - sorrio desconfortável, e ele parece perceber, então senta ao meu lado na cama.

–Tris... - ele diz me olhando firmemente, mas vejo carinho em seu olhar. - Eu só... Não quero apressar as coisas. Não quero errar como da primeira vez, apesar de não ter sido de verdade. Você é importante demais pra mim.

–Eu sei, está tudo bem - sorrio para ele - digamos que seja uma amizade colorida - digo rindo maliciosamente, e ele me acompanha.

–Amizade colorida com direito a tudo?- ele diz rindo malicioso- Ei, você sabe que te amo - ele deposita um beijo em meus lábios.

–Como poderia não amar? - brinco, e ele solta uma gargalhada.

–É mesmo, como poderia? - ele diz me empurrando e deitando-se ao meu lado. Deito-me com a cabeça em seu peito, ouvindo seu coração. - É impossível não amar alguém que mexe com tudo em mim, desde os meus pensamentos até meu ritmo cardíaco. - ele diz depositando um beijo em minha cabeça.

–É uma pena termos ficado tanto tempo longe um do outro, mas acho que aprendemos muito com isso. - digo, e ele assente. Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo o som do vento que soprava na rua e sentindo o carinho que ele fazia em meus cabelos.

–Está preparada para o jantar de hoje a noite? - ele pergunta puxando meu rosto em sua direção.

–O Jantar, eu havia esquecido! - digo exasperada. Nossos pais combinaram um jantar na casa dos Eaton, e como por milagre, meus pais resolveram me incluir na programação.

–Calma - ele ri - Não é como se fosse grande coisa, você sabe. Sua mãe sabe sobre nós? - ele pergunta franzindo o cenho.

–Não, apenas Chris. Não que minha mãe não torça por isso, inclusive ela já disse várias vezes, mas se eles soubessem, iriam exigir um...

–Pedido oficial. - ele diz sorrindo, e eu concordo. - Bem, e quem disse que isso não vai acontecer? - ele diz brincando com meus cabelos.

–Já imaginou? - digo divagando. - Seria engraçado.

–Seu pai me mataria - ele ri.

–Todos te amam, e sorte sua que eu não comentei das nossas brigas - digo rindo, e ele me acompanha.

–Bem, então hoje terei de me comportar - ele diz fazendo um bico.

–Sim senhor, será um belo cavalheiro - digo depositando um beijo em seus lábios. - E não faltará mais aulas como hoje - digo mordendo levemente seu queixo.

–Ah, qual é! - ele ri - como se eu não preferisse estar aqui do que estar lá, pensando em como você está.

–Eu sei, obrigada - sorrio, e ele me acompanha. Seu telefone toca, e então ele solta uma gargalhada.

–Will mandou dizer que gosta muito de você, mas pediu pra eu deixar você em paz e sair com ele - ele diz rindo - você se importa?

–É claro que não, pode ir, nos vemos a noite - sorrio e ele deposita um beijo em meus lábios.

–Até mais tarde, amorzinho– ele diz me lançando uma piscadela ao sair pela porta, e eu apenas reviro os olhos.

* * * * * * * * * * * *

–Beatrice, desce logo! – ouço minha mãe gritando do andar de baixo, então dou uma última olhada no espelho.

Decidi vestir um vestido de alças, não tão justo, preto com flores azuis, um sapato de salto alto preto, pulseiras, o colar com pingente de corvo que Tobias me deu, e uma clutch preta com o detalhe do fecho em dourado. Fiz leves ondas por toda a extensão de meu cabelo. Antes de sair do closet, pego um quimono preto de tecido mais grosso, já que o inverno chegou e o vento sopra frio na rua.

Quando chego ao andar de baixo, encontro minha mãe bufando e meu pai ao celular, como sempre. Nada fora do normal.

–Pronto, vamos? - pergunto chegando perto da porta, e minha mãe revira os olhos.

–Até que enfim. Vamos.

Entramos no carro e seguimos em silêncio até a casa dos Eaton, e como o trajeto é curto, logo chegamos. Descemos do carro e meu pai toma a frente, indo em direção da porta e toca a campainha.

Evelyn, a mãe de Tobias, aparece na porta com um sorriso no rosto, sempre muito atenciosa.

–Oh, que bom que vocês chegaram! - ela diz sorrindo e cumprimentando meus pais, que logo entram na casa. Quando ela me vê, abre um sorriso genuíno e me abraça. - Bia, querida! Quanto tempo eu não te via!

–Pois é! - digo sorrindo - Seu filho desnaturado não me convida mais para visitá-la.

–Esse Tobias... - ela diz revirando os olhos e abrindo espaço para que eu entre. - Vem, entre, a casa é sua! - Assinto com a cabeça e entro, pois já vim aqui tantas vezes que sinto como se realmente estivesse em casa.

Assim que entro, vejo o pai de Tobias, Marcus, já conversando animadamente com meu pai, mas assim que ele me nota, sorri e vem em minha direção.

–Biazinha, como você cresceu! - ele diz me abraçando. - Tobias já deve estar descendo, estava tomando banho.

–É, faz tempo que não vejo vocês! - digo sorrindo, e ele me acompanha.

–Se você quiser subir lá, sabe onde fica o quarto dele. - ele sorri.

–Oh, não, tudo bem. Espero ele por aqui - digo tímida. Já que ele está tomando banho, talvez não seja saudável subir.

–Como quiser, sentem-se - ele diz apontando para os sofás na sala de estar. Nossos pais conversam animadoramente, até que vejo Tobias descendo as escadas, com um sorriso de canto. Ele cumprimenta meus pais e então vem até mim e deposita um beijo demorado em meu rosto.

–Vem cá, vamos deixa-los conversando - ele diz rindo, e eu o acompanho. Nos dirigimos até a varanda dos fundos, onde podemos ver a piscina, e ele parece soltar o ar que prendia em seus pulmões. - Finalmente! - ele ri, e eu o acompanho - você está linda - diz virando em minha direção e colocando uma mão em minha cintura, aproximando seu rosto lentamente do meu e então ouvimos sua mãe:

–Meninos, vamos jantar, já está na mesa! – Tobias bufa frustrado, então sela rapidamente nossos lábios e me puxa pela mão até a sala de jantar, e então ele senta ao meu lado na extensa mesa. Posso sentir seu perfume, e sinto uma sensação boa. Em um determinado momento do jantar, Evelyn parece lembrar da presença minha e de Tobias, e então me pergunta:

–Querida, como você está? Tobias nos contou o que aconteceu.

–Eu estou bem agora - digo sorrindo - Tobias me ajudou bastante trocando meus curativos. - Ela sorri e assente.

– Mas e os namorados, muitos? - Ela pergunta em um tom de confissão e eu rio.

–Eve, o que é isso! Bia é muito nova! - diz Marcus rindo.

–Acredita que ela ainda não tem? - Minha mãe diz indignada.

–Acho bom que ela não tenha, porque se tiver, ele vai ter que ir ter uma boa conversa comigo! - meu pai solta.

–Pode deixar que eu tomo conta dela - Tobias diz, e eu o fuzilo com os olhos.

–Não gente, ainda não tenho - digo timidamente, e sinto a mão de Tobias apertando minha perna por baixo da mesa. Ao sentir seu toque, meu corpo fica arrepiado.

–Mas nem uns beijinhos? - Evelyn pergunta, e eu sinto meu rosto corando violentamente, e todos os presentes na mesa riem.

–Oh, bem... - digo timidamente, e sinto a mão de Tobias apertando um pouco mais forte minha perna.

–Tá certo, querida! Tem que aproveitar enquanto é tempo, viu? Beijar bastante, namorar bastante!

–Mãe! – Tobias solta indignado.

–O que foi, filho? Você também! Apesar de saber dos seus casinhos. - ela diz estreitando os olhos. - Você precisa de alguém madura e bonita, assim como Beatrice.

–Tobias é um bom rapaz - minha mãe diz, e eu e Tobias coramos mais alguns tons.

–Certo gente - ele diz rabugento.

–Mas Bia, antes que você esqueça: já que você não tem namorado, aproveite, viu? - ela diz me lançando uma piscadela.

–Tudo bem, tia. Irei aproveitar - digo rindo, e sinto Tobias apertando mais minha perna, mas não de um jeito violento.

–Ei Tris, vamos lá, vou te mostrar aqueles livros que eu falei - Tobias diz me olhando.

–Que livros? - pergunto confusa, mas sinto sua mão passando por minha perna.

–Aqueles livros - ele diz entredentes.

–Certo, certo. - assinto - Com licença Evelyn - digo sorrindo, e ela assente.

Subimos rapidamente as escadas, mas assim que viramos o corredor, Tobias me pressiona contra a parede.

–Vai aproveitar bastante, é? - ele diz sorrindo.

–Claro, já que não tenho namorado, tenho que seguir os conselhos da sua mãe - digo rindo.

–Então aproveite comigo. - ele diz segurando minha nuca com uma mão e minha cintura com a outra, me trazendo para mais perto dele. Ele encosta seus lábios nos meus, e rapidamente aprofunda o beijo, pedindo passagem, que concedo. Ele cola mais nossos corpos, até não haver espaço algum entre nós. Puxo seus cabelos macios com uma mão, e o sinto sorrindo, então mordo levemente seu lábio inferior, ele desce beijando meu pescoço e eu sorrio. Então ele cola novamente nossas bocas até que perdemos o fôlego.

–Você fica linda com a boca assim, inchada e vermelhinha - ele diz depositando um beijo rápido em meus lábios.

–O que eles irão pensar se me verem assim? - pergunto rindo.

–Que você estava aproveitando - ele diz lançando uma piscadela.

–Ainda bem que sua mãe não perguntou em quem eu estava dando uns beijos - digo rindo e ele revira os olhos.

–No Match– ele estala a língua ao dizer o nome dele, e eu sorrio.

–Está com ciúmes? - pergunto acariciando seu rosto, e ele assente.

–Tenho ciúmes do que é meu– ele diz, e sela nossos lábios novamente.

–Pois não precisa - digo sorrindo.

–Eu sei, confio em você - ele diz sorrindo.

–Beatrice, vamos? - ouço minha mão chamando, então reviro os olhos.

–Vamos, antes que eles desconfiem - ele diz selando nossos lábios novamente.

–Certo, certo.

–Ei - ele diz puxando meu pulso quando me viro.

–O que foi?

–Bem, eu não sou oficialmente seu namorado, mas... Me sinto assim. - ele diz dando de ombros.

–Você é muito mais do que isso. - digo o abraçando. - Temos muito tempo ainda. - sorrio.

Descemos rapidamente as escadas e encontro meus pais me esperando na sala, mas o engraçado é que eles não desconfiam de nada. Para todos eles ainda somos Beatrice e Tobias, os melhores amigos de infância que posavam um na casa do outro, sem nunca se interessarem um pelo outro. Rio mentalmente com isso.

–Bem, vamos? - pergunto, e eles assentem. Olho para trás e vejo que Tobias diz, apenas movimentando os lábios.

–Eu te amo.

As coisas parecem estar bem entre nós, eu realmente espero que nada aconteça e que isso não mude.