–Qual é o seu problema, Tobias? - pergunta Albert alterado. Quem ele acha que é para me perguntar alguma coisa como se estivesse com razão?

–Tá querendo defender a Beatrice? - pergunto amargamente. Esse idiota vai aproveitar essa situação para ficar com ela, se é que já não tenha feito isso.

–Não, seu otário! Ela não precisa que eu a defenda, você a conhece melhor do que eu! - ele diz apontando para Beatrice, que descia as arquibancadas, sem ao menos olhar para trás. - Você acha mesmo que ela é uma vagabunda? Na verdade, Tobias, você deveria ter vergonha de dizer uma coisa assim dela, porque de todas que você já ficou, ela foi a única pessoa decente e que gostou de você de verdade, mas faz o que você quiser, a vida é sua, só não reclame quando ela encontrar outra pessoa, porque é você quem a está jogando fora e sendo um tremendo babaca. - ele termina praticamente cuspindo as palavras em mim. Assim que ele termina de dar o sermão, desce em direção à Beatrice.

Encaro-os por algum tempo, até que eles saem do estádio. O jeito com que Beatrice se porta ao lado dele, bem, é visível que ela não tem nada com ele, mas mesmo que eu seja um otário por isso, sinto ciúmes. Merda, qual é o meu problema? Quando olho para o lado, vejo que Will está ali, também olhando para onde os dois estavam.

–Tenho de concordar com ele. - ele diz me olhando. - você está sendo um tremendo babaca, Tobias.

–Até você? - pergunto exasperado.

–Sim, principalmente eu. - ele franze o cenho. - já está ficando ridículo, você sequer perguntou se ela realmente não queria nada com você, muito menos deu ouvidos quando ela queria conversar, ao invés disso, provou todo o seu amor começando a namorar com a Nita. Eu gosto muito de Beatrice pra ver ela sofrendo assim por você. – ele encolhe os ombros.

–Não enche, certo? Eu não preciso provar nada a ninguém! - grito por cima do ombro, já me dirigindo ao vestiário.

Não é possível que todo mundo esteja pensando que eu estou errado. Beatrice simplesmente me ignorou quando eu falei o que sentia por ela, e agora que a trato como ela me tratou, eu é que estou errado? Qual é o problema de eu estar com Nita? Eu não a amo, e ela sabe disso.

Quando paro pra pensar nisso, acabo sentindo mais raiva dela. Mesmo tendo me machucado, ela ainda consegue ser a vítima da história. Ainda tem o fato de ela ter chamado Nita de vagabunda, depois de tudo ela ainda quer fazer com que as pessoas pensem mal dela?

Por outro lado, apesar de Beatrice ter me feito mal, ela não é o tipo de pessoa que sai chamando qualquer uma de vagabunda, e o fato de ela ter praticamente chorado, droga, aquilo mexeu comigo. Talvez ela realmente não tenha dito isso à Nita...

Pra aliviar o estresse, resolvo tomar um banho gelado no vestiário. Preciso parar de pensar em Beatrice, preciso esquecer do que aconteceu, esquecer dela. Mas antes disso, tenho de falar com Nita, resolver de uma vez por todas essa história.

Termino meu banho e me visto, colocando minha blusa branca e meus jeans escuros, sem me preocupar em secar o cabelo. Saio apressadamente o vestiário e me encaminho até o estacionamento, que fica na entrada do estádio. A maioria do pessoal do time ainda estava no estádio e no estacionamento, mas não faço questão de me despedir. Quando entro no carro, resolvo ligar para Nita, mas como praticamente sempre, ela não me atende, então vou direto à casa dela.

Estaciono e logo percebo que o carro dela está na garagem, então desço e toco a campainha. Algum tempo depois, ela aparece com uma camisola curta, mas não que isso me incomode, é claro. Inconscientemente minha mente a compara com Beatrice, e isso me faz sentir raiva.

–Quatro! - ela diz ao ver que sou eu. Ela insiste em me chamar de Quatro, mesmo sabendo que eu não me sinto bem. Quer dizer, era Beatrice quem me chamava assim... Ela ouviu uma vez Will me chamando, e desde então ela acha que vai parecer mais íntima se me chamar assim. Sou obrigado a revirar os olhos mentalmente. - O que você veio fazer aqui? - ela pergunta maliciosamente me beijando.

–Vim falar com você. -digo segurando sua cintura e entrando com ela.

–Hmm... - ela ri quando beijo seu pescoço. - Então fale logo, meus pais já devem estar voltando.

–Até parece que seus pais não sabem o que você faz - digo revirando os olhos, e ela apenas ri. Eu sei, Nita não é a pessoa mais santa da face da terra. - Bem, eu queria que você me contasse de novo o que aconteceu, você sabe, sexta feira... - Ela subitamente muda de expressão

–Ai Tobias, eu já te falei o que aconteceu, chega disso! - ela fala cruzando os braços.

–Nita, eu preciso saber o que aconteceu! - digo franzindo o cenho.

–Precisa por quê? - ela pergunta fazendo bico, mas eu mantenho meu olhar firme, e ela finalmente cede.- Você sabe... Eu cheguei pra conversar com ela e Christina, fui o mais simpática possível, porque sei que ela é sua amiga e blá blá blá, - ela revira os olhos - Se bem que... Pelo que tenho visto, nem isso vocês são... Enfim, ela mandou que eu saísse de lá, algo como "saia já daqui, vagabunda."

–Você tem certeza que ela disse isso, Nita? - pergunto com certa ironia na voz. Por mais bravo que eu esteja com Beatrice, agora pensando bem no assunto, ela não diria uma coisa dessas.

–Ora, mas é claro que eu tenho! - ela diz como se estivesse ofendida.

–Eu já sei de tudo. - digo sério, bem, se Beatrice disso isso realmente, Nita vai interpretar como se eu estivesse ao lado dela, caso ela não tenha dito...

–Tudo o quê? - ela diz desviando os olhos.

–Tudo.

–Bem... Hãn... – ela olha para baixo. - Tudo bem, certo, talvez ela não tenha dito exatamente assim...

–O quê? - pergunto irado.

–É, talvez ela não tenha dito... Tobias, qual é! Eu estava com ciúmes, você não parava de olhar pra ela a noite toda, eu queria que você se afastasse dela, por isso disse isso. - ela responde aumentando o tom de voz.

–Você não tinha o direito de inventar uma coisa assim! - digo já levantando. - Você tem noção do que eu fiz hoje, Nita? Eu xinguei ela na frente de todo mundo, pra defender você! - explodo, também aumentando a voz.

–Você fez isso... Por mim? - ela pergunta vindo em minha direção, mas eu a afasto. - Olha, tudo bem, eu fiz errado, mas eu não queria você perto dela, achei que assim seria melhor. Não imaginei que você fosse tirar satisfação, ou qualquer coisa do tipo. -

– Não importa se você estava com ciúmes ou não, você não tinha o direito de mentir assim sobre a Beatrice!

–Eu não entendo você Tobias, se você gosta tanto dela, o que você está fazendo aqui? - ela pergunta com escárnio, apontando para si mesma.

–Isso não importa. - digo virando-me em direção à porta.

–Importa sim! Olha, nós não nos amamos, eu não sou idiota de achar isso, mas se você vai ficar brigando comigo por causa dela, então é melhor acabar por aqui.

–É isso que você quer? - pergunto virando-me para ela. Se ela disser que sim, não irá fazer a menor diferença. Apesar de eu gostar da companhia dela, por ser muito melhor que a de Cara, eu não sinto nada além de uma atração.

–Não, quer dizer, nós nos damos bem, não é? - ela diz se aproximando de mim, mas dessa vez eu não a impeço.

–É. - digo abraçando sua cintura. Seu perfume não é tão suave quanto o de Beatrice. - Só não faz uma burrada dessas de novo, certo?

–Certo.

–Eu preciso ir. - digo beijando sua cabeça e me desvencilhando de seus braços.

–Onde você vai? Achei que ia ficar mais um pouco - ela sorri maliciosamente.

–Não, eu preciso resolver algumas coisas, além do mais seus pais já estão chegando. - sorrio dando um beijo rápido e lanço uma piscadela.

Minha cabeça borbulha com uma ideia, na verdade é praticamente uma vontade, mas sendo sincero, meu orgulho não me permite fazer isso. Quando dou por mim, vejo que guiei o carro até a casa de Beatrice. Vejo que a luz de seu quarto está acesa, então ela está em casa... E se eu falasse com ela? Como seria se eu me desculpasse com ela? Eu sinto uma necessidade absurda de ver como ela está, mas sinto que talvez ela não queira mais tentar consertar as coisas... Talvez ela não pertença mais a mim, se é que algum dia pertenceu...

Me sinto um pouco egoísta de pensar nela assim, afinal como Will disse, eu estou com Nita, e por mais que uma parte de mim não queira que ela saiba disso, por orgulho, é claro, a outra parte pensa exatamente o contrário, e gostaria desesperadamente que ela soubesse que ninguém nunca irá substituir a presença dela em mim, mas foi ela quem decidiu assim, então não há mais o que ser feito.