Todas as vezes que eu acordo de ressaca eu lembro o porque odeio bebidas.

–Ãhn– resmungo colocando as mãos na cabeça. Droga, isso dói! Levo alguns segundo para encontrar meu celular, que parece tocar dentro da minha cabeça. Olho na tela e vejo o nome de Christina piscando. -Só podia ser você - digo emburrada - Isso são horas para se estar ligando?

–Sim, na verdade são - ouço-a bufando no outro lado da linha.– Por falar nisso, você se deu ao menos o trabalho de ver que horas são?– Pisco pesadamente e me alerto ao olhar para o relógio em cima do criado mudo e perceber que já são quase três horas da tarde.

–Céus! Como eu pude apagar sem perceber?

–Não sei, talvez seja porque você bebeu ontem?

–É, provavelmente... -digo deitando novamente, já que minha cabeça latejava. -Então, qual o motivo da ligação? - pergunto.

–Eu queria saber como você estava... Você sabe, depois de ontem. – ela fala cautelosamente. Penso por alguns segundos sobre o que aconteceu, e a última coisa que lembro da festa é de ver Tobias beijando Nita provocativamente. Porque ontem isso parecia tão doloroso?

–Eu estou bem, acho que a bebida me deixou mais sensível, por isso saí daquele jeito. Eu preciso me acostumar com isso, certo? Ele faz parte do nosso círculo de amizades. - digo dando de ombros. Falar é bem mais fácil do que agir, mas eu realmente preciso me acostumar em vê-los juntos.

–Bem, você está melhor do que eu imaginei. Na verdade ele que não parecia muito feliz com alguma coisa que a Nita falou, ela disse que você... - Repentinamente a voz de Chris é cortada, e eu ouço apenas alguns chiados.

–Chris, está tudo bem? Eu não consigo ouvir você! - então ouço que ela bufa do outro lado da linha.

–Eu e Will estamos indo para a casa do lago, então o sinal está péssimo. Como a história é longa, eu conto tudo assim que nos encontrarmos, está bem?

–Fala sério Chris, você não acha que vai me deixar curiosa até segunda feira, acha?

–Não acho, tenho certeza. Tchauzinho. –ela diz por fim, fazendo um barulho de beijo.

Existe alguma lei que permita matar a melhor amiga? Porque se não existe, alguém precisa urgentemente criar. Tento ligar mais algumas vezes para Christina, mas o telefone dela está sem serviço, isso significa que ela já deve ter chegado à casa do lago. Como o final de semana será longo e tedioso, resolvo passar mais algum tempo deitada.

O resto do sábado e todo o domingo, como eu havia previsto, foram um tédio total, então aproveitei para estudar, já que essa semana será de provas. Quando eu chego na faculdade, vou direto para minha sala, que já estava praticamente cheia. Procuro com os olhos e não avisto Al, então sento-me em uma fileira com espaço para nós dois, assim como ele sempre faz. Sou tirada de meus devaneios pelo perfume de Albert, que se espalha quando ele senta ao meu lado.

–Bom dia, espero que tenha estudado durante o final de semana. - ele diz sorridente, e inevitavelmente sorrio também.

–Bom dia Al, sim senhor, está tudo fresquinho em minha memória.

–Essa é minha garota! - ele diz rindo, mas arregala os olhos e cora, assim como eu. - bem, quero dizer, você sabe... Nós estudamos e... Bem...

–Tudo bem, eu entendi. -digo por fim rindo de seu nervosismo.

–Certo, certo. - ele expira ruidosamente.

–Bem alunos, bom dia! -diz o professor Stolen. -Tenho apenas um recado: após a realização da prova, os que acabarem estão dispensados. -Dito isso, ele passou as provas e encaminhou-se para sua mesa, na parte de baixo o auditório, mas que tinha vista para todos os níveis. - E não esqueçam, a prova é individual. Senhorita Krylen, nem tente ver as respostas da senhorita Thraun, eu enxergo tudo. - Vejo que as duas se remexem desconfortavelmente na cadeira. Há, bem feito.

Incrivelmente tudo o que estudei com Al caiu na prova, e ao constatar isso meu coração praticamente pula de alívio. Pelo menos alguma coisa em minha vida não está dando errado. Preciso fazer uma nota mental de lembrar de agradecer ao Al, ele me salvou. Todos os problemas tinham me feito esquecer dos estudos, por mais que eu não quisesse.

Assim que desço para entregar minha prova, vejo que Al vem descendo também, então resolvo esperá-lo na porta. Assim que ele sai e me vê, abre um sorriso.

–Você viu? Tudo que estudamos caiu, nem acreditei - ele diz rindo.

–Eu praticamente gritei de alegria quando vi! - digo rindo também.

–Ei, o que você pretende fazer agora? - ele pergunta me cutucando.

–Tenho que encontrar a Chris, ela ficou de me contar algumas coisas...

–Ah, certo. - ele assente. -Bem, eu vou indo para o campo, temos treino hoje, o jogo da semifinal é em duas semanas.

–Se você não se importar, eu vou com você, assim fica mais fácil da Chris me encontrar.

–Será um prazer. - ele sorri.

Assim que chegamos perto do estádio, sinto um nó em meu estômago. Eu havia esquecido completamente que Tobias também faz parte do time, então obviamente ele estará no treino. Al parece perceber minha hesitação, então aperta meu ombro.

–Fique tranquila, ele sempre se atrasa, se você sair rápido, nem vai topar com ele. - Quando foi que Al passou a me conhecer tão bem? De qualquer maneira, sorrio em agradecimento por sua preocupação.

–Obrigada, mas uma hora ou outra nós vamos ter de nos acostumarmos com a presença um do outro.

–Bem, isto é verdade. - ele diz franzindo o cenho e dando de ombros.

–Ei! - digo enquanto ele se afasta. -Obrigada, por tudo. -digo, e ele sorri assentindo com a cabeça.

Subo os degraus da arquibancada, sentando o mais alto possível, assim talvez eu não consiga enxergar Tobias, nem ele a mim. Como eu havia enviado uma mensagem à Chris, pouco tempo depois ela aparece sorridente.

–Vejo que o final de semana foi bom, pelo menos pra alguém. - digo carrancuda.

–Ô se foi... - ela diz gargalhando.

–Ok, poupe-me dos detalhes.

–Ei, qual é, qual o motivo desse mau humor todo? - ela pergunta ao sentar.

–Você tem noção da curiosidade desgraçada que você me deixou? - digo exasperadamente.

–Ah, sim... Isso. - ela muda a expressão rapidamente, perdendo o ar alegre de antes.

–Então... - gesticulo com as mãos para que ela conte.

–Olha Beatrice, eu realmente não sei o que tem acontecido com Tobias. Eu tentei conversar com ele, mas ele insiste em dizer que não acredita mais que você possa sentir alguma coisa e toda a ladainha de sempre. Eu queria muito que vocês pudessem conversar em particular, mas o problema dessa vez foi a Nita.

–A Nita? Mas o que eu tenho a ver com ela? - pergunto confusa.

–Eu não sei, parece que ela falou alguma coisa e ele simplesmente pirou, jurou que falaria boas verdades na sua cara. - ela termina arregalando os olhos ao olhar para os degraus mais abaixo.

– Pois que venha, quero ver o que ele tem a dizer. - logo que termino de dizer isso, ouço uma risada.

–Ótimo, então abra bem seus ouvidos. - assusto-me ao ouvir sua voz, e vejo que sua expressão está raivosa. - Você é sempre assim, não é Beatrice? Qual é o seu problema, o que a Nita te fez pra você dizer àquelas coisas horríveis? - ele pergunta exasperado.

– O quê? Que coisas? Do que você está falando Tobias? - pergunto sem entender o que ele quer dizer. Bem, eu já falei mal dela para Chris, mas quem nunca...

–Não se faça de sonsa, Beatrice! É só isso que você sabe fazer, se fingir e desentendida e não falar merda nenhuma na hora que precisa. - ele explode. - Você não conhece ela para chamá-la de vagabunda, e se quer bem saber, vagabunda deve ser você! Eu sei muito bem que você já andou com seu amiguinho Al, ela me contou! - ele diz apontando o dedo em minha direção, mas nesse momento eu já não ouço mais nada.

Quando minha consciência percebe o que meu corpo está fazendo, vejo que acertei um tapa em seu rosto, e as lágrimas já estão brotando em meus olhos, mas contenho-as, infelizmente minha voz trêmula me trai.

–Você realmente acredita em tudo que ela disse de mim? - pergunto olhando fixamente em seus olhos, que já não parecem mais tão raivosos, mas sim surpresos com a minha atitude. Não espero por sua resposta. - Ótimo, quem não fala quando precisa é você.- Desço os degraus da arquibancada, então ouço a voz de Albert xingando Tobias, mas não consigo mais ouvir claramente o que ele diz, até que sinto alguém me abraçando e vejo que é Albert. Embora meu coração quisesse desesperadamente que fosse Tobias, fico feliz em saber que Al está aqui comigo.

–Fica tranquila, tudo vai acabar bem. - ele diz ainda me abraçando.

–Eu sei - digo assentindo. - Muitas coisas precisam mudar. -digo confiante.