Teoricamente, ele não me traiu, pois nem namorados nós somos de verdade, mas a dor que eu estou sentindo é bem real. Também não posso o culpa-lo nem exigir nada, pois eu sempre soube que isso era apenas pela necessidade dele de provar para alguém que era bom o suficiente para entrar em uma liga idiota. Agora eu tenho a completa certeza de que ele não estava sentindo nada por mim, e que nunca deixou de ficar com Cara. É uma pena que eu tenha descoberto tudo isso da pior forma possível.

Apesar de tudo, eu decidi não chorar nem xingar, tudo o que eu tinha pra dizer à ele eu disse, e hoje à noite vou cumprir meu papel de namorada, e essa será a última noite. De certa forma isso me deixa aliviada, agora vou poder compreender meus sentimentos, sem ter sempre a pressão de estar com ele, mesmo que talvez o fato de estar sem ele não seja tão bom.

Resolvi não contar para Chris o que aconteceu, não quero ter que ficar relembrando o que eu vi, muito menos expondo meus sentimentos, que à essas alturas já estava em frangalhos. Decidi, depois de passar a tarde toda andando pra lá e pra cá, que eu iria me arrumar, eu queria ficar linda, não para mostrar à Tobias o que ele perdeu nem nada do tipo, mas para mostrar à mim mesma que eu estou bem, e que isso que aconteceu por ele não significa nada.

Tobias havia me mandado uma mensagem apenas dizendo o horário que passaria aqui, não havia nada mais na mensagem, mas isso não importa. Resolvi começar a me arrumar com antecedência, pois quanto menos motivos de discussão, melhor seria e mais rápido a noite acabaria, então fui para o quarto dos meus pais, e enchi a banheira, colocando alguns produtos que fizeram aparecer algumas bolhas, o que me fez relaxar um pouco.

Vesti meu roupão e fui para o quarto fazer meu cabelo e minha maquiagem, já que eu havia decidido que faria tudo sozinha. Em meu cabelo, fiz leve ondulações no comprimento, e com a parte da frente, prendi para trás deixando um leve topete, deixando uma porção da franja solta, já que estava um pouco abaixo das orelhas. Coloquei um brinco simples e parti para a maquiagem.

Como meu vestido é na cor marsala, decidi que faria meus olhos em preto, o que contrasta com meu tom branco de pele. Deixei-o preto bem esfumado e fiz a pele com perfeição, realçando os contornos do meu rosto. Optei por um batom nude, para dar total atenção ao vestido.

Então resolvi que era hora de me vestir, meu vestido tem a base de cetim e uma camada de chiffon, o que o deixa com aspecto esvoaçante mas nem tanto, ele é bem acinturado, então marca muito bem as curvas de minha cintura, mas não desce justo pelas perna. Calço meus saltos pretos aveludados, que nem aparecem por baixo do vestido. Me olho no espelho e me forço a sorrir. Estou pronta, e mesmo que ele tenha feito o que fez, e tenha me magoado, eu gosto dele, como amigo e mais do que isso, então preciso fazer com que esta noite seja perfeita para ele.

Minha mãe bate à minha porta e avisa que ele está lá embaixo me esperando, então saio do quarto e desço as escadas cuidadosamente, então o vejo parado perto da porta. Por mais que eu não queira achar, ele está mais lindo do que nunca, e seus olho azuis faíscam quando me encontram.

Ele está usando um terno preto, e por baixo do paletó está vestindo uma camisa impecavelmente branca e uma gravata borboleta preta. Aquela visão me deixou um pouco sem fôlego, mas não movi um músculo de minha expressão, pois sei que ele me conhece perfeitamente bem. Apesar de estar vestido com trajes de gala, seu cabelo mais comprido que o habitual estava levemente bagunçado, conferindo a ele um ar sexy–mas ele continua sendo um imbecil.- penso revirando os olhos mentalmente.

–Dona Natalie, eu prometo que a trago em segurança. - diz Tobias sorrindo e beijando a mão de minha mãe.

–Claro querido, aproveitem esta noite e boa sorte, tenho plena certeza de que será o mais novo membro da liga. - ela diz sorridente arrumando sua lapela.

–Muito obrigada, Natalie - ele diz sorrindo.

–Tchau mãe - digo dando um beijo em sua bochecha, e ela sorri pra mim arrumando meu cabelo.

–Boa festa, querida. Aproveite. -

Claro, mal posso esperar – penso revirando os olhos mentalmente.

Saímos em silêncio pela porta principal e entramos em igual silêncio no carro, que foi quebrado apenas pelo motor do veículo ao ser ligado. Eu não estava no clima para conversar, e acho que nem teria assunto algum para ser discutido, não tenho como obrigá-lo à gostar de mim. Se esses três meses ao meu lado não o fizeram sentir alguma coisa, bem, então receio que nunca serei capaz disso.

À certa altura do trajeto, ele pigarreia, como quem se prepara para dizer alguma coisa, mas parece hesitar, então alguns minutos depois ele pergunta:

–Você está bem? - ele pergunta sem olhar pra mim. Hesito alguns segundos, mas por fim respondo.

–Estou. - digo, e ele assente com a cabeça. Como permaneceu o silêncio, resolvo que por educação devo devolver a pergunta. - E você?

–Estamos quase chegando. - ele diz desviando o assunto, sem responder à minha pergunta, mas não insisto, então apenas assinto.

Cerca de quinze minutos depois, chegamos em um prédio alto, com enormes janelas de vidro por toda a fachada. Tobias então desce e abre a porta do carro para mim, mas estou tão desconfortável que acabo não agradecendo.

O interior do primeiro andar era amplamente iluminado, mas não parecia fazer parte da festa, pois apenas dois homens estão ali, vestidos como seguranças, e um deles tem uma prancheta nas mãos. Quando nos aproximados dos dois homens, Tobias fala nossos nomes e estamos autorizados à subir para a festa.

Entramos no elevador, que novamente foi tomado pelo silêncio que insistia em pairar entre nós, mas não seria eu a quebrá-lo. Quando as portas se abriram, pude ver que assim como havia imaginado, o local é amplo e muito bem iluminado. Do centro do salão pendia um lustre enorme de cristal, e as mesas eram redondas, que cobriam boa parte do amplo salão. Ao redor das paredes que não eram de vidro, desciam enormes cortinas de um tecido branco leve e esvoaçante.

Assim que entramos no salão, vemos Peter vindo em nossa direção, e hesitantemente Tobias pegou em minha mão.

–Boa noite, Eaton - diz Peter ao se aproximar, com seu sorriso irônico de sempre. Estou chegando à conclusão de que talvez esse seja mesmo o sorriso dele.

–Peter - diz Tobias assentindo. - Espero que não estejamos muito atrasados. - ele diz apertando firmemente a mão de Peter.

–Não se preocupe. - Peter responde assentindo. - Olá Beatrice, você está deslumbrante. - ele diz beijando uma de minhas mãos.

–Oh, obrigada Peter. - digo sorrindo timidamente, pois este é um elogio que eu não esperava vindo dele.

–Bem, sentem-se. A mesa dos iniciados é por aquele lado - ele diz apontando para o lado esquerdo do salão.

–Obrigado - agradece Tobias. Peter já estava dando meia volta, quando parece hesitar e por fim fala:

–Muito clichê. - Olhamos para ele com confusão estampada no rosto, então ele completa, apontando com os dedos para nós. - Um médico e uma Enfermeira. Adorei. - ele diz sorrindo e por fim indo para longe.

–A noite vai ser longa. - Tobias diz. - Não dá bola pra ele. - diz por fim suspirando.