P.O.V BEATRICE

Hoje é o grande dia, o dia do jantar! Depois de segunda feira, quando fui comprar meu vestido, os dias corriam cada vez mais rápido, pareciam querer dar lugar à esperada sexta feira. Não achei que ficaria tão nervosa por um simples jantar, onde eu teria apenas que fingir estar namorando com Tobias e estar feliz ao lado de dele, não que isso eu precisasse fingir. Seria ótimo se o nervosismo fosse medo de cair, tropeçar, pagar mico ou qualquer coisa do tipo, o problema é que o que me consumia por dentro era o fato de, à partir de hoje, tudo voltar ao normal. Nós terminarmos.

Confesso que o medo de Tobias voltar com Cara, arrumar outra namorada, ou até mesmo me deixar de lado, ou me evitar, era maior do que qualquer coisa. Nós estávamos um pouco afastados antes desse namoro fajuto, e tudo por culpa de Cara, diga-se de passagem, que nunca gostou de mim. A questão é que: antes do namoro, nós havíamos nos afastado mas a amizade não havia mudado, mas e depois do fim do namoro? Será que ele vai me evitar assim como faz com as meninas que ele não quer mais, apenas para manter as aparências? Afinal, para todos os efeitos, nós estamos namorando e é como qualquer outro que ele já teve.

Bem, conhecendo Quatro como eu conheço, eu posso apostar que não, mas isso não diminui o meu medo combinado com nervosismo e ansiedade. Eu quero que isso tudo acabe, mas ao mesmo tempo não. Preciso ter certeza se isso que eu acho estar sentindo é apenas por estar com ele ou é por ele.

Tobias insistiu em me buscar hoje para a aula, embora eu tenha dito várias vezes que estou com o carro de Caleb, pois ele voltou para o seu dormitório, já que ele está cursando seu último semestre em Nova York.

Sou tirada de meus devaneios quando ouço meu celular tocando, então saio do banheiro, onde eu estava terminando de arrumar meu cabelo, para achar o objeto que tocava incessantemente.
–Alô! - atendo esbaforida quando encontro meu celular.
–Estou te esperando há cinco minutos, senhorita. Queira fazer o favor de descer, obrigada, de nada.– responde Tobias com um falso tom de mau humor na voz.
–Certo, certo! - respondo já pegando minha mochila e correndo para o andar de baixo e saindo apressada pela porta.

–Finalmente! - diz Tobias ao me ver entrando no carro.

–Você já deveria estar acostumado - digo dando de ombros e afivelando o cinto de segurança.

–Nunca vou me acostumar. - ele diz me encarando por alguns segundos, mas logo se apressa em ligar o carro. - Ehrm– ele pigarreia - Tem algum compromisso pra hoje à noite? - ele pergunta com um sorriso brincalhão nos lábios.
– Tenho que checar minha agenda - digo revirando os olhos e acabamos caindo na risada.
–Estou um pouco ansioso - ele diz franzindo os lábios.
– Está? - pergunto sem conseguir disfarçar o nervosismo na voz. Será que ele está ansioso pelos mesmos motivos que eu? Será que ele também pensa em como ficaremos depois de hoje?
–Sim, imagina se não sou aceito na liga? - ele diz me olhando com os olhos arregalados.
–Ah....– deixo escapar, mais um suspiro do que outra coisa. É isso. É claro que ele não pensa em nós, quando esta noite acabar, ele não vai mais se importar. Vejo que ele me olha esperando uma resposta - É claro que vai entrar, você fez tudo que deveria ter sido feito... Não fez?

–Sim... - ele diz pensativo - Você tem razão.

Apenas sorrio para ele e fixo meu olhar na estrada por alguns minutos, então percebo com o canto dos olhos que ele está me olhando e sorrindo.

–O que foi? - pergunto passando as mãos pelos cabelos automaticamente, talvez eu tenha esquecido de arruma-los, será?

–Nada - ele sorri docemente - É só que você está linda hoje... Quero dizer, não só hoje, todos os dias.

–Oh, deixa disso - digo dando um tapinha em seu braço, visivelmente envergonhada.

Chegamos ao campus e nos dirigimos ao nosso prédio. Assim que chegamos próximo à minha sala, Tobias segura em meu pulso e se aproxima de mim.

–Ei, depois das aulas eu preciso falar com você, tudo bem? É uma coisa importante. - ele diz parecendo agitado.

–Não, fale agora! Você sabe que eu sou curiosa! - digo fazendo careta, demonstrando desagrado.

–Nem pensar, depois da aula eu espero você na sala ao lado da biblioteca, lá fica vazio e é mais tranquilo para conversarmos, certo?

–Ehrm, tudo bem - digo revirando os olhos, ao que ele deposita um beijo em minha testa e sai caminhando pelo corredor.

O que será que ele quer tanto conversar? Será... Não, melhor nem pensar em nada, não quero me decepcionar. Quando estava quase chegando em minha sala, Match vem em minha direção sorrindo.

–Olá Beatrice. - ele diz se aproximando demais, e eu dou alguns passos pra trás, à fim de manter uma distância considerável entre nós.

–Match - digo sorrindo.

–Então, você irá hoje à noite? - ele sorri de lado.

–Claro - sorrio também - irei acompanhar meu namorado.

Ele franze o cenho rapidamente, mas logo sorri.

–Oh, sim. - ele diz colocando as mãos nos bolsos. - Te vejo mais tarde. - finaliza ele depositando um beijo em minha bochecha.

Assim que ele sai, dou de ombros e entro em minha sala para assistir à aula, não que eu tenha êxito nisto, pois minha cabeça só consegue pensar no que Tobias pode querer falar comigo de tão importante e no estranho interesse de Match.

Apesar de minha impaciência, a professora acabou nos liberando alguns minutos depois da aula. Me encaminho apressadamente para a sala onde Quatro está me esperando, tomara que ele não esteja bravo comigo, pois como sempre, estou atrasada.

–Desculpa, minha professora acabou nos prendendo na sala... - Abro a porta vagarosamente, já me explicando, então percebo que Tobias está ali, mas está acompanhado, na verdade...

–Beatrice! - ele diz me olhando apressadamente, com os lábios avermelhados pelo beijo que estava trocando com Cara. Depois de vê-los naquela situação, as coisas pareciam passar em câmera lenta, pois minha cabeça não parecia estar processando tudo o que estava acontecendo. - Eu posso explicar, quer dizer...

Fico em silêncio por alguns segundos, então tomo consciência da cena que estou vendo, então sinto a raiva fluindo por minhas veias, atingindo cada ponto de meu corpo.

–Você não precisa explicar nada Tobias - digo com raiva.

–Não, eu preciso sim! - ele diz chegando mais perto

–Chega! Nós não somos namorados, essa palhaçada acaba hoje, esteja livre para ficar com qualquer uma! - digo apontando para Cara e virando as costas para os dois, mas antes de sair da porta lanço meu melhor sorriso e digo - Não se preocupe com hoje à noite, eu tenho palavra.

P.O.V TOBIAS

Deixei Beatrice perto de sua sala, mas como sempre, involuntariamente olhei para trás e vi Match chegando perto demais de Tris. O que aquele idiota quer com ela? Achei que tinha sido claro o suficiente com ele depois do treino, quando o vi conversando com ela e contando para os outros a "gostosa" que havia conhecido, mas a raiva perpassou ainda mais por meu corpo quando vi que ele beijou o rosto de Beatrice e ela simplesmente não fez nada.

Caminhei a passos duros até minha sala, mas na metade da aula sinto que preciso sair daquele lugar, pois minha cabeça ficava rodando o tempo todo na cena de Mach beijando Beatrice. O que deu na cabeça dela para deixa-lo fazer uma coisa dessas? Pego minhas coisas e saio da sala indo em direção à sala onde combinei de conversar com Beatrice, mas à essas horas a raiva é tamanha que não sei se consigo falar alguma coisa.

Entro na sala e caminho de um lado para o outro por alguns minutos, até que ouço a porta abrindo.

–Beatrice? - pergunto me virando para a porta, mas vejo que quem está ali é Cara. - Ah, é você. - digo me virando novamente.

–Sim, vi você entrando aqui, como não vi ninguém entrando, resolvi falar com você - ela diz chegando por trás e me abraçando, mas me afasto rapidamente. - Não precisa fugir de mim - ela fala manhosa, se aproximando novamente.

–Eu estou esperando alguém, então se você tem alguma coisa pra dizer, pode começar.

–Eu sinto sua falta - ela diz fazendo bico.

–Certo. - digo, e como estou de costas, me permito revirar os olhos para ela.

–Ei, olha pra mim!

– O que você quer, Cara? - digo já irritado.

–Eu quero você! - ela fala chegando mais perto de mim.

–Já falei pra você, acho que não preciso repetir. - falo rapidamente, antes que ela forme qualquer opinião precipitada.

–Eu não consigo acreditar que você goste dela. - ela diz cerrando os dentes.

–Pois acredite. - falo fechando o cenho.

–Tobias, eu amo você! - ela fala com certa tristeza na voz.

–Cara, eu sinto muito, você é uma menina legal, mas... -digo tentando achar alguma palavra que não fira seus sentimentos, afinal eu que comecei essa história com ela.

–Eu só quero um beijo! - ela diz com os olhos cheios de lágrima. - Um último beijo.

–Cara... - digo virando o rosto, mas a palavra beijo me trouxe a imagem de Beatrice e Match, aquele filho da mãe deve estar tentando alguma coisa com ela, e ela não foi capaz de impedir, aposto que ele deve conversar com ela quando não estou junto, é a única explicação para tanta intimidade.

–Por favor! - ela diz chegando mais perto.

Com a raiva que estava sentindo de Beatrice, acabo perdendo o controle e quando percebo, estou com Cara nos braços a beijando, mas não sinto nada, sinto apenas mais raiva, mas agora a raiva é de mim. Ouço o barulho da porta se abrindo, e com ele, uma voz há muito conhecida.

–Desculpa, minha professora acabou nos prendendo na sala... - diz Tris abrindo a porta.

–Beatrice! - É a única coisa que vem em minha cabeça, o único nome que não sai de minha cabeça. Vejo que sua expressão está incrédula, então tento dizer alguma coisa - Eu posso explicar, quer dizer... - digo, mesmo sabendo que não há explicação para o que ela acabou de ver. Ela fica em silêncio por alguns segundos, e vejo que sua expressão muda de incredulidade e surpresa para pura raiva.

–Você não precisa explicar nada Tobias - Ela diz com raiva na voz.

–Não, eu preciso sim! - digo me aproximando dela, ela precisa me ouvir, precisa saber o que eu sinto por ela!

–Chega! Nós não somos namorados, essa palhaçada acaba hoje, esteja livre para ficar com qualquer uma! - Ela praticamente cospe as palavras, que me atingem como socos no estômago, uma sensação que eu nunca havia experimentado antes. Então ela sorri, e por alguns míseros segundos acho que ela pode ter me perdoado, mas então ela diz - Não se preocupe com hoje à noite, eu tenho palavra.

Então ela sai pela porta.

O que eu fiz? Onde eu estava com a cabeça quando senti pena de Cara?

–Não fica assim... - Cara diz tocando meu braço, que eu puxo rapidamente. Não, nunca mais vou encostar nela.

–Não toca em mim Cara - digo com raiva saindo pela porta.

Onde foi Beatrice? Como eu pude pensar que seria um bom namorado para ela, que poderia provar alguma coisa se assim que surge uma oportunidade, estrago tudo e a deixo com mais raiva de mim?

Hoje à noite eu vou falar pra ela tudo o que se passa dentro de mim, mesmo que eu nunca mais a tenha.