300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 6
Chocolates roubados


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo quero mostrar a visão que tenho da amizade entre Sakuno e Tomoka. Quero que vocês considerem que elas estão no 3º ano, aqui no Brasil, elas teriam 16~17 anos. Muitos pensamentos mudam, sentimentos, paixões, tudo muda. Você começa a tomar decisões para entrar no mundo adulto. E acredito que dentre as duas, a que amadurece mais rápido é a Tomoka.



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A pia estava forrada de formas sujas e pedaços de chocolate, um número incontável de embalagens, de papéis de presente, recheios, que iam de flocos de arroz à licores, tudo estava espalhado pela cozinha.

Ryuzaki estava debruçada sobre a mesa, com a cara suja e bastante desanimada, suas olheiras indicavam estar ali há um bom tempo. Sua avó saíra há algum tempo, sem dizer onde iria e nem a que horas voltaria.

A campanhia tocou umas dez vezes, levantou-se para atender depois de ouvir Tomoka chamar insistentemente.

– Poxa Sakunoooo, que demora!! Ainda é inverno sabia? Eu estava congelando lá fora... - resmungou a amiga, se abraçando para se aquecer, enquanto entrava como se fosse a dona da casa.

– Desculpe Tomo-chan. Vou fazer um chá para você.

– Por favor - então deparou-se com a cozinha naquele estado - houve uma avalanche aqui? - pegou as embalagens nas mãos e perguntou surpresa - não me diga que ainda está preparando os chocolates?

– Sim... - respondeu Ryuzaki, suspirando de cansaço só de lembrar, nem mesmo olhou para a colega.

– Mas e aqueles que fizemos ontem? - disse pegando uns bombons da mesa e experimentando, fez uma cara de quem gostou muito e pegou mais uns três ou quatro, nunca se cansaria daquilo, não importa quantos comesse - Estavam muito bons e bonitos. - disse com a boca cheia.

Sakuno a olhou praticamente chorando.

– Sumiram...

Tomoka engasgou ao tentar gritar

– Como assim sumiram!? - indignada, abriu a porta da geladeira, onde não havia um mísero chocolate. - não tem nada mesmo... - disse sentida pela amiga. - o que houve?

Não muito longe dali, Ryuzaki sensei se encontrava com um rapaz, em um restaurante de comidas caseiras, que estava bastante cheio por causa do frio. Já haviam dois pratos na mesa, indicando que ele já havia comido, e ela nem estava tão atrasada assim.

– Oh! - limpou a boca com um guardanapo que já tinha usado - Sumire-san, bom dia - ele era bastante simpático e na blusa tinha um crachá do Seigaku, era um dos professores da escola. - Desculpe, eu acabei comendo antes.

– Olá Honda-sensei, sem problemas, obrigada por vir.

Ele riu sem graça coçando a cabeça.

– Não tem problema, não deu tempo nem de nos despedirmos direito. Você foi embora tão de repente.

– Tem razão, e é sobre isso que vim falar com você.

O sorriso dele amarelou.

– Eu sei que você gosta bastante de doces Honda-san, principalmente os das alunas. - tirou de dentro de sua bolsa uma caixa quadrada, branca com detalhes abstratos em vermelho, muito bonita. Quando abriu, haviam vários bombons, embalados um a um em papéis coloridos em formato de bolas de tênis. Sim, eram os delicados bombons da pobre Sakuno. "Me perdoe minha neta, é por uma causa necessária", ela repetia a si mesma para justificar o furto.

Os olhos do professor brilharam, ele tremilicava os dedos, doido para pegar a caixa e devorar tudo.

– Ooooooooh, sugueeee! São pra mim?!

– Depende. - disse Ryuzaki fechando a caixa. - Tenho algumas perguntas a lhe fazer. Se tiver todas as respostas, ganha a caixa.

– Incrível sensei! Sempre competitiva! - ele estralou os dedos pra frente e inspirou fundo, jogou os cabelos louros e acinzentados para trás, fechou a cara e disse - Vamos começar o jogo!

Honda-san era um rapaz guloso, simples, tão inocente que chegava a ser burrinho, os alunos o logravam por causa disso. Era o mais novo de todos os discentes do Seigaku, e por não estar totalmente enturmado com todos, ouvia muitas histórias e lembrava de tudo em detalhes.

– Por que somente eu fui aposentada? - perguntou Sumire olhando o cardápio.

– Eh?! - ele fez cara de quem não entendeu, e realmente não tinha entendido, pois demorava a pegar no tranco, de toda forma, Ryuzaki-sensei não estava com pressa, a conversa seria longa.

Na casa de Sakuno, Tomoka fez a mesma cara de quem não entendia o que acontecia.

– Por que sua avó pegou os bombons?

– Eu não sei, ela anda estranha depois que foi aposentada. Vive falando ao telefone, escrevendo coisas, saindo sem dizer onde vai, testando técnicas de tênis comigo... - depois de enumerar com os dedos as estranhices, suspirou - Não sei o que fazer, e agora levou meus bombons.

Tomoka pensou que talvez a avó dela estivesse namorando, achou melhor não comentar com a amiga que nem ao menos tinha se declarado.

– Técnicas de tênis? - focou o assunto, quando viu a cara de choro de Ryuzaki.

– Antes de passar o treino para o clube, ela passa para mim, está cada vez mais difícil. Eu já tenho me próprio treino, você sabe - disse apoiando as mãos sobre a chaleira depois de servir. - meus braços e pernas estão todos doloridos.

– Se quiser eu posso investigar o que está acontecendo, eu tenho diversos contatos - mostrou o celular, cuja tela mostrava apenas um contato selecionado.

– Inui? Inui-sempai?

– Inui-sempai adora investigar pessoas, sua avó nem perceberia. - deu uma golada no chá

Ryuzaki suspirou e depois perguntou levemente envergonhada.

– Tomoka-chan, para quem você vai entregar os chocolates que fez ontem?

A amiga praticamente cuspiu o chá que tinha tomado, perturbada com a pergunta.

– Eu não vou entregar a ninguém! - a voz saiu mais fina do que deveria, provando que estava mentindo.

– Eh?! Mas você fez os chocolates ontem também! Não vai entregar ao Ryoma-kun?

– Hã? - Tomoka caiu na risada. - Por que eu entregaria ao Ryoma-sama?

– Por que... - Ryuzaki não conseguia montar uma frase, mas tinham tantos motivos óbvios. Começando pelo fato de ela se referir a ele como "sama".

– Eu não gosto mais do Ryoma-sama nesse sentido. O que sinto por ele é apenas admiração.

Ryuzaki ficou surpresa e de alguma forma aliviada, pois não gostava do mesmo cara que a melhor amiga, contudo a duvida permaneceu.

– Então, pra quem vai entregar os chocolates? - os olhos dela brilhavam esperando a resposta.

– Aqueles eu fiz para meus irmãos. - vendo que Sakuno se aproximava ansiosa, tentou disfarçar, mas não deu - A pessoa que eu gosto não merece chocolates. - Ryuzaki permaneceu a encarando com olhos gigantes de curiosidade. - E - e eu não sei se gosto de verdade dele. - Virou a cara e mudou de assunto imediatamente para fugir do interrogatório - O que você vai fazer agora? Vai conseguir fazer os chocolates de novo para entregar amanhã?

– Amanhã? Eu vou entregar no dia de São Valentim, depois de amanhã.

– É sábado. Você não verá o Ryoma-sama. - Tomoka tomou mais um pouco do chá e quando olhou para a amiga, ela estava parada com os olhos arregalados - NÃO ME DIGA QUE NÃO TINHA VISTO ISSO?! - Gritou perplexa, quase engasgando pela terceira vez. - Sakuno, você é muito distraída.

– O que eu vou fazer, Tomo-chaaaan? - disse se jogando por cima da mesa para alcançar a amiga, toda chorosa. Tomoka bateu na cabeça dela de leve para confortar. "Pronto, pronto" dizia enquanto repetia o movimento.

– Para conquistar aquele príncipe, você tem que entregar os chocolates - mordeu as unhas tentando chegar a um plano - E tem que ser algo muito bom para te colocar no mesmo patamar que o tênis, na cabeça dele. - Ryuzaki a encarava admirada, Tomoka parecia muito mais madura que ela e com ótimos conselhos, então interrompeu o planejamento para dizer.

– Tomo-chan, me deixe ajudar com a sua conquista também.

– Eh?! D-D-Do que está falando?! Os choco... Nã ... - ela ficou tão atrapalhada que foi a vez de Sakuno rir, então quando finalmente se acalmou respondeu envergonhada - c-co-conto com você. - levantou-se arregaçando as mangas. - Agora vamos voltar ao chocolate do Ryoma-sama! Eu vou te ajudar! - o telefone dela tocou. Era sua mãe pedindo para olhar os irmãos caçulas, de novo, o que ela contestou várias vezes, mas não teve jeito. Ryuzaki a levou até o portão. - Desculpe Sakuno, eu quero ajudar, mas...

– Não tem problema, já ajudou, Tomo-chan, eu dou um jeito.

– Vou torcer por você! - disse segurando e chacoalhando as mãos de Ryuzaki, antes de sair complementou - Acho que você deveria mesmo entregar os chocolates no sábado.

– Hã? Mas eu não vou vê-lo.

– Meeting - Tomoka deu uma piscadela e explicou para a amiga lerda - Marque um encontro com ele e entregue os chocolates. Faça uma surpresa! - Ryuzaki não sabia nem como reagir - É uma ótima chance. Ele vai receber muitos chocolates amanhã. Se der no sábado, o seu será especial, e poderá se declarar.

– De-Declarar?! Impossível!!

– Não vai se declarar, então, por que vai entregar os chocolates. Vai esperar dezembro, quando ele for embora pra América?

– Isso não...

– Nada de fugir. Convide-o pra sair amanhã. - ela virou as costas e foi embora dando tchauzinhos. - Até amanhã Sakuno!

E mais uma vez, ela foi deixada sozinha, pensando, na porta de casa. E uns 15 minutos depois. Encarou os chocolates na mesa - Eu - Arregaçou as mangas da blusa e voltou ao trabalho na cozinha. - vou fazer isso!

– Vou convidar o Ryoma-kun, entregar os chocolates e, com certeza...

Agachou na cozinha apertando as bochechas, vermelhinha.

– é impossíííííveel... - gemeu. E ali ficou pelos próximos 5 minutos até ter fôlego e voltar à culinária.


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