300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 5
A stalker do rei do tênis


Notas iniciais do capítulo

Stalker: um perseguidor, maníaco, dependendo da personalidade ele pode ser violento.

Não imagino o Echizen sendo capitão do clube sem ser na marra heuhuehue.



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Era mais uma fria manhã de sábado, daquele inverno que parecia não acabar, assim como a indecisão de Sakuno, que estava encarando uma série de revistas culinárias, todas sobre doces, deliciosas receitas de chocolates. Quanto mais ela as folheava, mais indecisa ficava. Devia fazer uma hora que estava sentada encarando aquelas páginas, enrolada em um edredon, de pijama e meia.

Lembrou-se de Echizen, pedindo para ser surpreendido, sentiu seu rosto queimar de leve.

– o que eu vou fazeer? - disse a si mesma, jogando o corpo para trás, deitando na cama. Ficou encarando o teto até que seu celular despertou. Eram 8h30 da manhã e tinha que correr, literalmente. Ryuzaki era bem ativa no clube de tênis feminino, então recebeu treino especial da avó também, e agora que ela estava aposentada, pegava ainda mais no pé dela. Logo não descansava muito aos fins de semana.

Durante a corrida se deparou com uma figura familiar. Ao se aproximar não teve dúvidas. Echizen estava encarando a paisagem de uma das praças, suas roupas indicavam que também estava correndo.

– Ryoma-kun, bom dia.

Ele demorou um pouco para responder, uma resposta completamente automática saiu de sua boca, não parecia de bom humor e nem prestar atenção a ela.

– tudo bem? - perguntou preocupada.

O garoto estava entretido em um flashback, algo muito raro de se ver.

– Echizen será o novo capitão do clube.– disse Momoshiro batendo a raquete de leve nos próprios ombros, bastante satisfeito. Estavam na quadra do colégio, era o final de um festival do clube, no qual Echizen tinha ganhado uma partida contra Kaido-sempai, depois de 14 games muito intensos e um tie break de 40 pontos. A partida foi tão eufórica quanto a de Tezuka vs. Atobe no campeonato de Kantou, em seu primeiro ano. Os membros do clube não entenderam de imediato, então ele explicou - Por Echizen ter ganho a competição, ele será o rei do tênis por uma semana e será também o capitão do clube no ano que vem.

Para a surpresa de Momoshiro, não houve comemorações imediatas, o que era assustador, já que a última prova do campeonato tinha acabado de terminar. Os alunos começaram a cochichar entre si, não conseguiam imaginar Echizen como capitão. Ele era um ótimo jogador, isso era incontestável, mas era só, ninguém estava convencido o suficiente. Ryoma tinha ido muito bem em todos os jogos do festival do clube, mas como capitão? Ele nem parecia se importar com essas coisas.

– Alguém discorda?– perguntou Momoshiro receoso.

– Eu discordo. - disse Echizen apoiando-se na raquete. Ainda exausto da partida.

– Você não conta. - respondeu dando tapinhas na cabeça do novo capitão.

– Isso dói sempai... - disse Echizen tentando tirar a mão de Momoshiro de si - Ser capitão não estava incluso no prêmio

– O rei do tênis tem seus deveres também – disse Momoshiro olhando para Kaido - Não é Mamu...? - Kaido o encarou furioso, Momoshiro até pediu desculpas inconscientemente, parecia que seria mordido ou enrolado até ter todos seus ossinhos quebrados. O sempai saiu da quadra perplexo por ter perdido para Echizen, de novo.

– Isso dá trabalho. Eu passo. - enfatizou Echizen, ignorando completamente a frustração de Kaidou.

– Sério que vai fugir? Nah... Tezuka ficará despontado quando souber que o pilar dele quebrou.

Echizen olhou de canto de olho e não respondeu.

Os demais alunos começaram a chegar e parabenizar Ryoma, ainda meio confusos, alguns até arriscaram o chamar de capitão. A sensação era muito estranha.

Você só tem que levar o clube para o nacional, sem pressão.

Ryoma respondeu debochando:

– Então, se eu te imitar não terá problema, não é Momo-sempai?

Momoshiro tossiu falsamente, pois não tinham ganho o nacional naquele ano, perderam para a Rikkai Dai no torneio de Kantou.

– Sem pressão. - terminou Echizen.

– Já que você está fugindo da sua obrigação, terei que escolher outro capitão. - disse olhando para a prancheta com uma lista de todos os jogos. - Deixa eu ver, no ranking, o próximo aluno que não é do terceiro ano é o Horio.

Horio não era um jogador estupendo, mas começou a calar a boca e treinar mais. Tinha muitas partidas contra Momoshiro, então aprendeu bem. Depois de todos os terceiranistas e de Echizen, ele era o melhor jogador.

Ryoma ponderou, ser mandado de Horio por um ano seria a morte. Se fosse Katsuo ou Kachirou era aceitável, mas não daquele convencido e sem noção. Todos os alunos ao redor se arrepiaram do mindinho do pé até o último fio de cabelo.

– Momo-sempai, eu sabia que seria escolhido, eu sou muito bom mesmo - disse se aproximando todo convencidinho.

TODOS os segundanistas imploraram para Echizen reconsiderar, o que deveria ser uma comemoração estava virando um pedido de socorro. Ter Horio como capitão seria o inferno na terra.

– Seus traidores, é isso que pensam de mim? - perguntou Horio meio chocado com a reação da massa. - Kachirou! Katsuo!

Os dois pediram desculpas, mas com certeza não eram sinceras.

Echizen sendo pressionado pelos kouhais, apertado na bagunça que tinha virado aquilo tudo, exausto da partida, tomou sua decisão. Levantando o boné a fim de ganhar espaço para respirar, declarou:

– Capitão Echizen se apresentando - definitivamente não seria subordinado do Horio, nunca na vida.

A comemoração verdadeira foi instantânea e geral.

Ryuzaki-sensei pegou o boné de Echizen e Kachirou colocou uma coroa de mentira na cabeça dele. Katsuo jogou um manto vermelho de um tecido velho e surrado em seus ombros, que o fez tossir de tanta poeira. Era intenção que ele ficasse parecido com um rei, parte da brincadeira toda, mas ele mesmo não entendeu e olhava dizendo "que droga é essa?".

– ATENÇÃO! O CAMPEÃO DA COMPETIÇÃO É ECHIZEN!! O REI DO TÊNIS DARÁ AS ORDENS! - gritou Ryuzaki-sensei rindo, ainda não acreditava que a ideia de Momoshiro tinha dado certo. Usar o festival do clube para escolher o capitão era uma ideia arriscada, qualquer aluno bom poderia ganhar, e ganhar uma competição e ser o treinador, são coisas completamente diferentes. Ela concordou, por que no fim das contas, de todos aqueles garotos, nenhum tinha o espírito Tezuka de levar o clube ao nacional. Ninguém se candidataria ou aceitaria a responsabilidade de bom grado, ninguém. Não sem uma pressãozinha aqui e um afaguinho de ego ali. Engraçado era que a fantasia funcionava, e o príncipe virou rei.

– Isso não vale Echizen! Você não quer ser capitão!

Echizen apontando a raquete para ele, respondeu:

– Você está contrariando a posição do seu senhor e por isso será punido.

– Hã?! Mas o que...

– Terá que dar de beber ao rei por uma semana. - os segundanistas riram da cena, era ridícula. Echizen encarnou o rei mesmo.

– O que?! Por que eu tenho que te dar o que beber? E os outros? - perguntou Horio indignado apontando para todos que estavam rindo. Ele não iria se ferrar sozinho.

– Ah eles... - encarou os mais novos que engoliram o riso na hora - Eu decido depois. – respondeu Ryoma tirando a coroa e dando de ombros.

– Só eu serei punido?! - gritou Horio.

– Estou com sede. - disse olhando de cima para ele. Por algum motivo Horio saiu esbravejando para comprar um suco. Comprou o sabor errado e teve que ir buscar outro. Era uma das piores semanas de sua vida começando.

Apesar da brincadeira e dos risos, Ryoma pela primeira vez sentiu que tinha algo errado no clube. Aquela coroa fajuta parecia pesada, julgou ser apenas o cansaço do momento.

Até a formatura dos sempais, todos que passavam por Echizen o cumprimentavam e diziam "contamos com você para nos levar ao nacional", "vamos ganhar o campeonato", "vamos vencer Rikkai Dai", "Hyoutei vai perder de novo no próximo ano!". Depois lembrou-se das frases se tornarem escassas, dando lugar a olhares decepcionados. Isso não era importante na verdade, mas incomodava. Os membros do clube não treinavam tão intensivamente como o faziam quando Tezuka ou o Momoshiro estavam à frente. Alguns membros desistiram. "Echizen você não vai falar com eles?" "Não, eu não posso obrigá-los a voltar" Qual o papel de um capitão afinal? A sensei já não faz tudo? Aliás, ela não vai voltar? O diretor não libera nada. Estão sem quadra, sem orientador, não pode obrigar os alunos a treinarem. Quantos saíram quando o Momoshiro era capitão? Aliás, como Momoshiro era como capitão? Ele deveria ter falado com os alunos que saíram. As coisas não iam bem, de alguma forma parecia ser culpa dele. É difícil aceitar que ser o vencedor e treinar vencedores são coisas diferentes. "Eu não devia ser capitão".

– Ouch!

Ele saiu do devaneio com um puxão de orelha dado por Ryuzaki. Virou o rosto rápido para iniciar uma briga, só que ela ainda estava perto, muito perto, levemente apoiada na ponta dos pés e numa proteção que separava a calçada de um barranco. Ela corou de tal forma que parecia que ia explodir e imediatamente se afastou dele.

– O que você está fazendo? - disse massageando a orelha avermelhada.

– Você não respondia. - ela brincava com os dedos tentando se acalmar e não olhava para ele. O último pensamento havia sido verbalizado, e ela ouvira, não queria continuar a vê-lo daquele jeito. Echizen era convencido, otimista, realista. Nunca passou pela sua cabeça que estivesse se sentindo culpado por causa do clube. Queria ajudar, mas ele não é o tipo de pessoa que chama para conversar e desabafar. - De-desculpe.

– Não. ¬¬

– Eh?!

– Você vai me agredir de novo se disser que sim. - foi tudo o que ele conseguiu dizer, simplesmente não conseguia brigar com Sakuno. Ficaram ambos em silêncio, sem saber o que dizer. Echizen, finalmente prestou atenção à ela, que trocara seu uniforme de sempre por um moletom roxo. Seus enormes cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo e não nas tranças finas, como de costume. Ela estava muito diferente, acabou dizendo por impulso, a primeira coisa que veio à mente:

– está parecendo sua avó.

A garota ficou surpresa.

– só que numa versão stalker e mais violenta.

– eh?! - depois, em choque.

– onde eu vou você aparece, e me agride.

Ela apoiou cabisbaixa na proteção da calçada.

– quer me dizer algo ou só puxou minha orelha por que quis? - ele respondeu passando a mão pela orelha esquerda de novo.

Ela fez cara de paisagem, não o tinha chamado por algum motivo especial, só queria tirá-lo do transe. Era complicado. Sakuno estava apaixonada, seu coração não tinha mais ritmo, toda santa vez que o via era como se o chão sumisse. Mas no fundo, não sabia nem se poderia se considerar amiga de Ryoma, apenas sabia que não queria mais ser ignorada por ele, queria fazer parte de sua vida, se aproximar, ser uma amiga de verdade, ter um relacionamento. Saber o que se passava em sua cabeça, além do tênis.

– o que você estava pensando?

Ele deu de ombros.

– nada demais.

– eu acho que você é um bom capitão, é só uma crise do clube, não é culpa sua.

Ele se surpreendeu um pouco com o que ela disse, ficou até encabulado por ela ter ouvido. Virou as costas e mexeu no boné:

– é claro que sou um bom capitão.

Ryuzaki sorriu, pois sentiu que conseguiu confortá-lo um pouquinho.

– Até mais. - Ele começou a correr, deu dois passos e voltou-se a ela, dizendo sério.

– não me siga, stalker.

E ele simplesmente foi embora com um sorriso malandro deixando-a boquiaberta e chorosa.

– eu não sou uma stalker... i_i

Ryoma também não tinha notado que, cada vez mais, fazia pequenas provocações só por que gostava de ver as reações de Sakuno. Sabia menos ainda que não era somente disso que ele estava gostando.


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Notas finais do capítulo

Será que Ryuzaki está ganhando espaço no coração tenista de Ryoma? Eu se fosse você não perderia o próximo capítulo. Vem chegando o dia dos namorados :3
E prometo fazer um capítulo menor, por que esse ficou gigante D=



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