300 dias antes da América escrita por Michele Bruna da Silva


Capítulo 4
Bochechas


Notas iniciais do capítulo

* chocolate homei nos quadrinhos japoneses de romance, significa um chocolate com sentimentos de quem dá para quem recebe. Uma declaração de amor, normalmente interpretada como ou acompanhada de um pedido de namoro.

* mada mada dane : é uma frase que Echizen usa para seus adversários no tênis, dizendo que eles ainda tem muito a aprender.



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Lá estava a pequena Sakuno, olhando para o vazio de novo. Aos poucos as lágrimas que segurava, escorreram de seus olhos.

"Ele não foi para a América ainda, só foi para casa... Por que não consigo parar de chorar?"

Ela tentava secar as lágrimas nas mangas do casaco.

– mas por que não me esperou? - questionou a si mesma.

Esfregou os olhos mais um pouco e levantou a cabeça devagar imaginando que ele estaria ali. Mas não havia ninguém.

Vendo que as lágrimas não parariam tão cedo, começou a andar devagar, respirando fundo para chamar menos atenção na rua.

Dali a pouco começou a andar mais rápido, em passos largos, querendo chegar logo em casa, até que parou e bateu nas próprias bochechas tentando interromper aquele sentimento de tristeza, frustração e irritação.

"Não posso desistir, não antes de dar chocolates homei*"

E agora sim, Echizen estava a sua frente. Assim que ela o viu, abaixou devagar como se derretesse. Com as mãos ainda sobre as bochechas vermelhas de ardor e de amor. Ryoma deu meia volta, fingindo não conhecê-la, pois uma pessoa batendo no próprio rosto e agachando daquele jeito na rua, era muito estranho.

Ryuzaki ao perceber que ele ia embora levantou eufórica e parou na frente dele com os braços abertos, o impedindo de seguir.

– O que foi?

– P-por que não me esperou? - o nariz escorrendo, os olhos molhados e avermelhados não o deixavam a levar a sério.

– Você não me disse pra esperar.

Ela fechou os braços e debateu.

– Mas eu sempre te espero.

– Vamos pelo mesmo caminho, então não vejo motivos para tudo isso.

Momoshiro levava Ryoma pra casa em sua bicicleta, todo santo dia, ele nunca tinha notado que morava a um bairro de distância de Sakuno. Assim que ela descobriu, passou a esperá-lo todos os dias na saída, era uma de suas grandes alegrias, andar ao lado dele, mesmo que fosse em uma caminhada silenciosa. Ficou extremamente chateada com a reação indiferente de Echizen, e só de raiva apertou as bochechas dele, igualzinha a avó fazia quando eles saiam da linha durante os jogos de campeonato. A diferença é que ele não esperava uma atitude daquelas vinda dela.

– Isso não é justo! Eu estava entregando os papéis por você. - apertava-o com tanta força que ele não tinha nem como revidar, na verdade ainda estava em choque de susto e preferiu não revidar. - E você não foi no meu aniversário, não me disse que chocolate gosta para eu fazer pra você, nem disse que ia para a América... você é... Você é um boboca Ryoma-kun! - finalmente o soltou, ficou de costas para limpar as lágrimas, Ryoma imediatamente levou as mãos às bochechas que estavam vermelhas e ardendo, tentava ligar os pontos de tudo o que a garota dissera.

Ryuzaki foi se acalmando e tomando consciência do que tinha feito; logo sua calma foi se esvaindo de novo, acabara de ter um ataque histérico, no meio da rua, gritado e agredido o rapaz que ama. Não tendo com que cara olhar para ele, começou a andar dura e devagar para sair dali, antes que ele dissesse qualquer coisa. Não o encararia de novo tão cedo. Echizen depois de associar tudo mentalmente, percebeu que ela ia saindo de mansinho:

– Aonde pensa que vai?

Havia um tom de irritação em sua voz. A garota congelou na posição em que estava, segurou a bolsa mais perto de si, aliás teria entrado nela, se pudesse. Suando frio, foi virando-se devagar. Antes que completasse meia volta, ele colocou uma sacola preta em sua cabeça.

Ela apalpou o objeto quadrado e tirou de cima de si, o encarando.

– Seu presente. - ele deu a dica.

Era uma sacola preta sem graça, mas quando ela olhou dentro, havia um embrulho muito, muito feminino. Com laços vermelhos e uma estampa de bichinhos muito fofa.

– Isso é...

– Não precisava entregar os papéis, deveria ter falado que os chocolates eram para o Valentine, sobre a América - pausou dramaticamente - eu não informei ninguém que viria, achei que não precisasse comentar a volta. E o seu presente - ele suspirou - só esqueci de entregar.

Sakuno apertou o embrulho, se sentindo ainda mais arrependida de ter apertado as bochechas dele. Ficou o encarando durante um tempo sem dizer nada, mais precisamente, olhava suas bochechas, estavam em um tom rosado muito fofo e ele a encarava desgostoso com a situação. Em segundos ele tomou o embrulho de volta.

– Só acho que você não merece ganhar presente.

– Eh?! Desculpe Ryoma-kun!

– Se desculpando para ganhar o presente? Mada mada dane*. - disse zombando dela, que estava começando a não se sentir mais arrependida pelo feito. Até que olhando o pacote colorido nas mãos dele notou a etiqueta da loja e surtou.

– Você comprou na Lolie Gifs?!

– Talvez - disse dando de ombros, bastante incomodado, era óbvio que ele tinha comprado. A loja em questão só vendia produtos femininos. Ninguém que conhecesse Echizen diria que ele entraria numa loja espalhafatosa daquelas. E por esse motivo, Ryuzaki olhava o presente mais admirada.

– Eu não consigo imaginar você nesse tipo de loja.

– Hmm. É só uma loja. - ele virou de lado enquanto falava. Estava escondendo a verdade vergonhosa que veio à mente em um flashback.

Ryoma foi até o endereço marcado no papel pela mãe, e ao dar de cara com a loja gigante e desnecessariamente decorada, virou para ir embora sem sequer entrar. Maaaas, uma atendente o viu e o puxou para dentro, praticamente foi obrigado a comprar ou ficaria preso naquele lugar pra sempre. Jurou a si mesmo que nunca mais sequer passaria perto de lá.

Ryuzaki não parava de olhar o pacote, completamente encantada.

– Posso abrir? Por favor...! - seus olhos pareciam ter aumentado de tamanho e brilhavam, pedindo aquele embrulho desesperadamente. A vontade de Echizen era brincar com ela como fazia com Karupin, mas involuntariamente deu o embrulho.

– Vá em frente.

Sakuno começou a abrir o presente devagar, delicadamente, junto com ele, abriu um pouco o seu coração.

– Quando você veio ao Japão, não conhecia ninguém - apreciou com carinho o embrulho colorido - mas agora você tem amigos, não precisa fazer tudo sozinho, você é importante para nós. - e de dentro do pacote colorido, surgiu um bichinho de pelúcia. Ryoma parou de olhar pra ela pensando no que havia dito. Sakuno olhou e amou demais aquele panda peludinho.

– Que fofooo. - a voz saiu um pouco abafada, por que ela apertou o ursinho contra o peito. Quando olhou para Echizen, ele a encarava desgostoso de novo. – O que foi?

– Pergunte às minhas bochechas. - ele respondeu um pouco ríspido, ainda estava de lado, como se não quisesse encará-la, mas por algum motivo também não foi embora.

Ela olhou para o ursinho, pensou um pouco e finalmente perguntou:

– O que posso fazer para me desculpar?

Echizen olhou para cima, estava nevando um pouco mais forte.

– Está frio. - olhou de canto de olho para ela.

Quando a ficha caiu, Ryuzaki sorriu para ele docemente:

– Eu sei de um lugar aqui perto. Vamos.

Ele a seguiu, não muito seguro, por que a garota não entende de localizações. Durante o caminho ela fez cara de perdida pelo menos umas três vezes, o fazendo pensar que segui-la não foi a melhor das ideias, só que merecia comer uma comida quente, pelo menos a quentura sairia das bochechas e iria para o estômago. Echizen só não sabia que suas bochechas estavam queimando por outro motivo.

Passaram em uma barraquinha móvel que vende takoyaki. Quando ouviram alunos de outra escola saindo e falando alto.

– Ah, que saco! O diretor cancelou todos os treinos até o fim do inverno. - disse um deles.

– Só por que não temos uma quadra coberta.

– Eu acho um exagero, não está tão frio assim para proibirem as aulas ao ar livre.

Sakuno e Ryoma se encararam como se dissessem um ao outro "é isso!". Provavelmente era o mesmo que estava acontecendo no Seigaku. O que não se explicava era a aposentadoria forçada e repentina da treinadora. Eles pegaram seus takoyakis e foram embora.

Ao chegar na casa de Ryuzaki, se despediram como de costume. Quando ela estava quase na porta da casa, ele a chamou e disse:

– Sobre os chocolates.

Ela sentiu o coração acelerar.

– Me surpreenda. - disse com um sorriso galanteador e zombador que fez a garota corar. - Até amanhã. - ajeitou o boné na cabeça e foi embora, deixando a pobre garota confusa e com os nervos a flor da pele.

– Sur-surpreender?!


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Notas finais do capítulo

Confesso que criei um mistério sobre a aposentadoria da Sumire, mas não sei como resolver huheuhue Na verdade eu sei, mas parece tão tosco. Torçam por mim gentem.



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