E a Vida Continua escrita por CorujinhaGreyy


Capítulo 5
Bônus - Luce


Notas iniciais do capítulo

Bem anjos, um bônus dos momentinhos mais fortes que a Luce passou antes de conhecer o Thomas e Elena. Espero que gostem. Boa leitura.



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POV – Luce

Mamãe está tomando aquela injeção de novo... por favor Deus, faça com que ela não me bata, não mais, por favor...

Estou debaixo da cama, encolhida e assustada, mamãe está injetando aquela coisa branca nas veias de novo, e toda vez que ela injeta aquela coisa ela fica bastante nervosa e descontrolada e me bate muito. Sempre por um momento imagino que se papai tivesse ficado aqui, ela não brigaria comigo. Ela sempre me diz que a culpa é minha, que ela conquistou um homem lindo e bom e eu cheguei para estragar tudo, por isso a abandonou.

Toda vez que põe aquele pó branco na colher e esquenta, ele se desfaz e vira algo tipo uma água esbranquiçada que mamãe coloca em uma seringa e logo em seguida aplica em um de seus braços. Da última vez que fez isso gritou muitas coisas horrorosas para mim. Pelo menos não me bateu como das outras vezes.

Agora ela está a minha procura, gritando coisas feias para mim.

–Luce sua vadiazinha, apareça agora pequena desgraçada! Juro que se você não aparecer, se eu tiver que te procurar, vou deixar que Cam a leve para algum vagabundo fazer o que quiser com você.

Sufoco um soluço, Cam é o patrão de mamãe. Sempre diz que ganhariam muito dinheiro se me vendessem e que sou apenas um estorvo. Ele já bateu muito em mim com seu cinto, uma vez ele bateu com a ponta do cinto, bem com a fivela, doeu muito e cortou minhas costas, sangrou bastante. Gritei muito, e quanto mais gritava mais ele me batia.

–Putinha nojenta, vou te vender e você vai ver o que é bom. Cale a boca seu estorvo, se a retardada da sua mãe resolveu te parir, problema dela. Isso, chore, sua mãe está deitada no quarto e veja bem se ela vem te socorrer! – eu chorava pedindo para ele parar, estava doendo muito. De repente não pude mais aguentar e acho que desmaiei.

Quando acordei, estava no Central Child Hospital. Uma mulher ruiva e boa, acho que era do conselho tutelar, disse-me que o vizinho do andar de baixo se revoltou com meus gritos e os gritos de Cam mas resolveu não se intrometer. Após um tempo, eu parei do nada e mesmo assim Cam gritava para “a pequena bastarda acordar”. O vizinho achou que ele tivesse me batido até a morte e resolveu arrombar a porta em meu socorro. A mulher ruiva salientou ainda que estava tudo bem agora, só que me levariam para algum orfanato por um tempo. Mamãe recorreu e se mostrou arrependida, prometeu que nunca mais usaria drogas e que não me bateria, prometeu ainda que nunca mais veria Cam e muito menos deixaria que ele se aproxima-se de mim. A justiça, e eu, acreditamos. Duas semanas após ela ter reconquistado minha guarda ela voltou a se drogar e a me bater. Um mês depois, Cam estava de volta.

Apesar de na época eu ter 4 anos e agora 5, ainda tenho algumas cicatrizes esbranquiçadas nas costas.

–Você me escutou sua nojentinha?! - seu grito me assusta. Estou em lágrimas e com medo do que poderá acontecer se eu me entregar, e mais ainda com a possibilidade de que se eu não me entregar ela vai me achar e me bater ainda mais.

Mamãe entra no quarto, está com uma daquelas garrafas com liquido âmbar nas mãos e com um cinto preto e fino. Ela segue em direção ao guarda-roupas.

– Acabaram suas chances Lucinda.

Por favor Deus... Ela vai me machucar. Acalme-a e não deixe que me machuque, por favor...

Abre o guarda-roupas.

Sei que assim que constatar que não estou ali ela irá procurar embaixo da cama. Decido sair, de mais a mais ela me achará e vai me puxar. Tem alguns pregos mais salientes na cama e quando ela me puxar me cortarão.

Saio de baixo da cama e paro em pé na frente desta. Começo devagar e baixo olhando para meus pés.

–Mamãe... – ela olha para trás e está furiosa. Joga a garrafa no chão com força quebrando-a, alguns cacos ricocheteiam e arranham a pele de minhas pernas. Tremo sabendo o que irá me acontecer.

Ela solta um meio sorriso possesso, levemente inclinando sua cabeça para a esquerda. Tudo que posso fazer é uma pequena oração para qualquer coisa que esteja governando o mundo de que ela não me machuque.

– Te peguei sua ratinha imprestável, não imagina o que farei com você. – avança para mim.

Estou assustada e chorando, mas de certo modo já sei o que vai acontecer. Já passei por isso antes, posso enfrentar isso de novo....

–Mamãe, por favor...

–Cale a boca! Não me chame de mãe sua imbecil! – solto um soluço e olho em seu rosto.

– Por que você não gosta de mim, mamãe? O que te fiz? Porque me trata assim? – caio de joelhos e baixo a cabeça para o chão. Meus cabelos cobrem meus rosto e minha frente, posso sentir as lágrimas quentes escorrerem e vejo elas molhando o chão.

É isso, que me bata logo, que seja breve...

Ela não me bate. Está rindo mas com ironia.

– Você sabe bem porque não gosto de você.

–Só porque papai te abandonou quando nasci. – espero não ter soado maldosa, não foi essa minha intenção. Me surpreendo novamente com a não descida do cinto em meu corpo.

– Luce, Luce, Luce. Tão inocente! – ela está raivosa, sua voz escoa repulsa. – Te digo o que fez sua imbecil, você nasceu! Eu tinha uma casa melhor em Portland, meus pais ainda me amavam, e tinha um namorado que me amava muito. Mas eu fui tão idiota!

Tomo uma cintada na cabeça, isso dói muito e dessa vez deixo as lágrimas irem mais ainda com soluços.

– Saí com uma amiga para uma festa, na época eu tinha 16 anos. Seu pai estava nela. Eu me apaixonei imediatamente por aqueles olhos verdes intensos, os mesmos que os seus!

Uma cintada nas costas, com raiva e muita força dessa vez.

– Conversamos e eu caí na lábia daquele cretino. Meus pais detestavam ele, mas mesmo assim eu o seguia. Deixei meu namorado, contradisse meus pais e fiquei com o cara bom e bonito que seu papaizinho se mostrou no inicio!

Mais uma cintada, grito com a dor.

– E aí bem, aí você chegou. Engravidei de você.

Ela também está chorando, só que de raiva. Uma cintada a mais e mais um grito.

Faça isso parar por favor...

Ele me abandonou! Disse que daquele momento em diante não poderia mais me ver! Meus pais me desprezaram e me largaram na rua!

7 cintadas repetidas...

– Vim parar nesse buraco com você, sua desprezível, nos meus braços!

Estou deitada no chão e esgotada, não posso mais gritar mas ainda posso sentir as lágrimas quentes nos olhos. A culpa é minha, fiz muito mal a mamãe.

–Me perdoe. – digo baixinho.

Mamãe está chorando e vai para a cozinha. Com o canto dos olhos percebo que está esquentando mais daquele pó branco que põe nas veias, só que dessa vez usa uma seringa inteira. Ela nunca usa uma seringa inteira, sempre só menos da metade...

Me preparo para que ela fique muito mais irritada e novamente venha me bater. O sono me vence e a única coisa que penso é que breve serei despertada por cintadas.

Acordo com o sol fraco vindo da janela no rosto.

Me levanto um pouco dolorida e vou em direção a pequena cozinha, cautelosa. Mamãe ainda está dormindo.

O dia passa e mamãe ainda está lá, deitada sobre a mesa. Já é quase noite e ela dormiu o dia inteiro.

Estou com muita fome. Apesar de só ter uma refeição por dia ainda não comi hoje, o que me faz estar um pouco tonta. Sei que vou apanhar por isso mas decido acordar mamãe.

–Mãe... – coloco uma mão levemente em seu ombro, ela está fria.

–Mamãe... – tiro seu cabelo castanho escuro do rosto, seus olhos estão abertos e seu nariz tem um pouco de sangue.

–Mamãe! – me desespero e a sacudo pelos ombros - acorde!

Ela não responde. Estou com medo. Está perto do horário que Cam vem buscar a mamãe para o trabalho. Torço para que chegue rápido e me ajude.

Como se fosse mágica ele abre a porta. Corro até Cam e começo.

–Mamãe não acorda! Está dormindo desde ontem a noite! Me ajude por favor!

– Tire as mãos de mim! – me empurra para o lado e vai até mamãe.

– Ana levante-se. – ele a empurra nos ombros e olha em seu rosto, de repente apavorado.

– Merda Luce! Que porra aconteceu aqui?!

– Eu não sei... – estou chorando.

– Ela está morta Luce! Morta! Merda...

– Mãe... – não, por favor mãe não.

– Bem deixe-a para as autoridades, você vem comigo.

– O que vai fazer comigo? – não posso ir com ele!

– O que já teria feito a tempos se a sua mãe tivesse deixado. Se alguém vai te ter depois mesmo e sua mãe não renderá mais, vou te vender.

O quê?!

– Não! – ele gruda em meu braço esquerdo – me solta!

Chuto Cam com todas as minhas forças no meio de suas pernas. Ele é pego totalmente desprevenido e me solta. Não! Não deixarei que me machuque nunca mais!

Corro em direção á rua sem olhar para trás, decidida que não vou mais voltar. Agora será só eu.

Estou encolhida no canto de um beco. Sinto fome e medo. Gostaria de saber porque aquelas coisas grandes e esquisitas me atacam. Só ontem foram dois, e hoje acabo de sair das garras de uma criatura que se parecia mais com uma cobra e silvava que “carne de semideus pequeno é a melhor”. Não entendi o que ela quis dizer.

Meu estômago está roncando.

Ouço ruídos e me encolho, vejo uma sombra alta e sei que breve estará em mim. Sinto-a se aproximar de mim e salto com um pedaço de aço nas mãos. Tenho tido de me defender dessa maneira nos últimos dias.

A sombra que agora ganha forma é uma menina loira, um pouco ruiva. Ela salta para trás com o meu ataque.

– Calma, não vou te machucar. Você é uma garotinha bem valente. – sorri para mim e isso de certa forma é acolhedor. Sei que ela não me machucará.

– Me chamo Elena, posso me juntar á você?


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Notas finais do capítulo

Bom, fomos até onde a Luce conhece a Elena ^-^. E sim, esse anjinho de olhos verdes perdoou a mãe e o Cam e nunca desejou mau nenhum pros dois. Beijinhos.
Ps: amanhã eu posto um novo capítulo