After The End escrita por Matt Sanders


Capítulo 6
s1x06 - Sleepwalking


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Eu espero que vocês gostem! Beijos do Matt



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A chuva desabava pesada dos céus. Raios cortavam o ar até se colidirem com o chão da planície, o frio era forte e o vento soprava intenso.

Dentro do ônibus Elliott permanecia sentado ao lado da janela com Heather dormindo no banco ao lado. Observava as gotas se chocando contra o vidro do veículo, precisava descansar. Olhou para suas mãos ainda com sangue entre suas unhas e por mais que tivesse as limpado, o líquido vermelho ainda estava lá. Havia matado uma pessoa. Havia matado uma pessoa para salvar outra que nem conhecia direito. Olhou para Heather, ela dormia tão calmamente que Elliott não conseguiu conter o sorriso que se formou em sua boca.

Olhou para Enzo no banco oposto ao que o loiro estava. O garoto também dormia tranquilamente. Olhou um pouco mais ao redor, enxergou Rachel e Kimberly conversando no fundo do ônibus e na frente Nathan dirigia sozinho. Elliott passou a mão pelo pescoço e sentiu uma leve elevação em sua pele, parecia picada de inseto.

Não se incomodando tanto com a pequena picada, se levantou do banco com cuidado para não acordar Heather e foi até a frente do ônibus onde estava Nathan. Havia um banco perto da porta de embarque, onde ele se sentou.

— Não conseguiu dormir? – Nathan não tirou os olhos do volante e da estrada molhada.

— Nem um pouco, até perdi a noção do tempo.

— Estamos na estrada tem algumas horas, daqui a pouco será hora de pararmos.

— Nathan você já matou alguém? – Elliott disparou.

— Está impressionado por ter matado Bryan? – Nathan soltou um pequeno risinho e Elliott concordou com um gemido.

— Eu não sei o que pode ter dado em mim naquela hora, eu só... – Elliott não conseguia articular as palavras.

— Você fez o que você tinha que fazer. Era ele ou Heather, quem você escolheria?

— Heather, óbvio.

— Então pronto, não se preocupe com isso e eu nunca matei uma pessoa, só para responder sua pergunta. – Ele riu novamente.

Elliott duvidava. Como alguém que fazia parte de um grupo dominador de uma cidade poderia nunca ter matado alguém? Resolveu encerrar o assunto e voltou para seu lugar, mas quando chegou notou que Heather havia se deitado sobre os dois bancos impedindo o loiro de se sentar. Ele não conseguiu conter outro sorriso.

O barulho das conversas em voz baixa das outras pessoas do ônibus ecoava pelo ambiente junto com o barulho das gotas de chuva socando a lataria do veículo. Conseguiu achar um banco bem ao fundo, longe das conversas. Lugar perfeito para tentar dormir.

Encostou-se perto da janela. A planície passava do lado de fora, a chuva continuava caindo. Ele pôs a cabeça sobre o vidro e fechou os olhos. Tentou esvaziar a mente de todos os acontecimentos dos últimos dias e algum tempo depois ele adormeceu e sonhou. Sonhou com seus pais, com seus antigos amigos. Sonhou com sua casa, sua cama. Sonhou com o mundo antes de tudo acontecer.

Agora ele estava em um parque, mais precisamente no gramado à beira de um lago. O clima estava ensolarado, o céu perfeitamente azul com pipas voando e ao seu lado Heather e Enzo.

Os dois sorriam e ao fundo era possível ouvir riso de adultos e crianças, latidos de cães, grito de aves. Algo chama atenção em sua mão, está pingando. Sangue. Suas mãos estão sujas de sangue.

Ele olha para os lados e encontra Heather e Enzo caídos no chão com cortes enormes em seus pescoços. Notou que as risadas haviam parado e o céu havia assumido um tom avermelhado horripilante, olhou ao redor e se deparou com inúmeros corpos jogados. A água do lago se tornara sangue. Ele correu. Correu até toda aquela visão desaparecer e dar lugar a um banheiro mal iluminado.

Uma banheira, um vaso sanitário e uma pia com um espelho na parede branca. Correu até a pia para lavar as mãos, mas ao se olhar no espelho não se reconheceu. Suas pupilas estavam dilatadas, seu rosto drasticamente cadavérico e dentes afiados. Suas unhas viraram garras e sua pele havia ficado acinzentada. Sangue escorria de sua boca, muito sangue.

Toda aquela visão desapareceu tão rápido quando um sopro que apaga uma vela. Estava de volta ao ônibus. Seu corpo suava e seu coração batia acelerado.

‘’Foi só um sonho’’

A chuva ainda despencava, mas com menos intensidade. Conseguia ouvir as vozes de Heather e Enzo, levantou-se e foi até onde os dois se encontravam.

— Olá Bela Adormecida. – Heather sorriu.

— Elliott você está bem? Está com cara de assustado. – Enzo estava encostado na janela do ônibus.

— Eu estou bem, só tive um pesadelo.

— Que tipo de pesadelo? – O garoto de olhos azuis arqueou a sobrancelha.

— Não foi nada, juro para vocês. – Elliott tentou sorrir, mas a imagem dos dois com o pescoço aberto não conseguia sair de sua mente.

Heather tirou uma pequena barra de chocolate do bolso do casaco que vestia, que por sinal estava bem grande nela, e jogou para o loiro. Ele agradeceu com um gesto de cabeça e devorou a barra em alguns segundos.

— O que é isso no seu pescoço? – Heather já estava de pé e colocando a cabeça de Elliott de lado cuidadosamente com as mãos.

— Acho que foi algum inseto...

— Está coçando? – Heather continuou examinando o local e Elliott negou com a cabeça. Sentou-se novamente no banco.

— Acho que estamos parando, olhem. – Enzo apontava para o lado de fora da janela. Casas de madeira surgiam junto com uma vasta floresta onde era a extensa planície.

— Pessoal. – A voz de Nathan ecoou pelo ônibus. — Vamos parar por aqui e descansar, nós já viajamos o bastante. – Ele deu de costas e desceu do veículo. Do lado de fora estavam Caleb e Lorenzo guiando os carros para uma das casas.

— Isso é uma vila? – Elliott se dirigia ao lado de fora.

— Isso é o meio do nada. – Ouviu a voz de Heather ao fundo.

A vila tinha menos de trinta casas e parecia abandonada. Um pequeno poço se localizava ao fim da fila de residências. O céu já havia tomado tom cinza escuro por conta da noite que estava se aproximando. O vento corria gélido.

— Vamos nos dividir entre as casas, elas são pequenas demais para todos nós. – Nathan gritou para o grupo. — Caleb fica com um grupo naquela casa e eu fico com vocês nessa daqui. – Nathan apontava para duas casas dispostas uma ao lado da outra.

Elliott, Kimberly, Lorenzo, Heather, Rachel e Enzo junto com mais três pessoas desconhecidas seguiram Nathan até a casa abandonada. O interior era sombrio, uma grossa camada de poeira cobria alguns móveis antigos, o chão de madeira rangia conforme os passos eram dados sobre eles.

— Eu prefiro dormir no ônibus. – Enzo rompeu o silêncio.

— Aqui é mais seguro. – Nathan respondeu seco.

— Não me faça querer acreditar nisso. – Os dois se encararam por alguns instantes e antes que alguma discussão explodisse ali, Enzo se virou e foi em direção ao exterior da casa.

— Você tem certeza de que estamos seguros aqui? Pode aparecer alguém... – Rachel se manifestou. Elliott a olhou por alguns segundos e se deu conta de quase nunca ouvira a voz da menina antes.

— Não vai aparecer ninguém, estamos isolados no meio do nada.

— E você quer que isso tranquilize a gente? – Dessa vez foi Lorenzo que havia se manifestado.

— Qual é a de vocês? Se estiverem com medo, durmam no ônibus!

— Não precisa ser cavalo. – Rachel se afastou deles indo em direção a um lance de escadas.

— Ninguém entende como é difícil ter várias vidas em suas mãos! – Ele gritou.

— Vamos lá para cima. – Heather puxou a mão de Elliott e depois chamou por Enzo que logo os acompanhou. Nathan foi deixado sozinho no andar de baixo, talvez fosse isso que ele precisasse.

O andar de cima era tão igual quando o de baixo, móveis empoeirados, chão que emitia rangidos bastante incômodos e buracos na parede de madeira que permitiam que o ar gelado entrasse no ambiente. Acomodaram-se em um quarto ao fim do corredor, Lorenzo e Heather desceram até a van para buscar alguns cobertores para forrarem o chão e para se cobrirem.

Elliott havia acendido algumas luminárias de viagem para iluminar o banheiro completamente sujo. Posicionou-se frente ao espelho com manchas pretas querendo examinar a picada em seu pescoço. A pequena elevação na pele agora estava menos evidente e a pequena mancha vermelha estava sumindo. Seus olhos estavam pesados, parecendo que poderiam se fechar a qualquer momento, decidiu voltar ao quarto.

Sentou-se ao lado de Rachel e Enzo, Heather e Lorenzo ainda não haviam retornado.

— Você está tão calado hoje. – Enzo comentou com a voz calma.

— Eu sei, só estou tentando processar tudo o que aconteceu.

— Você ficou impressionado por ter matado Bryan? – Rachel também tinha a voz bastante calma e doce.

— Não sei, talvez. Não entendi como tirei forças para golpeá-lo daquele jeito.

— Talvez tenha sido desespero, era ele ou Heather. – A menina jogou a cabeça para ajeitar os cabelos levemente alourados.

— Não deixe isso abalar você. – Sentiu as mãos de Enzo pousando sobre seus ombros.

— Vou tentar. – Elliott tentou sorrir. Sabia que havia algo errado com ele, sabia que havia algo errado desde o sonho, não conseguia mais enxergar Enzo ou Heather sem lembrar-se dos pescoços abertos.

Heather e Lorenzo entraram no recinto trazendo alguns cobertores e mais algumas luminárias de viagem. Trataram de arrumar tudo e por fim, se deitaram.

— Fique bem. – Enzo sorriu para ele.

— Eu vou tentar, prometo. Elliott tentou sorrir mais uma vez e se virou para Heather.

— Seja lá o que for que esteja acontecendo com você, lembre-se de que eu estou aqui... Quer dizer, eu e Enzo estamos aqui.

— Obrigado.

— Durma bem. – Ela sorriu. Elliott fechou os olhos, tentou acalmar a mente e os sentimentos. Elas vinham como ondas violentas, sem controle.

Imagens aleatórias começaram a dançar em sua cabeça. Cores, formas, desenhos de depois veio o vazio. Nada, apenas a escuridão eterna e uma névoa fina. Em seu sonho, conseguia identificar suas mãos tentando alcançar a névoa, elas tateavam o breu sem sucesso e a nuvem continuava ali.

Foi tateando até sentir uma superfície líquida. Um líquido grosso. A névoa havia sumido e agora ele se encontrava na superfície de um lago negro, árvores mortas cercavam o local e o céu estava em tom vermelho morto. Algo o sugava para baixo, para dentro do lago.

Ele se debatia, tentou gritar, mas a voz não saía de sua garganta. A água negra já havia chegado ao seu pescoço. A força era descomunal, era como se milhares de mãos o puxassem ao mesmo tempo. Seu rosto foi coberto, estava completamente submerso. Não sentia dor e o pânico havia sumido, mas ele ainda prendia a respiração.

‘’Me deixe entrar. ’’

Elliott ficou procurando a voz, olhou para todos os lados e só o que via era o breu disforme da água.

‘’Me deixe entrar. ’’

Conforme a voz ia soando, uma estranha onda de conforto o invadia, preenchia seu interior, era como um abraço que o tranquilizava.

‘’Vai me deixar entrar?’’

Que mal isso poderia fazer? Era só um sonho. Ele abriu a boca, deixando a água invadir sua garganta, seus pulmões, ela penetrava cada centímetro do seu corpo inundando tudo de líquido preto. Ao invés de despertar assustado deste sonho igual acontecera com o outro, desta vez ele sentia o sono pesar. Era como se ele Elliott estivesse se separando da própria consciência.

—--X---

Os olhos de Elliott se abriram, mas ele não se moveu. Ficou fitando o teto de madeira podre e desgastada da casa, ele não piscava.

Uma hora de passou... Mais duas, três, quatro horas se seguiram e lá estava ele na mesma posição em meio aos roncos de alguém que dividia o quarto com eles. Um estranho barulho suave como se fosse um uivo calmo ecoava em seus ouvidos, mas ele vinha de dentro.

— Elliott? – A voz de Heather quebrou o silêncio do local. — Elliott? Elliott vá dormir.

A única reação dele foi virar o pescoço para o lado esquerdo. Heather ficou observando-o por alguns minutos e depois voltou a dormir. O loiro continuava acordado, os olhos estavam fundos e frios, não demonstravam quaisquer emoções.

Seu corpo se ergueu da cama improvisada e passou pela porta, desceu as escadas até chegar ao andar de baixo que estava vazio, talvez Nathan estivesse em outro lugar da casa. Elliott parou na beira da porta sem se incomodar com o vento frio que vinha do exterior que se chocava contra sua pele e ele nada sentia.

Sua mão tateou a janela quebrada perto da porta até encontrar um grande e afiado caco de vidro. Ele ficou parado ali por mais algumas horas segurando o caco de vidro, a chuva voltou a cair e a forte corrente de ar a jogava para o interior da casa.

— Elliott o que você está fazendo aí? – Heather descia as escadas de maneira sonolenta. — Volte a dormir. – Ela foi andando até chegar perto dele, o encarou. Encarou seus olhos sem vida e sua respiração calma era agoniante. A menina tocou sua pele e o sacudiu tentando fazer ele a ouvir.

Algo chamou sua atenção para a mão esquerda. O loiro apertava o caco com tanta força que fazia o sangue pingar no chão molhado.

— Elli... – Antes que ela pudesse terminar, ele cortou o ar com o pedaço de vidro quase atingindo o rosto da de cabelos vermelhos. Ele se lançou contra ela golpeando o nada com o objeto afiado, Heather se desviava como podia e gritava o nome de Elliott o suficiente para Rachel, Enzo, Lorenzo e Nathan aparecerem.

Seus olhos não piscavam. Sua respiração continuava calma. Seu corpo estava agindo sozinho ou algo o comandava, algo que não deixava o loiro ver o que estava fazendo, era como se tudo aquilo fosse um sonho, ou melhor, um pesadelo... Era como se ele estivesse sonâmbulo.

— Alguém o faça parar! – Heather berrou. Nathan se jogou na direção dele, derrubando-o no chão. O caco de vidro foi ao chão e o menino permaneceu imóvel por alguns instantes, pois no primeiro deslize de Nathan, Elliott jogou o cotovelo para o alto atingido seu nariz e jogando-o para trás.

Enzo tentou contê-lo, mas antes que se aproximasse do loiro, sentiu um chute acertando sua barriga. Elliott havia ficado mais forte. Retomou o caco de vidro e voltou na direção de Rachel que subiu as escadas junto com Lorenzo e foram em direção ao quarto. Fecharam a porta e usaram o corpo para escora-la, Elliott a esmurrava. Tudo ficou em silêncio, só se ouviam os corações acelerados dos dois e a respiração ofegante. Então um estrondo seguido de uma rachadura na porta jogaram os dois para trás, o loiro estava golpeando a porta com um pedaço grande de madeira. Antes que pudesse a destroçar por completo, Heather surgiu agarrando suas mãos.

— Elliott! Elliott pare! – Ela berrava e ele não exibia nenhuma expressão.

Ele largou a madeira deixando o objeto se chocar contra o chão, suas mãos encontraram o pescoço de Heather. Ela tentava impedir, mas o loiro já apertava seu pescoço. Ia esmaga-lo.

A de cabelos vermelhos se movimentou para frente e jogou o corpo para a escada. Os dois rolaram o pequeno lance de degraus e o silêncio reinou. Elliott estava parado de barriga para cima encarando o teto com os olhos sem vida e Heather recuperava a respiração, tossia intensamente. Enzo chegou para ampará-la.

— Você está bem?

— Estou... – Sua voz saiu como um gemido.

— Temos que acordar ele.

— Acordar? Como assim?

— Ele parece que está imerso em algum tipo de transe, olha como ele encara o nada. Precisamos dar um jeito de despertar ele antes que alguém aqui morra. – Enzo apontou para o menino caído, mas quando se voltou para Heather, o loiro levantou em um pulo e avançou na direção do de olhos azuis.

— Cuidado! – Heather berrou e já era tarde. Elliott o jogou contra o chão e tentava estrangular o menino.

Nathan surgiu como um foguete tirando Elliott de cima de Enzo e imprensando-o contra a parede. Enzo logo se levantou se ajudou Nathan a segurar seus braços.

— Heather! – Nathan gritou e a menina ficou de frente para o loiro. Ela mordeu o lábio inferior e fechou os olhos.

— Me perdoe por isso. – Sussurrou e desferiu um forte tapa no rosto dele. — Elliott! – Ela acertou outro tapa, desta vez do outro lado do rosto.

— Continua! – Enzo berrou e Heather gritava o nome de Elliott e lhe dava fortíssimos tapas e ele continuava a encarar todos com os olhos frios.

— ELLIOTT! – Ela soltou um berro de doer a garganta enquanto erguia a mão no ponto mais alto que conseguia, a fez descer pelo ar e acertou com toda a força no rosto do loiro. A força do tapa foi tão intensa que ela perdeu o equilíbrio e cambaleou para o lado que o golpe foi desferido. O rosto de Elliott ficou com os cinco dedos da menina marcados e sangue escorria de sua boca.

Os olhos de Elliott piscaram e o aspecto vívido foi retomado, o corpo dele relaxou e seu rosto foi inundado com uma expressão de dor. Nathan e Enzo soltaram seus braços para que ele levasse a mão ao rosto.

— O que aconteceu? – Ele parecia desorientado. Foi escorregando as costas na parede até cair sentado.

— Você não se lembra? – Enzo agachou-se ao lado dele.

— Lembro-me de desejar boa noite para vocês e acordo aqui. – As palavras de Elliott fizeram Enzo, Heather e Nathan se entreolharem. — O que aconteceu?! – Elliott tornou a perguntar.

— Você teve algum sonho? – Nathan perguntou sério.

— Sonhei que – ele fez uma pausa respirar – eu tentava matar vocês...

— Não foi um sonho. – A voz de Rachel chamou a atenção de todos.

— Você realmente tentou matar todos nós. – Lorenzo completou.

— Não pode ser! Eu estava dormindo!

— Elliott... – Heather segurou sua mão. — Não foi um sonho, foi tudo real.

Elliott sentiu seu coração acelerar, a ideia dele ter tentado matar todos eles parecia estúpida, mas ao olhar para o nariz de Nathan que continuava sangrando por mais que ele limpasse o fez entrar em pânico.

— Não pode ser! – Ele gritou. — Não pode ser!

‘’Isso vive dentro de você. ’’ Algo dentro dele havia falado. Ele se levantou e saiu correndo pela porta como um relâmpago. O amanhecer lançava suas primeiras luzes pelo céu nublado enquanto a chuva caía impiedosa. Ele correu destruindo o limite permitido por suas pernas, sua mente havia entrado em completo descontrole. Desde o dia em que acordou naquele ônibus, ele vinha segurando e controlando seus sentimentos, mas agora a sua represa psicológica havia se rompido e todas as emoções explodiam dentro dele.

O chão da vila estava completamente enlameado por conta da chuva torrencial que desabava. Os trovões eram um despertador biológico para o novo dia que nascia e Elliott corria. Correu até escorregar e cair. Ficou de joelhos, ele berrava, chorava... Estava com medo, com raiva, queria morrer, queria não estar ali, queria voltar para sua vida normal, mas não podia. Essa era a realidade, o mundo havia sido destruído e ele agora estava procurando uma cidade dita como segura com várias pessoas desconhecidas.

Ele socava o chão com força, suas mãos sujas de lama sangravam e as lágrimas despencavam pesadas como pedra.

Heather e Enzo chegaram correndo e se agacharam ao lado dele impedindo que ele continuasse socando o chão. Ele tentou se desvencilhar das mãos deles, mas se rendeu... Só o choro de desespero continuava em meio aos soluços e os gritos.

— Me diga que nada disso é real! – Elliott disse soluçando. Heather e Enzo se olharam, as lágrimas no rosto dos dois começaram a cair. Eles estavam tão desesperados quanto ele, sabiam que toda essa busca era incerta, que todos eram estranhos.

— Essa é a nossa realidade. – Heather segurava o choro. O loiro abaixou a cabeça e tornou a gritar.

— Essa pode ser a nossa realidade, mas não estamos sozinhos. – Enzo disse com a voz tremida.

— Nós temos um ao outro! Elliott você não está sozinho nessa!

— Seja lá que for que tenha acontecido pode ter acabado com tudo o que a gente acredita, com tudo o que a gente achava que era certo, mas ele nos uniu! – As palavras de Enzo fizeram Elliott parecer aparentemente mais calmo. Os dois poderiam ser desconhecidos ou estranhos, mas estavam com ele. Talvez situações caóticas causem ataques de pânico, porém elas também podem ser capazes de criar laços intensos.

— Me perdoem...

— Não há o que perdoar! – Heather o abraçou junto com o Enzo. Os três ficaram ali por alguns minutos, debaixo de toda aquela chuva, juntos.

—--X---

Após retornarem para a casa de madeira, os três trataram de ir limpar toda a lama e a sujeira de seus corpos. Elliott vestiu uma roupa limpa, se sentia ligeiramente mais calmo em relação aos minutos anteriores e para sua surpresa ninguém o olhava de modo estranho, pareciam entender o ocorrido... Mas ele não entendia, tinha quase certeza que era algo relacionado ao pequeno calombo em seu pescoço. Tentou não pensar mais no assunto, em pouco tempo partiriam novamente e o grupo já estava próximo da fronteira com o estado de Washington, último estado antes do Canadá. Após acabar de se trocar, encontrou Heather esperando-o no pequeno corredor do lado de fora.

— Você está melhor?

— Um pouco... Perdoe-me por tudo.

— Não há que eu precise lhe perdoar, está tudo bem. – Ela o abraçou. Dirigiram-se ao andar inferior onde Nathan estava sentado no chão com um cigarro na boca. Enzo, Rachel e Lorenzo estavam com Caleb e Kimberly do lado de fora.

— Preciso contar algo para vocês. – Nathan estava com a voz séria. Elliott e Heather se olharam.

— Pois bem... Diga. – Elliott disse com pressa e algo dizia que o que ele ouviria não seria nada bom.

— Vocês se lembram de quando Alessa tacou fogo no galpão, não lembram? – Os dois concordaram com a cabeça. — Ela disse que foi uma vingança e ela realmente estava certa. Eu e ela éramos parceiros de negócios.

— Que tipo de negócios? – Heather parecia impaciente com a enrolação de Nathan.

— Só estou contando isso para que vocês confiem em mim. – Ele passou as mãos sobre os cabelos cacheados. — Eu e ela fomos melhores amigos tanto na escola quanto profissionalmente, uma vez estávamos com dificuldades financeiras e então surgiu um emprego para nós... Eu relutei, neguei, mas eu precisava do dinheiro. - Elliott estava inquieto com todas as palavras.

— Nathan vá direto ao ponto. – Heather disse ríspida.

— Nosso trabalho era... – Ele mordeu os lábios com força. — Nós vendíamos pessoas para outra pessoa que era intermediária de uma organização... Não sei ao certo o que era. As pessoas vendidas serviam como cobaias para experimentos dessa organização.

— O que você está querendo dizer? – Dessa vez foi Elliott que se mostrou impaciente.

— Uma vez fomos até uma base dessa organização, mas não tivemos contato com nenhum deles, só vimos como funcionava a invenção deles. O efeito é igual ao que ocorreu com você.

— Sonambulismo?

— Sim e não, não é bem sonambulismo, mas a ideia é essa... O tal intermediário nos disse que havia algo maior por vir, algo mais agressivo e que o mundo iria experimentar uma revolução, algo assim... O tal experimento visava deixar as pessoas agressivas como animais selvagens, prontos para matar tudo que se movesse... Então eu desisti de tudo e fui embora de Los Angeles para cá, Alessa me seguiu dizendo que eu não poderia abandona-la desta maneira... Então vieram as bombas, o caos, as cidades completamente destruídas.

 — E Alessa? — Elliott perguntou mais uma vez.

— Alessa aplicou um golpe na organização e roubou amostras do tal agente, um vírus... Talvez ela o tenha injetado em você, causando isso tudo... — As palavras de Nathan fizeram o interior de Elliott se estremecer, parecendo que um buraco negro havia sido aberto dentro dele. Cobaia? Experimento? Vírus? Se as coisas já não faziam sentido antes, agora é que não faria mesmo. Nathan prosseguiu: — Eu formei o grupo para impedir que Eles capturassem os sobreviventes e levassem para a base.

— O que nos garante que você não está nos levando direto para eles? – Heather explodiu.

— Você acha que eu contaria algo assim para vocês se eu não estivesse falando a verdade? Eu sei que algo está para vir, não sei o que é, mas sei que não é nada bom...

— Assim como ter estado com você este tempo todo. – Elliott rebateu. — Você nos enganou e nos trouxe até aqui com qual finalidade?

— Eu estou cuidando de vocês! – Nathan explodiu.

— Você traficava pessoas e agora vem com papo de que está cuidando da gente? – Elliott apontava o dedo na cara dele.

— Eu sinto muito!

— Não sinta... Você nunca sentiu nada antes, não é agora que irá sentir.

— Eu vou falar com o Enzo e com os outros, nós vamos nos mandar daqui. – Heather saiu do ambiente em direção ao exterior. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos até Elliott sair dali. Sua cabeça explodia com tantas perguntas, ele viu tudo acontecer, ele sabia da verdade... Só que ela estava presa em um caixão enterrado dentro dos borrões de sua memória.

Mesmo que tentasse não conseguiria puxar nada neste momento, sentou-se no chão do quarto no segundo andar e tentou formular o que seria deles a partir de agora. Pegariam comida e água e andariam até a cidade mais próxima? Um bom plano, mas o que o amedrontava era o fato deles estarem por contra própria agora. Não havia mais em que ou atrás de quem se esconder. Agora eles só têm um ao outro.


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