Uma Última Chance escrita por Bruna Timbó


Capítulo 4
CAPÍTULO IV – A Maior Trapaça de Todas




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Se existia alguém que Marguerite jamais queria ver de novo, esse alguém era Omak, o deus trapaceiro da tribo Shaku. Famoso por enganar as pessoas com seus maiores desejos, e quase sempre as levando a ruína. Em seu primeiro encontro com esse Deus, Marguerite quase foi afogada em um ritual sacrifício para ganhar a imortalidade, e ela agora se lembrava do horror que passou.

Mas aquele arrepio que percorria sua espinha cada vez que pensava em Omak não significava nada em comparação ao pensamento de viver sozinha para sempre. Se aquele deus da trapaça poderia ajudá-la então ela iria até ele, ignorando completamente sua consciência que gritava para que ela retornasse.

Assai e Marguerite caminhavam lado a lado pela velha trilha que há muito não era usada. Ambas em silêncio, cada uma com seus próprios pensamentos e medos. A cada instante que se aproximavam mais e mais do Templo de Omak, as pernas de Assai fraquejavam. O medo estava presente no ar, e a velha senhora sabia que voltar aquele lugar era uma ideia muito ruim. Mas ela não tinha outra escolha, prometera perante o túmulo de seus amigos que jamais deixaria de ajudar a quem quer que lhe pedisse ajuda, pois fora por não ajudá-los que todos acabaram mortos. Assai devia aquilo a Marguerite e a ela própria.

Ao chegarem à entrada do templo, Assai virara-se para Marguerite que andara calada durante todo o percurso.

– Tem certeza que quer fazer isso?

– É a milésima vez que você me pergunta isso. Eu não tenho escolha. - Marguerite levantara os olhos ao responder – Agora vá embora. Deixe que eu resolvo minhas contas com Omak.

E com passos decididos Marguerite afasta-se de Assai em direção ao templo de Omak.

Aquelas escadarias de pedra a fazia lembrar-se dos horrores pelos quais passou há alguns anos. O medo e a morte. Marguerite achava que havia muitas coisas no mundo que ela deveria temer, só que a morte jamais fora uma delas. Isso até ela encontrar Omak, aquele homem conseguiu fazê-la fraquejar, conseguiu fazê-la implorar pela vida, não porque temia a morte, mais sim porque viveria para sempre, em sua eterna ambição.

Enquanto subia as escadas em direção ao centro do templo, as tochas ao seu lado iam acendendo-se como por um passe de mágica, naquele momento ela ouviu a risada macabra de Omak, a mesma risada de quando ele tentara matá-la.

Ao chegar ao centro do templo sentiu um arrepio que percorreu todo seu corpo, ao ver os toneis de água no qual ela quase morrera. Respirou fundo e juntando toda sua coragem gritou aos céus.

– OMAK! – gritava sem saber exatamente em que direção falar. – Apareça! Quero falar com você.

Nada. Silêncio absoluto.

– Omak! Apareça!

Novamente nada se ouviu, porém ela tinha certeza que ele estava ali, podia senti-lo em seus ossos. Algum tempo se passou e Marguerite continuava a chamar, mesmo sem resposta alguma.

E quando suas forças estavam se esgotando, ela se ajoelhou próximo ao buraco em que quase fora morta. As lembranças de Roxton aparecendo para salvá-la no último instante se fizeram presentes em sua mente. Ela balançou a cabeça tentando afastá-las, mas fora inútil.

– Calma minha doce Marguerite... Porque tanto desespero...?

Após uma risadinha sem graça, Marguerite levantou os olhos e pode ver Omak parado a sua frente. Ele continuava o mesmo de quando ela o tinha visto a ultima vez, os mesmos cabelos escuros na altura do ombro, as mesmas roupas, o mesmo cavanhaque e os mesmos olhos. Aqueles olhos frios e traiçoeiros que a haviam enganado tão habilmente.

– Meus olhos são traiçoeiros agora? – perguntou ele como se lesse seus pensamentos.

Ela ia responder a altura, mas algo em sua mente a fez parar. Algo dizia para que ela ficasse quieta, e não era a voz de Omak, parecia ser a parte sensata de sua mente, aquela parte que ela jamais ouvia. A parte que havia gritado para ela ir embora e que ela ignorou, mas agora estava disposta a ouvir.

– Eu preciso de sua ajuda Omak. – sua voz era um sussurro.

– HAHAHAHAHAHA!!! – a mesma risada apavorante que fez com que Marguerite tapasse os ouvidos. Omak rapidamente mudara de humor e segurou-a pelo braço de maneira brusca de modo que ela o encarasse – Você quer minha ajuda? Você fugiu de mim antes e agora vem me pedir ajuda?

– Sim! Venho seu desgraçado! – com um solavanco em seu braço, Marguerite conseguiu se soltar e afastou-se dele. A fúria em seus olhos havia despertado o interesse do homem. E ela sabia disso. - Você vai me ajudar ou então...

– Ou então o que? – interrompeu o deus rindo e aproximando-se perigosamente dela. – Vai me Matar?

– Infelizmente não posso fazer isso... – e quando um sorriso de vitória se fez surgir no rosto de Omak, Marguerite continuou - ... Não posso matá-lo... Ainda.

Ele se afastou rapidamente da mulher ao ver que ela carregava o Trion, o amuleto que pertencia à mãe de Verônica. Marguerite, ao notar o espanto na cara daquele deus começou a andar em passos lentos em sua direção.

– Tsc...tsc...tsc... Caiu como um patinho na minha armadilha. Achou mesmo que eu viria até aqui sem nenhuma proteção? – ela aproximara-se dele até estar quase com os rostos colados um no outro. – Você realmente não me conhece.

– Diga o que quer sua serpente!

– Quero meus amigos de volta! – ela fala ao se afastar dele e começar a andar pelo templo como se fosse à coisa mais natural do mundo. – Faça!

– Impossível. – ele sentara-se em uma pedra que lembrava muito um trono de rei. – Nem eu tenho o poder da ressurreição. Eles se foram, e jamais vão voltar.

– Mentira! – seu grito fez com que o Trion em seu pescoço brilhasse. – Traga-os de volta!

– Não dá! – ele se manteve apreensivo a presença do amuleto– Esqueça!

– Tem de haver um jeito! Eu sei que você consegue! – ela correra em sua direção, o Trion brilhando cada vez mais. Ao aproximar-se de Omak, ele recuou instintivamente, mas ela o agarrou pelo colarinho com uma mão e com a outra aproximou o Trion de seu rosto – Faça ou eu juro que pela primeira vez o mundo verá a morte de um imortal.

Uma gota de suor escorreu pelo lado do rosto de Omak e nesse instante ela teve certeza de eu iria conseguir o que queria.

– Tem apenas um modo. – quando ele começou a falar ela afastou-se. – Eu não posso trazê-los de volta, mas posso mandá-la até eles.

– Vai tentar me matar de novo seu cretino!? – em sua raiva o Trion brilhava cada vez mais, e isso parecia assustá-lo mais ainda.

– Não... não é isso! Posso enviá-la de volta no tempo enquanto eles ainda estavam vivos.

Ele não poderia estar enganando ela, não depois de mostrar o Trion. Marguerite nunca fora tão grata aquele pedaço de metal que sempre desdenhou. E também a Assai que sabia a fraqueza de Omak.

– Certo. Espere... o que vai acontecer quando eu voltar?

Ele nada respondeu, limitou-se apenas a obserá-la com um sorrisinho sádico.

– Responda! Ou eu juro que... – Marguerite aproximou-se e o trion brilhou ainda mais com a aproximação do Deus.

– CERTO! CERTO! Tem algo que deve saber... Por não pertencer aquele tempo sua presença vai contra as leis do universo e isso tende a causar um colapso na frágil película que rege o tempo e o espaço, restringindo assim sua essência vital.

– Em inglês por favor.

Com um suspiro de aborrecimento Omak afasta-se lentamente dela, mas sempre mantendo atenção no Trion.

– É simples. Você não é daquele tempo, então você não pode ficar lá. Portanto se eu mandá-la para o passado, você vai morrer rápido.

– Hehe! – Omak surpreendeu-se ao vê-la rindo, pois ele esperava no mínimo um pouco de espanto. – Eu já suspeitava disso. Sabia que você tinha que tirar algo de mim não é!?

– Isso mesmo. Sou o Deus da Trapaça, não tenho controle sobre o que eu sou. E então... vai desistir?

Ela fitou o chão. Como já foi dito antes, a morte jamais a havia lhe causado medo. Ela olhou novamente para Omak e continuou.

– Faça de uma vez trapaceiro!

Com um sorriso sádico Omak tirou do bolso um colar com uma pequena ampulheta. Ele aproximou-se com cautela de Marguerite e passou o colar sobre seu pescoço.

– Isso vai marcar seu tempo de vida. Quando o ultimo grão cair... bem.. você já sabe o que acontecerá.

– E agora? O que faço?

– Pense em casa Marguerite... nos seus pobres amigos...

Ela fechou os olhos e concentrou-se.

Verônica...

Malone...

Charllenger...

Finn...

Roxton...

Um portal se abriu em sua frente. De lá ela conseguia ver a casa da árvore e teve certeza de que aquilo daria certo. Caminhou a passos lentos em direção ao portal quando se lembrou de algo que havia deixado para traz. Virou a cabeça por cima do ombro de modo a encarar Omak que sorria.

– Até logo Marguerite.

– “Até logo”? – Marguerite tinha um sorriso feroz no rosto – A palavra certa a dizer aqui seria “Adeus”.

E com um movimento rápido, Marguerite lançara o Trion em direção ao Deus da Trapaça. Ele tentara fugir, mas era inútil. O objeto místico de imenso poder que agora brilhava de modo ofuscante, acertara-o em cheio, bem na hora em que Marguerite virou-se e tudo o que pode ouvir antes de entrar no portal, fora o ultimo grito de Omak, o Deus da Trapaça, que acabara de ser enganado por Marguerite Krux, a maior trapaceira de todas.


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