Uma Última Chance escrita por Bruna Timbó


Capítulo 3
CAPÍTULO III – A Dor e a Esperança




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A voz de Assai chegou a Marguerite como um golpe. Ambas ficaram ali, paradas por um tempo apenas olhando nos olhos da outra. Marguerite tentando absorver o que acabara de ouvir. Assai tentando entender o porquê de Marguerite estar ali.

Assai pensava que Marguerite fosse gritar, chorar ou mesmo desmaiar, mas ela não fez nada disso. Quando a mulher falou, sua voz estava incrivelmente calma, o que provocou certo arrepio na espinha de Assai.

– Do que você está falando Assai?

– Marguerite... você não deveria estar aqui... – Assai estava tensa, não sabia o que responder, não estava entendendo a situação - Os outros... você... todos estão mortos...

Marguerite mantinha-se de pé, agora bem próxima a Assai. A velha senhora olhou ao redor pelo quarto e Marguerite acompanhou seu olhar.

– Não percebe como as coisas estão meio diferentes?

Pela primeira vez desde que chegara, Marguerite prestou atenção no quarto onde estava. Aquele com certeza eram seu quarto, sua cama e seus outros pertences continuavam ali, no mesmo lugar, mas havia algo de errado com aquele aposento. Uma grossa camada de poeira cobria tudo e as plantas haviam entrado pela janela, criando uma cortinha de cipós em uma das paredes. Vários pássaros haviam feito seus ninhos naquele quarto. Parecia que ninguém pisara ali há muito tempo.

Ela não entendia o porquê de estar tão calma. Enquanto ouvia a velha senhora falar, algo dentro dela a mantinha sob controle. Algo impedia que ela colocasse tudo que estava sentindo para fora. Como se fosse um muro, mantendo todas as suas emoções dentro de si. Mas aquele muro estava se partindo e ela não sabia até quando poderia mantê-lo.

Marguerite andou com passos lentos em direção a cozinha, puxou uma cadeira e sentou-se. Assai fez a mesma coisa, sentando-se de frente para ela. Após uma nova onda de silencio Marguerite olhou diretamente para os olhos de Assai.

– Conte-me como tudo aconteceu. - a frieza nos olhos e na voz de Marguerite era assustadora.

– Vocês saíram para procurar um remédio para o Professor Charllenger. – a voz de Assai saía trêmula ao lembrar-se de seus amigos que há muito se foram. – No meio do caminho o grupo foi atacado por uma tribo de homens-macacos.

Lá fora na noite fria, uma coruja passou piando tão alto e tão próximo que fez com que Assai se assustasse, mas Marguerite continuava imóvel, observando a mulher. Parecia que nada no mundo poderia abalar aquele coração, e isso chocava Assai.

– Eu me lembro disso. – sua voz não estava mais tão calma.

– Marguerite, entenda que após o ataque o grupo chegou a minha aldeia pedindo ajuda para procurar você que havia caído de um penhasco. Era impossível ter sobrevivido.

Toda a atenção de Marguerite estava focada nas palavras de Assai. O coração dela começou a acelerar. Suas mãos ficaram tremulas, ela temia os rumos que aquela conversa estava tomando.

– Nós procuramos você por várias semanas. E mesmo quando desistimos, Verônica e os outros se mantiveram firmes na intenção de encontrá-la.

Marguerite tinha certeza que Assai podia escutar seu coração batendo sob seu peito. O pânico começava a tomar conta dela. Aquilo não podia estar acontecendo.

– Obcecados por achá-la eles se separaram para poder aumentar as áreas de buscas. Entenda que juntos vocês eram capazes... mas sozinhos se tornaram presas fáceis.

Marguerite fixou seu olhar na mesa. Não tinha coragem de olhar a velha Assai nos olhos.

– Quando todos se foram eu fiquei. – ela calou-se por um momento e quando continuou sua voz estava cheia de tristeza – Eu estava aqui quando Charllenger se foi. Um acidente com uma máquina do tempo... o laboratório em chamas... foi tudo horrível... Um a um foram morrendo... até que por fim apenas Roxton restou... e mesmo ele caíra perante a tristeza de perdê-la.

Silencio...

Marguerite mantinha os olhos voltados para baixo, porém escutava atentamente o que Assai dizia.

– A tribo Zanga, escolheu seus melhores guerreiros e fomos atrás de todos vocês. Demoramos quase 2 anos, mas achamos todos os... corpos...

Marguerite levantou rápida a cabeça em direção a Assai quando escutou a última palavra, em seus olhos verdes grossas lágrimas se formavam e terminavam por escorrer sobre sua face ainda suja da marcha da noite anterior. Ela parecia não acreditar no que ouvia.

– Não... não pode ser... quando isso aconteceu?

– Há cerca de 30 anos.

– Mentira!

A mulher levantara-se da cadeira com rispidez. Em seu rosto que antes mostravas tristeza, agora exibia apenas raiva. Assai estava até mesmo um pouco contente ao ver que Marguerite Krux finalmente exibira alguma emoção humana. Ela passou os braços sobre a mesa e agarrou a roupa de Assai com violência, sacudindo a pobre mulher.

– Mentirosa! Eles não morreram! Não podem ter morrido! Você está mentindo pra mim sua velha senil!

Assai não sabia o que responder, talvez tivesse sido um erro falar aquilo tudo de uma vez, talvez devesse ter contado aos poucos. Mas agora era tarde, se tinha começado seria melhor ir até o fim de uma vez por todas.

– Se não acredita em mim Marguerite, vá até lá em baixo e veja os túmulos! Estão todos lá! Eu mesma os enterrei com minhas próprias mãos!

Marguerite mal terminara de ouvir aquilo e já estava correndo em direção ao elevador. Seu coração parecia que ia explodir dentro do peito. A cada passo parecia que o mundo encolhia ao seu redor. Todos os outros sons foram abafados, fazendo com que ela escutasse apenas os sons de seus próprios passos e de sua respiração irregular.

A descida pelo elevador pareceu durar horas. Por fim chegou ao chão. O único lugar onde poderiam estar seria na parte de traz da casa da árvore. Marguerite correu até lá, tropeçou algumas vezes, mas mesmo assim continuou. Ao chegar ao local ela sentiu como se seu coração parasse.

Ajoelhou-se ao ver a sua frente estavam seis túmulos, um ao lado do outro. Sobre cada um estava um objeto; uma faca, que ela reconhecera imediatamente como de Verônica; uma árvore pequenina e meio ressecada, um diário de Malone, já quase destruído; um tubo de ensaio achado; um diamante e o chapéu de Roxton preso por uma das abas em uma estaca fincada ao chão.

O mundo parecia desabar sob seus pés. Ela não queria acreditar naquilo, mas não havia como negar os fatos, aqueles eram realmente os túmulos de seus amigos. Sobre cada um havia algo que os definia. Mas fora um túmulo em particular que a fizera ir ao chão ajoelhada. O túmulo de Roxton.

Como pudera Roxton ter partido? Ele uma vez prometera que nunca a deixaria. Mas afinal de contas ele havia lutado até o fim. E fora Marguerite quem o havia deixado.

As lembranças de seus amigos vieram com força total a sua mente.
Porque teve de ser tão dura com Malone? Porque jamais aceitara Finn como um membro do grupo?

Porque nunca deu o devido crédito as invenções de Charllenger? Porque sempre teve que competir com Verônica? Porque nunca disse a Roxton o que sentia?

Um trovão iluminou os céus e um grito de angústia de Marguerite pode ser ouvido de dentro da casa da árvore. Assai rapidamente desceu para vê-la e não ficou surpresa ao encontrá-la deitada sobre o túmulo de Roxton, chorando compulsivamente abraçada ao velho e gasto chapéu do caçador.

Pensar em Roxton doía demais. Pensar em cada um deles era como abrir uma cratera dentro de seu peito. Como aquilo pode acontecer? Como vários anos puderam se passar em uma única noite? Porque somente ela estava viva? Seria algum tipo de punição pelos pecados que cometera? Aquele seria seu castigo? Ela deveria sofrer sozinha a morte de seus amigos até o ultimo dia de sua vida?

A chuva começou a cair ensopando as roupas das mulheres. Assai aproximou-se de Marguerite, abaixando-se até ficar do seu nível.

– Marguerite. – sua voz era baixa, pois não queria assustá-la. – Vamos entrar. Precisamos conversar.

Marguerite ergueu o rosto, o cabelo preto molhado pela chuva e a expressão de dor em sua face transformava-se numa horrenda máscara. Assai aproximou sua mão para tirar os cabelos encharcados do rosto de Marguerite, mas a mulher recuou e encolheu-se ainda mais.

– Deixe-me... – Assai precisou aproximar-se para ouvi-la falando, pois sua voz tornara-se quase inaudível – Deixe-me aqui...

– Não minha criança nós devemos...

– Deixe-me sofrer. Eu mereço. Você não entende? Essa é minha punição! Meu castigo! – a mesma voz sem emoção de antes.

– Todos merecemos uma segunda chance.

– Eu não... – seu olhar perdera qualquer brilho existente.

– Sim você! Você está tendo a sua segunda chance.

A calma assombrosa e a voz fria de Marguerite estavam presentes naquele momento.

– E... talvez eu possa conseguir a de seus amigos...

Nesse momento o brilho nos olhos de Marguerite retornara e Assai teve certeza que tinha a total atenção de Marguerite.

– O que temos que fazer?

– Vamos conversar com Omak.





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Notas finais do capítulo

Espero que lembrem quem é Omak... não!? Não lembram!? Pois bem, é aquele Deus que tenta matar Marguerite afogada. Infelizmente não lembro o nome do episódio, mas lembro bem que o Roxton acha uns papeis escrito (com a caligrafia de Marguerite) "Lady Marguerite Roxton". ^-^



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