Uma Última Chance escrita por Bruna Timbó


Capítulo 2
CAPÍTULO II – Todos que eu amo...




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Marguerite sentiu seu corpo suspenso no ar. A queda era muito grande, o vendo sacudia seus cabelos e roupas com brutalidade. Ela e seu inimigo, agora morto rodopiavam, no ar enquanto ganhavam velocidade. No meio do percurso o corpo do homem-macaco chocou-se contra uma rocha e Marguerite viu o sangue jorrando farto sobre sua cabeça.

Estava desesperada, o chão aproximando-se cada vez mais, a queda deveria ter uns 200 metros. Queria gritar, mas o medo provocava um nó na garganta o que impedia que sua voz saísse, e a força do vento era grande demais e dificultava até mesmo sua respiração.

Marguerite olhou para baixo, não conseguia ver o chão, apenas copas de grandes árvores que montavam um tapete verde entre ela e a morte certa. O momento do choque aproximava-se e tudo no que ela pensava era como fora estúpida, como deixara que sua arrogância e ambição a impedisse de tentar ser feliz ao lado de seus amigos, ao lado de Roxton.

Mas infelizmente a vida de Marguerite Krux foi curta. E antes de se ir ao encontro das copas das árvores ela fechou os olhos e sorriu ao pronunciar a única palavra que veio a sua mente, o nome da última pessoa que ela viu e com quem sonhara passar seus últimos momentos.

– Roxton...


* * *

Seu corpo tremia de frio. Marguerite acordou deitada em um chão coberto de folhas secas. Olhou para cima e tudo o que via eram as árvores e algumas estrelas por entre as folhas verdes. Como pudera ter sobrevivido a uma queda daquelas? Era impossível, a não ser que ela estivesse morta!

O terrível pensamento fez Marguerite sentar-se de uma vez, o que provocou uma dor aguda em seu braço esquerdo e a fez soltar um gemido baixo de dor. Nele havia um corte profundo.

– Ótimo! Se sinto dor quer dizer que ainda estou viva. Mas... onde estão os outros?

Sentada ela olhou ao redor, parecia estar no meio de uma floresta. Ficou quieta para ver se escutava algo, como o som de algum animal selvagem ou de seus amigos, nada. A floresta parecia ter parado apenas para observá-la.

Rasgou uma parte de sua saia e cobriu o ferimento da melhor maneira que pode. Com alguma dificuldade ela conseguiu se por de pé. Seu braço esquerdo abraçando o corpo para restringir o movimento. Ela sacou sua pistola e começou a andar. Não sabia direito para onde estava indo, mas tinha noção da direção que ficava a casa da árvore.

Marguerite sentia o corpo todo doer, principalmente o braço esquerdo e isso até que a deixaria irritada, mas não naquele momento. Naquela noite, enquanto andava pela floresta escura ela só pensava em voltar para a casa da árvore. Estava sozinha, com frio e ferida, tudo o que queria era um banho e uma boa noite de sono.

Sabia que se conseguisse chegar a casa da árvore estaria segura. Era até estranho que aquele lugar, no meio de um platô, perdido no coração da floresta amazônica fosse o único lugar do mundo onde ela já se sentiu em casa. Lógico que ela jamais admitiria isso para seus amigos.

Mesmo enquanto pensava sobre sua vida e caminhava rumo à casa da árvore, Marguerite não baixou a guarda um instante sequer. Se aprendera algo com Verônica era que a floresta poderia ser cruel e traiçoeira a noite.

Qualquer ruído atraía a atenção de Marguerite, ela sabia que seu revolver de poucas balas não adiantariam muita coisa contra um T-Rex, mas assustaria alguns homens macacos.

– E convenhamos... – ela pensava alto enquanto andava às escuras, naquela noite onde as nuvens encobriam a lua – Quais seriam as chances de encontrar um T-Rex hoje a noite?

Mal acabara de falar quando um rugido se fez presente próximo a ela. Conhecia tão bem aquele som apavorante que não precisou nem se virar para saber do que se tratava. Simplesmente desatou a correr, sem coragem de olhar para traz para ver se o T-Rex a estava perseguindo. Após correr por alguns minutos ela enfim percebe que o dinossauro nem mesmo há havia visto.

– Você e sua boca enorme heim Marguerite!? – ela taca a mão na própria testa – Ótimo, agora estou falando sozinha! Enlouqueci de vez.

Marguerite balançou a cabeça para afastar os pensamentos e recomeçou a marcha, percebendo agora que está bem próxima a casa da árvore. A corrida para longe da fera pré-histórica a fizera percorrer um bom caminho sem que se desse conta.

O sol começara a nascer e Marguerite estava exausta. Seu corpo parecia não querer continuar a mover-se, suas roupas estavam em trapos e diversos arranhões se estendiam pelas partes desprotegidas de seu corpo. A dor no braço esquerdo parecia aumentar. Então, quando Marguerite achava que não conseguiria mais continuar eis que avista seu destino, a Casa da Árvore. Nunca estivera tão aliviada em ver aquela casa que estivera sendo seu lar nos últimos 3 anos.

Seu corpo pareceu ganhar uma nova onda de energia. Ela correu até a porta da cerca elétrica sem prestar atenção em mais nada. Subiu pelo elevador e entrou correndo sala adentro esperando ver todos ali. Mas ao chegar Marguerite descobriu está sozinha.

Não havia ninguém na casa, nem um único ruído, o sol quase nascendo começava a mandar seus raios para dentro da casa.

– Devem ter saído para me procurar. – uma sensação de exaustão tomou o corpo de Marguerite ao se ver dentro daquela casa segura e confortável – Não me importo. Quero apenas dormir... quando voltarem falo com eles.

Quase sem olhar onde ia, Marguerite chegou ao seu quarto e jogou-se na cama, com a mesma roupa que estava, caindo no sono antes mesmo que conseguisse tirar as botas.


* * *

Seu corpo merecia aquele descanso, Marguerite poderia ter dormido durante dias, mas algo a acordou de maneira abrupta. Um barulho alto de algo sendo quebrado próximo a ela a fez abrir os olhos com lentidão. Viu que estava de noite e seu primeiro pensamento fora em Roxton, que deveria ter acabado de chegar com os outros e havia tomado um susto ao vê-la ali deixando algo cair e se espatifar no chão.

– Que desastrado! – ela falou ao sentar-se lentamente na cama, agora sentindo a dor em seu braço aumentar. – Tome mais cuidado ou vai...

Marguerite parou de falar ao ver que não era Roxton que estava ali. Alguém estava oculto pelas sombras da noite.

– Quem está ai? – perguntou ela apreensiva ainda sentada na cama.

A pessoa ficou alguns instantes calada. Marguerite xingou por dentro ao lembrar-se que havia deixado sua arma sobre a mesa ao entrar.

– Quem é você? – insistiu e com isso pode ver que a pessoa oculta pareceu acordar de algum devaneio – Ei! Estou falando com você!

– Impossível... – apenas um murmúrio pode ser ouvido.

Não dava para ver seu rosto, mas Marguerite parecia reconhecer aquela voz. E uma onda de alívio percorreu seu corpo. Marguerite se pôs de pé.

– Não pode ser... Você não deveria estar aqui... – a voz de Assai não passava de um sussurro.

– Do que está falando Assai? – Marguerite estava perdendo a paciência, tentava olhar para os olhos de Assai, mas não conseguia devido às sombras. – Onde estão os outros?

Assai deu dois passos a frente, como se tivesse medo de aproximar-se. Foi então que Marguerite viu que havia algo de muito errado. Aquela não era a Assai que ela conhecia, não era a bela mulher de vinte e poucos anos filha do chefe da tribo Zanga.

Aquela era uma senhora que deveria ter uns 50 anos, porém, algo em seu rosto dizia que aquela era Assai. Sua voz, apenas um pouco diferente, mas a mesma voz, o mesmo cabelo, o mesmo olhar sábio. Aquilo deixou Marguerite apavorada. A melhor amiga de Verônica, envelhecera quase 30 anos em uma única noite.

– Mas... o que??? – Marguerite não achava palavras - Assai? É você?

– Sim... sou eu mas... – a velha também parecia tão espantada quanto Marguerite. – É você Marguerite? É mesmo você?

– O que houve? – Marguerite insistia na pergunta, queria saber o que estava havendo - Onde estão os outros?

Os olhos de Assai se encheram de lágrimas que escorreram fartas sobre seu rosto. A velha mulher parecia está tirando todo o peso do mundo de seus ombros. Ela olhou Marguerite com tristeza e ao mesmo tempo alívio e por fim respondeu.

– Os outros Marguerite... os outros estão todos mortos.




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