Cachinhos castanhos e os três negros escrita por Belle17
Dona Ivone finalmente fechou a porta do grande e velho orfanato, cessando a vista do último adeus de Benedito.
Roberto tirou seus óculos com força do rosto e subiu frustado para o dormitório masculino. Apesar de estar feliz pela conquista do amigo, ficou triste por sua fria despedida. Resmungou:
– Puxa vida...
Seus amigos foram atrás. Logo em seguida, as meninas também subiram, tristonhas.
Dona Ivone arrumou suas longas luvas nos braços e marchou em direção à cozinha. Hannah fez o mesmo.
Mia, porém, pegou Laura nos braços e caminhou até uma das janelas ao lado da porta e espiou o táxi que estava parado em frente ao portão do prédio, se preparando para partir.
De longe, avistou Benedito, olhando tristemente o orfanato pela janela do automóvel embaçada pela chuva que caíra mais cedo.
"Até logo, Benedito... até logo...", pensava a mulher, deixando lágrimas inundarem seus pequenos olhos.
– O que você acha que está fazendo? - perguntou uma voz grossa e fria, atrapalhando seus devaneios.
– N-Nada, dona Ivone... só estou me certificando de que... hã...
– Cale essa boca, sua loira nojenta. Se pensa que vai tirar folgas dentro do meu próprio orfanato, a senhorita está enganada. Vamos, já para o trabalho - ordenou a patroa, com postura firme.
– S-sim, senhorita...
Mia pôs Laura, agora adormecida, de volta no carrinho e caminhou até a cozinha. Dona Ivone passou a mão pelos cabelos negros preso em um coque e sentou-se numa poltrona, na sala.
Na cozinha, Hannah pusera-se a lavar a louça.
– Precisa de ajuda, Hannah? - indagou a colega.
– Sim, se não for incômodo. Ajude-me, por favor, a enxugar os pratos.
Mia fez o pedido sem nada comentar, com o semblante de preocupação.
Hannah, percebendo isso, tentou consolar:
– Não se preocupe, Mia... eu sei o quanto você era apegada ao Benedito, mas... ele vai para uma escola, agora! Lembre-se da antiga regra do orfanato: ele poderia estar nas ruas neste exato momento. Mas vai estudar e se preparar para um futuro digno!
– Não sei não, Hannah... aquele homem não me parece ser confiável.
– Hã? Como assim? - indagou a amiga, passando água pelos talheres.
– A dona Ivone nunca permitiria que uma coisa boa assim acontecesse a um negro... nunca. Aí tem coisa...
Hannah parou imediatamente o que estava fazendo e olhou para Mia com uma expressão de terror.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O que estão achando? :)