Eldrwin E O Medalhão Real escrita por KyuHumi


Capítulo 8
A escolha e o beco.




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— Guardião esmeralda? – Exclamou Eldrwin enquanto via o tal guardião, juntamente com Jedah, Villian e a família real adentrarem o castelo e as duas portas principais se fecharem com um estrondo.

— Sim! – Kairou respondeu com entusiasmo – Papai uma vez me contou sobre um guardião que era, talvez, tão poderoso quanto Jedah, e falou sobre Suhoz. Disse que existe uma história de que quando Suhoz era jovem, conseguiu derrotar mais de cem homens completamente sozinho. Eu não sei se essa história é real, mas do jeito que papai me contou, parece ser.

Eldrwin nunca havia ouvido falar de Suhoz até aquele presente momento e, a julgar pela presença do guardião em Orion, tinha agora absoluta certeza de que algo havia ocorrido no reino vizinho. Ele deu meia volta ainda em silencio, sabendo que seria praticamente impossível conversar com Anya sobre o que ouviu. Porém, a curiosidade de saber o que Suhoz estava fazendo ali e o que poderia ter acontecido ao rei de Betta foi lhe tomando o interior em forma de inquietação. Começou a caminhar lentamente pensando sobre que estava sendo conversado naquele momento dentro do castelo. Não poderia ignorar, estava tão envolvido, tão consciente do que estava acontecendo, que era impossível simplesmente ignorar tudo e continuar seu caminho sem se preocupar. Lembrou-se do ataque ocorrido na noite anterior, do ataque ao rei dias atrás, da ultima e mortal luta contra Dmitri na caverna, na ultima frase que o guerreiro proferiu antes de ser silenciado, no que Jedah havia lhe falado sobre a última guerra mística e, ao se dar conta que em seu intimo, já havia tomado uma decisão completamente estupida, virou-se para o amigo que o acompanhava ainda e silencio e disse:

— Vamos entrar no castelo.

Kairou empalideceu e começou a falar quase que tropeçando nas palavras.

— O que? Eldrwin! Não me diga que você está pensando em simplesmente entrar no castelo, chegar até o rei, Jedah, Villian e Suhoz , dizer “Olá! Eu e meu amigo fomos atacados por guerreiros negros várias vezes, e acreditamos que podemos ajudar na busca por aqueles que estão procurando pelo medalhão real!” e obter permissão para isso.

Eldrwin não disse nada. Mas, o sorriso de canto de boca foi o suficiente para que Kairou entendesse aonde o amigo queria chegar. Era exatamente isso que ele estivera pensando, por mais tolo que fosse. Tornou a caminhar em passos largos com Kairou em seus calcanhares ainda falando sem parar.

— Não! Amigo, nós não temos chance de entrar no castelo pela porta da frente. Estamos de folga lembra-se? Precisamos da autorização de Villian para entrar e mesmo assim, como chegaremos a Suhoz?

— Escute, somos membros da guarda agora. Se toparem conosco pelos corredores não dirão nada.

— Mas como iremos entrar no castelo?

— Já se esqueceu dos túneis secretos que Anya nos mostrou ano passado?

Kairou se lembrou da fuga para fora do reino ocorrida tempos atrás, e dos túneis secretos que serviam de rota de fuga para a família real do castelo.

— Mas nunca as usamos para entrar no castelo!

— Bom... Vamos usar hoje! – Disse Eldrwin decidido enquanto caminhava apressado junto do amigo em meio ao mar de pessoas que enchiam a praça principal do reino, em meio a falatórios, gritos de vendas de produtos, carroças que passavam e risos altos.

— Nós não temos muito tempo. Não podemos deixar isto para amanhã ou pode ser que Suhoz vá embora.

— Mas e se Villian não gostar? Eldrwin, nós podemos perder nossos postos de treinadores juvenis por isso! Ele não gostou nada quando fomos pedir a autorização.

— Kairou! Há alguns minutos você estava me dizendo que gostaria de fazer uma expedição ao reino de Betta e que não entendia por que Villian não nos permitia. É a única chance que temos de fazer com que isso aconteça e você já está desistindo?

— Não estou desistindo! – Disse Kairou completamente ofendido e com a cara amarrada para o amigo – Só estou dizendo que fazer isso sem a aprovação de ninguém pode nos meter em uma enrascada.

Eldrwin de súbito parou, olhou para o amigo sentindo um misto de raiva e descontentamento e começou a dizer.

— Sabe... Tenho certeza de que a princesa teria muito mais coragem de me acompanhar do que você!

— Não é isso! – Kairou aumentou o tom de voz, fazendo com que algumas pessoas curiosas olhassem para eles – Se isso der certo, nós... Sairemos do reino.

— E...? – Eldrwin perguntou com uma dúvida estampada no olhar.

— E se não voltarmos? E se... Algo der errado? Com um de nós? – Kairou respondeu com um tom de lamento e tristeza que, definitivamente, não combinava em nada com ele.

Eldrwin, então, enfim compreendeu tudo. Kairou estava indiretamente falando sobre sua família. De fato, era muito fácil para Eldrwin chegar em casa e não ter de dar satisfação alguma para ninguém sobre o que faria ou deixaria de fazer. Mas com o amigo não era assim que as coisas funcionavam. Se realmente, Suhoz fosse convencido de que os dois eram os mais preparados para lidar com aquela ameaça, estaria, sobre os ombros dos dois, uma responsabilidade maior do que qualquer soldado do reino pudesse carregar. Eldrwin se aproximou do amigo que o olhava atento e lhe disse suavemente colocando a mão em um dos ombros.

— Vou entender perfeitamente se não quiser ir amigo. Juro que vou. Mas não vou deixar de me preocupar depois de tudo o que aconteceu. Como você disse, de todos, foram a nós que os guerreiros negros atacaram e, no fim, fomos nós que sobrevivemos. Posso receber um não de Villian, como você disse. Mas, prefiro tentar. Tentamos da ultima vez e impedimos Dmitri de usar o pergaminho e, se não fosse por nós, o rei talvez estivesse morto agora. Eu irei Kairou. Com você... – Ele engoliu um nó, respirou fundo e disse pesadamente – Ou sozinho.

Virou-se e seguiu o seu caminho, deixando Kairou para trás, apenas o observando com a mesma expressão de incredulidade. Ele não tirava as razões para que o amigo não quisesse o acompanhar, mas sabia perfeitamente que não conseguiria parar de se preocupar. Estava tão absorto em seus pensamentos que todo o falatório das ruas pareceu ter sumido. Pela primeira vez desde que tudo havia começado, sentia o imenso desconforto de fazer aquilo sozinho. Gostaria que Kairou e Anya pudessem acompanha-lo nessa tentativa, mas sabia que os dois tinham uma coisa que ele nunca tivera. A presença dos pais. Decidiu não pensar muito nisso e concluiu que talvez, aquele era seu destino como guerreiro. Talvez fosse aquilo que tinha de fazer e, se era seu destino de fato, mesmo sozinho o faria.

Depois de caminhar um tempo, finalmente chegara à rua de casa. Retirou dos bolsos uma chave velha e enferrujada e, aproximando-se da porta, enfiou o objeto pela fechadura, girou e abriu. Estava na sala e, sem pensar muito, fechou a porta e rumou para o quarto passando pela dispensa. Ao chegar lá, avistou o baú e tirou de lá sua armadura. Ao coloca-la sentiu o peso sobre os ombros, mas definitivamente, a insegurança que lhe incomodava por não usá-la desapareceu. Na parede, estava sua espada embainhada.  Ele a retirou de lá, e após prendê-la na cintura, se sentiu pronto e seguiu rumo à porta de casa fazendo mentalmente o percurso que realizaria até chegar ao local onde estava a passagem secreta.

Tinha uma esperança infantil de que ao abrir a porta, Kairou estivesse ali o esperando pronto para acompanhá-lo, mas a amarga realidade se fez presente quando ele percebeu que não havia ninguém ali. O amigo não era covarde, mas se importava muito com a família.

— Ele não virá – Disse Eldrwin para si mesmo e, após fechar a porta e girar a chave na fechadura, seguiu pelas ruas, agora vestido como um jovem soldado. Tinha ideia do local que deveria ir e, em meio ao percurso, varias pessoas o cumprimentavam e ele apenas retribuía o olhar sério. Estava com pressa, precisava apressar o passo o mais rápido possível e um minuto que perdesse, poderia fazer uma grande diferença. Chegou frente ao Templo de pergaminhos e viu a multidão corriqueira que entrava e saia do lugar. Não deu muita atenção e seguiu por uma rua também movimentada e reconheceu ao longe, o beco onde havia a passagem secreta. Apressou-se mais um pouco mas, antes que tivesse êxito na missão dois soldados o viram e, sem cerimonia nenhuma, se aproximaram.

— Eldrwin! Que bom vê-lo meu rapaz! – Disse um dos soldados lhe dando um soco leve na armadura fazendo um som metálico ressoar – Meu amigo, eu preciso de um grande favor seu! Daqui á uma semana será aniversário de Cícera, e sabe muito bem que gosto de fazer desta data algo muito especial não sabe?

Uma impaciência sem medidas pareceu borbulhar no estômago de Eldrwin com a interrupção do soldado, estava perdendo tempo e tinha que continuar seu trajeto. Decidiu encerrar aquela conversa o mais rápido possível.

— Sim, sim. Eu sei muito bem. Mas, Villian está me convocando neste exato momento Gauler, preciso me apressar! Até mais!

— Mas será que poderia me substituir esse dia? – O soldado o segurou firme pelo ombro impedindo-o de prosseguir.

— Ah sim! Com certeza que posso! – Disse Eldrwin sem pensar mostrando um sorriso amarelo e nada autentico.

— Nossa! Muito obrigado Eldrwin! – Disse o soldado soltando Eldrwin e retomando seu caminho com um grande sorriso nos lábios - Fico lhe devendo essa meu jovem! Se quiser ir até a adega de Nestor, o vinho sairá por minha conta, basta dizer que eu irei pagar!

Eldrwin esperou que os dois se afastassem mais um pouco e rumou para o beco na esperança de ainda ter tempo de sobra. Ao chegar ao fim do local, se abaixou para identificar a pedra com um som oco que denunciava a entrada da passagem. Começou então a dar pequenos murros no chão, porém, de súbito, e sem que pudesse prever, sentiu uma presença e então, uma voz estranha e gutural vinda de trás lhe encheu os ouvidos.

— Onde está o medalhão real?

Sentiu algo gelado no peito como se seu coração tivesse parado de vez. Será que ele seria atacado ali? A diferença é que desta vez, ele estava sozinho. Não havia ninguém que pudesse lhe proteger agora. O suor começou a brotar a testa, ele engoliu em seco se sentindo completamente surpreendido. Atacaria? Daria uma desculpa? Ele se levantou e se virou lentamente para ver que a pessoa que lhe chamara era ninguém mais ninguém menos que...


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