Troquei os saltos que mamãe me mandou usar por rasteirinhas. Dane-se, eu não ia para lugar nenhum mesmo. Fiz maquiagem, prendi meus cabelos em um coque frouxo e peguei meu celular, guardando-o em um dos bolsos do short.

Quando cheguei a sala vi que mamãe conversava com Gavin. Registrei o olhar preocupado de meu primo antes de me dirigir a porta. Obviamente Helen não ficou calada. Inferno.

– Onde você pensa que vai? Não vai terminar de se arrumar?

– Eu estou bem assim. – Só para deixar claro, sou uma patricinha, mas não em tempo integral. – E vou te dizer para onde eu não vou. Não vou para spa nenhum e nem para uma porcaria de jantar. Quero passar meu aniversário sozinha e estava tudo indo muito bem até você chegar. Não é porque é o papai que paga esse lugar que você pode simplesmente chegar e querer me tratar como sua bonequinha. Eu não sou mais criança, Helen.
Mamãe me olhou com frieza e Gavin com pesar.

– Quem você pensa que é para falar assim comigo? – ela perguntou.

– Heather Sharpe, prazer em conhecê-la. – ironizei.

– Escute aqui. Eu e seu pai conseguimos com esforço, tempo extra para passar esse dia com você, então seja uma garota obediente e…

– Se passar um tempo comigo é algo tão difícil para ambos, deixem-me viver em paz e sigam com suas vidas. Me deixariam imensamente feliz. – falei antes de sair e bater a porta atrás de mim.

Quase pisoteei o buque que estava na frente da porta. Eram mais ou menos umas duas dúzias de um misto de rosas cor-de-rosa e brancas. O arranjo era absolutamente lindo. Ao menos uma coisa boa nesse dia infernal. Segurei-o com cuidado e corri até o elevador – que graças aos céus já estava em pleno funcionamento. – antes que Helen resolvesse ir atrás de mim. Pouco provável, ela era orgulhosa demais para isso. O que me fez lembrar…

Pobre Gavin. Nesse momento deve estar ouvindo as críticas de mamãe. Vou tentar ser um pouco mais tolerante com ele essa semana.

Chamei o elevador e pouco depois as portas se abriram. Entrei e apertei o botão da cobertura, onde fora projetado um jardim acessível a todos os moradores. Samuel e Wendy tinham nos mostrado há dois dias atrás. Peguei meu celular e o desliguei, não queria ser incomodada. O elevador voltou a abrir e saí. O cheiro de ar carregado me bateu com força. O céu estava nublado, o que era muito comum aqui em Londres, eu realmente precisava me acostumar com isso. O clima aqui era um pé no saco.

Havia uma fonte no meio do jardim e alguns bancos distribuídos ao longo. Sentei no que ficava de frente a fonte e examinei o arranjo de rosas. Preso nele tinha um cartão creme com letras impressas em dourado, me surpreendi ao lê-lo:

FELIZ ANIVERSÁRIO, LITTLE WITCH.
TBCJB RVF WPCF FSB B HBSPUB DFSUB BTTJN RVF UF WJ.

SAMMY

Oi? Não sei se fiquei mais surpresa ou confusa. Surpresa por ter sido Samuel quem me presenteou com o buquê e confusa porque, sério, que droga é essa escrita na segunda linha? Deve ser mais alguma das brincadeirinhas dele, aposto. Isso me deixou um pouco irritada. Virei o cartão e bufei de raiva ao ler a frase:

CONVIVA COM A DÚVIDA.

Maldição, isso também me fez sorrir. Era exatamente o tipo de coisa que eu faria.