Loucamente Apaixonada escrita por Angie


Capítulo 57
Cicatrizes




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As cicatrizes eram algumas poucas linhas que corriam o lado direito do seu corpo, que não chegavam a ser grotescas, mas ofuscavam parte da beleza que ele possui. Algumas por sobre as costelas, outras alcançando o osso do quadril. Ao vê-las, a primeira coisa que me acometeu foi uma palavra: dor. Tirei meus pés de dentro d'água e me ajoelhei de frente a ele, sentindo meus olhos queimarem um pouco.

—- Meu Deus, Sammy -- estendi a mão num gesto quase automático, mas ele interrompeu o trajeto antes que eu pudesse tocá-las e enlaçou nossos dedos. -- O que aconteceu com você?

—- O que foi que eu disse sobre não ficar triste? -- ele me lembrou e tocou meu rosto. -- Esse foi o resultado de atos idiotas e uma discussão mais idiota ainda.

Segurei sua outra mão e a apertei. Ele respirou fundo.

—- Você perguntou quem eu era -- continuou. -- Vamos começar por aí. Lembra o que Justin disse sobre eu nunca ter sido um santo? -- assenti. -- Isso é porque em alguns aspectos eu era ainda mais imbecil que ele. O típico garoto rico, mimado e rebelde que queria cada vez mais. Eu era popular no colégio, tinha mais amigos do que poderia me lembrar dos nomes. Claro, não eram amigos de verdade, mas isso eu só vim descobrir depois.

"Eu não me importava com quase nada. Ficar no topo da hierarquia escolar era minha prioridade e, infelizmente decepcionar os outros parecia ser meu maior talento. Meus pais sofreram muito por minha culpa naquela época, sempre se preocupando comigo".

Eu ouvia tudo aquilo em silêncio, atenta, mas, para mim, parecia que Samuel estava falando de outra pessoa, não dele.

—- Samuel Hunter era conhecido como o garoto que participava de rachas com os "amigos" e o esquentadinho que se metia em brigas sem sentido o tempo inteiro. Mas não foi nenhuma dessas coisas que causaram essas cicatrizes -- ele pausou um pouco, cerrando a mandíbula, como se estivesse com raiva. -- Indo contra toda essa personalidade, havia duas pessoas que eu amava mais que quaisquer outras: Isabel, minha namorada e a irmã dela, Lina. Elas eram meu contrapeso. As únicas que me acalmavam. Apesar da superficialidade de Isabel, eu estava apaixonado por ela, ou ao menos achava que estava e Lina era uma garota doce, eu a tratava como minha irmã, apesar de ser mais novo que ela um ano. Eu podia ser um imbecil que não se importava em machucar os outros, mas elas eram as únicas coisas certas na minha vida. Até que Lina começou a se afastar de nós dois.

"Não foi nada sutil. De repente ela não tinha mais tempo para a irmã ou para mim, inventando desculpas incabíveis para não sair mais com a gente, principalmente comigo. Até a convivência das duas estava ruim em casa, isso quando Lina estava lá, ela passava a maior parte do tempo na casa do namorado. Sem falar que tinha mudado o modo de se vestir e se tornado uma pessoa mais fechada e irritadiça".

"Quando Isabel me disse que tinha visto marcas no corpo da irmã foi que as coisas começaram a desandar de vez e eu decidi confrontar Lina. Perguntei o que tinha acontecido para ela ter mudado tanto, se ela estava com algum problema, embora eu imaginasse exatamente o que tinha acontecido. Lina se recusou a dizer qualquer coisa e essa foi a faísca que faltava para que eu explodisse. Então eu comecei a gritar com ela, dizendo que eu já sabia que aquele desgraçado a estava agredindo e que ia fazer uma denúncia, porque a cadeia era o lugar dele. Ela ficou assustada e tentou negar a princípio, mas ao perceber que eu não estava acreditando, cedeu e me implorou para não contar nada a ninguém. Ter a certeza de que ela amava aquele cara ao ponto de suportar tanto, despertou ainda mais minha raiva. Ela merecia mais do que um cretino como ele, mas não conseguia enxergar isso. Lina disse que nunca me perdoaria se eu estragasse tudo ligando para a polícia e como minha fama não era nada menos que justa, a vontade de fazer justiça com as próprias mãos venceu. E como eu me arrependo daquele dia... De não ter ligado naquele momento e acabado com tudo de uma vez".

Culpa. Suas palavras estavam cheias dela. Eu sabia que os acontecimentos que ele estava contando iriam piorar pela evidência que eram aquelas cicatrizes e não me sentia nem um pouco ansiosa para ouvir o que ele tinha a dizer. Para vê-lo se torturar ainda mais. Ter perguntado foi um erro. Mas ele prosseguiu.

—- Leon era um veterano que tinha conseguido para si a fama de bom moço no nosso colégio. Ele parecia gentil e prestativo aos olhos do outros, mas eu nunca consegui simpatizar com o cara. Sempre pensei que havia algo de errado com ele e saber o que estava acontecendo com Lina era mais do que o suficiente para eu ter certeza. Quando o encontrei em sua sala, minutos mais tarde, partir para a violência pareceu a coisa mais justa a ser feita. Se ele gostava de bater em mulheres, nada melhor que sentir na própria pele. Eu queria fazê-lo pagar.

"E mesmo num colégio cheio de outros alunos, com muitas pessoas ao nosso redor, eu parti para a filosofia do bata primeiro e pergunte depois. Por ter experiência em brigas, ao contrário dele que preferia manter a imagem imaculada, sair em vantagem não foi difícil. Então eu bati no desgraçado com tudo que eu tinha. Estava com tanta raiva e tão cego que nem me importava mais se ele morresse. Era isso que ele merecia, eu achava. Mas tudo que era verdadeiramente distinguível para mim era o sangue e as vozes assustadas e exautadas como som de fundo. Foi preciso que dois professores me tirassem de cima dele, mas apenas um aluno para fazer o que eu não tinha feito e ligar para a polícia. Aquela foi a primeira e única vez que fui preso.


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