Hell on us escrita por Sami


Capítulo 59
Guerra part II -Confronto


Notas iniciais do capítulo

Olá olá pessoal que está sempre comentando e me fazendo tão feliz por aqui nesse site mais um capítulo prontinho para vocês queridas leitoras. Esse capitulo terá um foco super especial em Rick e um pouco do seu ponto de vista assim como o próximo capitulo.

Boa leitura.



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Só os mortos conhecem o fim da guerra.

~Douglas MacArthur

 

POV Ayla

[...]

Entrar em casa depois do inferno que passamos foi realmente estranho, ver os móveis e uma boa parte da casa destruída, na verdade estávamos vendo um dos resultados daquele ataque inesperado comandado por Negan era a segunda pior coisa daquele dia. Se eu soubesse que me sentiria tão mal ao entrar novamente em casa, provavelmente eu não teria feito isso logo de cara.

Tomei cuidado por onde pisava, havia cacos de vidro por toda parte e o que antes era uma parede estava agora completamente destruída permitindo uma visão do interior da nossa casa. No chão, perto da mesinha de centro que havia sido completamente destruída pelo tiroteio, vi o livro que havia pegado Orgulho e Preconceito. A capa estava rasgada e até mesmo as folhas estavam num estado péssimo, não tinha como continuar a leitura com o livro no estado em que estava.

O segurei com cuidado deixando-o protegido de qualquer outra coisa que pudesse estragá-lo mais do que já estava e voltei a olhar para o restante da casa. Toda a sala estava num estado impossível de se continuar ali dentro, poderia parecer errado da minha parte pensar daquele jeito, mas de certa forma havíamos tido um pouco de sorte já que, a casa não havia sido completamente destruída. Mas mesmo assim aquela sensação péssima que eu estava sentindo quando entrei não havia me abandonado, havíamos tido sorte, mas e os outros moradores que tiveram suas casas praticamente destruídas pelas granadas que Os Salvadores estavam jogando?

E as várias pessoas que haviam sido mortas antes mesmo que pudessem conseguir sair de suas casas? Pensando melhor não era nem um pouco certo pensar que não ter tido a casa destruída era sorte, aquilo não era sorte.

— Carl e Ayla arrumem suas coisas, vocês ainda irão para Hilltop. — Rick passou por mim parando na frente do sofá que agora estava todo pipocado com buracos de tiros. — Façam isso logo, vão ainda hoje pra lá.

Fez-se silêncio por alguns segundos.

— Todo mundo vai para Hilltop? — Perguntou Carl se virando para encarar o pai que ao ouvir a pergunta nos olhou em silêncio por um tempo e então negou com a cabeça.

— O mesmo de antes. — Respondeu num suspiro. — Muitos querem revidar esse ataque e é exatamente isso que iremos fazer, vamos atacá-los do mesmo jeito que fizeram conosco. O plano era tirar vocês e todos aqueles que não estiverem em condições de lutar e vai continuar desse mesmo jeito.

A voz de Rick saiu um pouco mais firme dessa vez, mas era possível notar uma ponta de incerteza em sua fala ao dizer que iriam atacar também.

— Eugene ainda está com um grupo preparando munições e vamos passar por lá antes de seguirmos caminho até o local onde Negan vive. — Continuou. — Vamos precisar de toda munição que eles tiverem.

Olhei para Rick, seu rosto estava com alguns cortes, mas nada que pudesse causar alguma preocupação. Apesar de ele tentar manter a mesma postura firme de sempre, em seu olhar havia alguma coisa que dizia o contrário do que ele queria mostrar ali para nós. Talvez fosse vergonha ou qualquer outro motivo, mas, se olhasse bem para Rick naquele momento poderia notar que ele não parecia estar tão confiante assim de atacar Os Salvadores. Ele não parecia estar de acordo em fazer aquilo, mas ao mesmo tempo parecia querer fazer aquilo mais que tudo.

E pelo que ele disse, não parecia ser o único que queria isso.

— Quanto tempo nós vamos ficar em Hilltop? — Dessa vez a pergunta foi feita por mim, parecia ser uma pergunta bem idiota visto que nossa atual situação era bem péssima, mas nossa presença em Hilltop talvez não seja vista com bons olhos. Não depois do que começamos.

— Sinceramente? Eu não faço nem ideia. — Rick suspirou, parecia estar cansado, mas tentava esconder isso de todos nós naquele momento. — Com os muros caídos e várias casas destruídas vamos levar um tempo para erguê-los novamente, mas vamos dar um jeito nisso assim que essa guerra começar.

Olhei para o lado de fora, vi parte de toda a destruição que Negan e seus homens causaram em uma só noite e não soube o que dizer, não havia nada para ser dito ali.

— Agora vão logo, precisam sair daqui logo antes que eles resolvam atacar novamente. — O pai de Carl acenou para que fizéssemos logo o que tínhamos que fazer. Michonne nos deu um curto sorriso de modo que tentasse nos confortar, mas meio que foi algo inútil naquele momento; nem mesmo ela parecia estar certa do que iriam fazer.

Carl e eu subimos para o segundo andar que havia sido pouco atingido pelo tiroteio, desde que ajudamos com nossos mortos e a limpar o que havia sobrado de Alexandria dos errantes que invadiram o lugar, havíamos nos falado muito pouco. Ele pareceu ficar ainda mais calado quando encontramos vários corpos de alguns dos moradores de Alexandria. Surpreendi-me quando ele quebrou o próprio voto de silêncio ao falar com seu pai minutos atrás.

— Precisa trocar o curativo antes de irmos. — Falei antes de entrar no meu quarto. — Posso fazer isso se quiser, vi como a Denise fazia e como Rosita está sozinha cuidando dos mortos… Acho melhor fazer isso e...

Carl me olhou em silêncio por um longo tempo, o curativo em seu olho estava um pouco sujo de sangue e querendo ou não ele teria de trocá-lo logo antes que o ferimento em seu olho acabasse ficando infeccionado ou algo pior.

— Você viu como Denise ficou? — Carl me interrompeu mudando totalmente o rumo da nossa conversa. — O que eles fizeram com ela foi tão… desumano até mesmo para gente como eles!

Pisquei várias vezes tentando afastar a cena do corpo estraçalhado de Denise que havíamos encontrado amarrado junto com Tara; que estava transformada em errante. As duas haviam sido machucadas, mas quem sofrera mais foi Denise. Era duro tentar esquecer o estado tão deplorável que os homens de Negan haviam a deixado. De todos os grupos que já encontrei durante essa droga de apocalipse, o grupo de Negan era de longe o pior de todos.

Eles não eram humanos, provavelmente nunca foram isso. Pessoas não fazem aquilo que eles fizeram com Denise, monstros faziam aquele tipo de coisa e era exatamente isso o que eles eram. Monstros.

— Sabe o que é pior? — Ergui meu rosto para também olhá-lo. — Sabemos que eles podem fazer a mesma coisa com todos nós se eles tiverem uma única oportunidade e vendo como as coisas estão caminhando desde ontem, acho que isso pode acabar acontecendo mesmo.

Senti um grande nó se formar na minha garganta ao dizer aquelas palavras, poderia parecer exagero da minha parte pensar em algo como aquilo, mas não era mentira, na primeira oportunidade que aqueles monstros tivessem eles não hesitariam em fazer conosco o mesmo que haviam feito com Denise e Tara. Ninguém estava seguro enquanto Negan e seus Salvadores continuassem vivos e isso era algo que todos já sabiam.

— Não podemos ir para Hilltop, não quando podemos ajuda-los também. — Dando um passo para frente, Carl abaixou seu tom de voz me olhando completamente sério naquele momento. — Meu pai sabe que podemos ajudar e mesmo assim quer nos levar para Hilltop, não podemos aceitar isso!

Suspirei cansada.

— Carl… — Passei minha mão pelo rosto respirando fundo duas vezes, eu sabia o que ele iria dizer e não queria levar aquela conversa mais adiante. Iria cortar o barato dele. — Se o seu pai acha que é melhor irmos para Hilltop, vamos apenas obedecê-lo. Depois dessa noite acho que o mínimo que podemos fazer é arrumar nossas coisas e ir até Hilltop.

— Podemos ajudá-los, Ayla e você sabe disso! — Carl tentava me convencer. — Você quer matar o Negan e eu sei muito bem disso, podemos tentar convencer meu pai a deixar a gente ir junto e…

— Carl. — O interrompi outra vez dizendo seu nome da forma mais séria possível. — Vamos ajudar seu pai fazendo o que ele pediu que fizéssemos: arrumar nossas coisas e irmos para Hilltop. Nada mais que isso!

Carl abriu a boca para falar, mas pela terceira vez eu o interrompi.

— Por favor. — Pedi com sinceridade, estava cansada de tudo aquilo e se ir para Hilltop nos deixaria longe de toda aquela guerra entre Rick e Negan, então seria isso o que eu iria fazer. Carl estava certo, eu queria e ainda quero matar o Negan, quero fazer isso por ele ter tirado David da minha vida de uma forma monstruosa como aquela, mas, eu não queria mais me envolver naquela guerra. Queria ficar o mais longe possível de tudo aquilo e evitar ver os estragos que ela estava causando.

Olhando-me ainda em silêncio, Carl apenas balançou a cabeça de forma positiva, dei um meio sorriso e então entrei no meu quarto para começar a preparar minhas coisas para ir até Hilltop. Eu queria mesmo acreditar que ele não tentaria nada de estupido para ir junto acabar com o reinado de Negan, mentalmente torcia para que ele não tentasse fazer a mesma burrice que ele havia feito na primeira visita de Negan aqui em Alexandria, acho que depois de passar um dia todo com aquele louco, Carl não seria tão idiota ao ponto de fazer isso uma segunda vez. Espero que ele nem pense nisso. Não peguei uma mochila tão grande porque eu tinha quase certeza de que não iríamos ficar tanto tempo assim lá. Eu queria poder acreditar cem por cento naquilo.

Sentei na beirada da cama colocando o livro no meu colo, abri o livro no primeiro capítulo é uma verdade universalmente conhecida... Li todo aquele trecho mentalmente ouvindo a voz de David na minha cabeça repetindo as mesmas palavras, exatamente como no dia que eu pedi que ele lesse para mim. Era estranho lembrar que já fazia um tempo que ele havia sido morto e era ainda mais estranho saber que eu não havia superado realmente a sua morte como eu já havia dito a mim mesma.

Sempre que dizia seu nome na minha cabeça, a primeira coisa que me vinha na mente era a cena dele sendo morto e por mais que eu tentasse me lembrar dos tantos outros momentos que passei com ele, a única coisa que parecia continuar fresca na minha memória era da cena de Negan matando-o bem na minha frente. Fechei meus olhos respirando fundo e contei mentalmente até quinze, afastei qualquer tipo de pensamento que possuía alguma relação com Negan ou Salvadores e até mesmo a lembrança da morte de David. Não queria mais pensar naquilo e mesmo que fosse difícil de conseguir isso eu precisava me livrar daqueles pensamentos logo. Não queira mais pensar em mortes e nem mesmo da guerra que estava acontecendo, apesar da nossa situação se mostrar sendo apenas essa, queria deixar minha mente longe o bastante disso.

Se fosse para pensar em David, que fosse em todos os momentos bons que passamos juntos e das inúmeras coisas que ele havia me ensinado; era nisso que eu pensaria. Fechei o livro o deixando ao lado da mochila já pronta para a viagem até Hilltop e fui trocar de roupa, tirei a roupa suja de sangue do meu corpo me sentindo um pouco mais leve ao fazer isso. Vesti roupas limpas e então corri meu olhar por todo o quarto até parar no criado mudo ao lado da minha cama, meus olhos pararam diretamente no porta retrato que estava de frente para a minha cama, me aproximei dele e o peguei olhando para a foto que havia nele.

Deixei um sorriso curto escapar dos meus lábios ao olhar para a foto, ela parecia ter sido tirada há tanto tempo que sequer parecia que estávamos vivendo num fim do mundo. Ainda me lembro de como Aaron e eu insistimos para que Carl tirasse aquela foto junto comigo. Acho que aquele momento era um dos poucos que eram realmente bons e que mereciam ser lembrado.

— Ayla, já terminou? — Carl bateu na porta tirando toda a minha atenção, olhei para a porta ainda fechada e corri até a mochila colocando o porta retrato dentro.

Olhei uma última vez para meu quarto me sentindo um pouco idiota por ter me apegado àquele cômodo, não estávamos indo embora de Alexandria para nunca mais voltar, mas mesmo assim, era estranho sair dali.

— Já terminei.

***

Com quase tudo pronto para finalmente deixarmos Alexandria, Rick entregou uma arma para mim e outra para Carl por precaução, caso precisássemos usá-las em algum momento. Usaríamos um ônibus escolar encontrado por Jesus e Bill (o rapaz que nos levaria para Hilltop) para fazer a viagem até a sua comunidade. Eu estava tentando não ficar muito preocupada com tudo aquilo, mas não tinha como não ficar, na nossa atuação e péssima situação que estávamos passando não se preocupar estava fora de cogitação.

— Eu espero que entenda o porquê disso, Carl. — Enquanto Rick conversava com Carl, olhei em volta vendo algumas pessoas tentarem arrumar pelo menos uma parte dos muros para que nenhum errante entrasse em Alexandria enquanto não reerguiam os muros. Seria mentira se eu dissesse que todos não estavam preocupados com o que viria a seguir, havíamos tido um número grande de mortos nessa madrugada e acho que todos haviam sido afetados por essas mortes de alguma forma.

Apesar de estarmos vivendo num mundo onde pessoas morriam a qualquer momento, acho que nem todo mundo estava totalmente acostumado com isso, dizer adeus à pessoas que gostávamos e que conhecíamos era sempre muito difícil e ninguém estava realmente pronto para fazer isso quando o momento chegava. Olhei para o lugar, ou pelo menos o que continuava de pé em Alexandria, mesmo após limparmos boa parte do lugar ainda sim havia escombros por toda a parte. O cenário de Alexandria era terrível e difícil de ser esquecido.

— Ayla? — Michonne tocou meu ombro com delicadeza. — Está quase na hora de vocês irem.

Balancei a cabeça.

— É eu sei. — Respirei fundo virando meu rosto para olhá-la. — Só estava pensando um pouco, vamos ter muito trabalho quando voltarmos pra cá.

Michonne balançou sua cabeça positivamente sorrindo por breves segundos, de todos, acho que ela era a pessoa que mais parecia cansada de tudo aquilo; acho que ela perdia apenas para Rick. Assim como o pai de Carl, ela também parecia tentar esconder o que realmente estava sentindo diante de tudo o que houve em tão pouco tempo.

— Vamos sim. — Respondeu sendo cortada pelo som da buzina do ônibus escolar que nos levaria para Hilltop, acho que aquilo significava que já estava na hora de ir.

Rick olhou para mim e Carl como se quisesse se certificar de alguma coisa, seu olhar parecia extremamente preocupado, mas de certa forma ele não tinha com o que se preocupar certo? Estávamos indo para Hilltop e de acordo com o que Jesus havia dito antes, Negan só quer atacar Alexandria e não as outras comunidades. Na mente daquele cretino, o problema de tudo era Rick.

— Vamos ficar bem, pai. — Carl tentou animá-lo. — Vamos ter a Maggie por perto.

Dei um curto sorriso ao me lembrar dela, fazia tempo que não tínhamos uma única noticia dela e depois de saber que ela estava grávida, acho que dizia por todos ao querer saber em como ela estava.

— Eu sei que vão. — Falou com certeza em sua voz. — Mas mesmo assim quero que tenham cuidado quando estiver indo, Padre Gabriel também vai e ele também está com uma arma, o mesmo com Bill, ele está levando um pouco de munição caso for necessário. Já sabem o que devem fazer.

Carl e eu concordamos ao mesmo tempo, já sabíamos o que fazer: se encontrássemos com Salvadores era só atirar e mata-los. Era bem simples de fazer isso. Pensei um pouco irônica visto que, já havíamos feito isso antes e bem, as coisas não terminaram como esperávamos.

— Quero que tomem o máximo de cuidado possível, cuidem de Judith enquanto estiverem lá.

Concordamos novamente e então nos despedimos de Rick e Michonne, era estranho pensar que nos veríamos novamente, mas acho que aquele abraço que recebi veio no momento certo. De certa forma eu sentia que estava mesmo precisando daquilo e acho que Michonne leu a minha mente quando me abraçou. Rick olhou para o lado vendo Padre Gabriel nos esperar para subirmos para o ônibus com Judith em seu colo, ela balançou a mão de forma desajeitada como se estivesse dando tchau para Rick; aquilo o fez sorrir por alguns segundos.

Fomos novamente apressados pela buzina do ônibus e então não perdemos mais tempo em nos dirigir para lá, subimos no grande veiculo amarelo e nos sentamos próximos do lugar onde o Padre estava, quando Bill finalmente deu partida respirei fundo vendo Alexandria aos poucos se distanciando, estávamos indo mesmo para Hilltop enquanto os outros que ficaram em casa armariam um plano para fazer a segunda jogada naquela guerra.

Rick levaria todos os outros para continuar aquela guerra indo até Negan para atacá-lo também, a decisão foi tomada e não tinha mais com voltar atrás. O que tínhamos que fazer era simples, esperar em Hilltop torcendo para que tudo ocorresse como eles queriam.

...Rick Grimes...

Na metade do dia estava tudo pronto para o ataque que fariam, Rick acompanhava todos os preparativos de perto e também se preparava para fazer o que era necessário ser feito. Iria acabar com Negan e seus homens naquele dia e nada o impediria de fazer aquilo, ele não iria fazer isso por ele mesmo, não. Grimes estava fazendo isso por todos que viviam em Alexandria, Hilltop e até mesmo aqueles que viviam no Reino; apesar de conhecê-los em menos de um dia, Ezekiel e seu grupo também viviam sob as ordens de Negan e isso iria acabar naquele dia.

Ele prometera isso a si mesmo quando viu seus dois filhos e Ayla partir no ônibus escolar em direção a Hilltop para se manterem seguros e longe de toda essa confusão que dera início. Faria o que fosse necessário para mantê-los seguro e manter a todos seguros outra vez. Faria por todos que estavam dispostos a acabar com o reinado de terror propagado por Negan.

Mas principalmente, faria tudo aquilo pelos que foram mortos por ele. Sentia que tinha uma dívida pessoal com cada um deles e de certa forma ele tinha. Não fez nada quando seu amigo Glenn e David haviam sido mortos bem diante de seus olhos e nem mesmo quando Alexandria sofreu aquele ataque inesperado comandado pelo louco líder dos Salvadores. Ele não fizera nada.
Olhando agora para toda Alexandria ele finalmente pôde ver o que aquele homem causara tantas perdas e tanto caos, como uma pessoa como Negan poderia continuar viva naquela terra? Como ele pudera ser tão covarde ao ponto de não fazer nada para impedir que tudo aquilo acontecesse?

Alexandria perdera muitas pessoas naquela madrugada, pessoas que Rick conhecia e pessoas que ele também não conhecia, mas suas mortas estavam sendo sentidas por ele, sentia cada uma delas como um peso sendo jogado em seu corpo do qual ele não conseguia se livrar com tanta facilidade. Ele queria matar Negan, isso não era mais surpresa nem mesmo para ele, mas fazer aquilo seria mesmo o certo a ser feito?

Quer dizer, Negan matara inúmeras pessoas, um número do qual Grimes não fazia a mínima ideia. Mas a melhor solução para tudo aquilo seria mesmo matar Negan e todos seus homens que o seguiam como um bando de cachorros fiéis?
Carl lhe dissera que Os Salvadores também era composto por pessoas comuns, assim como Alexandria, homens e mulheres que eram mantidas em ‘segurança’ por Negan. Valeria mesmo a pena matar todos?

Ele prometera acabar com tudo aquilo que Negan construíra, todo aquele reinado de terror e caos que o homem espalhava por onde ele iria tinha que acabar e Rick queria colocar o ponto final em tudo isso. Mas qual seria a melhor maneira de acabar com todo aquele mal? Matando o líder dos Salvadores e todos que o seguiam? Como faria isso?

— Está pronto? — A voz mansa e tranquila de Michonne, sua companheira desde a prisão o tirou de seus tantos pensamentos conturbados que o preocupavam naquele momento. — Já vamos partir.

Sacudindo a cabeça o xerife notara que estava olhando para o mesmo ponto fazia quase dez minutos enquanto todos os outros já se preparavam para partir em direção ao esconderijo de Negan. O mesmo lugar onde seu filho passara todo um dia presenciando de perto o quanto aquele homem era insano.

Olhando para a bela mulher negra parada ao seu lado, o policial tentou sorrir, mesmo que estivesse em um momento como aquele e sorrir fosse algo completamente difícil de ser feito e apesar de sentir uma grande dificuldade de conseguir fazer isso, Grimes conseguira sorrir da forma mais sincera que pôde. Respirou fundo ainda a olhando e tomou a decisão final, mesmo que não estivesse certo de fazer isso antes, agora, olhando para Michonne ele finalmente teve certeza de que era exatamente isso o que ele queria fazer.

Ele iria acabar com Negan.

— Estou. — Rick respondeu cheio da certeza que antes não sentia, sabia que ao tomar aquela decisão não teria como voltar atrás e nem mesmo queria fazer isso. Ele e todos os outros iriam colocar um ponto final no reinado de terror que Negan e seus Salvadores pregavam e disso ele tinha total certeza.

***

Apesar do silêncio que se fazia dentro do veículo, os pensamentos de Rick continuavam a todo vapor enquanto Abraham dirigia. Sentia seu coração acelerar ao pensar que a cada segundo que passava estava cada vez mais perto de acabar com toda aquela guerra que iniciara para finalmente parar Negan. Queria mostrar-se firme para todos os outros, mas quanto mais seus pensamentos se voltaram para aquele nome, mais Rick sentia-se nervoso pelo momento que se aproximava. Não deveria já que, estava com um aliado importante do outro lado, sabia que deveria desconfiar da fidelidade de Dwight, mas se ele queria mesmo ajudar a dar um fim em todo o terror que Os Salvadores espalhavam, daria esse voto de confiança nele. Confiaria em Dwight.

Sua mente continuava se distanciando aos poucos, estava novamente imerso em seus inúmeros pensamentos até que pela segunda vez foi interrompido por Michonne que pareceu notar isso. A mulher pousou sua mão sobre a dele olhando-o fundo nos olhos, ela nem precisou dizer nada para que Grimes soubesse que ela parecia preocupada com ele; Michonne parecia conhecê-lo bem.

Rick olhou para as duas mãos juntas e então segurou a da mulher ao seu lado com firmeza voltando a olhá-la, sussurrou um estou bem que pareceu convencê-la disso sorrindo logo em seguida. Não era mentira, ele estava perfeitamente bem, não do jeito como queria estar, mas estava bem.

— Chegamos! — A voz grossa e firme de Abraham os interrompeu, o veiculo foi aos poucos parando até chegar na fábrica que Eugene dissera que usaria para fabricar munições para seu grupo. Todos que estavam dentro do veículo saíram seguindo Grimes que caminhava a passos cautelosos em direção a porta do local, estranhou pelo fato de estar tudo muito silencioso e tranquilo, mas mesmo assim continuou.

Manteve-se alerta a qualquer movimento a sua volta e então, empurrando a porta do lugar para finalmente poder entrar se deparou com uma cena horrenda e inesperada por todos que ali estavam presentes. Além de o lugar estar completamente vazio, os olhos de Grimes pousaram de imediato na parede do seu lado esquerdo onde havia exatos quatro corpos com seus membros amputados. Nenhum dos corpos pertencia a Eugene.

Aproximando-se o xerife pôde ver melhor os rostos de todos ali mortos e então se surpreendeu ainda mais ao ver algo escrito na mesma parede onde os corpos estavam encostados, o homem respirou fundo várias vezes lendo mentalmente as palavras ali escritas com sangue: Você deveria escolher melhor as pessoas pra quem conta seus planos, Rick. O gorducho contou tudo o que eu queria ouvir.

Sentiu uma raiva quase que incontrolável de socar alguma coisa que estivesse ao seu alcance, não por estar com raiva de Eugene, sabia que Negan possuía maneiras assustadoras de fazer alguém falar o que ele queria ouvir e não o culpava por isso. Na verdade estava preocupado com o cientista, não queria ter mais uma morte.
Respirando fundo tentando controlar a raiva, Rick finalmente percebera que a mensagem deixada não havia acabado, na outra parede havia uma segunda mensagem também escrita com sangue.

Eu e Lucille esperamos por você em Hilltop, Rick. E é melhor não se atrasar, Lucille odeia quando as pessoas se atrasam para seus compromissos.

Seu coração pareceu parar por alguns segundos ao ler aquilo, sua respiração passou a ser tão acelerada que Grimes sequer parecia conseguir controla-la. Seus olhos se fecharam aos poucos e conforme os segundos se passavam aquela mesma raiva que havia sentido segundos atrás parecia agora lhe dominar por completo, sua mão fechada num punho bateu contra a mesa de aço encostada perto de uma máquina que ele não conhecia. O barulho e até mesmo a dor que sentiu ao fazer aquilo não o incomodou, não podia passar mais um único segundo ali dentro quando sabia que Negan estava esperando por ele em Hilltop.

Aquilo pareceu ser o necessário para fazer com que Rick se sentisse desprotegido, seus filhos estavam em Hilltop. Seu grupo estava lá, à mercê daquele louco.

Se virando para todos os outros que continuavam parados na entrada da fábrica, Rick praticamente gritou com todos para que voltassem para o veículo o mais rápido possível, explicou o motivo de sua fúria e ao contar para Paul; o homem que se apelidara de Jesus o mesmo pareceu se tornar uma outra pessoa em questão de poucos segundos. Seu rosto adquiriu uma expressão da qual Rick não havia visto no rosto do barbudo antes: Medo.

Partindo agora em direção a Hilltop, Grimes sentia-se agitado dentro daquele veículo, não conseguia pensar direito ao saber que seus filhos estavam no mesmo lugar que Negan e nem mesmo deixou de pensar no tipo de coisa que aquele louco faria com eles. Seu coração disparava quase que na mesma velocidade que Abraham dirigia aquele carro, talvez estivesse batendo até mais rápido. Tentou não pensar no pior, mas foi quase impossível, o recado deixado pelo líder louco dos Salvadores continuava dominando os pensamentos de Grimes naquele momento e ele não conseguiria sossegar assim tão cedo.

Aquele dia estava longe de acabar, porém, cada segundo que o xerife passava ali dentro era como se ele estivesse morrendo aos poucos, não estava apenas preocupado com seus filhos, estava preocupados com todos que estavam ali, tanto as pessoas de Alexandria quanto as pessoas de Hilltop. Ele jamais se perdoaria se permitisse que seus filhos e até mesmo Ayla (que havia se tornado uma pessoa não só querida por Carl, mas por ele também) fossem feridos por Negan. E Rick jamais permitiria que aquilo acontecesse.

Assim que avistaram o grande muro alto que cercava Hilltop sua fúria apenas cresceu de uma forma que o policial não pôde explicar, da distância que estava pôde ver os inúmeros veículos que pertenciam aos Salvadores e pôde ver também o tanto de homens que haviam ali; eram muitos ele tinha de admitir.

Rick foi o primeiro a sair, não olhou para ver quem o estava seguindo, pois tinha certeza de que estavam todos atrás dele. Dando passos pesados seguindo apenas em linha reta para se aproximar de onde Negan provavelmente estava aquele homem conseguira novamente surpreendê-lo da pior forma possível; além dos homens de Negan cercado boa parte do lugar comandado por Gregory, com os portões abertos ele pôde ver o líder daquele grupo esperando por ele com o mesmo taco de baseball pousado em seu ombro. Um sorriso claro de puro descaso e deboche foram os primeiros a receber Rick e os outros ali, porém não era apenas isso que aquele homem preparara para ele, Grimes teve mais uma surpresa e aquela pareceu deixá-lo ainda mais enfurecido.

Ali, de joelhos com armas apontadas para suas cabeças estavam todos aqueles que ele mandara para Hilltop, inclusive seus filhos; nem mesmo para a pequena Judith aqueles loucos pareceram se esquecer. No colo de Padre Gabriel a menina também tinha uma arma apontada para sua cabeça. Ele também viu Eugene e outros que ele havia separado para ajudá-lo na fabricação de munição. Dentre tantos rostos, Rick também viu Gregory de joelho ao lado de Negan, este, porém não tinha uma arma apontada para sua cabeça como os outros e estava com poucos ferimentos em seu rosto sinalizando que o mandatário dos Salvadores deve ter feito algo com ele.

— E vejam só quem finalmente acabou decidindo fazer parte dessa porra de festa do caralho! — Negan abrira os dois braços sorrindo da forma mais larga possível mostrando sua animação costumeira. — Vocês nos fizeram esperar muito, acho que os joelhos deles devem estar doendo de tanto ficar assim. — O louco usara Lucille para apontar o grupo ajoelhado.

— É engraçado como as coisas nunca saem do jeito que a gente quer não é mesmo? — O líder dos Salvadores pousou a mão livre sobre sua cintura, continuava usando o taco de baseball para gesticular enquanto falava. — A gente faz a porra do plano fodasticamente engenhoso e então algum filho da puta da porra que o pariu vem e acaba com tudo. Diga-me uma coisa Rick, como é essa sensação? Acho que todo mundo aqui está curioso para ouvir.

Rick olhou brevemente para seu filho mais velho, o menino mantinha-se firme ao lado de Ayla e Padre Gabriel, não demonstrava estar com medo e nem mesmo parecia assustado. Olhou também para os outros que estavam ajoelhados, apesar da clara ameaça nenhum deles parecia estar com medo. Isso de certa forma pareceu deixá-lo confiante.

— Os solte, eu digo para meu grupo abaixar as armas e teremos uma conversa civilizada. — Grimes dera três passos para frente olhando diretamente para Negan. — Não precisa começar um tiroteio aqui, eu sei que não quer que seus homens morra atoa.

O líder o olhara fingindo surpresa.

— Não quero? — O mandatário dos Salvadores perguntara sua voz carregada de ironia. — E você por acaso sabe da porra que eu quero? Tá vendo isso aqui? — Negan erguera Lucille mostrando-a e mostrando o resultado do tiro que Carl disparara no dia anterior. — Aquele bostinha do seu filho ramelento fez isso, o que eu quero na porra desse exato momento é pegar aquele moleque caolho da puta que o pariu e bater tanto nele até que ele a única coisa que vai sobrar dele será um suco.

Negan estava com seus braços abertos outra vez, seu olhar denunciava o quanto aquele homem parecia estar fora de si.

— Você não sabe porra nenhuma do que eu quero seu merda escroto! — O líder dos Salvadores manteve seu olhar fixo em Rick. — Tá vendo toda essa caralhada de homens armados? Basta eu dizer alguma coisa e eles vão meter bala em todo mundo aqui.

Uma pausa.

— Sabe a porra do que eu quero? Eu quero enfiar Lucille nesse seu rabo agora mesmo e fazer você implorar até essa merda de garganta secar pra que eu não mate o seu filho pirralho de merda! — Negan rangera os dentes, já estava enfurecido. — Então eu posso dizer que é nessa hora que você começa a sujar suas calças de merda, porque você vai começar a se borrar agora mesmo!

Rick respirou fundo, num movimento rápido ele tirou sua arma do coldre destravando-a e a apontando diretamente para a cabeça de Negan, a ação fez com que todos os outros homens de Negan apontassem suas armas para ele. Prendeu a respiração por alguns segundos tentando evitar mostrar a fúria que estava sentindo naquele momento, enquanto isso o líder dos Salvadores soltou um curto sorriso debochando de Grimes mais uma vez.

Porém Rick não parecia ter se intimidado com isso. Tão pouco estava com medo.

— Vamos atire, atire em mim que no segundo seguinte meus homens vão meter bala em todo mundo! — O líder sorriu mais. — Vai mesmo querer mostrar que é o senhor fodão sabendo que vai todo mundo acabar morto?

Grimes soltou uma rápida risada.

— Eu sei que vou morrer no segundo que puxar o gatilho, mas isso não vai ter tanta importância assim já que, você vai estar com uma bala bem no meio da sua testa! — O xerife deu mais um passo para frente deixando Negan em sua mira. — Quer mesmo ver quem vai atirar primeiro?

 


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Notas finais do capítulo

~Gif do Rick mostrando quem é que manda nessa merda porque sim.
Por enquanto é isso mesmo pessoal e já aproveitando o embalo eu pretendo colocar mais um POV do Rick no próximo capítulo por causa de umas coisas aí, claro que ainda teremos o POV da Ayla e do Carl, mas o do Rick será um pouco mais importante.

Espero vocês nos comentários, até mais e milhões de beijos!



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