A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 13
Abrigo e Incertezas


Notas iniciais do capítulo

Em pleno caminho para a Semana de Provas e consegui postar mais um capítulo! Depois de um tão leve quanto o último (há-há) percebi que gosto muito de quebrar corações - mesmo que o meu também se quebre no processo XD.
Esse mês estou participando do Na No Wrimo - lá somos desafiados a escrever um livro em um mês, e sim, Novembro é o mês - Então escrevo a fic entre os capítulos do livro. É bem interessante participar, recomendo.
E não pessoas, não vou abandonar essa Fanfic (kkk') "Acompanho" tantas histórias em que a última atualização consta de meados de 2014, que prometi a mim mesma não fazer isso.

Enfim,, (vocês sabem o que vou dizer)

Boa Leitura :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/623598/chapter/13

Ruas e pessoas.

Ventos e brisas – e carros deslizando pela cidade branca. Passos incertos, um sutil desespero – embora por dentro longe de ser sutil. O semáforo estava sujo, mas já eram os últimos dias antes da primavera. Viria o sol, o clima ameno e as crianças brincando nos parques. Viria um mundo irreal que Watson não conseguiria ver.

Uma porta surgiu diante de si.

A viagem ate ali fora rápida, pois tudo ao redor se transformara num borrão. Sem cidade ou prédios, só nevoa. E a porta. Ergueu o braço meio enfraquecido e bateu. O único lugar onde – talvez – se sentiria um pouco menos destruído. Porque ele não foi o único que recolocava próprios pedaços dia a dia.

A porta se abriu. Ele se apoiava no batente com uma das mãos enluvadas.

Não era como se houvessem pedaços restantes para serem recolocados de qualquer maneira. Não se deu ao trabalho de esconder-se em expressões amenas, que se tornaram comuns a ele. Elas evitavam perguntas, faziam as pessoas se sentirem bem. Mas isso já não importava mais.

Pouquíssimas coisas realmente importavam agora. E em seu estado, mal conseguia se lembrar delas.

— John!? – disse – O que aconteceu!?

John passou por Molly Hooper, e ouviu a porta ser fechada. Colocou uma mão na cabeça, tentando administrar os borrões que compunham a sala de estar.

— Preciso ficar aqui – murmurou, sem se virar – não posso... Não consigo... Não posso ir pra outro lugar.

— John...-

— Uma coisa aconteceu.

A legista o rodeou ate parar em sua frente. Usava seu jaleco puro por cima de uma blusa e calças simples, pronta para mais um dia de serviço. Ela o fitou como fitaria alguém numa fogueira. Colocou as mãos em seus ombros e o guiou ate o sofá. John deixou-se ir como um homem morto. Seus olhos caíram para o carpete. O apartamento era quente. As mãos dela eram quentes. Não achava que admiraria o calor que todos amavam, quando não podia sair do próprio templo de gelo.

Nem devia ter vindo. Porém, não queria ir para casa e encontrar Mary, e não queria ir para o Bart’s ou para qualquer outro lugar onde as pessoas flutuariam ao seu redor alheias a sua situação.

— O que aconteceu? – perguntou, cuidadosa. Hesitante.

Depois de seus desastres particulares, as mentiras que havia acostumado a contar para esconder o segredo, perderam a força, o sentido. O segredo que lhe havia aquecido o coração não havia. Ninguém precisava saber, mas Hooper entenderia. Não fingiria que podia fechar os olhos , respirar fundo e seguir o dia, como se nada tivesse acontecido.

Contou sobre os primeiros dias depois da morte de Sherlock Holmes. As peculiaridades, a desconfiança. As fugas para a Baker Street, para se certificar do impossível, o impossível provando ser real. Manteve a voz tão sem emoção quanto conseguia, descrevendo o mundo que ele e Holmes haviam partilhado, de um jeito mais pessoal e honesto do que tentou com Mycroft e Mary. Hooper, correndo os olhos por ele ou fitando o vaso de flores, somente o escutava. Fazia perguntas aqui e ali, e Watson internamente agradecia por ela não ser como ou outros. Por ela vê-lo antes de ouvi-lo.

— Ele não voltou, não é?

— Seria melhor se não tivesse voltado – recostou-seno sofá, olhou para a TV sem realmente assisti-la. As imagens antigas passavam num volume muito baixo, deixando os alienígenas com sotaque britânico, quase mudos.

— Mas... -

— Ele disse – retomou, antes que desistisse de falar sobre – que nada disso foi real. Que foi minha imaginação o tempo todo! Eu sei que você acha isso plausível, não espero que você acredite em nada disso, mas não consigo ver como isso pode ser verdade! Como tudo aquilo foi uma mentira!

— Você também acreditava que era uma mentira no começo.

— Quem não acreditaria? Foi instintivo, não podia ser verdade.

— Depois você acreditou. Confiou nele. Se você tinha tantas dúvidas, por que...-

— Não sei – interrompeu – Só aconteceu. O tempo todo eu sabia que era impossível, mas eu não me importava.

— Você queria acreditar, John. Por mais fantasioso que fosse, você acabaria tendo fé de que era verdade.

Apoiou os cotovelos nos joelhos, os olhos novamente no carpete.

— Eu sei que é verdade – disse mais a si mesmo que a ela – Ele existia. Tem de ser verdade.

— Mas se ele existia, por que ele faria isso com você!?

Hooper questionava como se ela própria quisesse acreditar também. Ele baixou os ombros, certo de que no fundo, era melhor ela continuar assim – racional -, antes de descer a ladeira junto dele.

— Não é como se ele se importasse com isso, Molly. Você se esquece que ele nos deixou por dois anos, e depois voltou como se não fosse nada.

— Sherlock teve seus motivos – defendeu.

— Claro que ele seus motivos, um monte das arainhas do Moriarty, e claro, não teve tempo de fazer uma ligação pra eu poder parar de lamentar por ele todos os dias.

Molly suspirou.

— Você sabe que ele ficou aqui comigo por um tempo – disse ela – e ele estava mal, tanto quanto você. E eu sei que se isso for algo além da sua imaginação, ele também deve estar mal agora.

Watson a olhou. Outro episódio começou na TV, música eletrônica e tudo. Um homem louro com uniforme de críquete surgiu, um aipo enfeitando a roupa branca. Quando criança sua mãe lhe disse que ele se parecia com o sujeito. Acabou preferindo mais tarde coisas como Rúgbi e guerra. E crimes. Imaginou se Sherlock e Molly assistiam essas reprises enquanto ele chorava na sepultura.

Respirou fundo, retardando possíveis lágrimas. Não se lembrava se havia chorado ou não no caminho até ali; as lágrimas teriam se congelado de qualquer maneira, o que não aconteceria naquela sala morna.

— Você confia nele demais, Molly – balançou a cabeça.

Ela negou.

— Não confio nele, só enxergo as razões por trás das pessoas – deu de ombros – Bem, pelo menos eu tento.

Um sorriso entristecido apareceu nos lábios dele.

— Sherlock deveria ter aparecido pra você e não pra mim. Você lidaria melhor – admitiu.

— Provavelmente não.

— Então você acredita?

Ela demorou um pouco para responder. Sua boca se abriu algumas vezes e fechou outras.

— John, no seu lugar eu também abraçaria essa verdade como se fosse minha vida.

— Eu não... –

— John – deu ênfase – é Sherlock que está preso à Terra, ou você que está preso a ele?

Todas as possíveis respostas lhe fugiram como labaredas num lago, e um pesar tão grande se ergueu sobre ele, que se viu com as mãos no rosto. Teria sido melhor se nunca tivesse vindo à Londres, nunca o encontrando, nunca se afeiçoado tão fortemente, e nunca sendo despedaçado por causa disso.

Humanos e seus fardos.

Molly desligou a TV, apagando as estrelas da tela.

— Você devia estar no Bart’s – comentou depois de um tempo – É melhor eu ir.

— Não, está tudo bem. Se quiser companhia, posso ficar aqui – seus olhos castanhos o pincelaram – Sei que está mal.

— Estive pior.

— Não, não esteve – constatou – Nem no funeral, em qualquer um deles. Espero que você esteja certo, John. Sobre Sherlock, sobre tudo. Não por mim, mas por você.

John apoiou o queixo na mão.

— Você superou – comentou sem olhar para ela.

— Não, John – sorriu fraco - As pessoas não superam. Só param de pensar na perda vinte e quatro horas por dia, e continuam.

Watson suspirou. Levantou-se para ir embora, estava mau, o que fez Hooper avisar que ele podia ficar se quisesse.

— Preciso ficar sozinho.

— Eu não entendo por que você não voltou para casa. Mar...-

— Ela não entende – as gotículas de rancor lhes escaparam pelos lábios – Ela nos ajudou, nunca se colocou entre nós. Mas às vezes tenho a impressão de que gostaria nossa memória morresse junto com ele.

— É melhor você falar com ela – pensou um pouco e acrescentou – de novo. Se for honesto como foi comigo, ela vai compreender.

— Não, é melhor assim. Ele se foi de qualquer maneira, não importa se eu a convença ou não.

Molly continuou a olhá-lo por mais um tempo, e por fim, disse que iria ao Bart’s, o deixando ficar em seu flat, se quisesse. Era provável que ela o enxergasse como um enfermo, que se desfaria em tropeços caso andasse pelas ruas. John estremeceu por dentro; nunca quis dar essa imagem, mas sabia que Hooper não contaria a ninguém. Enquanto não fizesse loucuras a procura de fantasmas, ela não o jogaria num manicômio.

Despediram-se e fechou a porta.

Seguiu ao quarto de visitas modestamente mobiliado, e ficou deitado na cama de solteiro. De olhos fechados e leve respiração, sua mente se acalmou, sem necessariamente estar dormindo. O pensamento de que Holmes usara o mesmo quarto despontou em sua cabeça, e John quase pode enxergá-lo através de suas pálpebras fechadas, sentado na cadeira de madeira, enquanto avistava as nuvens cinzentas da janela, pensando no próprio suicídio.

Watson acabou se sentando, as costas na parede, pernas atravessadas na cama. As paredes eram claras, mas as sombras da cortina fechada e do tempo que a pouco havia suprimido o sol, retirava a claridade que o quarto devia ter.

— Você não me convence – murmurou para o ar.

Pegou o celular, passou a lista de contatos e ligou.

Doutor Watson.

A voz pareceu-lhe um pouco surpresa.

— Mycroft, me diga o que estava escrito naquele bilhete.

Pausa.

Bilhete...

— Sherlock nunca me contou o que estava escrito lá, mas agora eu preciso saber.

É claro que John não contaria que o bilhete se tornou a única prova dele ter existido, não só para Mycroft, mas para ele próprio.

Precisava saber.

Que bilhete, doutor Watson?

A coragem que havia reunido demandou-se, transformando-se num receio que fez seu coração pular uma ou duas batidas. Apertou o celular com força desnecessária, como se fosse um fone de gancho feito de ferro. Suas próximas palavras vieram por entre seus dentes cerrados.

— Sherlock – falou como se isso respondesse todas as dúvidas – Ele me disse coisas em Código Morse, uma versão dele que só vocês dois sabiam. Eu escrevi numa folha pra você – só ouvia a respiração do outro lado, sem resposta – Mycroft, você viu! Leu na nossa frente!

John – O primeiro Holmes parecia tentar acalmá-lo – Aconteceu algo de errado com você? Julgaria que está ansioso.

— Você sabe o que ele escreveu dá última vez que estive aí – insistiu, ainda sério – me diga.

Achei que tínhamos encerrado este assunto.

— Mycrof...-

Da última vez que esteve aqui, você havia criado um mundo maravilhoso onde você morava com o fantasma do meu irmão, e tentou me convencer a ir com vocês. Doutor Watson, não sei de onde tirou a ideia de um bilhete, mas repito o que eu disse:Talvez precise de ajuda, tenho colegas psiquiatras que fariam com total discrição...-

— Não... Você viu. Você viu! – disse alto.

John, o que houve? Supus que havia se restabelecido depois de nosso encontro, mas agora...-

Watson desligou o celular, o coração a mil.

Já não sabia quais partes daquela conversa haviam sido reais ou não. Já não sabia em quais momentos algo relacionado a seu amigo era ou não verdade. Havia desejado uma confirmação, e agora se obrigava a dispensá-la só pra conseguir respirar.

Ele saiu do flat, e guardou a chave extra consigo. Pegou um táxi quase em desespero e se foi. O sol se escondia nas nuvens esbranquiçadas, e John mal conseguia ouvir sons ao seu redor. Forjou o máximo autocontrole para não acabar hiperventilando. Pagou sem nem olhar as notas, e saiu depressa do carro.

Talvez Mycroft estivesse certo, e ele precisasse mesmo de ajuda.

Deveria ter feito para si a promessa de nunca voltar ao 221B, mas enquanto subia as escadas não se recordava de nenhum outro lugar em que poderia estar. Não queria mais confirmações ou verdades; só ficaria lá, Holmes estando ou não.

Porém, Watson parou.

Estacou próximo à porta, as vozes de dentro chegando aos seus ouvidos gelados. Coisas indistintas numa discussão em fragmentos.

— Você fez a sua promessa – vinha de lá.

John franziu o cenho, imaginado o que diabos ela estava fazendo ali.

— Não tema, Mrs.Watson. Só estou tentando te fazer entender a situação, até porque não sou eu quem deve contar a ele...-

Seu quase estado de torpor foi substituído por uma onda quente. Girou a maçaneta e entrou dois passos no flat, trazendo consigo um pesado silêncio que mortificou a discussão das duas figuras, que olhavam mais ou menos com a mesma cara de choque.

Holmes e Morstan.

— John – começou Mary, exasperada – o que voc...-

Sherlock – sussurrou ainda olhando para ela – Você o vê.

Quase pode ver algo se quebrando dentro dela.

— Você sabia – ele continuou.

Mary não fez questão de negar.

(...)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me deixe saber o que acharam, pessoal :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Beautiful Winter Day" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.