A Beautiful Winter Day escrita por Summertime Sadness


Capítulo 12
Morte


Notas iniciais do capítulo

Hey people, I'm back!
O trailer do especial chegou, séries estão retornando, as provas se foram e agora é capítulo novo, finalmente. Sério, sou tão lenta para terminar um capítulo, que provavelmente a fanfic só será encerrada no Natal. kkk'
Fiz um perfil no Fanfiction Net e acho que vou postar a história lá também. Nós Brazillis não o usamos muito, mas leio muito mais histórias por lá, e pretendo postar traduções. Se quiserem me achar por lá, só ir no meu perfil aqui do Nyah.

Enfim, espero que gostem :)

Boa Leitura!



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Não sabia exatamente quando passara a contar os dias que não o via. Só acordara naquela manhã e notara que já fazia cinquenta e um dias, números corretos e exatos como se seu cérebro dedicasse tempo suficiente para contá-los, sem que o próprio percebesse. Parte dele o obrigava a ficar no mínimo amortecido, pois havia tido a privilégio que nenhum outro humano jamais teria; saber que a morte não era um fim em si mesmo era um presente. Seu amigo existia e era isso o que importava. Se este decidiu ficar longe, John só podia respeitá-lo, mesmo que temesse que “manter distancia por um tempo” tivesse um significado mais profundo para Sherlock.

Semanas depois de telo visto pela última vez, abandonou todo o autocontrole e foi para a Baker Street, escondido costumeiramente. Repetia em pensamentos que só iria checá-lo, saber se tudo estava bem, nada mais. Entrava no apartamento e seus pensamentos transformaram-se em preces indecisas, cochichadas por sua mente bagunçada. A temperatura do cômodo , morna, intensificou sua desesperança, que passara a crescer a cada novo dia.

Todos os níveis de sua vida estavam satisfatórios, até a aproximação do clima primaveril lhe era dócil, mas essas peças se encaixavam a sua volta sem os enlaces corretos. Um relógio perfeitamente montado, exceto por uma peça, aquela que desandava tudo. Havia voltado para casa poucos minutos depois. Não havia motivo ficar num flat que estava – e continuaria – vazio.

Não tinha ideia onde seu amigo estava. Quer dizer, precisava acreditar que ele estava em algum lugar. Sherlock não iria embora, pelo menos não sem avisá-lo. Até em seu falso suicídio ele dera um jeito de se despedir. Ele não faria. Mantinha isso na cabeça enquanto os dias voavam, seu cérebro acrescentando número por número, num calendário imaginário. Se passasse outros dois anos, John não iria perdoá-lo. Talvez caso acontecesse, seria forte o suficiente para virar as costas. Também não sabia exatamente quando começou a agir como se Holmes não fosse voltar. Provavelmente depois de ter voltado ao flat (de novo), constatando pela segunda vez que não havia ninguém lá.

Todos os níveis de sua vida seguiam cursos satisfatórios. Havia sido “convencido” por Mary que sim, havia sido uma alucinação. Quando chegaram em casa, logo depois de John contar-lhe a verdade, resolveu, para o bem de ambos, fingir-se convencido da irrealidade da situação. Não imaginava ter tamanho talento para atuação, até fez a proeza de convencê-la de que não precisava de terapia ou qualquer tipo de ajuda. O tempo o melhoria. Ela acreditou. Ele não.

Enquanto os dias voavam, havia pegado o costume de ir e voltar ao trabalho de metrô. A caminhada solitária até a estação lhe revigorava, mesmo com o chão coberto por uma neve que os limpadores não conseguiam destruir totalmente. Os carros seguiam seu curso pela rua, emparelhados pelos ônibus vermelhos, pessoas caminhavam a passavam por ele apressadas já pela manhã. A entrada da estação se aproximava, adentrando na terra com sua língua de escada. Suas botas na calçada nevada estacaram de repente. Sua mão enluvada segurou com força a alça da maleta.

Nos primeiros degraus na entrada do metrô, Holmes o esperava. Pelo menos essa era a impressão que ele passava, olhando-o intensamente. Vendo sua imobilidade, ele avançou e parou em frente a ele. John o conhecia muito bem para perceber que o amigo preferia estar em qualquer outro lugar ao invés daquele. Não que ele quisesse demonstrar.

— Preciso falar com você – Sherlock disse como se tivessem se falado pela última vez anteontem e não há quase dois meses.

Enquanto esperava ele desenvolver o pedido, uma raiva reacordou dentro de Watson. Não era como se pudesse recebê-lo de braços abertos depois de ele ter ido embora, quando o próprio John rearranjou sua vida só para não deixá-lo só. Sherlock pareceu perceber isso.

— Sei que você está com raiva, mas isso é muito importante. Mais do que você imagina.

— Não vou mandar mais nenhum bilhete.

— Não é um bilhete, é...-

— Você foi embora, Sherlock! – desabafou – disse que não queria causar problemas, e não posso te culpar por isso, mas você simplesmente me virou as costas e foi pra Deus sabe onde, mesmo sabendo que briguei com Mary e menti para os meus amigos só pra te manter por perto. Partiu da Baker com uma promessa vazia de “vou voltar”.

— Eu voltei – murmurou, um pouco teimoso.

— Nem mesmo quer estar aqui. Seja o que for que veio fazer, deve ser muito importante pra ter se dado ao trabalho de vir.

Seu tom foi seco, mas preferível a mostrar a mágoa que sentia. As feições do companheiro se endureceram.

— Você está certo, John. Eu não queria ter vindo. Pra dizer a verdade, estava remoendo a ideia de ficar afastado por anos só pra te observar desfrutando de sua vida comum e civil que tanto queria. Mas como disse, tenho uma coisa importante pra fazer – pausou por um instante – Não poderia partir sem te contar isso.

Watson não se sentiu melhor por saber o que Sherlock planejava, ou da revelação de que ele partiria de verdade. Logicamente, não podia ser. Os dois haviam se acostumado demais com aquilo para Holmes simplesmente por tudo a perder. Provavelmente, era mais um dos momentos dramáticos e exagerados dele para chamar atenção. Ele mesmo havia admitido que temia ir embora.

— Você vai não partir – lembrou - não de verdade, pelo menos. Quer dizer, você não iria vir aqui só pra me contar isso, não é?

— Só queria dar uma justificativa. Para você ficar em paz.

— Pra eu ficar em paz!? O que está acontecendo com você!?

Sherlock suspirou, cruzando os braços. John começava a sentir frio parado daquele jeito. Abraçou-se. O amigo retomou a fala.

— Você está tornando isso muito mais difícil – lhe pegou pelo braço, o conduzindo para longe do metrô – Vai ter que faltar do trabalho hoje, ou no mínimo chegará atrasado, se ainda estiver disposto a aparecer depois que acabarmos aqui.

John engoliu em seco.

— Acho que você ficou louco.

Caminharam por uns minutos, Holmes visivelmente o levando para ruas desertas pelo frio e pelo fato de ser cedo demais. Pararam. Sherlock não soltou seu braço. John o olhou um pouco confuso. Nenhuma emoção vacilava na máscara que chamava de amigo. Olhava para o horizonte, onde o sol acordava sem força. O toque em seu braço foi se afastando, até morrer.

— Queria que você fosse sincero comigo, Sherlock – pediu – só uma vez.

— Eu não posso ser sincero sobre tudo o tempo todo. Você não suportaria. É por isso que sei que você não vai gostar do que vou dizer.

— Vai... Vai me contar sobre seu assassino?

Sherlock o encarou como se esperasse tamanha estupidez dele. John se gratificou por ter abaixado o clima tenso.

— John, você percebe como sempre se atenta às coisas menos importantes?

John levantou as sobrancelhas.

— É o seu assassino, Sherlock! – disse – não só...-

— Como eu disse, coisas menos importantes – repetiu, frio – Meu assassino, o bilhete para Mycroft, a janela quebrada. Presta atenção em fatos demais, quando o que importa nisso tudo é você, o modo como quer enxergar essas coisas.

— Bem, não é como se você fosse me contar o que aconteceu. Só posso tentar imaginar...

— Esse é o problema, não há nada para imaginar – respirou fundo – Se lembra do Mycroft te falou?

Os olhos metamórficos de Sherlock o olharam de uma forma mais profunda. John começou a ficar preocupado.

— Mycroft me disse muitas coisas – resumiu, incerto.

— Ele afirmou que meus “fenômenos” só acontecem quando você está sozinho.

— Seu irmão não é do tipo que crê; não posso culpá-lo por isso.

— Nunca parou para pensar por que coisas acontecem só quando estamos sozinhos?

Watson não sabia aonde aquela conversa estava indo, mas sua preocupação só aumentou.

— Isso não importa. Você só não conseguiu fazer alguma coisa para Mycroft acreditar porque você estava cansado. Sem energia.

— Acredita nisso, John?

— Foi isso que você me disse!

— Foi o que você queria ouvir.

John virou a cabeça, momentaneamente exasperado.

— Não estou entendo aonde quer chegar.

A voz de Holmes ficou séria.

— Se eu começasse a quebrar janelas em público, você seria o único que veria tal coisa. Você começaria a questionar a veracidade do que vê e ouve, começaria a duvidar e você sofreria com isso. Não. É mais seguro estarmos sozinhos quando o extraordinário acontece, assim sua consciência ficaria devidamente protegida.

Watson esperou que aquelas palavras lhe fizessem sentido, pois parecia que Holmes esperava isso dele. Não sabia por que diabos ele dizia tudo aquilo.

— Não entendo o que está dizendo.

— Você não quer entender.

John estreitou os olhos, e o encarou duramente.

— Sherlock, me diga por que diabos me chamou aqui.

Holmes desviou o olhar, fitando novamente o horizonte pontilhado pelo nascente sol da manhã. Watson esperou, mas nada veio. Pouco a pouco os raios venciam o céu branco, refletindo brilhantemente nos olhos do amigo, enquanto suas palavras não chegavam. Parecia que cada partícula de seu ser já se arrependia de estar lá. John estendeu um braço, a preocupação sobrepondo-se à raiva, porém, o outro se afastou alguns passos.

Deixou o braço cair ao lado do corpo. Algo estava errado. Muito errado.

— Sher...-

— Você sabe o que eu vou dizer – sua voz era tão fria quando ferida.

— Eu não sei – retrucou – é por isso que perguntei. Fica quase dois meses sem aparecer e quando aparece diz coisas sem sentido. Se há algum problema com você, é só me dizer e vou tentar ajudar. – suavizou a voz - Como sempre.

Nada daquilo pareceu melhorá-lo. Ainda avistava a paisagem nevada longínqua. John estava prestes a lhe dizer algo mais, qualquer coisa para fazê-lo melhor. Era estranho como sua raiva ia embora quando via aquele rosto infeliz. Havia se acostumado demais a sua presença para agir como se conguisse lhe virar as costas.

Watson suspirou inaudível. Uma brisa suave correu-lhe pelos cabelos frios, e o murmúrio de Sherlock elevou-se acima do uivo, preenchendo seu coração por completo.

— Eu não sou real, John.

Preenchido por choque. Medo. Este último logo sendo substituído por descrença. A descrença maravilhosa que antecede o luto.

— O que você disse?

— Fazer com que eu repita não tornará mais fácil.

John mordeu o lábio, balançando a cabeça. Não acreditava que Holmes só o havia o arrastado para lá pra lhe dizer aquela baboseira. Sabia que não fazia sentido, mas o nervosismo advindo do choque ainda persistia.

— Nivele as respirações para controlar a taquicardia, antes que desmaie – pediu Holmes, ecoando na memória de John os dizeres de eras atrás.

Respirou fundo. Não super reagiria transformando a situação em algo mais problemático do que realmente era. Elevou os olhos, percebeu que Sherlock agora o fitava longamente. Respirou fundo de novo, tentando juntar ar suficiente para formar palavras. Precisava manter a calma em momentos como aquele.

— Por que está me dizendo isso? – antes que o outro pudesse responder, continuou – Você sabe que é mentira, você é tão real quanto eu, a quem você está querendo enganar!?

— Não quero mais continuar enganando você. Isso já foi longe demais.

Sherlock desviou os olhos não tão mais brilhantes assim. Estavam apagados.

— Não é como se eu fosse acreditar em alguma coisa disso – assegurou – Por quê... Esta dizendo essas coisas?

Holmes respirava audivelmente, como se a conversa o estivesse cansando.

— Desde o primeiro instante em que pisou no apartamento depois da minha morte, a ilusão já estava formada. Todas as suas ações e lógica forçada passaram a reforçá-la a partir de então; o cachecol que você colocou na mesa, a temperatura baixa, todo o resto... Você precisava estar sozinho para acreditar, além de muito desesperado.

John recuou um passo, tremendamente incerto. Inseguro.

— O que você... Eu não entendo o que esta dizendo! Não foi imaginação, eu me lembro! O cachecol na mesa não foi uma alucinação, você o colocou lá!

— Falsa Memória. Sua mente reconstruiu a realidade a sua volta para a ilusão parecer verdadeira. Tudo para a morte de Sherlock Holmes não lhe causar tanto sofrimento, pois ele ainda estaria com você. Mas esta desistindo de coisas demais só para manter a ilusão acesa, o que me leva a crer que esta na hora a superá-la de uma vez.

Holmes dizia tudo com tanta firmeza e sinceridade que John sentia um estilete ameaçando seu coração. Nem toda a certeza do mundo desacelerava o sangue nas veias, correndo a medida que suas emoções se acumulavam.

— Não acredito em você – conseguiu dizer.

— John, você pode sentir no seu coração que é verdade.

John preferia sentir todas as coisas do mundo, mas não aquilo. Não entendia por aquelas coisas estavam sendo ditas. Nada se encaixava com a lógica que havia criado pra si mesmo, que havia se obrigado a acreditar quando aquilo começou a fazer parte de sua vida. Podia crer que tudo era uma mentira, caso Sherlock o tivesse dito na primeira vez em que se encontraram após sua morte. Teria acreditado porque nada fazia sentido na época, mas não agora. Agora aquilo era mais real que sua respiração. A existência dele era tão certa quanto sua própria.

Irreal. Quando a possibilidade dele não existir se tornou mais irreal que o contrário? Não deveria cogitar qualquer chance de ter estado errado o tempo todo. Não era possível, mas e se fosse? Era possível. Talvez temesse usar a razão.

Não.

Sherlock certamente estava a par da batalha interna que se desenrolava; não havia motivo para ele fazer aquilo. E mesmo assim continuava brincando com suas certezas como se nada lhes valesse. Ou talvez tivessem valido por tempo demais, a ponto de não conseguir ir embora totalmente sem contar a verdade.

Não cogitava realmente. Era sua vida também.

— Por que esta me dizendo essas coisas? – John murmurou – Se você não é real, então por que está tão triste, agindo como se se importasse!?

Olhos estreitos prontos para arrancarem a confissão. Não, ilusões não se importavam. Elas não deveriam ter o mesmo brilho de dor do amigo.

— Porque é assim que você quer enxergá-lo – respondeu – Por que você deseja no fundo de sua alma que ele não seja a máquina que sempre aparentou. Quer tanto vê-lo com o espírito vulnerável preso a você que agora já não consegue se desvencilhar dessa imagem.

— Isso... Não faz nenhum sentido... – sussurrou.

— Sou seu subconsciente, John. Tornei as coisas palatáveis para poder passar pela sua perda, mas agora que é visível o fato de você estar bagunçando o resto de sua vida só para me se manter na realidade que criamos, então essa auto-proteção já não é mais necessária – se aproximou um pouco, uma seriedade antiga tomando o rosto - Se prefere acreditar em fantasmas, então continue. Você foi o único que se obrigou a isso.

Seus punhos cerraram, para logo se abrirem enfraquecidos, a força esvaindo-se a cada palavra.

— Não... – não conseguiu nada além de um sussurro - é impossível. Tudo não pode ter sido só...-

— Nada – cortou inexpressivo – isso foi o tudo que vocês tiveram nesses tempos.

A boca de Watson se abriu, contudo nenhuma palavra se formou. Ironicamente a guerra dentro de si se traduziu pelo silêncio, enquanto o sol ainda fazia tentativas de iluminar as ruas brancas. Olhou para os pés, os pensamentos pouco a pouco se transformando num algo tão branco como a neve que abraçava Londres.

Preferia que Holmes jamais tivesse voltado.

Não houve som ou brisa que o preparasse. Simplesmente elevou os olhos para vê-lo – só enxergá-lo e se certificar de sua presença, uma mera segurança, mesmo que fragmentada – mas não havia mais nada lá. Watson era só um homem sozinho numa rua desconhecida.


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Notas finais do capítulo

A opinião de vocês é muito importante, então me digam o que acharam :)



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