Finais quase felizes escrita por Jay Wolf


Capítulo 5
Capitulo 4- Despedida




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/623537/chapter/5

A velha bruxa da floresta

Contava a historia de um velho cavaleiro

Que com sua velha mula

Ousou desbravar o velho mundo

Ganancioso, queria não ser velho

Mas a velha floresta conhecia seus desejos

E velho ele ficou para sempre.

Dominique abriu os olhos de repente, reconhecendo a voz da avó entoando sua canção preferida da Floresta. Virou a cabeça bruscamente e a viu sentada na velha cadeira de balanço, murmurando de olhos fechados. Incrivelmente, apesar de estar um pouco tonta, Dominique se lembrava claramente de tudo o que acontecera. Ela se sentou cuidadosamente, e com a certeza de que aquilo não era um sonho, perguntou para a avó:

– Onde esta ele, Mama? – Ela não via Asa em nenhum lugar, e queria acreditar muito que ele ainda estava vivo. Olhou o fogo apagado e a cabana fria. Não havia ervas, panelas ou couro curtido em lugar nenhum. A cabana estava... vazia. Havia algo errado. Algo muito errado.

Dominique parou em frente a avó, que ainda estava com os olhos fechados.

– Mama?

Lentamente, a mulher se levantou. Com a face inexpressiva, abriu os olhos. Dominique arfou com o que viu dentro deles. Desespero. Tristeza. Havia uma dureza e aceitação surpreendentes neles.

– Domi gananciosa. Floresta sempre conheceu seus desejos. Sempre conheceu seus segredos. A vila. O lindo príncipe. Domi tem que ir.

– Ir? – Ela repetiu, os olhos se enchendo de água. – Para onde?

– Embora. Esta velha ganhou alguns minutos para Domi. Domi precisa ir rápido.

– Eu não quero deixar a senhora. – Ela choramingou. – Não quero deixar meu lar.

A velha sorriu e apontou para si mesma, depois para o coração da garota.

– Esta velha já cumpriu seu destino com pequena Domi. Agora ela pode descansar. Domi escolheu seu destino. E ele assim será. Seu lar não é mais aqui, criança. Nunca foi.

– Mas... – Ela sussurrou, consternada. – Mama...

A velha pegou uma pequena mochila de couro e a entregou a Dominique.

– Vá.

A menina abraçou a frágil mulher, sabendo que sua hora havia chegado. Ela escolhera seu príncipe, ao invés da Floresta. Seu príncipe...

– Ele esta vivo? – Ela sussurrou, a voz entrecortada pela dor da despedida. Se afastou da avó e viu que ela levantava uma florzinha minúscula para Dominique.

– A vida é tão frágil... de seu príncipe mais ainda. – Ela sussurrou. – Cuide bem dessa flor, e enquanto ela viver, ele vivera. – A mulher pôs a mão firmemente na da garota. – Encontre-o. Ele só será completo e plenamente vivo quando pequena Domi o encontrar. Vá. Cada segundo é precioso para ele.

Dominique assentiu e cheirou a flor. Tinha o cheiro dele, cálido e amadeirado e era branca, com o miolo negro. Parecia ele, de certa forma. Carinhosamente, ela botou a delicada flor em um jarro de água, e o carregou consigo.

– Mama – ela se virou para a mulher, que esperava pacientemente com seu sorriso banguela no rosto. – Obrigada por ter me amado todos esses anos. Vá em paz.

A mulher tocou o peito, os lábios, a cabeça e assentiu, em uma promessa silenciosa.

– Que Domi encontre seu caminho. Esta velha também a agradece.

Dominique repetiu o gesto da velha mulher, e também fez sua promessa silenciosa.

Antes que pudesse mudar de ideia, ela virou as costas ao seu antigo e único lar, e á sua única família, sabendo que não tinha mais escolha. Tinha que ir embora e achar seu príncipe. Só assim conseguiria viver o resto dos seus dias. Colocou sua capa e o capuz verde musgo, escondendo suas lágrimas silenciosas. Botou a mochila nas costas e segurou o jarro firmemente contra o peito.

Quando estava na porta, Dominique se virou para olhar uma última vez para Mama.

Mas ela não estava mais lá.

Em seu lugar, apenas uma plantinha nova e instável, verde e viva crescia lentamente. Era assim na Floresta Sombria, pensou Dominique sombriamente enquanto dava as costas, agora definidamente para tudo o que já fora seu um dia. Quando algo morre, não é em vão. É para que algo novo cresça e viva. Nada se desperdiçava na Floresta Sombria. E era assim que ela permanecia forte e viva até aquele momento.

Dominique caminhou decidida para o meio das árvores. Iria encontrar um novo lar. E seu lindo príncipe. E encontraria a felicidade. Enquanto olhava pela última vez as árvores, que foram seu lar em todos os seus 20 anos, Dominique decidiu. Ela ainda voltaria. Voltaria àquela floresta, em nome de seus amigos e de suas memórias.

Ela sentiu o cheiro na metade do caminho. O cheiro dos guardiões. A Floresta estava vindo em seu encalço, pronta para se vingar de Dominique pela sua extrema bondade em um ambiente tão hostil. Para se vingar por ela amar um Civilizado. Mas ela não se preocupou. Continuou andando lentamente, e enquanto andava, pequenos animais e roedores vinham acompanhá-la em sua marcha fúnebre. Seu pequeno pássaro cego, seu companheiro, pousou no ombro dela e assoviou uma versão triste da canção que os dois partilhavam.

Dominique sorriu fracamente para ele, e logo chegou aos limites da floresta. Atrás de si, mais animais se juntaram aos pequeninos. Veados, pássaros, um solitário urso, e criaturas míticas da floresta. Todos a quem sua gentileza já tocara. E eram muitos.

Se virou e olhou todos os que estavam ali. Um animal deu um passo à frente. Era o Madra de quem ela cuidara naquele dia.

– Vaaaaaa emmmm pazzz irmaaaaa. – Ele silvou tristemente. – Estaremossssssss aquiiiiiiiii, teeeeee esperandoooooooo. Aoooo voltarrrrrrrr, tragaaaaaaa oooooooo sollllllll doooooo mundooooooooo e nossss liberteeee.

Ela assentiu, sentindo o nó em sua garganta a sufocar. Então, quando estava quase virando, eles fizeram algo que ela nunca imaginou que seria possível.

Se ajoelharam. Um por um.

Antes de fazer o mesmo, o Madra murmurou com dificuldade, pausando deliberadamente para falar normalmente, fazendo um esforço hercúleo em nome de Dominique.

– Adeus, minha princesa.

E Dominique lhes virou as costas, cheia de dor, mas com um novo caminho pela frente.

Finalmente, ela foi embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!