Finais quase felizes escrita por Jay Wolf


Capítulo 6
Capítulo 5 - Assassinos




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Asa tocava piano quando Dominique o encontrou. Era uma sala na parte mais afastada do palácio, iluminada e arejada. O único móvel que existia no cômodo era o lindo piano de cauda negro, tão negro quanto os olhos tristes e insondáveis de Asa.

– Não sabia que gostava de tocar. – Ela murmurou, vindo se sentar na banqueta junto com ele.

– Amo. – Ele soltou um riso amargurado. – Me faz lembrar você.

Dominique fechou os olhos e balançou suavemente a cabeça ao ritmo da música.

– É linda a melodia. Mas é triste também. Você está triste, meu príncipe?

Ele fechou os olhos cansados e murmurou:

– Estou. Você foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida, só para depois sumir e por mais que eu tente, não consigo seguir em frente sem você.

– Mas eu estou aqui agora. – Ela falou, rindo levemente.

Asa balançou a cabeça, frustrado. Abriu os olhos e encarou a banqueta ao seu lado, vazia.

– Não, não está.

Asa socou as teclas do piano. Soltou um grunhido e deixou a cabeça tombar nas mãos. Estava cansado. Não, não. Estava exausto.

– Dominique - Ele gemeu, como se isso pudesse trazê-la de volta. Como se isso pudesse parar suas ilusões. Como se isso pudesse apagar seu destino. Sua sina. Ele suspirou e olhou apático para a janela.

– Príncipe? – Uma voz estridente o chamou, e Asa olhou para sua noiva. Bem, provavelmente ela seria sua noiva, já que ele era o favorito do Reino da Aurora ao próximo cargo de Rei, e não os outros 11 nobres que disputavam pela mão da princesa. Não que ele quisesse mesmo se casar com ela. Na verdade, sua vida naquele atual instante era a piada mais cruel do século. Viera de seu ensolarado Reino de Invictus para o distante e frio Reino da Aurora, onde uma princesa solitária esperava para encontrar um futuro marido. Ele fizera isso principalmente por seu Reino, para fortificar alianças e conseguir benefícios para o seu povo. Viera para competir como tantos outros, e já havia quase conseguido, apesar da princesa ser... um tanto esquisita.

Mas ele se apaixonara por uma criatura linda e misteriosa da floresta. E ela sumira. E agora, aparentemente iria se casar com a mulher por quem viera, apesar de ter repulsa à simples menção de seu unir a alguém que não fosse Dominique. Fazia isso pelo seu povo. Por amá-lo e por nada mais.

Ele botou sua máscara de bom cavaleiro e assentiu para a garota.

– Princesa Acar. Em que posso ajudá-la?

A garota soltou um risinho infantil e se posicionou em frente à banqueta.

– É que... desde que você voltou da floresta, tem estado distante... – Ela começou e hesitou. – Quer dizer, eu não entendo porque os garotos sempre tomam atitudes estúpidas, como sair de madrugada para ver se há magia de verdade na Floresta.

Ela tagarelava como se não houvesse amanhã, e Asa se esforçou para manter a expressão interessada. Em sinal de respeito, levantou-se da banqueta e esperou que terminasse. A menina se calou e olhou o corpo bem esculpido dele com olhos cobiçosos.

– E eu estava pensando... já que provavelmente a gente vai casar, talvez a gente possa... se beijar.

– Não seria justo com os outros participantes. E ainda não estou certo de que vamos nos casar.

A garota empinou seu nariz levemente curvado, como um bico de corvo e numa atitude mimada gritou:

– Mas eu quero! – Asa a analisou por um instante. Com os cabelos pretos e grossos, os olhos azuis celestes e o queixo pontudo, Acar não era exatamente uma beldade. Era exatamente o contrário de Dominique, a não ser pelos olhos. Ele não queria beijar a princesa, mas sabia que estava como hóspede em sua casa, e por mais que lhe doesse, teria que fazer a vontade dela. Asa cedeu, derrotado.

– Tudo bem.

– Ótimo! – Ela bateu palmas e jogou os braços ao redor dele. Ele se abaixou para a figura desengonçada e encostou os lábios no dela. Acar tentou retribuir o beijo vorazmente, mas era desajeitada e o príncipe teve que guiá-la. Rapidamente, ele a soltou e a viu dar pulinhos de felicidade.

– Adeus – Ela cantarolou e foi embora. Asa encarou o espaço vazio onde ela estivera. Sentia-se do mesmo modo. Vazio. Era o mesmo que ter beijado uma porta. Mas ele não se importava com quem beijava ou com quem iria casar. Já havia se passado um mês desde que conhecera sua alma gêmea, e depois de agir feito um maluco desvairado durante todo aquele tempo, procurando-a, ele desistira. Sonhava com sua Dominique ainda e tinha doces ilusões com ela, mas não passavam disso. Ilusões.

Ele tocou o lugar onde tinha a cicatriz das unhas do Madra. Quando Asa aparecera misteriosamente em seu quarto, estava completamente curado e no lugar do machucado apenas uma cicatriz e uma tatuagem rústica e estranha, de gavinhas se contorcendo pelas laterais de seu corpo faziam parecer que algum dia ele quase morrera por causa daquilo.

Quem dera tivesse morrido.

Asa foi até a janela mais próxima e olhou para o dia cinzento como seu humor. A Floresta Sombria era uma mancha verde escura mais ao longe, e ele se lembrou de quantas vezes tentara entrar. Tantas que quase morreu novamente, até que seus amigos o prenderam no palácio e ele desistiu.

A Floresta fizera algo com ele.

E com o amor de sua vida.

Deus, o que ele iria fazer?

******

Duas semanas antes.

Dominique caminhava devagar pela planície. Ao longe, na extrema ponta de um penhasco, o majestoso castelo se erguia e suas torres ameaçavam furar o céu tempestuoso. Mais abaixo no vale, apesar de não dar para ver de sua posição, ela sabia que a vila estava lá. O sol fraquinho se punha naquele exato instante, após tanto tempo sem aparecer no céu nebuloso e chuvoso do Reino da Aurora.

A garota começou a andar em círculos, completamente frustrada. O que ela iria fazer? Não podia mais chegar perto da floresta, e todas as suas tentativas de entrar no castelo e chegar perto de seu príncipe foram frustradas. Ela nem tentara nenhum tipo de contato com a vila, porque simplesmente não conseguia agir como uma Civilizada.

E a única vez que vira Asa fora dos muros protetores do castelo, fora quando ele estava agonizando de dor enquanto tentava entrar na floresta. Dominique tentara ir até, mas ficara igualmente prostrada. Esperou até que escurecesse na esperança de que ele fosse embora, mas ele continuou lá, gritando seu nome e partindo seu coração, sem se importar com a dor.

E ela não conseguiu fazer nada, porque lhe doía fisicamente e ela sentia a mesma angústia que ele. E depois vieram buscar ele e ela não conseguiu se aproximar porque desmaiou, assim como Asa.

Dominique passou as mãos pelo cabelo. Estava sem ideias e sem respostas, pensando em como os dois sobreviveram, ou porque ouvira uma conversa de que ele tinha uma noiva e o que significavam todos aqueles rumores... foi quando viu. Viu algo que a fez congelar e procurar um abrigo imediatamente. Mas não havia nada por perto.

Dos dois lados da campina larga, havia apenas a Floresta Sombria. E seu abrigo improvisado estava a alguns quilômetros dali, porque Dominique estava esperando o sol se pôr para mais uma vez tentar entrar no castelo.

Ela não tinha saída, então ficou parada, observando um grupo de homens andar furtivamente na margem da Floresta Sombria. Como eles conseguiram andar pela floresta sem serem capturados pelos Madra, ela não sabia. Se recordava vagamente de histórias de homens frios e sem escrúpulos que algumas vezes a Floresta deixava passar por seus domínios, longe de seus Filhos.

Ela deixava passar, porque aqueles homens eram exatamente iguais a ela. E assim como ela, queriam ver o Reino da Aurora cair.

Ela não se recordava de todos os nomes pelos quais os Filhos da Floresta temerosamente chamavam o grupo de homens, pensou enquanto observava cuidadosamente os sete homens irem em sua direção, vestidos em couro e roupas negras, com nariz, boca e queixo escondidos com panos e as cabeças cobertas com capuz.

Mas se lembrava de um nome, em uma língua estranha. Tueurs.

Dominique tentou se lembrar da tradução, enquanto sua curiosidade lentamente ia sendo substituída pelo medo.

Ela olhou impotente para os homens, enquanto eles calmamente fechavam o circulo à sua volta, enclausurando-a em sua bolha de medo.

Dominique fechou os punhos e os encarou desafiadoramente, pronta para a luta.

Enquanto o maior deles avançava impiedosamente para ela, Dominique flexionou os joelhos pronta para dar uma rasteira nele, apesar de saber que não conseguiria derrubar todos e que aquilo era suicidio. Sombriamente, ela se lembrou do significado de Tueders.

Significava assassinos.


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