Some Hearts escrita por Kleia Santos


Capítulo 8
Capítulo 8




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Aquela foi uma noite difícil na fazenda Kent. Deitada em sua cama, passou em claro todas as horas que antecederam o amanhecer. Pensara em tudo o que acontecera, nas palavras de Clark, em cada minúsculo detalhe daquela verdade. Era tudo surreal e lógico ao mesmo tempo. Lois se recordou de inúmeros acontecimentos sem explicação que, de repente, pareciam tomar seu perfeito lugar naquele quebra-cabeça kryptoniano. Da chuva de meteoros ao borrão azul e vermelho, tudo parecia encaixar-se no cosmos. E a razão estava no quarto ao lado e atendia pelo nome de Clark Kent.

O fazendeiro, assim como Lois, não conseguira dormir. As doses de coragem ao contar a verdade para Lois pareciam lhe escapar agora que precisaria enfrentá-la em seu verdadeiro eu. Não que ela não tivesse aceitado bem, ou ela não o teria abraçado, mas ainda assim sabia que aquilo estava sendo difícil para ela. Precisava ter paciência com ela, aceitar seu próprio tempo para lidar com tudo aquilo. Por mais forte que Lois fosse, ele largara uma verdadeira bomba em seu colo, uma da qual ela não poderia simplesmente se livrar, passar para outro como uma batata quente. Uma bomba com a qual, Clark tinha a esperança, Lois pudesse conviver.

As horas passaram e o sol logo raiou no horizonte, mas o que realmente chamou a atenção de Clark foi o barulho de sua caminhonete se afastando da fazenda. Lois estava saindo, sabe-se lá para onde. Clark levantou da cama e caminhou até o quarto dela. A cama estava desfeita e suas coisas estavam espalhadas por todo o lugar, o que significava que ela não havia ido para sempre ao menos. Clark se sentiu um pouco idiota por achar que ela pudesse deixá-lo, mas a idéia não era totalmente absurda. Recordou-se com receio de uma conversa que tivera com Lois no dia em que ela terminou de vez com Oliver. Mesmo dia em que ela descobriu que ele era o Green Arrow.

E se ela não se sentisse pronta para aquilo?

Clark se sentou na cama de Lois, sentindo o seu cheiro entre os lençóis. Aquilo o animava a seguir adiante, independente do que fosse acontecer. Ele sabia que já havia ido longe demais e lutaria por ela, mesmo que significasse lutar contra ela. Levantou-se e superacelerou vestindo seu traje azul e vermelho. Se precisaria esperar por ela, ao menos não deixaria o mundo esperando.

***
Lois atravessou Smallville até o Talon, sua mente dispersa em pensamentos. Estacionou a caminhonete vermelha em frente ao antigo cinema e entrou apressada. Por incrível que pareça,

Chloe já estava acordada. Estava de pé junto à máquina de café preparando um expresso para si

própria. Olhou para a prima completamente surpresa.

“Lois? O que faz aqui às 5 da manhã?”

“Precisamos conversar, Chloe...” Lois disse se aproximando da prima. Ainda vestia a mesma roupa

da noite anterior.

“Claro, mas conversar sobre o quê?”

“Kal-El? Krypton? Clark Kent?”

Chloe quase derrubou a xícara ao ouvir Lois. Arregalou os olhos, virando-se para ela, “Ok, ok... O

que exatamente você quer dizer com..”

“Ele me contou tudo, Chlo”, Lois disse indo direto ao ponto, se sentando em um dos bancos próximos ao balcão, “Todas as razões pelas quais eu nem posso mais chamá-lo de Smallville...”

“Lois...”, Chloe estava sem palavras. Pegou sua xícara cheia e entregou a Lois, “Acho que precisa

mais do que eu.”

“Pode imaginar? Smallville... Um Superman?”

“Todos os dias...” Chloe disse com uma resignação positiva. “Eu imaginei que ele não fosse conseguir esconder de você por mais tempo...”

“Eu ainda não sei como ele conseguiu esconder de mim por todo esse tempo. Eu me sinto a pessoa mais cega e estúpida de todo o planeta! Ele estava na mesa em frente à minha, Chloe!”

“E ele lutou muito para esconder de você, Lois. Ele não queria que acontecesse com você o que

aconteceu com os outros...”

“Como assim?” Lois ficou sem entender.

“Clark acha que o segredo dele destrói as vidas de quem o desvenda. E de certa forma... Ele tem razão...”

Lois não soube o que dizer. Ele realmente tinha medo, não apenas em tornar seu segredo público,

o que era compreensível, mas em compartilhá-lo com aqueles que ele amava. Devia ser difícil viver sem poder ser ele mesmo, e ainda sofrer pela incompreensão que aquela verdade oculta

proporcionava. Ela se deu conta de que era o que estava para acontecer com eles, quando Clark

passou a não ter respostas para seus questionamentos.

“Se ele te contou tudo, Lois... Ele realmente acredita que vocês podem vencer isso juntos.”

“Por que diz isso?”

“Porque todos nós descobrimos o segredo dele. Ele nunca contou a ninguém. Você, pelo contrário... Você é a primeira a quem ele realmente contou.”

Lois ouviu a prima e as palavras de Clark retornaram à sua mente. Você é mais do que especial.

Aquilo a fez sorrir verdadeiramente pela primeira vez desde que soubera a verdade.

***

Já passava das 10 da noite e Clark prosseguia por Metrópolis fazendo aquilo ao que estava destinado. Nunca evitara tantos acidentes, nunca salvara tantas vidas. Sequer dera as caras no Daily Planet, nem mesmo para conferir se Lois estava lá. Estava ciente de que precisava dar a ela o espaço e tempo necessários para sentir-se à vontade com seu segredo, se é que ela se sentiria à vontade algum dia. O que poderia fazer então era usar seus poderes para o bem, e ainda havia muito a ser feito.

Clark prendeu dois assaltantes a um cano e seguiu pelo beco escuro, procurando se concentrar em

seu próximo salvamento. Podia ouvir gritos de uma mulher provindos de uma ruela a várias quadras. Superacelerou sem perder tempo e parou no alto de um telhado. Olhou para baixo na ruela e percebeu um cara apontando uma arma para uma moça loira.

“Passa logo, maldição!” Ele gritou com ela puxando a bolsa, mas a moça se negou a entregar. O bandido então atirou, mas Clark superacelerou tão rápido quanto a bala e segurou o projétil antes que ele pudesse atingir a cabeça da moça. Ela caiu no chão com o movimento do borrão e o bandido olhou em volta, percebendo que não tinha mais sua arma nas mãos. Correu desesperado para longe da ruela, sabendo que aquilo só podia significar uma única coisa:

“Aaaahh!! O borrão!!” ele berrou antes de desaparecer por completo. A loira apenas assistiu a

tudo com medo e se levantou também com pressa, correndo para fora dali em busca do policial

mais próximo.

Como sempre fazia, Clark apenas superacelerou ao ver que a situação estava resolvida, mas algo diferente estava acontecendo. Sentiu suas forças esvaírem-se ao adentrar o beco adjacente à ruela e caiu de joelhos em dor. Olhou em volta procurando a fonte de sua agonia e logo percebeu do que se tratava.

A dois metros acima de sua cabeça, pendurado em uma janela lacrada, um mensageiro dos ventos

balançava com a brisa da noite enquanto um de seus enfeites emanava um verde reluzente.

***
Lois chegou ao Daily Planet um pouco nervosa. Procurara Clark por todos os lugares, mas fora

incapaz de encontrá-lo. Sentia uma angústia estranha, como se algo estivesse terrivelmente

errado.

Um dos office-boys do DP atravessou seu caminho e ela o barrou,

“Hei, viu o Clark?”

“Não, ele não apareceu aqui hoje.”

Lois voltou-se para a sua mesa e olhou para a de Clark. Onde ele poderia estar?

***

Clark não tinha mais certeza sobre quanto tempo já havia se passado, mas cada minuto era agonizante. A dor que lhe consumia iria matá-lo a qualquer momento, ele sequer tinha forças para rastejar para longe dali. Sentia seu corpo formigar por inteiro, pontadas de dor lhe corriam cada célula. Não conseguia pensar, seus sentidos estavam afetados. Não havia nada que pudesse fazer.

Por mais inacreditavelmente estúpido que aquilo poderia parecer, era o seu fim. Em uma ruela

deserta, largado próximo ao nada de Metrópolis.

Estava morrendo.

Foi então que viu uma luz se aproximar rapidamente. A luz foi bruscamente lançada na direção dele, quase cegando-o.

“Clark?” a voz conhecida surgiu dissipando os medos de Clark, evidenciando Lois por trás da

claridade intensa. Ela segurava uma pequena lanterna e olhava surpresa para ele.

“Lois?..” Clark respondeu no limiar de suas forças enquanto ela olhava em volta. Jogou a luz da

lanterna para o alto e avistou o brilho no mensageiro dos ventos. Mais do que rapidamente, ela trepou na escada de incêndio e subiu até a janela, arrancando o objeto e lançando-o para longe. Pulou de volta ao chão e se agachou junto a Clark, que começava a recuperar as forças.

“Como você me achou aqui?” ele perguntou sem acreditar que era mesmo ela.

“Quando eu souber, te digo!” ela disse tão incrédula quanto ele, “Vem, vamos sair daqui”

Clark se levantou com a ajuda de Lois e os dois seguiram para longe dali.

***

Apenas 24 horas após a maior das revelações, Clark e Lois estavam novamente na fazenda Kent.

Clark tomou um longo banho e seguiu para a sala, onde Lois estava sentada sobre o sofá, o laptop

posicionado em suas pernas cruzadas. Clark sorriu observando-a até que ela percebeu que ele

estava parado junto à escada.

“Se sentindo melhor?” ela perguntou largando o laptop sobre a mesa de centro.

“Sim...” Ele disse ainda parado no mesmo lugar. Seus olhos brilhavam ao olhar para Lois, de uma forma que ela mesma achou estranha.

“O que foi?”

“Você salvou a minha vida. Eu acho que isso faz de você minha... heroína. Obrigado.”

“Bem, que tipo de namorada eu seria se deixasse meu herói largado em uma ruela por causa de

uma rocha verde?”

“Como você soube da Kryptonita?”

“Eu tive tempo para juntar as coisas... De como aquela rocha nunca lhe fez bem. Mas a verdade é

que, no fundo, eu simplesmente sabia.”

“Da mesma forma que soube onde me achar?”

“Acho que sim”, ela respondeu procurando a verdade na forma como se sentia, “Eu acho que eu fiquei confusa por um tempo, mas meu coração nunca te perdeu de vista...”

Clark sorriu ao ouvir Lois e se aproximou dela. Empurrou o laptop para o canto da mesa e se sentou diante dela.

“Isso significa o que significa?”

“Significa que... Esse fardo que você carrega... É muito grande, Smallville. Mas talvez... Se carregarmos juntos... Possa ser menos difícil.”

Lois manteve seus olhos nos de Clark e sorriu para ele, mordiscando o lábio daquela maneira tão especial, que demonstrava um desafio aceito. Clark passou a mão no rosto de Lois e moveu-se até

ela, beijando-a apaixonadamente. Os dois se afastaram e Clark sorriu para ela,

“Está com fome?”

“Ta brincando?” Lois respondeu arregalando os olhos de forma divertida, “Poderia comer uma vaca inteira!”

“Eu vou preparar algo para comermos...” ele disse se levantando e dando-lhe um beijo na testa. Caminhou em direção à cozinha sob o olhar feliz de Lois, que retomou o laptop em seu colo e fitou a página em branco de seu editor de textos.

“Você é a única que pode, Lois.”

Lois respirou fundo e começou a digitar o início da matéria que mudaria não apenas a sua vida, mas toda Metrópolis. E o título não poderia ser mais apropriado:

“EU PASSEI A NOITE COM O SUPERMAN”

***


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