Some Hearts escrita por Kleia Santos


Capítulo 3
Capítulo 3




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                             Capítulo 3

“Okay, Smallville. Eu realmente agradeço por todo o cuidado e atenção que você tem tido comigo, mas a última vez que chequei, eu ainda não era feita de porcelana!”, disse uma Lois levemente revoltada por ter Clark a segurando pela cintura com um dos braços desde o momento em que saíra do hospital. Os dois adentraram a fazenda Kent e Clark imediatamente seguiu até ela retirando-a do carro e servindo de apoio na subida dos pequenos degraus na entrada.

“Você estava tonta quando saímos do hospital, Lois. Não seja teimosa...”,  Clark a  repreendeu pacientemente, quase se divertindo com aquela situação, se não estivesse preocupado com ela.

“Eu não estava tonta”

“Você olhou para um lado e se inclinou para o outro.”

“Eu estava apenas checando meu equilíbrio...”,  Lois disse tentando negar os fatos.

Clark a encarou sério, como se a mandasse largar de ser teimosa mais uma vez.
Lois acatou, mesmo contrariada por estar sendo tratada como uma boneca. Achava fofo o Clark todo cuidadoso e cavalheiro com ela, mas lhe incomodava estar tão vulnerável.

Os dois entraram na casa pela porta principal e foram recepcionados por um Shelby alegre, mais uma vez agitando seu rabo freneticamente diante da presença de Lois e Clark.Ela caminhou até o cachorro enquanto Clark seguiu para largar uma mochila no sofá.

“Hei, Shelby...”, Lois o acariciou sorridente, lembrando-se de que aquele peludo de quatro patas era um pequeno herói por si só, “Obrigado por me proteger!”

Clark observou Lois a conversar com o cachorro e sorriu. Era mesmo uma graça quando ela tinha aqueles momentos maternais, até quando estes se referiam aos animais. Amava ver aquele lado afetivo na repórter que, na maior parte do tempo, era a mais perfeita filha do general.

“Vou descolar umas cinco vitelas de carne pra você e... uoooh”, Lois sentiu-se tonta novamente, se apoiando junto a uma mesa enquanto levava a outra mão à cabeça. Imediatamente, Clark correu em sua direção segurando-a,

“Ok, chega. Você precisa descansar. Nada de ‘mas’ ou de ‘Smallville’  ou de  ‘eu tenho uma matéria para cobrir’...”

“Mas, Smallville, eu tenho uma matéria para cobrir!” Lois protestou séria enquanto caminhavam até a base das escadas.

“A única coisa que você vai cobrir hoje é a si própria, com o lençol”, Clark afirmou.Olhou para a escada e não teve dúvidas. Lançou seu braço sobre as pernas de Lois e a pegou no colo rapidamente, “Sem mais esforços por hoje...”

Lois não teve tempo de protestar. Clark a pegou tão rápido que quando ela se deu conta completamente de que estava nos braços dele, os dois já estavam na metade das escadas. Além disso, distraiu-se com o fato de estar nos braços fortes de Clark. Ela certamente sabia como ter uma mulher em seus braços e Lois o envolveu pelo pescoço, procurando mais firmeza e sentindo- se segura.

***

O resto do dia passou sem maiores problemas. Lois acabou dormindo a maior parte, e Clark aproveitou para dar uma geral na fazenda, organizando as coisas pendentes. Tirou as marcações do celeiro e ligou ele mesmo para a equipe de decoração do casamento passando as informações.

Embalou nas atividades e saiu por todo o celeiro verificando se havia algum outro risco à saúde de

alguém. O degrau solto foi um desleixo e jamais se perdoaria se algo mais grave tivesse ocorrido a Lois. Consertou todas as falhas na estrutura do lugar, deixando-o na melhor forma para o casamento. Acabou lavando também sua caminhonete e o carro de Lois, atolados pela terra da estrada até Metropolis. Por tabela, jogou Shelby na mangueira também, apesar da reação a contra-gosto do cachorro, que nem mesmo tentava morder seu dono, provavelmente pela frustração de experiências passadas. Clark aproveitou o momento distraído e se enfiou ele próprio sob a água da mangueira em frente ao celeiro, apertando os dedos contra a saída do tubo e criando jatos de água para cima do cachorro. Era a recompensa perfeita após um longo dia de trabalho árduo. Ainda molhado, usando somente um calção azul e vermelho, ele agarrou sua blusa e seguiu para dentro de casa, para terminar o seu banho. Ainda prepararia o jantar para Lois e

tinha em mente algo especial.

Lois já havia tomado banho, mas ainda podia sentir o cheiro de feno em seus cabelos por causa da

queda. As várias horas de sono lhe haviam feito maravilhas, mas sabia que não conseguiria dobrar

a vigilância do General Kent. Ele passava em frente ao quarto dela a cada meia hora para averiguar

se estava tudo bem, e se não fosse pela preocupação genuína dele, Lois o chamaria de agente penitenciário. Sentou-se em uma poltrona de couro marrom e ligou o laptop tentando se distrair

com alguma coisa, mas não estava ajudando muito. Seu lado hiperativa lhe tornava uma mulher que desconhecia o tédio. Precisava andar, investigar, batalhar!

Mas não hoje.

Resmungou alguns palavreados indecifráveis por se deixar machucar e agora ter que ficar aos cuidados da babá Kent. Bom, ao menos, não o via mais como agente penitenciário. Em compensação, acabava de se comparar a um bebê. Sua mente parecia trabalhar contra ela...

Chloe surgiu no quarto e pegou a prima a divagar sentada na poltrona com o laptop no colo.

“Lois!”, o olhar preocupado de Chloe se misturou a um sorriso de alívio ao ver a prima acordada e ocupada. A vira no hospital, mas ela ainda estava inconsciente. Estava muito melhor agora, sem sombra de dúvida. “Como você está?”

“Me sentindo uma perfeita idiota...”, ela respondeu enquanto recebia um beijo na testa de sua prima, “Não sei o que tinha na cabeça quando subi naquela escada de salto!”

“Não sei com o que se surpreende ainda, você é Lois Lane”,  brincou Chloe se sentando na cama parcialmente descoberta, de frente para Lois.

“O médico disse que foi superficial, já estou pronta para outra... Mas me diga, como vão os preparativos agora que sua prima e organizadora da festa está inutilizável por algumas horas?”

“Nem pensei nisso, para falar a verdade, fiquei tão doida quanto Clark me ligou que esqueci de levar os convites para o correio, agora só na segunda..”

“De forma alguma, tem um cara no despacho chamado Joe, farei com que ele nos ponha no Fedex logo cedo pela manhã!”

“Lois, você não precisa de preocupar com isso, sério.. O importante é que você fique 100% logo.”

“Eu estou 99,9%! Com exceção de uma tontura aqui e ali, está tudo ótimo!” ela sorriu forçadamente se levantando da poltrona e colocando o laptop sobre a escrivaninha próxima, mas Chloe conhecia a prima melhor do que aquilo.

“Lois...”

“Ok, certo. Ainda tem uma britadeira quebrando cimento dentro de minha cabeça, mas não é nada demais! E o pior é que as coisas no Daily Planet não poderiam estar melhores, eu não merecia essa agora!”

“O que houve?”, Chloe perguntou curiosa ao ver os olhos da prima brilharem. Ou era uma grande matéria, ou grande confusão. Provavelmente ambos.

“Eu me bati com um editor ontem, Perry. Ele é novo editor da seção internacional, um cara de visão. E eu sei que eu só preciso de uma grande matéria para impressioná-lo e conquistar uma daquelas mesas lindas no 22º andar.”

“Bem, ao menos seu senso de ambição jornalística está no lugar”, Chloe comentou.

“Tem que estar”, defendeu-se Lois, “Se depender de Clark, ficaremos no porão até o próprio apocalipse.”

“Ficaremos?” Chloe tentou compreender o que Lois tentara dizer com aquilo, “Isso significa que você pretende levá-lo consigo para o 22º andar?”

Lois sentiu seu rosto enrubescer pelo comentário de Chloe. Não se dera conta de que se referia a ela e Clark como um casal, uma simbiose. Mas não pensara em momento algum em deixá-lo para trás. Mas como ela não admitiria isso para Chloe, a resposta era somente uma,

“Ele nunca sobreviveria naquele porão sem mim, acredite. Preciso mantê-lo por perto, para ter certeza de que a gravata está com o nó dado certo..."

Chloe apenas riu das palavras da prima. A conhecia bem o suficiente para entender que aquilo significava que Lois não conseguia se imaginar mais sem o Clark. Seria a recíproca verdadeira?

***

Chloe saiu do quarto da prima e desceu as escadas, dando de cara com Clark na cozinha. O fazendeiro cortava alguns temperos enquanto afiava a faca em seu próprio punho. Olhou para Chloe distraído,

“Como ela está?”

“Enlouquecendo por estar um dia inteiro na reserva...”,   a loira disse sorrindo enquanto se aproximava dele,   “Mas nada comparado a como estaria se o visse fazendo isso..”

Clark sorriu com um jeito moleque e agarrou uma batata, posicionando-a na tábua de verduras e cortando-a com destreza,  “Outro dia ela me pegou erguendo o tanque d’água cheio... Eu tive que dizer que estava vazio e usei minha visão para evaporar a água.”

“Ela ainda vai te pegar fazendo algo que você não vai poder evaporar...”,   Chloe pegou um pequeno pedaço de maçã, lançando-o na boca. Clark parou para encará-la.

“Foi você que me disse que isso poderia dar certo, lembra? Você tem tudo sobre controle?”

“Sim, você tem razão...”, ela concluiu dando de ombros, mas havia uma outra coisa que ainda a

intrigava. Clark percebeu que Chloe tinha algo para perguntar.

“O quê?”, ele se adiantou, fazendo-a seguir em frente.

“Ontem, você sentiu Lois te chamando. Aquilo não foi uma coincidência, Clark...”

“Eu sei.” Ele mesmo já se havia questionado sobre isso.  E estava convicto do significado. “Chloe...

Eu acho que isso pode realmente dar certo.”

Chloe fitou Clark e se deu conta que ele não se referia mais a apenas morar com Lois. De repente,

ela soube que a recíproca era sim verdadeira.
E sorriu ao se dar conta disso.

***

Lois permaneceu no quarto pela hora seguinte até que sentiu um forte cheiro de comida. O cheiro

cresceu em intensidade e ela olhou apreensiva em direção à porta do quarto quando esta se abriu. Era Clark, trazendo uma bandeja de prata consigo.

“Oh meu Deus...”, foi tudo o que Lois conseguiu dizer em um primeiro momento, incerta se aquilo era real ou não. Clark Kent, vestido em uma bermuda azul e camisa de algodão vermelha, os cabelos ainda molhados penteados para trás, trazia cuidadosamente a bandeja com seu jantar. Seus olhos azuis inundaram o quarto ao olhar para ela.

“Com fome?”, ele perguntou adentrando o quarto.

Lois apenas sorriu em resposta, se ajeitando junto aos travesseiros de modo a ficar sentada. Clark se aproximou dela colocando a bandeja sobre seu colo e sentou-se na lateral da cama, ao seu lado.

“Temos um filet Vasari grelhado ao molho de vinho do porto, um pouco de risoto temperado com arroz arbóreo, batatinhas paysanne com agrião... Mais um suco de pêssegos frescos, daquele que você gosta.”

“Parece delicioso...”, Lois respondeu sorrindo, sem ter coragem ou vontade de fazer qualquer piadinha naquele momento. Um jantar na cama. Aquilo era mágico. Clark estava sendo fofo durante todo o tempo, mas agora se transformara em um príncipe.

Clark fitou Lois e ficou feliz em vê-la sorridente com o jantar. Sabia que ela estava sem palavras, ou teria feito alguma piada ou coisa do tipo. No entanto, não o fizera, apenas olhava para ele e para aquela refeição maravilhosa com aquele sorriso que ele tanto gostava. O fez sentir-se no céu.

“Nem sei por onde começar...”, ela disse pegando o garfo e faca, mas então olhou séria para Clark.
“E você?”

“Oh, não estou com fome... Fiz apenas para você.”

“De jeito nenhum!” Lois cortou um pequeno pedaço do filé, mergulhando-o no molho. Ergueu o garfo na direção de Clark, oferecendo a ele,  “Vamos, olha que cheiro maravilhoso!”

Clark nem mesmo pensou em contrariar Lois. Abriu a boca instintivamente, comendo o pedaço da carne que Lois lhe oferecia. Mastigou olhando para a morena enquanto ela preparava uma garfada para si própria.

“Vamos ver...” ela levou um pedaço do filé à boca e fechou os olhos, “hmmmmmm... Smallville! Isto está divino!”

“Vai gostar da batata, prova a batata” ele sugeriu realmente se sentindo com os elogios de Lois.
Ela seguiu a instrução dele, mordiscando a pequena batata com agrião entre os lábios. Mastigou séria por um breve momento e encarou Clark,

“Você sabe que terá que fazer isso pelo menos uma vez por semana, não é?  Está delicioso, Smallville, delicioso...”

Lois ofereceu o pedaço restante da batata para Clark e ele mordiscou, totalmente à vontade em estar ali, ao lado de Lois, comendo junto a ela, das mãos dela. Se havia algum problema em sua vida, estava completamente esquecido naquele instante. Nada mais parecia existir além dos dois e daquele momento.

Lois levou mais um pedaço de carne à boca e acabou deixando um pouco de molho escorrer pelo

canto de seus lábios.

“Espera, tem um pouco de...” Clark não precisou concluir, Lois entendeu pelo movimento dele que

ela sujara o rosto.

“Onde?”

Ele levou a mão ao rosto de Lois e passou os dedos delicadamente no canto esquerdo da boca dela, limpando o molho. No entanto, a mágica já havia se instalado e o molho pouco importava.

Clark fitou Lois ainda com seus dedos próximos aos lábios dela e Lois devolveu o olhar mostrando que aquilo mexera com ela tanto quanto com ele. Clark então se inclinou lentamente sobre Lois e cobriu sua boca com a dele, lenta e apaixonadamente. Lois fechou os olhos e entreabriu os lábios, sentindo o perfeito encaixe da boca de Clark na sua, sentindo um calor subir pelo seu corpo quase que instantaneamente. Os lábios se separaram, embora seus rostos continuassem próximos, e foi a vez de Lois tomar a iniciativa, beijando novamente, desta vez sentindo o desejo lhe extrapolar os poros. Clark a segurou pela nuca dando ainda mais vigor ao encontro de seus lábios, sentindo sua espinha fibrilar com o sabor dos lábios molhados de Lois junto aos seus, devorando-se mutuamente.

O telefone tocou, cortando o barato dos dois. Lentamente eles se afastaram, um tanto atordoados pelo toque que soava a poucos metros dos dois. Ainda olhando para Lois, sua respiração tão alterada quanto a ela, Clark levou a mão até o aparelho na cabeceira da cama de Lois e o atendeu:

“Alô?... Oi Oliver...”

Lois deu um suspiro longo, recuperando o fôlego. Olhou para a comida e para Clark ao telefone, tentando recompor os pensamentos depois daquele beijo. Estava difícil.

“Ok, acho que posso te ajudar sim, espera só um instante”, Clark colocou a mão no microfone do

telefone e voltou-se para Lois, “Melhor você terminar antes que esfrie...”

Lois concordou com a cabeça e Clark sorriu para ela, saindo do quarto. Ele não queria sair, definitivamente.

E o sorriso de Lois enquanto bebia um gole do suco de pêssego só deixou claro que o sentimento era totalmente recíproco.

***


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