Some Hearts escrita por Kleia Santos


Capítulo 2
Capítulo 2




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                        Capítulo 2
Definitivamente, era o cara mais azarado da Terra.

Foi este o primeiro pensamento que ocorreu a Clark ao ter de esperar mais de 1 hora e meia para

usar o banheiro. Era mais um dia de trabalho, mas Lois parecia ainda não compreender que eles

ainda teriam uma longa viagem até Metrópolis. As desvantagens em se ter Lois por perto começaram a ficar claras, e a primeira delas era que ele não podia mais chegar ao trabalho em 2 segundos, embora a sensação de entrar em um carro dirigido por Lois chegasse muito perto disso.

Os dois já estavam morando sob o mesmo teto há mais de uma semana, mas para Clark, era como

se fossem anos. Lois transformara a casa completamente à sua maneira, privando-o da água

quente, momentos de silêncio e o pior: começara a experimentar a cozinha, se oferecendo para fazer o jantar. Clark ainda tentou ludibriá-la por um ou dois dias trazendo comida pronta, mas Lois se sentiu na obrigação de ajudar de alguma forma.
O resultado disso foram duas noites seguidas de dores de barriga para a morena.O teria sido para Clark se ele não fosse o homem de aço, mas se o castigo não chegava a afetar o seu físico, certamente corrompia seu paladar dia após dia.
Experimentar a comida feita por Lois era quase tão trágico quanto ter kriptonita em seu corpo.

Uma coisa, contudo, se mostrava favorável a Clark. Lois tinha um sono extremamente pesado.

Assim, quando não estava trabalhando até tarde no Daily Planet, encontrava-se mergulhada em seus próprios sonhos, dando ao Clark a liberdade de que ele tanto precisava para manter suas rondas por Metrópolis. Em quatro noites, conseguira deter um número recorde de bandidos pela cidade, evitou acidentes e salvou pessoas de uma dezena de outras situações difíceis. Estava ficando bom em captar problemas e resolvê-los, e havia melhorado significativamente após a chegada de Lois. Associou o feito ao fato de que Lois exigia um aumento na precaução, fazendo com que fosse mais rápido e preciso em seus salvamentos. De certa forma, ela o estava ajudando a se tornar melhor em sua missão. Ela não saber que ele era o borrão passou a ser mero detalhe.

Lois deu uma ou outra volta no jardim da fazenda, praticamente fazendo círculos no chão.

“Smallville!”, ela berrou impaciente olhando para o relógio, “Vamos nos atrasar!”

Clark superacelerou do quarto até a porta de entrada, freando antes que Lois pudesse ver o mero detalhe. Desceu os degraus para o jardim, arrumando a gravata, “Não nos atrasaríamos se você me deixasse tomar banho primeiro”

“E vê-lo terminar com a água quente? Nem pensar...”,

Lois entrou em seu Pontiac vermelho,

colocando os óculos escuros.Clark rodeou o carro entrando pelo lado do carona. Imediatamente passou o cinto de segurança, prendendo-o ao banco que já estava perfeitamente ajustado à sua altura. Percebeu então que Lois o observava rindo.

“O que foi?”, ele disse sem entender o porquê da risada.

“Nada” Lois continuou a rir, ligando o carro.

“Eu liguei para o pessoal da decoração para o  casamento da Chloe...  Você fez as medições do celeiro?”

Clark negou com a cabeça, “Ainda não, podemos ver isso hoje de noite quando voltarmos.”

“Bem, eu acho que não voltamos juntos hoje, preciso ver umas coisas da minha matéria e não sei que horas vou terminar.”

“Tudo bem, eu fiquei de ver a Chloe depois do trabalho...”

“Então ta”, Lois guiou o carro até a entrada principal da fazenda e parou, olhando para Clark,

“Com emoção ou sem emoção?”

Clark fitou Lois, já sabendo o que o esperava. “Que tal, com segurança?”

“Qual é, Smallville!” Lois disparou com o carro, fritando pneus ao deixar a fazenda Kent.

***

Os dois repórteres adentraram o Daily Planet em meio a uma euforia instalada. Todos comentavam sobre o salvamento realizado pelo Red Blue Blur na noite anterior, evitando que um vagão descarrilasse sobre os trilhos suspensos do metrô de Metrópolis. Lois seguiu com Clark até o elevador, pegando um jornal que estava sobre a mesa de algum repórter. Olhou para a reportagem da capa, que trazia a notícia sobre o herói e uma imagem do vagão.

“Olha só, o borrão age novamente”, comentou Lois                  olhando incrédula para o jornal, “não acredito

que não tem um fotógrafo decente nessa cidade capaz de pegar esse cara em ação...”

“Dizem que ele é bem rápido”, Clark disse dissimulado.

“Oh, eu sei que ele é rápido, Smallville. Mas ele está por aí durante toda a noite, não é possível que ele não pare para um café, ou para um cochilo... “, ela seguiu até o elevador chamando-o,  “... ou mesmo para se encontrar com a namorada, ou esposa...”

Clark riu do comentário de Lois, “acha mesmo que ele é casado?”

“Não realmente, mas com certeza ele deve ter alguém, certo? Quer dizer, alguém em quem ele

pode confiar plenamente, se abrir, compartilhar todo esse sucesso... Alguém o esperando em casa

todas as noites, fazendo de seu mundo um lugar menos solitário...”

O elevador chegou e Lois entrou com pressa, “nos vemos mais tarde, Smallville”.

Clark deu um leve sorriso para Lois antes das portas do elevador se fecharem. No entanto, permaneceu ali parado, pensando nas palavras dela.

***

No elevador, Lois se colocou ao lado de um homem enquanto observava o jornal.

“Se ao menos trocasse esse nome ridículo... ‘Red Blue Blur’? Por favor, parece mais aquelas bandas grunges dos anos noventa...”

“Nisso eu concordo com você”, afirmou o homem ao seu lado. Lois o fitou rapidamente. Tratava- se de um senhor branco, beirando os cinqüenta anos. Tinha cabelos desalinhados e parcialmente grisalhos, seu olhar severo por cima das lentes mostrava os anos de jornalismo que trazia nas costas. Lois sabia quem ele era, embora nunca o tenha conhecido pessoalmente.

“Perry White”, ele se apresentou olhando-a de cima a baixo rapidamente.

“Lois Lane”, ela disse em resposta, sorrindo educadamente para o novo editor da seção

internacional do Daily Planet.

“Já ouvi falar de você, jovem..”, Perry comentou com um sorriso malicioso, “dizem as más línguas que você e Tess Mercer não se batem.”

“Quem lhe disse isso foi muito generoso...”, Lois respondeu com um sorriso igualmente malicioso,

“Ela vai arruinar este jornal.”

“Parece que concordamos de novo...” as portas do elevador se abriram e Perry saiu, olhando para

Lois por cima das lentes dos óculos, “Muito bem, Lane, consiga um nome melhor para este cara e

talvez a gente forme um time para colocar este jornal dos eixos novamente...”

Perry sumiu da vista de Lois e ela sorriu contente por enfim encontrar um editor naquele jornal que tinha a cabeça no lugar. Voltou sua atenção para o jornal, pensativa a respeito do que Perry lhe havia dito.

***

A noite chegou rápida e Clark superacelerou até o Talon. Deu uma leve batida na porta, mas como

a viu entreaberta, acabou por entrar. Chloe estava próxima ao balcão da cozinha, organizando alguns envelopes. Olhou para Clark com um sorriso,

“Clark! Bem na hora para me ajudar com estes convites...”

Clark se aproximou e percebeu que ela estava organizando os convites de casamento.Os separava

por ordem alfabética, e Clark pegou um pequeno bolo a fim de ajudá-la.

“Tem certeza que toda essa gente vai caber no meu celeiro?”, comentou Clark surpreso com a pilha de convites.

“Lois me garantiu que sim, e olha que ela era contra fazer o casamento lá...” Chloe encarou Clark, sentindo uma vontade eminente em perguntar o óbvio, “E então, como está sendo morar com ela  novamente?”

Clark deu um longo suspiro, “É estranho... Ela me deixa doido quase todo dia, quase sempre queremos matar um ao outro... Mas eu gosto de tê-la por perto.”

“Bom, porque achei que você quisesse matar a mim depois de eu ter ajudado a Lois a cair de pára-quedas por lá...”

“Oh, eu queria sim..”, Clark confirmou franzindo as sobrancelhas, mas imediatamente desfez o olhar pensando em seus dias com Lois.
“Eu só acho que é bom ter alguém por perto depois de sair pela cidade fazendo o que faço...”

“Ainda que você não possa contar a ela a respeito?”

“Ainda assim...”, concluiu Clark com um sorriso discreto.

***

Lois chegou à fazenda mais cedo do que imaginava. Deixou suas coisas dentro da casa e saiu em direção ao celeiro com uma fita métrica expansível na mão, ainda vestida em seu conjunto de calça e terno e seus saltos de bico fino. Shelby a encontrou no meio do caminho e rodeou a morena feliz da vida, agitando seu rabinho freneticamente enquanto a seguia.

“Hei, garoto, cadê seu dono para medir o maldito celeiro? O pessoal da decoração precisa das medidas para providenciar os arranjos do teto...”

Lois entrou no celeiro arrastando uma longa escada. Shelby a acompanhou, se deitando a poucos metros da entrada. Lois seguiu com a escada, posicionando-a junto a uma das paredes laterais.

Deu uma boa olhada em volta enquanto tirava um papel e caneta do bolso. Deu uma rápida lida

no papel que dizia exatamente quais medidas eram necessárias para os arranjos. Colocou o papel e a caneta sobre uma mesa de ferramentas e subiu as escadas, expandindo a fita métrica. Subiu cerca de 3 metros na escada e posicionou a fita, gravando mentalmente a marcação feita.

“3 metros e quarenta, guarda esse número, Shelby”, ela brincou com o cachorro descendo as escadas. Arrastou-a novamente, desta vez para a parede junto à outra porta de acesso do celeiro,

“Eu não sei o que tinha na cabeça quando aceitei organizar esse casamento aqui...O que você

acha, Shelby? Não se omita que nem o seu dono, vocês não são tão parecidos...”

Shelby latiu em resposta a Lois, o que a fez pensar se ele estava concordando com ela ou se negando a ser parecido com Clark.

“Cachorro esperto...”, concluiu antes de subir a escada novamente. Olhou para o alto e começou a subir, um pouco mais alto do que a altura anterior. Expandiu a fita métrica novamente e tentou identificar a nova altura, mas ela ainda teria que subir um degrau a mais.

Lois colocou o pé direito no degrau acima, logo depois o esquerdo. O que ela não pôde perceber,

no entanto, foi que aquele degrau estava com a lateral parcialmente desparafusada. O pedaço de madeira se soltou, e Lois não conseguiu firmeza com os saltos que calçava. Caiu direto no chão, amortecida apenas por uma finíssima camada de feno que forrava o solo. A pancada foi suficiente para que perdesse a consciência, e Shelby correu até ela na mesma hora. Lambeu sua mão tentando reanimá-la, sem sucesso. A empurrou de leve com a cabeça, e ainda assim ela não reagiu. Shelby correu para fora do celeiro, latindo alto, mas Clark não estava lá, não havia ninguém por perto. O cachorro então retornou para o celeiro, para o lado de Lois. Sentou-se ao lado dela de prontidão e deu um leve gemido em lamento ao que acabara de acontecer.

***

No Talon, Clark ainda ajudava Chloe com alguns detalhes do casamento quando o herói virou sua

cabeça intrigado para a janela, como se tivesse escutado algo.

“O que foi?”, perguntou Chloe ao perceber a reação de Clark, mas ele não sabia bem o que era.

“Engraçado... Por um momento eu achei ter ouvido Lois me chamar.”

“Eu acho que vocês ainda não chegaram a esse ponto”, brincou Chloe fechando uma pequena caixa cheia de convites, “Esses eu envio amanhã. Jimmy ficou de enviar o resto”

Clark não prestou muita atenção à última frase de Chloe. Ainda estava intrigado com aquele “Smallville” que soara em sua cabeça segundos atrás. Mas não poderia ter sido real, afinal Lois estava no Daily. Certamente ele estava tendo ecos das inúmeras vezes em que ela o chamava durante o dia. Ficaria louco um dia, ele sabia bem disso.

“E pronto, acho que terminamos”,  disse Chloe observando Clark, “Você está bem?”

“Sim, sim”, ele disse saindo do devaneio e caminhou na direção da porta, “Eu já vou indo. Ainda tenho uma ronda para fazer...”

“Certo, qualquer coisa eu te ligo, ok?  Manda lembranças a minha prima por mim..."

Clark respondeu com um sorriso e deixou o Talon, sob o olhar tranqüilo de Chloe.

***

Já eram quase duas da manhã quando Clark desacelerou na entrada da fazenda. Olhou para o

carro de Lois estacionado em frente ao jardim e as luzes acesas da casa. Estaria acordada ainda?

Clark não teve mais tempo de pensar nisso, pois foi interrompido por uma sessão de latidos de Shelby.
O cachorro correu em sua direção nervoso, latindo intensamente.

“Shelby?”, Clark o encarou abismado, “O que foi, garotão?”

Shelby continuou a latir e correu até junto de seu dono mordendo a perna de sua calça.

“O que está acontecendo, amigão?” Clark questionou intrigado ao ver o cachorro puxando-o pela calça. Shelby então parou novamente e latiu voltando-se para o celeiro. Clark se deu conta de que a luz de lá estava acesa também. “Aconteceu alguma coisa no celeiro, é isso? Cadê a Lois?”

Shelby latiu forte correndo em disparada para o celeiro e Clark sentiu um frio no estômago ao ver

que o cachorro reagira ao nome de Lois. Correu atrás dele adentrando o celeiro como uma bala.

Foi então que avistou Lois inconsciente, caída sobre o feno, e Shelby latindo enquanto a rodeava.

“LOIS!!!”, Clark berrou se ajoelhando diante dela. Não havia sinais de sangue, e Clark olhou todo o corpo dela, procurando qualquer sinal que indicasse o que havia acontecido. “Lois, fala comigo! O que houve?”

Clark olhou para a escada à frente dos dois e percebeu o degrau rompido ao alto, mais a fita

métrica caída junto à parede.Entendeu imediatamente que ela havia caído enquanto mediaa parede e levou a mão ao bolso da calça, agarrando o celular.

“911? É uma emergência!”, disse enquanto passava a mão pelo rosto de Lois, sabendo que por mais poderes que tivesse, não deveria mexê-la.

***

Lois sentiu uma forte pontada na cabeça ao abrir os olhos. Sua vista nublada foi ganhando definição aos poucos, e ela se deu conta de que estava em um quarto de hospital. Pôde ouvir sirenes ao fundo e um cheiro de éter que lhe era inconfundível. Rapidamente, tudo o que ocorrera voltou á sua mente. Shelby, o celeiro, a escada... a queda.

Deu duas piscadas e sentiu todo o seu corpo, o que era um bom sinal. Sua mão direita, no entanto, estava tomada por um calor intenso, e Lois notou que alguém a estava segurando. Girou a cabeça devagar para o lado e viu aquele homem debruçado sobre sua cama, aparentemente dormindo.

Seu rosto estava voltado para baixo apoiado por um dos braços, mas Lois não teve qualquer dúvidas de quem se tratava.

“Clark?..” ela o chamou baixo, ainda recuperando o seu senso de norteamento.

Clark ergueu a cabeça em um sobressalto, estava mesmo cochilando. Olhou para Lois e imediatamente sorriu ao vê-la acordada.

“Hei...”, ele disse quase sussurrando, e ergueu seu tronco sentando-se direito na cadeira, “Como se sente?”

“Como se o globo do Daily Planet estivesse girando dentro de minha cabeça...”, ela disse fazendo piada de seu estado.

“O médico disse que a pancada foi apenas superficial, você vai ficar bem. Só precisa repousar por uns dias...”

“Ótimo...”, Lois pareceu desapontada em ouvir. Tinha tantas coisas para fazer, e ainda o casamento de Chloe. Ficar de molho não era a melhor opção no momento.

“Vamos dar conta de tudo, não se preocupe”, Clark disse como se tivesse lendo os pensamentos dela. Lois o olhou surpresa, mas não entrou em detalhes. Ainda sentia a mão dele segurando a sua, como se não fosse soltar mais.

“Por quanto tempo eu fiquei fora?”, ela perguntou percebendo que já era dia do lado de fora do quarto.

“umas seis horas da hora que te encontrei... Mas o Shelby ficou com você o tempo todo, ele cuidou para que nada mais lhe acontecesse.”

“Eu prometo fazer um super bolo de carne pra ele"
Lois sorriu feliz ao ouvir Clark.
Ele continuou a fitá-la, e seu olhar não podia mais disfarçar o quanto se sentia feliz em vê-la bem, e estar ao lado dela.

“Me desculpe, Lois...” ele disse em seguida, “Eu deveria ter voltado mais cedo.”

“Como você poderia saber? Além do mais, eu não devia subir em escadas de salto.. Não sei no que

estava pensando...”

Clark, no entanto, estava convencido de que ele podia sim saber. Ele a ouviu, a sentiu em seu peito pedindo por ajuda. Ele podia senti-la a quilômetros e quilômetros de distância, e não era como às pessoas pedindo ajuda. Era algo diferente. Ela era diferente. Era especial.

“Lois...”, ele passou a mão pelos cabelos dela, “Eu não sei o que faria se algo tivesse lhe

acontecido.
Eu só queria que você soubesse disso...”

Lois encarou Clark tocada pelas suas palavras e deu um sorriso tímido para ele. Ele respondeu depositando seus olhos azuis sobre ela, e Lois soube naquele momento que tudo ficaria bem.

Era apenas o começo.

***


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