Sei que normalmente que narra essa história é o bobão do meu irmão, mas hoje eu que vou contar minha história e se você não gostar se vê comigo depois, mas vamos lá.

...

Eu não lembro em que momento conheci o Pedro, claro que sempre fomos irmãos, mas os irmãos mais novos nunca lembram em que momento de suas vidas eles criaram laços com seus irmãos mais velhos, mas eu lembro desde sempre que o Pedro sempre foi um irmão coruja. Quando eu nasci ele tinha apenas um ano e meio, mas nossos pais já diziam que ele cuidava de mim como se eu fosse a coisa mais preciosa dele, quando eles diziam isso eu ria, mas no fundo amava meu irmão por isso.

Sempre soube que um dia ele entraria em uma encrenca na qual não aguentaria as consequências, ele nunca teve a cabeça muito no lugar, sempre inventando ideias extraordinariamente malucas que sempre o colocavam em confusões, tipo da vez que ele tentou pular o muro da escola para jogar futebol na rua e ficou preso pela camisa na grade da escola, todos achamos que ele nunca tentaria isso de novo, mas um mês depois ele bolou uma forma de não ficar preso e foi jogar futebol, ele levou sua quinta advertência naquele ano, mas nem se importou.

Ao saber que ele havia levado um tiro achei que fosse alguma brincadeira boba dele, mas mesmo sendo ele em questão eu percebi que ele nunca faria algo do tipo conosco, eu pude sentir que ele estava em perigo, algo de irmão sabe? E quando o vi naquela cama de hospital a beira da morte, era como se uma parte de mim tivesse se quebrado, meu irmão que sempre cuidou de mim como se eu fosso sua coisa mais importante estava ali, machucado a ponto de não conseguir acordar e eu não podia fazer nada, era torturante demais.

Não me lembro ao certo de quanto tempo ele ficou em coma, assim que ele acordou fiquei bastante aliviada e com um pouco de medo, será que ele havia aprendido a lição e ficaria mais quieto ou aquilo só o deixaria mais audacioso? Era difícil ter que me preocupar com ele toda vez que Pedro dava uma escapada de casa, ou sumia da escola com a Hope. Se eu não podia cuidar dele como ele cuidou de suas duas irmãs, como eu poderia ser digna desse amor que ele tinha por nós?

Quando meus pais me contaram sobre a viagem fiquei transtornada, não queria deixar meus amigos ou toda história que construí naquele lugar, e de alguma forma eu sabia que meu irmão arranjaria um jeito de ficar, mas o que isso representaria? Pedro longe dos nossos pais seria algo seguro? Eu não estava a fim de ser a responsável por ele durante o próximo ano.

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– Você deve ir. – Falou Hope. Ela havia se tornado uma grande amiga de uma hora para outra, o que foi engraçado já que quase não conversávamos, mas ela me entendia como ninguém.

– Por que acha isso?

– Por algum motivo você decidiu que tem que estar presa ao Pedro e por isso você se está se limitando a descobrir novos territórios. Mesmo com tão pouco tempo sendo amigas eu te conheço bem o bastante para saber que você não gosta tanto de estar em um lugar por muito tempo e está doida para ir com seus pais, mas não quer ir porque sabe que terá que deixar seu irmão.

– Uau. – Entendi porque meu irmão gostava dela, ela sabia decifrar as pessoas só de olhar diferente do Pedro que precisava de pistas para entender os outros, eles se completavam.

– Então você tem que ir, e o Lucas vai entender se você contar isso a ele.

– Por que eu contaria isso a ele? – Perguntei sentindo meu rosto esquentar.

– Da para sentir a química entre vocês dois e ele a forma que ele vem agindo nos últimos dias mostra que ele quer tomar uma decisão importante.

– Você acha que ele vai...

– Te pedir em namoro? Sim.

– Isso só vai tornar as coisas mais difíceis.

– Realmente, mas a escolha é sua, ele é um bom garoto, mesmo sendo um pouco metido. Só que não adianta você se desprender do seu irmão e se prender em outra pessoa, se você quer ser livre então você já sabe a resposta.

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Lucas me levou até o terraço do meu prédio, o Sol estava se pondo, eu já sabia o que aconteceria, mas o segui mesmo assim. Ele parou e me olhou com aquele olhar travesso, eu entendia porque meu irmão o via como seu melhor amigo, os dois tinham o mesmo olhar de “tome cuidado com meus movimentos”.

– Você me deve uma dança. – Falou ele.

– Devo? Não me lembro disso. – Falei rindo.

– Eu acabei de inventar isso, achei que seria mais fácil de te convencer.

– Imaginei. Mas como iremos dançar sem uma música?

– É só usar a imaginação por três minutos, afinal vai ser uma dança ao pôr do Sol, tem como ser mais romântico?

– Acho que não. – Ele realmente estava se superando, isso fazia a situação se tornar ainda pior. Lucas segurou minha mão e me puxou para a dança com música imaginaria.

– No jogo da conquista tem passos que são infalíveis. – Continuou ele.

– É mesmo? E quais são?

– Primeiro a gente pega a na mão e a beija. – Foi o que ele fez.

– E depois?

– Depois nós nos aproximamos lentamente da boca. – Falou se aproximando, achei que ele iria me beijar, mas só beijou o canto da minha boca. – Mas ainda não.

Então ele me girou e quando parou ficamos a poucos centímetros um do outro.

– Nesse momento elas já se entregaram. – Continuou, dessa vez eu sabia que ele me beijaria, fiquei tentada a deixar, mas eu não podia machuca-lo depois, então encostei meu indicador em seus lábios como um sinal para que ele parasse, ele me olhou confuso.

– Desculpa Lucas, mas eu não posso. – Falei tentando segurar as lágrimas. – Eu não posso fazer isso com você.

Corri até as escadas e fui para minha casa, minha última visão dele foi ele parado com um olhar de cortar o coração.

...

E foi por isso que eu disse não, eu o amo, mas não posso me prender a ele, ou ao Pedro, sempre o amarei, ele é meu irmão e isso nunca mudara, mas eu tenho que viver a minha vida.

Desculpa Lucas.

Desculpa Pedro.

Mas eu tenho que ir.