Amores de Ensino Médio escrita por Pedro Campos


Capítulo 12
Lei de Murphy


Notas iniciais do capítulo

Mesmo eu sendo um pouco suspeito para falar, considero esse um dos melhores capítulos que já escrevi, confira:



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Certa vez vi um filme onde uma garotinha se chamava Murphy, ela ganhou esse nome por seu pai ser um físico, mas segundo ele não tinha a ver com a lei em si, enfim, segundo a lei, quando algo tem que dar errado então vai dar. Bem, foi exatamente nessa lei que pensei no final do dia.

...

Inicio de dezembro, última semana de aula, como eu estava empolgado. Se eu fosse levar em conta que já tinha terminado o primeiro ano durante o coma, então era a segunda vez que isso estava acontecendo, ou seja, eu podia ficar bem empolgado. Pensando bem agora, depois de bastante tempo pude perceber vários buracos durante o coma. Se eu tivesse notado antes talvez eu tivesse saído mais rápido daquela situação, ou a piorado, eu não poderia saber.

Como fui um bom aluno e me esforcei mais do que o normal para passar de ano mais cedo, eu já estava quase oficialmente de férias, e meu número de faltas não era grande, por isso eu já podia relaxar em casa, e foi isso que fiz. Todo o dia Hope vinha me ver, era estranho nunca ter ido a casa dela, mas segundo ela, sua avó, mesmo sendo uma pessoa super agradável, não se sentia muito a vontade com pessoas em sua casa, eu respeitava isso, mas era impossível não usar a imaginação para pensar que naquela casa haviam coisas macabras.

Eu já sabia que Hope viria então meu quarto já estava impecável, e eu fazia os últimos ajustes para uma sessão de filmes com ela, porém meus planos de terminar a arrumação rápida foram estragados por duas batidas na porta, àquele era o código de reunião de família, ou seja, alguém estava muito ferrado, ou teríamos mudanças na casa. Quando cheguei à sala Giovana já estava esparramada no sofá e Maria Clara estava deitada no colo dela, então me sentei na ponta colocando as pernas da Clara sobre as minhas.

– Tem alguma ideia do que está acontecendo? – Perguntei a Giovana, mesmo sabendo que seria mais fácil Maria Clara ter alguma resposta do que ela.

– Estou tão confusa quanto você. – Respondeu sem ao menos olhar-me enquanto fingia estar dormindo.

Meus pais chegaram à sala e puxaram duas cadeiras ficando de frente para nós três.

– Estamos ferrados? – Perguntei logo.

– Não que eu saiba. – Respondeu minha mãe.

– Se estamos, por favor, não corte minha lasanha. – Tentei logo negociar.

– Pedro, vocês não estão ferrados. – Interrompeu-me meu pai.

– Ufa. – Fiquei aliviado. Meu pai era mais flexível que minha mãe, ela podia dizer que não estávamos ferrados só para enganar a gente, mas se meu pai dizia que não estávamos era a pura verdade. – Mas então por que essa reunião de família.

– Antes do acidente que você teve, nós estávamos prestes a tomar uma decisão importante, mas com você em coma tivemos que adiar um pouco as coisas.

Giovana se sentou direito com os olhos arregalados.

– Não, por favor, não diga que é isso.

– Isso o que? Do que eu não estou sabendo. – Aquilo com certeza não me cheirava bem.

– Seu pai recebeu uma oferta de emprego em Minas Gerais. – Começou minha mãe. – Como você sofreu aquele acidente ele pediu para ficar mais um pouco, mas agora o chefe dele está o pressionado, então nós iremos nos mudar para lá.

Eu fiquei sem chão. Mudar-me significaria deixar a Hope, meus amigos e tudo o que eu havia construído ali, mesmo que tudo significasse um pequeno esquema de tráfico de doces na escola, ainda era bastante coisa.

– Não, eu me recuso. – Falei mesmo sabendo que não tinha escolha.

– Pedro você não tem escolha. – Falou meu pai. – Nenhum de nós tem, eu sei como vai ser difícil para vocês essa mudança, mas temos que ir.

– Não, isso é loucura, depois de tudo que vivemos aqui? Toda nossa família, nossos amigos, todos estão aqui, isso não é justo. – Tentei, mas pela forma que Giovana estava calada ela já havia tentando argumentar e havia perdido, e se ela perdeu isso queria dizer que eu também perderia, mas eu não podia aceitar aquilo.

– Pedro insistir só vai deixar isso mais difícil. – Continuou meu pai. Mas eu não podia desistir ainda.

– Um ano. – Ofereci. – Só quero um ano. Pela forma que estão dizendo você tem que ir logo certo pai? Mas só temos pouco tempo até o recomeço das aulas, então teremos que contar com transferências, procura por escolas boas e tudo mais e isso só vai atrasar a mim e a Giovana, mas se ficarmos até o final do ano que vem então teremos tempo suficiente para pensar nisso tudo e ainda poderemos nos despedir de todos.

Minha real intenção era tentar enrola-los durante esse ano e conseguir mais um, até eu completar dezoito anos o que era questão de dois anos.

– E vocês pensam que vão poder ficar sozinhos aqui? – Interrompeu minha mãe. Ela tinha certa razão, eu não tinha pensado nisso, mas Giovana nos salvou.

– Podemos ficar com a vovó, ela sempre quis que morássemos com ela, e por ser só por um ano não vai ser nada demais.

– Ela tem razão. – Falou meu pai. – Sua mãe ama esses dois e acho que não veria problema em cuidar deles por um ano, eles já são grandes e mais responsáveis, não vão dar muito trabalho.

– Não sei. Temos que pensar melhor nisso. – Falou minha mãe. Por ser o mais velho por questão de minutos eu e minha mãe tínhamos uma ligação desde sempre, pude ver no seu olhar que ela cederia, mas iria fazer um pouco de suspense antes.

– Bom, já é um grande avanço. – Por dentro eu já comemorava a pequena vitória, a guerra não estava vencida, mas ao menos de uma batalha saímos com a vitória.

– Eu, seu pai e a Maria Clara viajaremos no inicio de janeiro e querendo ou não os dois vão com a gente ao menos para conhecer o lugar, acho que se vocês gostarem do lugar será mais fácil de aceitar.

– Temos um acordo então? – Perguntei.

– Veremos. – Respondeu minha mãe.

...

Hope chegou segundos depois de eu terminar a arrumação. Ela entrou no meu quarto com várias sacolas cheias de guloseimas para comermos durante o filme, mas pude ver que por trás de seu sorriso ela escondia alguma coisa. Depois de um breve beijo de boa vinda a interroguei.

– Aconteceu alguma coisa? – Perguntei.

– Depois do filme conversamos. – Propôs ela.

– Você que manda. – Falei desconfiado.

A escolha da vez foram os clássicos, o box completo de Poderoso Chefão e depois Cidadão Kane por indicação de alguns sites. A parte ruim de ser jovem no século XXI é que não sabíamos a razão de serem filmes tão aclamados, já que não sabíamos aprecia-los da mesma forma que os mais velhos, portanto na maior parte do tempo foi gasto com beijos sutilmente interrompidos por Maria Clara que obviamente era enviada pelos meus pais para nos vigiar. Ao final do último filme desliguei a televisão e nós dois ficamos deitados na cama. Hope ficou olhando para o teto junto comigo, o famoso teto.

– Esse é o teto que você tanto falava? – Perguntou ela.

– É ele mesmo.

– O que ele tem de tão especial?

– Na época eu não tinha ninguém para compartilhar meus sentimentos, mesmo namorando Nathalia não era um relacionamento tão aberto, então eu ficava olhando para o teto e compartilhava meus sentimentos como se olhando para ele estivesse olhando para Deus.

– Então era como uma oração?

– Um tanto informal, mas sim.

– Então não era para o teto, era para Deus.

– Sim.

– Isso é fofo.

– É?

– Sim, é como ter uma intimidade maior com ele, você se abre para ele com facilidade, isso é lindo. Você ainda faz isso?

– Depois do coma tudo mudou, eu falo com Deus em pensamento a todo o momento.

– Ele te ouve?

– Ele me trouxe você.

– Nossa. – Ela olhou para mim com um sorriso e me beijou, mas se afastou e sentou-se.

– O que houve? – Perguntei.

– Tenho que te contar uma coisa.

– Lá vem. – Me sentei com ela e esperei.

– Eu tenho uma tia que mora em Boston, ela é filha da minha avó, não temos muito contato, mas ela está doente. – Hope respirou fundo. – E ela não tem ninguém lá para cuidar dela, por isso minha avó vai ter que se mudar por tempo indefinido para Boston e cuidar dela.

– Espera... Isso quer dizer...

– Que eu vou para Boston.

...

Hope foi embora um pouco depois de deixar a bomba, disse que tinha ir para casa, eu entendia, ela estava muito abalada, pude ver nos seus olhos desde cedo que tinha algo mexendo com ela, mas não imaginava que fosse algo tão grande. Eu queria ficar junto com ela, tentar fazer com que ela ficasse, mas doía demais saber que não tinha jeito, a avó de Hope era a única responsável legal dela, portanto ela tinha que ir, nada que eu fizesse mudaria isso. Nesse momento comecei a entender o que era ser um “Pedro 3.0”.

O Pedro 1.0 era movido cegamente pelos sentimentos.

O Pedro 2.0 era confuso demais para seguir em frente.

E agora eu era movido tanto pelos sentimentos quanto pela lógica. Não foi fácil aceitar que a Hope iria embora, mas eu também não me mantive na falsa fé de que poderia fazê-la ficar. Tentaram me afastar dela, mas eu dei um jeito de ficar, então deram o xeque mate a levando. Era como na lei de Murphy.

Quando algo tem que dar errado então vai dar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado do capítulo, a história está indo para sua reta final, mas não se reprima, pois já estou preparando a continuação :D



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