Pequenos Remendos escrita por Yasmin H Silva


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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Os cabelos castanhos caiam sobre sua face e a emolduravam, o destaque de seu rosto pendia entre seus lábios vermelhos e o brilho singelo de seus olhos amendoados. A jovem era uma vendedora. Em suas estantes podia-se ver vidros coloridos que variavam do mais lindo sentimento ao pior gosto da amargura.

Potes amarelos cheios de alegria, verdes lotados de esperança, azuis carregando lembranças, cinzas com o ciúme e vários outros sentimentos. Tudo isso preenchia a vista daqueles curiosos o suficiente para entrar na lojinha da pequena menina. Mas seus mais interessantes e cobiçados produtos era os corações da cesta, eles vinham cheios de amor.

Aquela era uma manhã fria, andava pela estrada do bosque como todas as manhãs, vendendo seus corações. Caminhava pelos vales com o perfeito vestido bordado e a cabeça nas nuvens. O céu, incrivelmente, sempre estava ciano e naquela manhã ela então preferiu correr. Apressou seu passo e deixou para trás qualquer coisa que tirasse seu foco.

Correu e caminhou, parou e descansou, e mais uma vez acelerou. Escalou com voracidade o morro e se deparou com o jardim de flores. Tulipas, Jasmins e pequenas Margaridas enfeitavam até onde a vista alcançava, enchendo aqueles campos de alegria. Jogou-se no chão, esticou os braços e brincou como na neve que nunca vinha. A relva baixa e ainda molhada de orvalho era aconchegante, divertida e macia.

Fechou os olhos suspirando, o ar que lhe faltava voltava com agilidade e se misturava ao doce cheiro das flores. Então o barulho de um cavalo trotando a despertou, os olhos se fixaram em um lindo animal negro que passava a poucos metros dali. Pois-se de pé rapidamente e, segurando firme a cesta, correu atrás do rapaz que graciosamente montava seu animal preferido.

– Hey, você. Espere. – ela dizia entre os suspiros esperando que suas palavras fossem altas o suficiente para serem ouvidas.

O jovem olhou para trás e arreou o cavalo, seus olhos escuros analisaram calmamente a menina que aproximava feliz e com um sorriso no rosto. Ele passara tão alheio a paisagem a sua volta que nem a percebera entre aqueles campos coloridos.

– Posso lhe ajudar? – perguntou quando a pequena menina chegou ao seu lado.

– Eu me chamo Lili e... – balbuciou a garota prendendo seus olhos no rosto do rapaz. A pele levemente bronzeada, os cabelos negros bagunçados e o sorriso encantador. Um conjunto de características que fizeram as bochechas da pequena tomarem um tom rubro gritante e se atrapalhar nas palavras – ...você não gostaria de comprar um coração?

Aquela pergunta criou uma incógnita na mente do rapaz. Ele desceu do cavalo e Lili esticou-lhe a cesta para que pudesse visualizar cada um deles. Frente a frente com a menina, ele sorriu.

– Eu já tenho um.

– Ah, tudo bem então. – Lili respondeu sorrindo de lado procurando com o olhar o coração do rapaz, mas não conseguiu encontra-lo. Ele era fechado.

– Mas diga-me, a senhorita também conserta corações?

Os olhos da menina se encheram de vida e um sorriso largo tomou conta de seus lábios enquanto ela concordava rapidamente com a cabeça. Colocou com cuidado a cesta no chão, tinha medo de quebrar um daqueles preciosos corações. De dentro de uma caixinha ela tirou um coração remendado, ele tinha tantas marcas de costura e pedaços diferentes.

– Esse é o meu coração, senhor.

O rapaz sentiu algo lhe incomodar, abaixou-se na altura da jovem e pegou com cuidado o coração. Ele brilhava fraco em diferentes tons de vermelho, era tão diferente daqueles corações cheios de vida que pulsavam na cesta.

– Ele está tão danificado, porque não troca por um dos que vende? – ele indagou surpreso ainda com o coração da menina em mãos, sentindo o bater devagar.

– Nenhum desses corações serve para mim – ela soltou uma risada baixa pegando seu coração e olhando com um brilho especial nos olhos – Eu gosto do meu coração, ele tem muitas lembranças.

– O que quer dizer?

– Esse coração é especial, nele tem um pouco de vários corações importante na minha vida. De pessoas que vieram e foram embora, daqueles que confiaram em mim para guardar um pedaço delas junto a mim.

– Isso é interessante. Então Lili... – começou a falar levantando-se e pegando algo guardado junto do cavalo, algo que a menina pode identificar quando viu a coloração vermelha – ... você poderia conserta-lo?

Lili esticou e tomou em mãos um quebrado coração, estava partido no meio, faltava partes vitais para seu funcionamento. A jovem levantou o rosto com a tristeza facilmente perceptível, o rapaz deu um sorriso sem graça sabendo o sentido daquele olhar.

– Senhor, seu coração está dividido... – ela engoliu seco antes de continuar – ... não pode amar!

Um suspiro foi ouvido, ele apenas concordou com a cabeça. Já sabia disso, uma vez estivera cheio de amor, tanto que seria capaz de qualquer coisa, mas ele teve seu coração quebrado. Havia confiado na pessoa errada.

– Então está dizendo que não é possível conserta-lo?

– Vai ser difícil mas vou fazer o que puder. – ela disse abaixando e colocado-o dentro da cesta – Passa amanhã na minha loja, ela fica logo depois daquela curva lá em baixo.

– Está bem, obrigada pequena Lili.

O rapaz subiu novamente no animal e a jovem deu meia volta, agarrou-se novamente a cesta e correu pelos campos floridos em direção a sua casa. Em poucos minutos ela chegou, não havia ido tão longe naquela manhã mas ganhara um missão ainda mais valiosa do que vender seus corações; consertar um coração.

As delicadas e pequenas mãos pegaram ambas as partes, colocou-as sobre um pano macio e analisou de perto. Não sabia como alguém era capaz de tratar algo tão precioso de outra pessoa daquela forma. Abriu a gaveta da mesinha e tirou de lá uma agulha e linha vermelha, faltava um pedaço.

Queria tanto ajudar o rapaz, mas não podia quebrar outro coração para consertar o dele. Ela tinha que pensar. Seus olhos passaram por todo o local e fixaram-se em sua caixinha, de repente uma ideia maluca veio em sua mente.

Correu até seu coração, levou-o para a mesa e lá mesmo tirou uma parte dele. A parte não remendada, a parte que sempre fora sua, desde nascença. Com aquele pedaço ela poderia reparar o coração do jovem, ele poderia voltar a amar.

Lili pegou a agulha com linha vermelha, tirou os pedaços danificados e, juntamente com o seu coração, costurou tudo que estava partido. Foram algumas boas horas ali, sentada com o objeto mais precioso em mãos, e então ela finalmente conseguiu. O coração do rapaz estava inteiro, batia e iluminava calorosamente a sala já escurecida pela aparição da lua. Juntou os cacos restantes e guardou em sua caixa, naquela noite ela dormiu feliz.

Na manhã seguinte o sol invadiu sua janela, atravessou as bordadas cortinas brancas e iluminou o rosto da menina. Alguém batia a porta, levantou-se e correu descalça para ver quem chegara. Quanto abriu pode ver ali o rapaz do dia anterior, com um sorriso no rosto ela correu e buscou uma caixa enfeitada. Dentro o rapaz encontrou o lindo coração, parecia tão vivo e ativo, cheio de amor e como se nunca tivesse sido partido.

– Obrigado menina, como posso lhe pagar seu serviço?

A jovem levou a mão ao peito, sentiu o seu bater e fechou os olhos lembrando da noite anterior. O momento onde ela tinha juntado os cacos danificados do rapaz e costurado mais lembranças junto ao seu coração. As lembranças dele, daquele que lhe tinha confiado seu bem precioso já destruído.

– Não precisa pagar, apenas peço que cuide dele. Pois ele possui muito de mim.

Com um sorriso no rosto o rapaz concordou, despediu-se e seguiu viagem. Lili caminhou até a lojinha e abriu a porta, sentou-se no banco e esperou que o tempo passasse. Até que uma nova figura entrasse em seu caminho.

– Você não gostaria de comprar um coração? – ela disse.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentam se puderem. Obrigada!!! ^^