A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 35
Final. Parte um


Notas iniciais do capítulo

Preparem os lenços pessoal. Ai que saudade já estou sentindo. Um abraço bem apertado para todos vocês meus querido e fiéis leitores.



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Dez anos depois.

A colina floresce. A floresta está viva de novo, cheia de sons, de verde e vida. Não existem mais áreas proibidas e cercas impondo limites.

Estou sentada sobre a grama verde e o sol de verão é gostoso. Me aquece, levando embora as tristes lembranças do inverno. De onde estou vejo uma boa parte do distrito 12. O portão da Vila dos Vencedores foi derrubado e agora tem flores plantadas em seu lugar. As pessoas foram voltando aos poucos e reconstruindo tudo.Temos uma nova escola, um açougue, Peeta tem uma loja de pães, doces e bolos confeitados, ele adora trabalhar lá e eu adoro seu cheirinho de canela. O comércio se ergue novamente, agora com mais facilidade de compra e venda. Uma parte do 12 se tornou rural produzindo carne, leite e derivados e toda a hortaliça.

Prim é uma médica e trabalha no novo hospital com minha mãe. Mamãe se sente feliz em ser útil ajudando e confortando os pacientes. Ela se tornou uma bela moça, mas as vezes vejo uma sombra de tristeza em seus olhos. Ela ainda gosta das fitinhas.

Bem ao pé da montanha ainda se pode vê escombros e uma clareira enegrecida. Ali a relva e as plantas nunca crescem. É como uma memória para nos lembrar do que aconteceu nos chamados Anos Escuros. É assim que as crianças aprendem na escola sobre os jogos vorazes e a rebelião que libertou o povo da tirania da Capital.O Tordo nunca é mencionado.Elas aprendem sobre os Anos Escuros e que houve uma guerra, mas não aprendem sobre Peeta e eu. De certo ponto fico feliz com isso.Elas são crianças e não precisam se preocupar com isso agora.

A neta de Snow tornou-se legalmente presidenta e criou um governo de ajuda mútua. Desse modo não só a Capital, mas todos os distritos estão se recuperando. Ela é generosa e muito ponderada. Que, diria...?

Johanna foi embora para o distrito 3 junto com Beetee. Ele foi convidado para trabalhar no departamento de ciências e cyber-tecnologia e ela decidiu fazer carreira no exército. É bem a cara de Johanna.

Respiro fundo sentindo o ar muito fresco e claro de verão. A voz de Pérola chega até meus ouvidos, com a firmeza e a serenidade herdadas do pai, seus cachos loiros balançam divididos por fitinhas coloridas, dadas pela tia Prim. Ela canta a mesma canção que eu cantava para minha irmã e segura os bracinhos de um garotinho de quatro anos de idade, de olhos cinzentos e cabelo negro. São meus filhos. Meus e de Peeta. Sorrio ao me lembrar de como ele chorou e riu emocionado ao pegar o bebezinho recém nascido nos braços, dizendo que se parecia comigo.

Eles brincam inocentes onde um dia foi um cenário de morte, dor e destruição. E me sinto triste ao me lembrar de como relutei em ter o pequeno Karlo. Por pensar que o mundo ainda era um lugar cruel para as crianças,que o futuro ainda era algo incerto, mas o olhar de felicidade de Peeta compensou todos os meus medos. E ver as crianças agora, brincando, com seus rostos risonhos e coradas, percebo que estava errada e que o mundo ainda pode sim, ser um bom lugar para elas.

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro

Um leito de grama, um macio e verde travesseiro

Deite a cabeça e feche esses olhos cansados

E quando se abrirem, o sol já estará no alto dos prados

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo

Aqui as margaridas te protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces

E amanhã serão lei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Bem no fundo da campina, bem distante

Num maço de folhas, brilha o luar aconchegante

Esqueça suas tristezas e aquele problema estafante

Porque quando amanhecer de novo ele não será mais tão pujante

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo

Aqui as margaridas te protegem de todo perigo

Aqui seus sonhos são doces

E amanhã serão lei

Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Sorrio ouvindo o fim da canção.

As crianças não sabem que Peeta e eu fizemos parte dessa revolução que libertou a todos. Elas não sabem que eu sou o Tordo, mas um dia, quando tiverem idade suficiente, contarei a elas. E então elas entenderão o motivo dos pesadelos. Por que eles vem. Não sempre, mas vem. E nessas noites, Pérola corre de mãos dadas com seu irmãozinho até nosso quarto, assustados. Peeta e eu os acalmamos, os levamos de volta para a cama e depois acalmamos um ao outro. Por que só os braços dele e seus lábios me mantém lúcida e protegida. E somente eu consigo manter a lucidez dele ao acordar dos sonhos em que estamos de volta a Capital em situações apavorantes.

Nunca perguntei a Peeta sobre as torturas que ele sofreu. Sei que foram muitas e deixaram cicatrizes e sequelas, pois várias vezes já o vi se agarrando ao encosto de uma cadeira. Os olhos fechados, o suor na testa, minando, e os nós dos dedos brancos com a força, indica que ele está reprimindo algo do passado. E nessas horas me aproximo de vagar.

– Tudo bem?

Ele me puxa para perto e me beija.

– Enquanto tivermos um ao outro, tudo ficará bem.

Ele sorri e riu junto, por que é fácil rir com ele.

Sei que vai ser sempre assim, um cuidando do outro e nós dois cuidando de nossa família. Sei que além das cicatrizes ficaram feridas na alma que talvez jamais se fechem, mas por nossos filhos, vamos tentar curá-las da melhor maneira possível.

Peeta chega e vem até onde estou. Está de mãos dadas com as crianças e traz uma cesta de piquenique. Tem pães quentes, presunto, queijo, geleia, bolinhos de frutas e suco de uva, pelos quais Pérola e Karlo são apaixonados.

– Mamãe veja o que o papai trouxe. - diz Pérola.

Peeta forra a grama com uma toalha e põe a cesta em cima e erguendo Karlo o deixa me abraçar por trás me dando um beijo.

– Minha mãe é a mais lindo do mundo! - ele cantarola com sua voz infantil e deliciosamente feliz e com um enorme sorriso nos olhos cinzas.

Sorrio. Felicidade é isso. Frases assim, pequenos gestos. Sorrisos no fundo dos olhos.


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Notas finais do capítulo

Todas as fotos que usei para ilustrar essa fic, foram tiradas da net. Menos a do bestante que foi eu quem fiz.
E ainda não acabou....