A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 16
A vida de volta.


Notas iniciais do capítulo

É possível recomeçar em meio a uma ameaça de guerra? Sim. Quando existe vida e esperança, é possivel lutar e vencer qualquer coisa.
Obrigada a todos os queridos leitores.



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Já estava bem tarde no hospital e o silencio é tão pesado que dá para ouvir os outros pacientes dormindo e bipes dos aparelhos ligados. Estou sentada numa cadeira dura, ao lado da cama de Peeta. Sou a única pessoa que ele aceita ao lado dele sem começar a gritar e se debater.

Foi um sacrifício quando ele acordou e os médicos vieram examiná-lo. Peeta berrava feito louco, as mesmas palavras. Para ficarem longe dele e que não iam machucá-lo de novo, então foi necessário sedá-lo outra vez. Os médicos e enfermeiras trataram seus ferimentos, que tinham um cheiro horrível parecendo podres e infeccionados e também lhe deram um banho. Tudo ministrado com morfináceo para ele continuar sedado. Agora ele cheirava a medicamentos, esparadrapos e roupa limpa. Eu ajudei em tudo, mesmo sob os protestos e caras feias dos médicos

– Você não pode ficar aqui.- disse o chefe da equipe.

– Nós somos casados acho que eu tenho o direito de ficar.

O médico cruzou os braços. Enquanto Gale me fulminava com os olhos e Finnick abraçava Anie desesperadamente.

– Vamos ter que fazer vários exames e processos médicos, se você cair vai ficar caída. Não poderemos parar para te ajudar.

O encarei.

– Não é da minha natureza cair sem lutar. Eu não vou cair. doutor.

Ele me encarou de volta e com os braços ainda cruzados fez um gesto de cabeça me indicando a pia.

– Vá lavar as mãos e os braços e vista um uniforme esterilizado, a enfermeira vai mostrar.

Olhando agora para ele, Peeta parece tão calmo, tão parecido com o velho Peeta que conheço. Seu cabelo está limpo, continua macio e brilhante, mas seu corpo foi bem maltratado. Há ferimentos e hematomas, ele foi espancado várias vezes. Também tem muitas picadas de agulhas por todo lado. O exame de sangue mostrou que ele recebeu muitas doses de drogas alucinógenas. Estremeço ao pensar no que Peeta via ou no que faziam com ele. Coisas pavorosas sem dúvidas, para ele ficar assim tão perturbado na presença das pessoas. Seus pulsos estão enfaixados, mas estavam em carne viva, como se ele tentasse arrancar as correntes com todas as forças para se livrar do que quer que se aproximava dele repetidas vezes. Fiquei aliviada quando ele me reconheceu na prisão, mas agora não tenho certeza se isso foi verdade mesmo ou apenas ele percebeu que eu não lhe faria mal.

– O fizeram com você meu amor? - digo baixinho acariciando sua mão e percebo que é a primeira vez que o chamo de meu amor e ele nem está acordado para ouvir.

Tenho vontade de socar Haymitch pelo o que ele fez. Só pensando em seus próprios interesses. Com certeza ele sabia que Peeta cairia nas mãos do Torturador e mesmo assim deixou acontecer. Nunca vou perdoá-lo.

Respiro fundo. O importante é que Peeta está aqui, é claro que terá sequelas, mas ficará bem. Eu o ajudarei.

Olho o relógio, está quase na hora de amamentar Pérola, e ela é uma força da natureza quando está com fome, capaz de acordar o distrito 13 inteiro. Mas tenho medo de Peeta acordar sozinho e se machucar de novo pois um dos braços está com um acesso onde estão ligados soro, antibióticos e suplemento alimentar. Foi preciso prender o braço na guarda da cama.

Ele gemi baixinho e percebo que deve estar tendo um sonho ruim pois seus olhos se remexem por baixo das pálpebras, retiro uma mecha de cabelo de sua testa e acaricio seu cabelo. Sei que ele gosta disso.

– Vai ficar tudo bem. - sussurro. - Vamos cuidar um do outro como sempre fizemos.

O rosto dele relaxa. O som da minha voz parece acalmá-lo. Mas mina filha precisa de mim e nesse momento, como se lesse meus pensamentos, Prim entra com ela nos braços.

– Oi. - diz baixinho. - Ela está inquieta, está com fome.

– Você não existe Prim. - digo sorrindo para ela.

Pego Pérola nos braços e começo a alimentá-la. Ela suga com avidez, está faminta.

– Como ele está? - Prim pergunta observando Peeta.

– Vai ficar bom.

Ela respira fundo e sorri assentindo.

– Hoje eu vou fazer a ronda dos pacientes, se precisar de alguma coisa me chame. - diz e sai.

Prim. Tão diferente daquela menininha que foi sorteada para os jogos e eu tomei seu lugar. Por um lado é bom vê-la assim, mas por outro é injusto, selvagem e doloroso, verem crianças com responsabilidades de adultos ao invés de estarem brincando.

Olho para minha filha e acaricio sua cabecinha loira, seus olhos azuis límpidos e brilhantes me olhando.

– Seu pai e eu jamais deixaremos isso acontecer com você.

Nesse momento ouço um soluço quase inaudível. Olho e vejo Peeta me encarando e seus olhos estão brilhantes de lágrimas.

– Katniss... ? - sua voz está rouca de emoção.

Engulo em seco, quase engasgando e sinto meus olhos também arderem. Pérola continua mamando tranquilamente.

– Oi... - murmuro. E procuro. E vejo seu olhar sereno.

– Eu... você... casados... - Peeta diz com dificuldade pelo sedativo.

Balanço a cabeça confirmando. As lágrimas vão descer, mas não me importo.

– Isso mesmo, você se lembra?

Ele assenti e olha a neném.

– Nossa.... filha...?

– Sim. - balanço a cabeça confirmando, sentindo o rosto molhar. - Essa é a Pérola, nossa filha Peeta. - mostro a ele a pérola negra que ele me deu e está presa em meu pescoço. - Você se lembra?

Ele faz que sim.

– Na Capital... me disseram... você perdeu o bebê na arena... Uma parte de mim ...morreu ...naquele dia.

Mais lágrimas correm e comprimo os lábios.

– Desculpe. Tivemos que espalhar essa mentira para protegê-la. Para a Capital não por suas mãos imundas nela.

A neném já terminou e eu a coloco perto dele. Peeta a olha fascinado, encantado, as lágrimas estão escorrendo pelo canto de seus olhos. Ela se parece tanto com ele e ele percebi os olhinhos, o cabelinho.Um traço de sorriso, mesmo com dor, surge em seus lábios.

– Olá... pequena... Pérola. - a voz dele é cansada, mas feliz.

Eu a aproximo mais dele. Com a mão livre ele toca com a ponta do dedo o rostinho rechonchudo, Pérola agita os bracinhos, risonha. Estou chorando e não me importo. Agradeço a Deus por esse momento. Por ter minha família de volta.

– Olá papai. - digo baixo. - Estou muito feliz de conhecê-lo. Mamãe e eu te amamos muito.

Ele tentar rir, mas seu rosto dói. Mas ele tenta assim mesmo.

– Eu amo... vocês.

Mesmo com os hematomas, machucados e dor, ele aninha a filha com a mão livre. Chorando feliz. E Pérola se acomoda em seu peito, como se sempre o conhecesse e soubesse quem ele é. E eu me uno aquele abraço. Beijo seus lábios com delicadeza sentindo sua boca, sua língua quentinha. Sentir de novo o seu toque é uma sensação tão boa, tão reconfortante. Como se eu estivesse inteira de novo.

– Sempre... Diz ele.

–Sempre.

Concordo sabendo o restante da frase.

Não percebo que Prim, está atrás de uma cortina, observa tudo e também chora e sorri.


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Notas finais do capítulo

Boa leitura e bjos pessoal.