A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 15
Volta


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, esse capítulo é para vocês que me fizeram um único pedido. Então espero que gostem, foi bem complicado escrevê-lo, mas fiz o melhor de mim. Agora cabe a vocês decidirem.
Obrigada e boa leitura.



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A noite está fria, mesmo sendo primavera.

Ou sou eu que estou com frio por causa da ansiedade, do medo, da adrenalina correndo rápido?

Estamos no limite do perímetro seguro do 13. Gale está muito concentrado, tanto que não sei dizer se ele me vê. Os outros também não se mexem, esperando as ordens.No caso de Gale acho que ele não quer me ver mesmo, depois da discussão que tivemos, onde ele disse que era burrice tentar uma missão de resgate e nos chamou de suicidas.

– E quer saber? Não vejo benefício algum em trazer esse cara pra cá. - disse de cara feia.

– Se não fosse por ele eu nem estaria aqui. Devemos isso a Peeta. - rebato.

Gale joga os braços para o alto e bufa.

– Vocês são loucos. Todos vocês. Sacrificar os melhores homens para trazer um cara que pode estar completamente doido ou transformado numa aberração da Capital.

– E você é sem noção.

Ele para. Eu paro. Respiramos ruidosamente e nos encaramos.

– Será que nunca mais vamos conseguir conversar sem brigar? - pergunto com um tom de trégua.

Ele olha para o chão um instante, depois para mim.

– Só um aviso. Se ele tentar te machucar eu atiro nele. -diz e sai antes de eu dar uma resposta.

Depois de organizar a missão para tentar resgatar Peeta, veio o problema maior: Quem iria? Foi uma baita briga por que eu iria de qualquer jeito. A presidenta Coin disse que o Tordo não poderia correr nenhum perigo e minha ida estava fora de cogitação, mas meu argumento convenceu a todos.

A própria presidenta disse que pessoas que sobreviviam ao Torturador por muito tempo jamais eram as mesmas, ficando com sequelas terríveis.

– Então é mais um motivo para que eu esteja lá. - disse convicta. - Peeta não conhece vocês, só a mim. Se ele tiver um surto, sou a única que poderá acalmá-lo.

Ninguém disse nada, mas eles sabiam que eu tinha razão.

Beetee descobriu um caminho secreto pelos esgotos da Capital e preparou alguns brinquedinhos novos também, agora, aqui estamos nós. Esperando a ordem de entra no bueiro que está a pouco metros.

Até que faz sentido. A Capital nos considera a escoria da lama, nada melhor do que chafurdar em seus esgotos e passar a perna neles. Eu só rezava para que Peeta aguentasse até chegarmos ao perímetro de segurança do 13 onde os planadores nos dariam cobertura.

Olho para Gale de novo e me lembro do seu aviso. Decido me aproximar e rastejo pelo chão.

– Gale? -sussurro.

Ele olha para mim e balança a cabeça em desaprovação, irritado.

– Pelo amor de Deus Katniss, que droga está fazendo aqui? Volte para a sua posição.

– Preciso que você me prometa que não vai atirar em Peeta.

–Não posso te prometer isso.

Eu o encaro.

– Se você atirar nele, nunca mais falo com você. E sim, é sério.

Sem esperar por qualquer protesto, rastejo de volta para meu lugar.

E então, ordem é dada.

Boggs sinaliza e nos esgueiramos como animais pelo campo aberto até deslizarmos para dentro do bueiro fétido e ficar literalmente até os joelhos mergulhados num rio de merda.

Andamos em silêncio, com pouca iluminação e respirando o menos possivel. Penso em Peeta. Como ele estará? Machucado? Mutilado? Vivo? Que tipo de tortura foi submetido? Me lembro de seu sorriso, a serenidade em seus lindos olhos azuis como os de Pérola. Engulo em seco estremecendo e vejo Boggs fazendo sinal de parada.

Chegamos. Meu coração começa a bater nas minhas costelas tão forte que doí.

Boggs empurra uma tampa de grade quadriculada e sobe, segundos depois, faz sinal para subirmos também.

Estamos no mesmo corredor do vídeo, dentro da prisão da Capital. É escuro, frio e podre. Está tão silencioso que por um momento me pergunto se há alguém vivo ali. Não se ouve nenhum som nas celas. O cheiro. Aquele cheiro, eu conheço bem, da arena. Cheiro de sangue morrendo, de gente morrendo. Meu coraçao começa a ficar apertado.

Com uma pequena lanterna caneta Boggs mira uma porta a direita no fim do corredor e sinaliza para mim. Não precisa ele me dizer. Sei que Peeta está ali e sinto meu coração bater nos ouvidos e meu corpo está úmido de suor. Ele e Gale vão na frente, os outros ficam dando cobertura, a caneta lanterna também é um lazer que derrete a fechadura da porta de metal escura e enferrujada.

Prendo a respiração quando entramos na cela. O cheiro é insuportável e parece vazia, mas num canto escuro, vejo uma forma encolhida. Dou alguns passos. Estou tremendo.

– Peeta? - sussurro.

A forma se mexe fazendo tinir as correntes. Meu estômago revira.

– Peeta?

Boggs e Gale se aproxima e Boggs ilumina o rosto da forma que se agita e o que vejo, me deixa congelada.

Peeta está acorrentado a parede, seminu. Há hematomas no rosto, marcas e cortes por todo o seu corpo, as feridas estão com prurido, seus cabelos estão tão sujos e pregados na cabeça que não da para ver que são loiros. Seus pulsos estão em carne viva, os olhos, arregalados, apavorados e ele parece não me conhecer. "Por favor não..." Por um segundo me sinto aliviada por não ver nenhuma mutilação nele.

– Peeta sou eu... Katniss.

Ele me olha como se tentasse buscar algo na memória.

– Não. - ele grita. - Fiquem longe de mim. Vocês não vão me machucar mais. Não podem.

Ele se lança contra mim, fazendo ranger as correntes e ferindo ainda mais os pulsos. O sangue pinga. Seus gritos exprimem uma dor terrível.

– Droga. -Gale xinga com raiva. - Ele vai atrair toda a Capital para cá.

Boggs se aproxima ao mesmo tempo que tento fazer Peeta se acalmar. Gale leva a mão a arma.

– Não. - me jogo na frente dele.

Mas quando Boggs me empurra e tenta derreter as correntes, os olhos de Peeta se tornam raivosos e ele avança sobre Boggs derrubando-o.

– Não encosta nela.

– Peeta? - o nome dele sai com uma lufada de ar. Ele me olha confuso. E de súbito vejo o reconhecimento em seus olhos.

Ele se lembra de mim. Não me esqueceu, "Obrigada meu Deus"! Boggs se aproxima de novo e Peeta reage com violência. Há algo de errado.Gale o segura com uma gravata no pescoço e tenho medo dele matar Peeta devido a raiva que vejo em seus olhos. Boggs se levanta termina de soltar as correntes e injeta o sedativo em Peeta de qualquer jeito. Ele grita e cai inconsciente, o alarme toca. Ótimo, era só entrar e sair e a coisa toda virou um pandemônio.Peeta é enfiado num saco para cadáveres com alguns furos para ser carregado com mais facilidade. Só espero que ele aguente. Corremos de volta para a abertura e não da para passar com Peeta daquele jeito. Teremos que usar outra saída. Alguém em outra cela grita por ajuda ao perceber a confusão. Eu a conheço, é Anie a garota maluca por quem Finnk é apaixonado.

– Não podemos deixá-la. - digo.

Com um gesto de "não acredito", Boggs abre a cela e a garota corre pra fora. Ela está totalmente assustada, mas percebe logo que é um resgate e estamos encrencados.

– Fique perto de mim. - digo a ela.

Ela assenti freneticamente, desorientada e corremos para fora.

Os poucos soldados que vieram conosco nos dão cobertura, enfrentando os guardas da prisão que são em maior número.

Tiros, gritos. Nossos soldados usam as bombas de gás intoxicante que Beetee preparou causando uma rápida cegueira nos guardas, nos dando algum tempo e ao passarmos pelas portas que os próprios guardas abriram, Boggs aproveita para selar a fechadura com o lazer, mas ainda sim um dos nossos é atingido. Corremos para a floresta carregando Peeta. "Por favor aguente, por favor, por favor". Meu cérebro retumba. Há guardas atrás de nós e cães farejadores, seus latidos são assustadores, dá para sentir que estão perto. Colocamos Peeta no chão e Gale lança duas bombas de gás, eu também atiro com meu arco.Corremos mais rápido ainda carregando-o.Tenho a sensação de que minhas pernas vão se soltar a qualquer momento.Precisamos alcançar o perímetro de segurança.

– Olhem. - Gale grita parecendo apavorado.

Olho para cima e vejo feixes de luz cruzando o céu. Estamos liquidados as naves da Capital nos encontraram.

Por alguns segundos paramos, a respiração saindo às bufadas ,até que Boggs solta uma gargalhada.

– São os nossos.

E nesse momento os planadores atiram nos guardas que estão se aproximando. Ganhando mais uns minutos e ajuda extra, corremos de novo com esperança, o perímetro está perto. Os planadores dão uma meia volta e atiram uma segunda vez, guardas da Capital são abatidos e os outros recuam, desistindo. Tenho certeza de que Snow não vai deixar isso barato, mas no momento não penso nisso. Os planadores nos seguem iluminando o caminho como se fossem estrelas abençoadas.Vejo os portões, meus músculos não suportam mais o peso e os movimentos de correr, mas os faço obedecer."Não vou perdê-lo agora". Digo para mim mesma.

Os soldados estão nos esperando, passamos correndo pelos portões abertos e os planadores também aterrissam. Os portões são fechados e a cerca elétrica ligada.Ouvindo o agradável ranger de ferro e o zumbido da eletricidade, caímos exaustos.

Anie está com a boca aberta e olhos fechados respirando em grandes haustos. Todos estão mais ou menos assim. Me arrasto até Peeta e puxo o zíper daquele saco preto sinistro. Minhas mãos tremem quando verifico sua pulsação no pescoço. Está tudo bem. Ele dorme profundamente por causa do sedativo.

– Nós conseguimos. - sussurro para ele.


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Notas finais do capítulo

Gente para finalizar recebi uma dica de uma música perfeita para esse capítulo.
Lumus, você tinha razão a tradução é perfeita para esse momento além de ser linda. Obrigada. Estou deixando o link da página aqui onde tem a tradução e o player para ouvir a música. Quem quiser conferir tenho certeza de que vai gosta. Abraços e mais uma vez obrigada Lumus.
LINK DA PÁGINA:
http://letras.mus.br/isabel-yardley/when-will-you-see/traducao.html