Eu não dormia havia algumas noites, ficava andando de um lado para o outro tentando procurar algo no qual pudesse fazer pra ajudar Kou, aquilo não era brincadeira, era assunto de vida ou morte. Por vezes eu cogitei a ideia que estivesse louca, sabe ver alguém que estava praticamente morto não era normal. Mas então Kou segurava minha mão e naquele toque eu sentia o quanto ele precisava e confiava em mim. Eu não podia arriscar perder ele por meus pensamentos idiotas.

A família de Kou nunca me ligou ou me procurou, havia se passado quase três dias depois de nosso encontro, e eu sabia que precisava fazer algo, meu tempo estava se esgotando. Mas por mais que eu procurasse no google, coisas do tipo: “Como fazer uma alma voltar para o corpo? ” ou “Vejo uma alma cujo o corpo ainda está vivo, o que fazer?”. Nada aparecia. E então eu voltava à estaca zero. Eu me perguntava se ele não podia fazer isso por si mesmo, voltar ao corpo sem precisar de muitas coisas, simplesmente voltar. Mas seria idiotice da minha parte achar que era possível isso acontecer, depois de ele ter ficado cara a cara com ele mesmo e ter dito que não conseguiu voltar.

—  Você não vai atender a campainha? – Kou me despertou dos meus devaneios, levantei ouvindo o insistente e irritante barulho da campainha.

Quando abri era Toumma, ele estava me parecendo feliz, havia tanto tempo que não o via, que tinha me esquecido daquele sorriso largo. Foi então que ele jogou o braços em volta de mim e me abraçou com força, eu realmente não entendi o que estava havendo e por mais que soubesse que Kou estava me encarando com a cara feia eu gostei de ser abraçada, era bom ter alguém de carne e osso ali, pois isso demonstrava que eu não estava louca.

— Desculpa – disse ele, colocando a mão sobre os olhos. – Estou feliz em saber que você está bem, fiquei preocupado com você!
             –  Eu estou bem, talvez ficando louca, mas bem.
             –    Aconteceu algo?
             –   Kou... eu vejo o espirito dele e preciso ajuda-lo a voltar para o corpo dele!

No primeiro momento ele ficou quieto, depois riu e depois ficou sério, ele se virou exatamente para onde Kou estava e sorriu de canto.

— Pensava ser o único! – ele se jogou no sofá parecendo calmo, mas eu estava explodindo por dentro.
             –   Você está brincando comigo não está?
            –    Queria estar... mas eu vejo fantasmas desde criança, meus pais não acreditam nisso, mas a minha avó diz que eu sou médium.     Não disse nada, por que você não tocou no assunto sobre isso então...
               Me ajuda... eu preciso salva-lo! – ele respirou fundo e disse

— Você não pode fazer nada por ele, ele tem que querer se salvar e se ele não retornou ao corpo ainda, é por que ele não deseja ser salvo.

Num primeiro momento eu quis surra-lo, como ele poderia dizer aquilo, Kou queria estar vivo, ele queria estar comigo, ele tinha uma vida, uma família... era obvio que ele não queria abrir mão de tudo isso.

— Ele deve estar com algum arrependimento do qual não consegue se desprender e se ele não se livrar disso... Ele não vai conseguir voltar.

Olhei para Kou de imediato, ele parecia tão confuso quanto eu.

— Não me lembro de nada, só da minha família.
             –  Por que você estava caminhando numa tempestade, no meio da rua? – Toumma estava com a cara fechada, parecia aborrecido e isso me incomodou.
             –  Eu não sei...
         – Tem certeza? Talvez estivesse procurando alguém, talvez estivesse tentando se matar mesmo, talvez você estivesse querendo algo...

Kou levou as mãos a cabeça e caiu de joelhos, fui até ele já com raiva de Toumma por pressioná-lo, quando então Kou riu. Ele olhou pra mim com os olhos marejados.

—  Eu estava procurando por você!
             –  O que?
             – Minha família... ela havia retornado para a cidade e eu quis achar você, fiquei arrependido por tantos anos por não ter me despedido de você.... E então eu te achei, fiquei olhando pra você naquela janela. E depois você sabe o que aconteceu. Eu não posso te beijar, por que se isso acontecer... eu voltaria!

As lagrimas estavam ali desde que ele começou a falar, ele havia me encontrado, por que ele não se arrependeu e voltou?

—  Então por que voc...
            – Por que quando eu voltar pro meu corpo, eu não vou me lembrar de você... eu sinto isso! E eu não quero me esquecer de você, já vivi tanto tempo longe de ti!

Ele foi até mim e me agarrou pelos ombros, naquele momento eu sabia o que devia fazer, eu já havia tentando antes e falhado, mas agora... pelo Kou, por ele... nossas almas haveriam de se encontrar de uma maneira ou de outra.