Shoot into the sky escrita por SilenceMaker


Capítulo 2
Não consigo pensar em um nome


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoas, eu demorei muito mais do que eu tinha previsto ^^" mas é que eu descobri que to pendurada pelo pescoço em metade das matérias da escola e tive que meter a cara nos livros. Acho que agora tá mais tranquilo.

Eu acho impressionante como, com exceção dos primeiros capítulos, todos os outros capítulos que eu escrevo parecem toscos. Não entendo isso. Por favor, se tiver algo que eu possa melhorar, me digam. Aceito críticas construtivas.
Eu reli, mas vou dar outra revisada depois. Obrigada por ler!



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Eli conseguia ouvir os passos frenéticos do lado de fora da oficina. Os soldados gritavam uns para os outros de lados opostos dos corredores, pelas janelas, como se nem tivessem comunicadores. Mas Eli não prestava atenção nisso. Ele suspirou e recostou-se melhor na parede, seu bumbum sujando com manchas de óleo no chão. Limpou um filete de sangue que escorria de seu lábio inferior cortado.

.

Após ter sua arma jogada longe, o intruso pareceu ficar mais alerta. Bloqueou um chute alto de Eli e tentou alcançar uma das armas presas em sua bota, mas Eli percebeu o movimento e não deu brecha. Os dois ficaram nessa dança por um tempo que parecia indefinido, os reflexos de Eli mais agudos do que jamais estiveram nos últimos anos.

Em algum momento o soldado desistiu de alcançar as armas extras que carregava. Ele deu um passo inesperado para o lado e, em um movimento brusco, deu uma joelhada na área das costelas de Eli. O mecânico sentiu uma pontada aguda e seus joelhos cederam, mas em meio a queda conseguiu se recuperar e rolar para o lado e, com o gesto, acertar o calcanhar na mandíbula do intruso.

Eli recuou por um momento e os dois se encararam por longos segundos. Eli se incomodava muito com o fato do rosto do outro estar coberto — odiava estar perto de alguém que não conseguia saber quem era.

Apesar de machucado, Eli se colocou de pé. Já sentira dores piores do que uma costela quebrada.

Seu olhar se desviou ligeiramente para a esquerda, onde viu, no chão, a mão do mecha que chutara mais cedo. O intruso percebeu, mas muito em cima da hora. Eli levantou-a com a ponta do pé em um movimento rápido e, no momento seguinte, lançou-a na direção do outro, que a desviou. Aproveitando-se da distração, Eli avançou. Acertou-lhe um golpe na parte de trás dos joelhos que o fez cambalear um pouco.

No entanto o intruso esticou o braço e alcançou um dos protótipos de armas sem balas que Eli mantinha na parede e o acertou novamente. Eli se desviou por pouco, mas o outro utilizou-se do momento para soltar a arma levantá-lo momentaneamente pela cintura. O jogou contra a parede. Eli viu estrelas, mas não houve pausa. Um golpe em seu rosto e outro em seus tornozelos o deixaram desnorteado e sem equilíbrio por alguns momentos, o suficiente para ser jogado ao chão.

Eli podia não ser ruim em combate, mas o nível era completamente diferente.

O intruso levou suas mãos à garganta do mecânico.

Ele sentiu sua passagem de ar se restringindo a medida que o aperto ia ficando mais forte, sua respiração saindo soluçada. Fixou seus olhos nos do intruso, cobertos por um par de óculos. Não podia pelo menos ver o rosto de quem o mataria? Os olhos? Mas tudo que via era o reflexo de seus próprios orbes verdes nas lentes escuras.

Estava vagamente ciente de suas mãos tentando puxar as do outro para longe, de suas pernas tentando se livrar dos calcanhares que as prendiam juntas, quando sua visão começou a escurecer.

No instante seguinte o aperto em seu pescoço sumiu e o ar invadiu seus pulmões como um tsunami. Ele inspirou tão rápido e forte que começou a tossir, sua respiração tentando voltar ao ritmo normal. Sentou-se subitamente, sentindo a cabeça girar um pouco. Se apoiou em um cotovelo e a outra mão puxava com força o peito de sua camisa.

Com a visão ainda meio embaçada, através dos olhos lacrimejados, conseguiu registrar o soldado intruso rapidamente recolhendo sua arma ao canto da sala e sumindo pela porta. Mas não antes de ouví-lo dizer a qualquer aparelho que estivesse carregando:

— Área limpa. Passando para a próxima

.

Eli tentou pensar em qualquer motivo pelo qual soldados de Bayston (ele reconheceria os uniformes em qualquer lugar) estavam ali. No entanto sua cabeça ainda latejava das pancadas e interrompia sua linha de raciocínio. Ele grunhiu, irritado.

Alguém abriu a porta da oficina. Eli levantou a cabeça, franzindo a testa quando sentiu uma pontada.

Era um soldado com quem Eli nunca conversara antes (não conseguia se lembrar de seu nome, mas já vira seu rosto diversas vezes), loiro e bem magro. Ele carregava uma arma comprida nos braços e parecia surpreso ao ver o mecânico ali. Parou a alguns passos do moreno.

— Está tudo bem? — o soldado perguntou, observando os ferimentos do outro.

Eli assentiu.

— Alguém entrou aqui?

— A-hã.

— Levaram alguma coisa?

— Não.

O soldado abriu a boca para fazer mais uma pergunta, mas uma comoção no corredor lhe fez parar. Exclamações particularmente altas se sobressaiam sobre as conversas. Eli não conseguia discernir nenhuma palavra.

— O que está acontecendo? — Eli perguntou ao soldado.

— Não faço a mínima ideia. — Ele franziu o cenho, caminhando para fora.

Eli se levantou — ignorando a dor aguda nas costelas e tornozelos —, esticou um pouco o colarinho do macacão e o seguiu. Alguns militares não deram muita atenção ao alvoroço, centrados em checar por itens roubados nas diversas alas. Mas outros haviam parado de andar para voltar a atenção a uma moça, baixa e de cabelos curtos, que corria com uma expressão que beirava ao pânico.

— Alguém viu ela?! — sua voz parecia perdida no ambiente usualmente calmo.

Ela repetia essa mesma pergunta, cada vez para uma pessoa diferente, e ninguém lhe respondeu. Todos a olhavam com confusão. Ninguém sabia como reagir.

Eli, reconhecendo a garota como uma novata (ela estragara um conjunto de equipamentos para escalar prédios, na semana anterior), aproximou-se cautelosamente. Ela virou seus grandes olhos marejados para ele.

— Você viu ela? — a garota repetiu mais uma vez, suplicante, embora não houvesse nenhuma ponta de esperança em sua voz.

— "Ela" quem?

— Janna!

Eli arqueou a sobrancelha.

— O que houve com ela?

— Então, eu não sei! — A garota começou a andar de um lado para o outro, segurando o choro. — Eu estava com ela, daí ela foi para a entrada leste antes de todo mundo para tentar encontrar os invasores e eu continuei por aqui, mas depois disso não consegui mais falar com ela. Ela sumiu!

— Como assim, sumiu? Ué…

Não conseguindo conter o olhar surpreso, Eli observou os ombros da garota caírem em decepção. Aquilo era muito estranho. Janna era uma ótima combatente — facilmente derrubava inimigos com o dobro de seu tamanho —, e mesmo que fosse derrotada ela daria um jeito de enviar alguma mensagem. Será que seu comunicador quebrou no meio do combate? Não, muito difícil, eles foram feitos para resistir a maior parte dos danos que podem ser causados. Será que…

O soldado loiro pareceu chegar a mesma conclusão que Eli. Quase no mesmo momento levou o dedo ao comunicador em seu ouvido e o pressionou.

— Ray — ele disse ao aparelho —, veja quem não deu notícias desde que as tropas de Bayston evacuaram.

O rosto da garota empalideceu ao ouvir o loiro.

— Janna está bem? — sua voz estava trêmula.

— Não sei — o soldado respondeu com sinceridade, suspirando. — Realmente não sei.

Ela sentou no chão e cobriu o rosto com as mãos pequenas. Eli apenas a observou.

Ela não servia para o exército. Tinha um coração muito bom, se afeiçoava facilmente a quem lhe oferecia proteção (Janna foi quem a ajudou desde que entrou, portanto virou sua estrela guia naquele mar de sangue), mas aí é que morava o problema: talvez acostumada com os mimos do centro urbano, ela não possuía a força, o feitio, para proteger outros. Se ela não conseguia e não queria se colocar em risco a fim de proteger a cidade, então o que fazia ali?

Talvez, por gostar de ajudar os outros, pensara que o exército seria uma boa maneira de se fazer isso. Provavelmente nunca lhe passou pela cabeça que a vida não é tão doce assim.

Seus pensamentos foram distraídos quando o soldado loiro voltou a escutar do aparelho em seu ouvido. Eli esperou, apreensivo.

— Certo — o soldado murmurou, grave, após ouvir por alguns momentos. — Quem está no comando? Então avise o Capitão sobre a situação. Aguardamos ordens.

— O que ele disse? — Eli perguntou.

O soldado loiro fixou os olhos nos de Eli, como se ponderando se lhe contava ou não. Por fim, suspirou resignado e disse:

— Janna, Tain, Oliver, Kate, John e Gordon sumiram. E a tenente Halley.

A garota, ainda sentada no chão, desatou a chorar.

A missão das tropas de Bayston era capturar militares de Hust.

Eli sentiu seu estômago afundando horrivelmente.

Não houve alerta algum da invasão. As tropas entraram por causa de uma falha no sistema. No sistema que Eli construiu. Dessa vez apenas alguns soldados foram pegos, mas e se os planos fossem capturar civis? Implantar bombas tóxicas na cidade?

De repente Eli se perguntou o que aconteceria se tivesse morrido estrangulado cinco minutos antes em sua oficina.

… …

Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte. Todos estavam reunidos no refeitório, o burburinho rolando pelas línguas dos soldados. Estavam inquietos. Assim que a mensagem chegou ao Capitão, todos foram levados ao refeitório até nova ordem. Fazia quase quatro horas.

Eli batucava nervosamente na coxa, sentindo fracas pontadas, originadas da briga que tivera. Tentou fazer sua cabeça voltar ao início, tentando organizar os acontecimentos. Ninguém conseguia chegar a uma explicação plausível para a situação em que estavam. Agora que a dor estava mais fraca, a cabeça de Eli rodopiava com milhares de pensamentos. Nenhum deles era bom.

Eli não conseguia afastar o sentimento de que aquilo fora uma falha sua, que se tivesse feito um trabalho melhor aquilo não teria acontecido.

Estava extremamente consciente das vozes altas no refeitório. Consciente das marcas pálidas, ligeiramente arroxeadas, em seu pescoço. Sentia que haviam olhos o encarando, julgando-o, a todo momento — mas sempre que procurava a fonte percebia que não havia ninguém o olhando, todos imersos em suas especulações e preocupações. Talvez estivesse paranoico demais, mas não podia evitar. Sete vidas podiam ter sido perdidas por causa desse erro.

Antes que sua mente pudesse divagar mais, o canto de seus olhos avistaram uma figura entrando no refeitório. Quase imediatamente as conversas morreram, restando apenas um silêncio ansioso que pairava sobre as cabeças dos militares.

O Capitão — um homem de meia idade, baixo, porém musculoso e parrudo — entrava a passos firmes. Seu rosto carregava o costumeiro semblante sério, porém naquele momento sua expressão tinha um ar diferente de geralmente, o que instigou vários entreolhares nervosos. Eli escutava as botas pesadas do Capitão ecoando do piso de cimento até o vidro fosco do teto.

Ele andou até um local livre, a vista de todos. Em um movimento inconscientemente sistemático, fruto de uma vida inteira no exército, parou e virou para a multidão. Seus olhos de raposa passaram por vários rostos inquietos antes de abrir a boca.

— Após uma análise mais a fundo, chegamos a conclusão que informações sobre as localizações dos nossos sensores foram vazadas. Os alertas foram sufocados por frequências antigas de rádio muito próximas e por isso não detectamos o ataque. As tropas se infiltraram pelas fábricas na área da periferia e conseguiram entrar em nossa base.

"Nossa reação foi atrasada porque, pelo fato das tropas serem pequenas, é fácil fazê-las passarem despercebidas. E como os únicos soldados que se encontraram com elas foram todos capturados, não houve quem soasse o alarme a tempo. Aparentemente o objetivo não era capturar ninguém em especial."

Um soldado repentinamente se colocou de pé, adquirindo uma postura de respeito.

— Permissão para falar, senhor.

O Capitão o ignorou.

— Por causa desse incidente, nossa prioridade se tornou resgatar os soldados capturados. Todos que estavam para ser enviados ao treino de campo na semana que vem irão permanecer. Vamos traçar um plano de ação o mais rápido possível e agir o quanto antes. Não sabemos o que pretendem fazer enquanto com a custódia deles, então não podemos perder tempo. Vamos limitar alguns de nossos meios de comunicação com o centro da cidade para evitar que outras informações vazem mas não o suficiente para alarmar o governo. A última coisa que eu quero é eles se metendo onde não foram chamados

Então o Capitão enfim olhou para o soldado que havia se levantado. Sem ordens para falar ou sentar-se, ele permaneceu de pé na mesma posição, desconcertado.

— Permissão concedida.

O soldado pareceu perdido por alguns segundos, mas logo se recuperou e se pronunciou:

— Senhor, encontramos câmeras de vigilância antigas em alguns dos corredores, mas que ainda estão em funcionamento. Achamos que pode conter filmagens dos soldados de Bayston. Talvez possamos recolher mais informações.

O Capitão assentiu.

— Colete as filmagens para mim.

O soldado pareceu surpreso com a resposta positiva de seu superior. Seu rosto adquiriu um brilho de orgulho e ele disse "sim, senhor" em alto e bom tom, antes de se sentar novamente.

Eli não se recordava daquelas câmeras. Provavelmente foram instaladas pelo mecânico antes dele.

O Capitão continuou falando sobre quem estava encarregado do plano de resgate, de quanto tempo eles estimavam que levaria para tudo estar pronto. Disse ainda que se alguém tivesse alguma pista a mais, ou uma ideia, era para reportar diretamente a ele. Eli não realmente prestava atenção. Com os níveis de adrenalina caindo, ele conseguia sentir a exaustão em seu corpo lentamente entorpecendo seus braços e pernas. De repente ele realmente queria dormir.

Vagamente consciente da ausência de seus colegas, com quem a esse momento provavelmente estaria trocando olhares ou duvidosos ou nervosos (não queria pensar muito nisso), Eli esperava impaciente o Capitão terminar de falar. Seus dedos, ainda um pouco sujos de graxa, se torciam um no outro em seu colo.

Quando tudo foi encerrado e eles foram liberados, Eli foi um dos primeiros a pular do banco e sair do refeitório. Alguns permaneceram, sem sono, para esperar algum café da manhã. Outros foram dar uma andada, estressados e cansados e sem fome. Poucos acompanharam Eli no caminho de volta para os dormitórios.

Eli quase bateu com o nariz na porta de seu quarto, distraído. Assim como em sua oficina, um sensor reconheceu o chip em suas costelas e a destrancou, mas o mecânico quase esqueceu de abri-la para passar.

Entrou no cômodo e tirou os sapatos, caindo com a cara no travesseiro. Estava sujo de óleo e graxa, suado, cansado e dolorido, mas estava tão esgotado que aquelas coisas não pareciam importar — na manhã seguinte importaria, com certeza.

Em um estado de meia consciência Eli lembrou-se, bem no fundo de sua mente, do Capitão mencionando ondas de rádio.

"Eu devo ser o único por aqui que ainda tem aqueles rádios antigos", pensou, preguiçoso. "Interessante que mais alguém use aquelas frequências. Elas costumavam servir para quê, mesmo? Estações de rádio para ouvir música, acho…"

E no segundo seguinte estava adormecido.


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Notas finais do capítulo

Uhuu segundo capítulo. Pessoalmente, não estou muito satisfeita com ele mas sempre podia ter ficado pior. O próximo acho que vai sair mais rápido.
PS GIGANTE: obrigada mesmo a Goldfield e Miss Japan pelo suporte ^^ espero conseguir atender a possíveis expectativas kk



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