“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.”

(William Shakespeare)

Acordo e vou abrindo lentamente meus olhos que vão se acostumando a claridade do dia. Olho para o chão e vejo meus lençóis e travesseiros, então me lembro de tudo o aconteceu na noite passada.

Suspiro e me tapo com o único cobertor que está na cama, que tenho certeza que foi Tony que colocou.

Tony...

Sento na cama rápida, vou me lembrando de como Tony veio me ajudar, do seu toque, do seu abraço, do seu cheiro, de como eu me senti bem ao seu lado, de como eu havia adormecido em seus braços...

Sorrio, mas logo esse sorriso some, foi nesse momento que a ficha caiu: Eu havia agido feito uma criança!

Provavelmente Stark fez tudo àquilo ontem por pena, eu tinha sido uma idiota chorona.

Levanto da cama e vou em direção ao banheiro, faço minha higiene matinal, dou uma ajeitada no meu cabelo e por fim visto uma calça jeans e uma regata branca.

Desci as escadas lentamente, não estava a fim de encontrar Stark depois de ontem. Entro na cozinha e para a minha “sorte” Tony está na mesa tomando café. Vou me aproximando da mesa, Tony então nota a minha presença e sorri.

– Bom dia, ruivinha.

– Bom dia. – Puxei uma cadeira e me sentei, peguei um biscoito e comecei a comer bem devagar.

Podia ser apenas a minha imaginação, mas eu sentia um clima estranho e pesado. Eu tinha que explicar o que havia acontecido ontem, mas é claro que não seria tão fácil.

– Tony, sobre ontem à noite... – Começo a falar, mas sou impedida por Stark.

– Tudo bem, não precisa dizer nada, até eu já passei por isso. Sei como é difícil.

– Duvido que você já tenha agido como uma criancinha idiota e chorona.

– Você não agiu feito criança, teve uma Crise de Pânico, não tem culpa. – Tony me olha tão intensamente, passando tantos sentimentos e compreendendo tanto sentimentos que sou obrigada a desviar o olhar.

– E a propósito obrigada. – Volto meu olhar novamente para Stark. – Por ficar comigo...

Nossos olhares se encontram e por um momento tenho vontade de levantar e abraça-lo, de sentir de novo seu calor e o cheiro do seu cabelo. O olhar de Stark é tão carinhoso que tenho que me controlar para não levantar e ir em sua direção, e não apenas abraça-lo, agora seus lábios me parecem tentadores.

– Disponha. – Tony sorri ternamente, fazendo com que eu sorria também.

. . .

– Você vai fazer uma festa aqui? – Faço cara de interrogação.

– Sim, vai ser legal, você vai, né? – Stark olha para mim com cara de cachorrinho que caio do caminhão de mudança, sorrio.

– Acho que eu não tenho muita escolha. – Falo irônica voltando minha atenção para o filme que nós estávamos vendo.

– Ótimo, então pode ir se arrumando porque a festa vai começar em algumas horas. - Tony se levanta indo na direção das escadas. – Não que você precise de tempo para ficar bonita.

Meus pensamentos ficam divididos em “Daqui a algumas horas?” e “Ele disse que eu sou bonita”. Não sei por que de uma hora para a outra isso começou a importar tanto e me fazer sorrir boba.

Afasto esses pensamentos e vou para o meu quarto me arrumar.

. . .

(Nick Jonas – Jealous)

Coloco com vestido preto de mangas compridas sem muito decote na frente e aberto nas costas, totalmente colado ao meu corpo, terminava pouco antes da metade das minhas coxas, o vestido era parecido com o que eu tinha usado na outra festa. Deixo meu cabelo solto, ponho uma maquiagem de leve em meus olhos e um batom vermelho forte nos lábios.

Dou-me por satisfeita e saio do quarto, a música é alta e vejo algumas pessoas já se agarrando no corredor, começo a descer as escadas e o barulho que os meus saltos pretos fazem é abafado por tanta conversa, tinha inúmeras pessoas naquela casa. Corrigindo, mansão.

Todo o lugar foi arrumado, várias luzes piscam e me sinto novamente naquele salão onde Stark nos levou. Tento encontrar Tony, mas sem sucesso, aquele mar de gente deve ter engolido ele!

Vou na direção de uma mesa de vidro comprida e pego uma taça do que eu espero ser champanhe.

Enquanto estou bebendo vejo uma cena que estranhamente me faz me sentir mal e ficar com raiva.

Stark está com o braço em volta da cintura de uma loira esguia com porte de modelo, ele chega perto do ouvido dela e sussurro algo que a faz rir.

Aquela cena toda me faz revirar os olhos e bufar, largo minha taça e vou indo em direção ao meu quarto quando um homem me para. Ele é alto, tem os cabelos castanhos claros e os olhos azuis mais lindos que eu já vi.

– Desculpe. – O homem disse.

– Não, tudo bem, eu que não vi você...

– Meu nome é Josh. – O homem estende a mão para mim. – E o seu é...

– Natasha... - Sussurro enquanto vejo ele beijar a mão que eu estendi.

Ele me lembra um pouco Steve com esse gesto, mas ele faz com um toque muito mais sensual.

– Então, aceita uma bebida? – Seu sorriso parece lançar uma magia sobre mim.

– Claro.

. . .

– Sim, sou colunista e fotógrafo de uma revista.

– Que legal!

Josh e eu estávamos sentados em um sofá branco um pouco afastado da festa, eu estava com as minhas pernas em cima do sofá, apoiando meu cotovelo no encosto. Já estávamos a algum tempo sentados ali até que Josh levantou.

– Gosto dessa música, vamos dançar? – Ele me ofereceu a sua mão, suspirei, mas aceitei, afinal de contas aquilo era uma festa e eu queria me divertir.

Chegamos a uma pista de dança que havia sido improvisada no meio da casa, sério, eu não estava nem mais reconhecendo aquilo tudo.

Josh colocou uma mão nas minhas costas e com a outra segurou a minha mão, isso me fez lembrar de Tony...

Afastei esse pensamentos da cabeça e coloquei a minha outra mão em seu ombro, o homem de lindos olhos azuis então começou a dançar me levando para todos os lados. Eu comecei a rir e ele também. Josh me girou e deitou o meu corpo em seu braço aproximando seu rosto do meu.

Ele sorri e me levantou novamente continuando a dançar, virei meu rosto e me deparei com Tony me encarando também, ele ainda estava enganchado naquela sei lá quem, o que me fez ficar vermelha de raiva por dois motivos:

1º Motivo: Eu estava louca ou algo assim, como eu podia estar com ciúmes de Tony Stark, daquele galinha, chato, arrogante e egocêntrico. Além de tudo isso, lá no fundo, eu acho que ele era meu amigo.

2º Motivo: Como ele ainda podia estar grudada naquela loira oxigenada?

– Tudo bem? – O moreno na minha frente pergunta me trazendo para a realidade.

Por favor, Deus que eu não tenha ficado encarando Stark por todo esse tempo... Amém.

– Está sim... – Nesse momento vejo Stark vir para pista de dança e se grudar ainda mais com a mulher, o que me faz ter uma ótima ideia. – Tudo ótimo.

Meu sorriso cresce, esse jogo é para dois, Stark...

Aproximo mais meu corpo para perto de Josh que segura mais firme a minha cintura, nós voltamos a dançar e o moreno em minha frente faz alguns passos mais ousados e engraçados, me fazendo gargalhar, ou talvez rir, todavia gargalhar chama mais a atenção.

Stark nos lança alguns olhares e posso chutar que ele sentiu alguma coisa, ele logo sussurra algo para a garota que também gargalha e abraça Stark, logo os dois voltam a dançar.

Josh aproxima seu rosto do meu, fazendo minha atenção voltar-se para ele. Nossos rostos estão próximos e seus olhos azuis são como um imã. Sinto sua respiração e seus lábios estão tão perto dos meus que viram uma tentação impossível de recusar.

Paramos de dançar e só nós aproximamos mais até que sinto uma mão no meu ombro me empurrando delicadamente para o lado.

– Oi gente, curtindo a festa? – Stark abre um enorme sorriso, ainda agarrado com a loira.

– É, estávamos curtindo... Até você chegar. – Falo sorrindo forçadamente e sussurrando a ultima parte.

– Tony Stark, certo? – Josh fala apontando para Stark.

– Sim, vim aqui por que a Carmen disse que conhecia você e quis vir dar um oi. Afinal, quem é você? – Olho feio para Stark que me ignora.

– Temps, Josh Temps. – Josh parece nem ter notado a grosseria de Tony, mantem seu lindo sorriso. – Conheço a Carmem sim, já tirei várias fotos dela.

Reviro os olhos, então a vadia era modelo mesmo, nada contra modelos, apenas essa modelo.

– Adorei tirar fotos com você, normalmente os fotógrafos são tão impacientes, mas você foi um amor. – A voz dela era extremamente irritante, fina e com um sotaque italiano fajuto.

Eles começam a conversar deixando eu e Tony meio de lado, “meio” é apelido, esqueceram totalmente da nossa existência.

– Vamos deixar vocês conversando melhor. – Stark fala sorrindo e me fazendo o olhar incrédula.

– Desculpe-nos, esqueci completamente, podem ficar. – A voz tranquila de Josh me faz querer abraça-lo, ele parece tão fofinho e confortável.

– Não, tudo bem, eu a Natasha estamos querendo dançar mesmo.

– Não, não queremos. – Não sei quem estava sorrindo mais falsamente, eu ou Stark.

– Sim, nós queremos.

– Não.

– Sim.

– Não. – Meu sorriso já estava murchando, a minha paciência acabando e eu já estava me sentindo ridícula.

Parecíamos duas crianças brigando, mas eu não ia ceder, não ia dançar com Stark e deixar o meu Josh com aquela loira rouba-homem. Puxei Tony alguns centímetros para o lado e começamos a sussurrar.

– Eu vou ficar aqui, pode ir levando a sua companheira para outro lugar.

– Não quer dançar comigo? Assim me sinto ofendido.

– Haha! É sério, Stark!

– Estou falando sério, agora só quer ficar com seu “amiguinho” Josh... – Tony fez uma vozinha fina.

Josh pigarreou nos chamando a atenção.

– Desculpe ai, Josh, se nos dão licença, vamos Nat? – Stark sorri e me puxa para longe deles.

– O que você acha que está fazendo? – Puxei meu braço de sua mão.

– Calma, estou salvando você, aquele cara só dorme com as mulheres e depois no outro dia nem lembra mais o nome delas, vai por mim, estou lhe fazendo um favor.

– Ah, e eu achando que a gente casaria e teria um cachorrinho, por favor, né Stark, você se acha muito diferente dele?

– Sim, eu me acho, eu sou muito mais charmoso que ele. – Stark passou a mão no cabelo sorrindo.

Bufei e revirei os olhos, primeiro ele fica se agarrando pela festa com uma loira qualquer e depois ele vem querer agir assim comigo? Como se ele estivesse me “protegendo”. Já que Stark já tinha feito o favor de empurrar aquele traste para cima do cara com quem eu estava, eu dei a festa como encerrada.

– Aonde você vai? E a nossa dança? – Tony perguntou enquanto eu subia a escada.

– Para o meu quarto, não que isso seja da sua conta. E não temos nenhuma dança.

– Vai ficar brabinha só por que eu tirei você daquele idiota? – Tony começou a me seguir, para o meu desprazer.

– Não, eu vou ficar “brabinha” por que você é um idiota.

– Você sabia que palavras machucam ruivinha? – Stark colocou a mão no peito fazendo uma cara triste.

– E você sabia que as suas palavras machucam o meu ouvido? – Entrei em meu quarto e Stark continuou a me seguir. – Ei, ei, por que ainda está me seguindo?

– Achei que não tínhamos terminado a conversa.

– Terminamos sim, agora pode fazer o favor de sair do meu quarto? – Sorri irônica.

– Tecnicamente, esse quarto é meu.

Suspirei, girei meus calcanhares e fui para a sacada, realmente eu precisava de ar puro, Tony Stark estava fazendo toda a minha paciência se esvair naquela noite. E para piorar a imagem dele com aquele loira ainda me irritava.

– Por que não vai se agarrar com aquele loira e me deixa em paz?

– Então é ciúmes, agente Romanoff?

– CIÚMES? – Gritei virando na direção do moreno que havia parado ao meu lado.

Eu com ciúmes daquele galinha? Não, não, não...

Só senti uma raiva momentânea por Stark ser tão idiota e cego para ficar agarrada com aquela loira a festa inteira! Só isso.

– Então é ciúmes mesmo, não esperava isso de você ruivinha, mas saiba que você fica linda brabinha e com ciúmes.

Eu poderia ter gritado e socado a cara de Tony, desmanchando aquele sorriso irônico e prepotente dele, todavia eu tinha que manter o controle, não podia cair na armadilha.

– Pelo que eu me lembre, você é que me tirou do meu par. – Abro um sorriso de desafio.

– Eu estava protegendo você, não veja segundas intenções onde não tem.

– Ah, claro protegendo, mas saiba que você fica lindo com ciúmes, Stark.

– Primeiro ciúmes e depois elogios? Sinto que você quer terminar essa noite de outro jeito, Natasha.

– Não sou eu que estou no quarto errado, Tony.

Quando dei por mim já estávamos perigosamente perto um do outro, perto o suficiente para sentir a respiração um do outro e perto o suficiente para os nossos corpo estarem a apenas poucos centímetros de se encostarem.

– No meu quarto não tem nada de interessante. – Stark me olha intenso, conseguindo chegar ainda mais perto.

– Que pena, e você acha que nesse tem? – Entro em seu joguinho e chego mais perto também.

– Com certeza, algo muito interessante. – Olho para seus olhos e depois para seus lábios.

Sinto um desejo enorme me preencher, um desejo urgente de saber o gosto que aqueles lábios possuem e como seriam em contato com os meus, inconscientemente, mordo meu lábio inferior, mas vejo que isso parece ter deixado Stark louco, sorrio de canto.

– Legal, já que você acha tão interessante, por que não... Aproveita? – Eu sabia que aquilo seria perigoso, mas eu estava adorando.

– Estou seriamente pensando em fazer isso. – A voz de Stark agora estava séria e seus olhos estavam brilhando de desejo.

Por um momento, volto à razão, aquele era Tony Stark, o idiota que era o Homem de Ferro, ele era, tecnicamente, meu amigo. Eu estava morando na casa dele por pedido de Clint e ele tinha acabado de terminar com a Pepper, nem sei se foi para valer, como eu podia ter esquecido tudo e estar flertando com ele? Estar pensando em beijar aqueles lábios macios...

Sim, eu estava pensando em beijar ele, não escutar a razão, esquecer tudo, apenas me entregar a aquele momento, me entregar a todo o desejo. Aquilo não podia ser tão ruim.

Decidido, eu mandaria a razão para o inferno e mandaria aquele joguinho para o mesmo lugar. Eu não aguentava mais, sua pele quente próxima da minha me fazia suspirar, assim como sentir novamente aquele cheiro, eu precisava daquele beijo. Antes que eu pudesse tomar uma atitude, Stark foi mais rápido.

– Que se dane. – Em um rápido movimento Tony puxa meu rosto e cola nossos lábios.

Fico surpresa, mas logo fecho meus olhos e retribuo o beijo. Seus lábios são macios e quentes, suas mãos descem pelas minhas costas e me prendem mais ao seu corpo. Minhas mãos passeiam pelos seus cabelos, os bagunçando. Nossas línguas travam uma batalha intensa e prazerosa. Stark prensa o meu corpo na parede, fazendo com que nossos corpos fiquem mais colados do que eu acharia possível. Sua mão escorrega até a minha coxa e puxa para cima, encaixo minha perna em sua cintura.

Seu cheiro é viciante, assim como seu beijo e seu toque. Minhas mãos ainda passeiam pelos seus cabelos, todos os nossos movimentos são feitos com uma incrível urgência, e ainda sim, aproveitando cada segundo.

O gosto daquele beijo era extremamente bom e aquele momento extremamente prazeroso. Tudo em Stark era intenso.

O meu desejo era ficar a noite inteira naquele mesmo lugar, apenas aproveitando aquele beijo.

E se tudo aquilo fosse um erro, seria o erro mais lindo que eu já havia cometido, e eu estaria disposta a pagar por ele depois.