Aquilo, definitivamente, não daria certo. Eu não estava em uma situação nada agradável ali, Nathaniel estava me segurando, Melody estava ali e pelo que parecia em um momento bem intimo que eu não devia ter interrompido, eu queria ter o poder de voltar no tempo e ter batido na porta antes, pelo menos só receberia um olhar de desgosto da Melody e tudo estaria certo, eu estaria fazendo minhas atividades do clube em paz, mas aquilo não parecia ser mais uma opção assim que Nathaniel me segurou.

– Nathaniel, depois conversamos, eu tenho atividades do clube para fazer e creio que a Melody quer conversar com você... – Eu nem ousei em olhar para Melody agora, sentia que se olhasse iria ser quase assassinada por ela – Nathaniel, por favor.

– Não, chega disso! – Nathaniel dizia me segurando com mais força – Você esta me evitando e não é de hoje, o que esta acontecendo? Responda-me!

– Nathaniel, esta me machucando, me solte. – Eu puxava um pouco o pulso e assim via Melody se aproximar e praticamente empurrar Nathaniel para longe de mim.

– Chega, eu que estou cansada de você se intrometer em meus momentos junto com ele.

– E..espera Melody, eu não tive a intenção, espera!

Eu dei passos para trás enquanto tentava me afastar dela e via a mão dela levantar, e assim uma ardência no rosto, e de repente senti meu corpo paralisar, eu me lembrava de algo que praticamente havia me esquecido, naquele orfanato, aquela mulher me batia da mesma maneira, novamente senti aquela ardência no meu rosto mas do lado oposto, aquele sentimento foi se repetindo até eu senti uma dor mais aguda, mas naquele momento eu não escutava mais nada, tudo parecia completamente branco para mim, eu estava com medo, meu corpo estava tremendo, não havia ninguém ali para me ajudar, foi até que ouvi uma voz de fundo.

– M...! M..! Mo – De quem era a voz? – Momo! – Ah...era dele.

Quando voltei um pouco a mim vi Nathaniel e Violette segurando Melody pelos braços, quando olhei para frente eu vi Kamui a minha frente, a feição dele estava claramente preocupado, eu tentava dizer algo a ele, que estava bem, que ia ficar bem, que não era nada, mas minha voz não saia, não conseguia, eu tentava com todas as minhas forças, meus lábios se entre abriram, mas nenhum som saia, apenas minhas lágrimas saiam naquele momento. Sentia Kamui me pegar no colo e me levar para algum lugar. Um bom tempo havia se passado e eu estava na enfermaria um pouco melhor, aquele sentimento de choque havia passado completamente, tanto que via Kamui cuidando do ferimento que havia sobre meu rosto, Melody havia arranhado com certa força.

– Eu não pensei que aquela mulher louca iria lhe atacar do nada. – Kamui dizia um tanto preocupado – Esta tudo bem?

– S..sim.. eu estou melhor, eu poderia ter me defendido mas entrei em pânico, aquilo me fez me lembrar de algo que havia praticamente esquecido.

– Esquecido? – Ele deu uma breve pausa e pareceu que se lembrou de algo – Da sua época no orfanato? – Apenas afirmei com a cabeça com um sorriso sem graça – Eu imaginei algo assim, onde eu passava não era lá muito diferente, talvez fosse um pouco pior que você. Eu ainda tenho as marcas para mostrar.

– Kamui, eu – Ele me interrompeu com um pequeno gesto com um sorriso sobre os lábios.

– Não se preocupe, já passou. E, além disso, eu sinto feliz de ter encontrado alguém como você, eu não me sinto tão diferente ou sozinho, é até divertido, então, tudo bem.

– Aonde ela esta?! – Uma voz claramente irritada ressoava do lado de fora da enfermaria – Ela é minha irmã, me dê licença!

Praticamente Kentin abria a porta com a força me procurando com certa aflição, assim que ele me via ele corria e me abraçava com certa força, o corpo dele tremia, talvez tremesse mais do que eu estava aquele momento.

– O que fizeram com você?

– Foi a estupida daquela vaca da Melody. – Castiel entrava na enfermaria com uma aparência que acabou de sair de uma briga – Você esta bem Moranguinho?

– Eu deveria perguntar a mesma coisa, você não parece muito melhor do que eu no momento... – Dizia claramente preocupada – Parece que você acabou de sair de uma briga.

– Mais ou menos isso, eu tive uma conversa muito sutil com o Nathaniel, e trocamos algumas gentilezas um com o outro.

– Já ligaram para seus pais, por lembrar disso. – Kamui avisava – Eles devem estar resolvendo isso nesse momento.

Quanto menos dei por mim vi um grande grupo entrar em massa dentro da enfermaria o que me fez assustar um pouco, era Rosa, Kim, Violette, Lysandre, até mesmo a Ambre e as sombras dela estavam ali.

– Que festa. – dizia me permitindo a rir, talvez eu fosse a única rindo ali, tanto que Violette me abraçou com certa força, ela praticamente chorava em meus braços cheio de preocupação – Haha, vamos eu vou lhe sujar de tinta assim, essa blusa é tão bonita, eu estou bem, vamos.

– Não tem problema, sua boba! Nós estávamos morrendo de preocupação...!

– Ficamos sabendo do incidente, eu não esperava que aquela garota fosse fazer isso, ela aparentava ser alguém tão calma e centrada. – Lysandre falava um tanto pensativo, e Castiel respondeu com uma risada de deboche.

– Toda moeda tem dois lados, ela só demorou demais para mostrar a outra face.

– Momo. – Ambre entrava no meio das pessoas cruzando os braços claramente preocupada – Eu quero pedir um favor a você.

– Um favor?

– Fale que Nathaniel não esta envolvido nessa bagunça, por favor.

– Você esta louca?! Ele tem haver com essa bagunça sim! Você viu o que a Melody fez no rosto dela por causa dele?! – Castiel ficava nervoso e assim Kamui se levantava tocando no ombro dele.

– Ela tem razão, por mais horrível que tenha sido o ocorrido, quem a machucou foi a Melody, não o Nathaniel, tudo bem que ele foi motivo para ela ataca-la, mas não o motivo para tomar alguma suspensão.

– Ele esta certo, eu odeio admitir isso. – Rosa falava com uma expressão nada agradável, ela parecia com raiva – Vamos ser adultos aqui, não precisamos jogar a culpa em outra pessoa, mesmo que ele tenha parte da culpa, não foi o maior responsável por machuca-la.

Castiel não gostou muito da ideia, mas no final boa parte das coisas foram resolvidas, Melody acabou pegando expulsão pelo que fez e Nathaniel não teve a culpa de nada, que ficou até surpreso quando eu disse que ele não tinha nada haver com as coisas que tinha acontecido. Antes de ir embora tomei a liberdade de levar Castiel até a enfermaria e cuidar dos machucados dele, ele tinha até que bastante hematoma.

– Ai, ai, ai! Vai com cuidado Moranguinho!

–Foi você que brigou com Nathaniel. – o reprovava com uma careta passando o algodão novamente sobre os ferimentos – Mas obrigada, sei que você queria que o Nathaniel levasse a expulsão, mas você já deu uns bons socos nele e isso já vale como um castigo, não? Apesar que acho que violência não é a solução.

– Fale isso para seu machucado no rosto. – eu o olhava e colocava o algodão de novo no ferimento e logo o via se contorcer – Ai, ai, entendi! Tudo bem, eu apenas fiquei com raiva só isso.

– Eu estive pensando sobre o que falou... – dava uma breve pausa e o observava pensativa – Kentin sem duvidas é minha primeira paixão, talvez com a convivência eu nem tenha me dado conta disso, eu pensei que esses sentimentos era apenas coisa que irmãos sentisse, mas depois de tanto pensar, eu vi que não. – eu levava uma das mãos até a dele e segurava sorrindo – Eu não sei se vou conseguir responder seus sentimentos Castiel, como eu disse, esse sentimento ainda esta impregnado em mim, não esquecemos o primeira paixão assim tão fácil, então... eu não sei se devo lhe dizer se deve esperar algo ou não, eu não posso confirmar nada.

Ele me olhou e sorriu levemente e levou uma das mãos ao meu rosto, os olhos deles se fixaram nos meus por alguns momentos, até que eu o ouvi finalmente falar.

– Tudo bem, minhas chances não são completamente nulas, eu não teria chance se essas chances fossem nada, mas eu quero tentar, eu quero me esforçar nisso, mesmo que não dê certo, eu não quero ir para cama pensando que eu não tentei, então tudo bem.

Ele bagunçou meus cabelos e sorriu satisfeito e saiu da enfermaria, e assim quando fora para ir embora Kamui entrou no quarto rindo, e apontou para a saída de forma curiosa.

– Haha, meu irmãozinho até que esta andando bem rápido, não imaginei que seria tão rápido. – ele comentou e antes que eu dissesse algo ele tapou minha boca e assim voltou a falar – Vamos a praia, vai ser divertido.

– H..hmm..hm! – ele tirou a mão de minha boca e assim voltei a falar – Praia?

– Sim, praia, relaxar, curtir, nadar, água, sol, não?

– E..eu não vejo nenhum mal nisso, vai ser divertido.

– Ótimo, vou chamar os outros.

Ele saiu da enfermaria do nada me deixando ali sozinha, eu o olhava um tanto confusa e assim tomei meu rumo, meus pais e Kentin estava esperando por mim do lado de fora da escola, que fiz a questão de informar que estava bem e que não tinha o porque eles se preocuparem mais que aquilo, eu me sentia um pouco culpada que meu pai tinha acabado de voltar e aquilo havia acontecido. Nós chegamos em casa e eu estava completamente exausta do dia todo, e pensar que aquele dia acabaria naquilo, eu machucada, Melody suspensa, Nathaniel e Castiel brigando, o que mais faltava para fechar aquele dia com chave de ouro?

– Momo?

– Ah, Kentin? – eu o olhava surpresa e o chamava para meu lado na cama sorrindo, e o mesmo se sentava parecendo um tanto nervoso – Tudo bem?

– Ah? Ah! Sim, esta tudo bem com você? Depois do dia de hoje deve ter sido complicado.

– Não, esta tudo bem. Não é a primeira vez isso, eu só entrei em choque no momento, mas fora isso não foi nada de mais.

– Mesmo? Se bem que você não devia considerar isso algo normal, mas tudo bem. Parece que eu tenho que ficar mais de olho em você.

– Haha, eu estou sobre bons cuidados, pode deixar.

– Momo, sobre o que eu queria acabar de falar hoje, eu falei sério quando eu disse que gostava de você, que queria toca-la e beija-la, mas... – ele deu uma breve pausa e continuou – Não acho que isso seja certos, somos irmãos, mesmo não sendo de sangue, você é da família. E não acho que eu deva continuar a nutrir esse sentimento, esqueça o que eu disse certo? Vamos apenas voltar a ser...irmãos.

– Desculpe, Kentin, pode me deixar sozinha? – eu falava com um sorriso e me levantava praticamente o puxando para fora do quarto – Eu quero ficar sozinha, boa noite.

Eu acabava de fechar a porta na cara dele rapidamente, eu me abaixei tapando minha boca e de repente minhas lágrimas começaram a cair, o sentimento de rejeição, aquilo que estava sentindo antes não era medo de que ele não gostasse mais de mim, não – era que eu fosse rejeitada por ele, e aquilo doía, nunca senti uma dor tão aguda sobre meu peito, eu queria gritar, me esconder, chorar cada vez mais alto, mas, o que mais me doía, era que eu estava completamente sozinhas, aquelas lágrimas caiam em um silêncio profundo, e meu grito era abafado pelas minhas mãos, eu não queria ouvir aquilo, eu não queria ter ouvido, a dor da rejeição da pessoa que mais gostava, era uma dor pior que estava sentindo sobre o rosto, era como várias facas perfurando meu peito, era uma dor agonizante, por um simples momento, desejei que não queria ter sentido aquilo por ele, que agora quem tinha que matar aquele sentimento, era eu.