A Fabulosa Cova Da Incoerência escrita por blblblbl


Capítulo 14
Talvez




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*Mimi*

O Quarto Branco. Há quanto tempo não vejo esse lugar? Mas está diferente. Está... Desmoronando.

Vejo no horizonte um avião vermelho. O que está havendo? Existe alguém ao lado do avião, supostamente vestido para pilotar o veículo. Esse alguém carrega uma grande mala vermelha cheia de selos, e tem um grande sorriso no rosto. É Anonyme...

Ela acena para mim. Corro para me aproximar dela. Sinto como se algo estivesse indo prematuramente para o esquecimento. Eu posso sentir cheiro de mudança: ensopado de carne. Por algum motivo, ensopado me lembra mudança. Eu odeio mudanças, mas elas devem acontecer, o motivo eu não sei...

Eu fico ao seu lado. Estou ofegante por causa da corrida. Ela sorri, ainda com a mala em mãos. O avião está ligado, aparentemente ela já iria aquele momento, mas eu a parei. Eu olho diretamente em seus olhos claros. São tão brilhantes, como jóias. Eu sinto a lágrima em meu rosto, mas não se formou rio algum.

– Anonyme... – sussurro, em cansaço. – Para aonde você vai?

Ela não me responde de imediato. Ela pensa um pouco e logo me responde, com um sorriso no rosto:

– Para lugar nenhum, eu apenas vou.

– Eu não entendo... – digo.

– Hum, que pena. – ela ri. – Existem coisas que nem você nem eu entendemos, certo?

– Mas eu quero entender! – exclamo desesperada. – Por que os homens são fadados a não entenderem nada? Por que quanto mais respostas, mais perguntas? Existe um final definitivo para esse jogo terrível? Se você ir, não terei com quem discutir isso!

– Exato! – ela me interrompe, apontando-me o dedo indicador. – Se eu ir, você não vai ter com quem discutir. Vai ser terrível, mas é isso que vão exigir de você daqui para frente. Não discuta, mas guarde o que aprendeu com você. As pessoas precisam encontrar as próprias respostas.

– Mas isso é confuso...

– O último conselho que lhe dou, Mimi, é que nem sempre o que confunde significa grande coisa; e nem sempre o que é direto tem um significado superficial. Isso é relativo e exige sabedoria. – ela para de falar por um momento, e sobe sobre o avião rapidamente. Ali, deixa a maleta grande e vermelha, e depois volta ao chão, ao meu lado. Ela continua:

– Sabe, o coração pode confundir as pessoas, mas não é difícil entende-lo, se você for esperto. Mas acho que só um coração pode entende outro coração. Eu não sou um coração, portanto não entendo...

– Como assim “não ser um coração”? – eu a interrompo. – Você é minha melhor amiga!

– Phew! Errou outra vez! Eu não sou sua amiga, Mimi. – eu lhe olho confusa. Eu não estou entendendo nada. O que ela quer dizer com isso? Eu só tenho a ela. Quando aquilo aconteceu, foi ela quem me deixou feliz. Quando eu estava entediada, era ela quem me enchia a paciência. Só amigos fazem isso, não? Mesmo que sejam como Anonyme; Mesmo que sejam só coisa de nossa cabeça. Mas ela continuou risonha:

– Ah, você não entendeu, certo? Vamos ver... Quem lhe acordava quando tinha pesadelos?

– Você! – respondo.

– Mas quem a deixou feliz de verdade, e fez com que eles desaparecessem?

O que? Quem fez com que eles sumissem? Eu não havia reparado. Eu não tinha mais pesadelos. Só um ocorreu, antes do aniversário de...

– Jorge?!

– Bam! Você acertou!

– Isso é conversa! Nós somos só conhecidos! Colegas! Como podemos ser melhores amigos? O que ele fez para ser importante para mim?

– Talvez, tenha salvado seu coração?

Paraliso por um momento. É como se isso fosse uma espécie de flashback, ou uma nova forma de dejá vù. Toco meu peito, e tento me lembrar de algo. A lembrança, aquela lembrança... Quando foi que ela parou de doer?

De repente, Anonyme me abraça. Pela primeira vez, pude sentir seu toque. Seu corpo era frio e duro, como se fosse pedra ou argila. Encosto meus ouvidos em seu peito; lá não bate nenhum coração.

– Eu não sei por que fiz isso, Mirian. – ela diz calmamente. – Foi a necessidade. Infelizmente não posso dizer que te amo sem ser superficial, mas posso declarar que tenho grande consideração por você. Esse é o Maximo que consigo, a mente das pessoas nasceram para ser assim. Quem dera entender o amor como um coração faz...

– ...Você vai embora?

– Sim e não. Hoje você não vai me ver mais, nem amanha, mas talvez depois de amanha. Você vai ver minha silhueta ás vezes, quando estiver triste, ou quando começar a chorar. Você não vai me ver, mas eu vou estar lá, pois eu sou você...

– Espero lhe encontrar novamente... – digo, muito triste.

– Espero que nunca me encontre novamente.

Ela me solta e dá um leve cafuné em minha cabeça. Logo, ela sobe no avião e eu me afasto, para que ele decolasse. Ela põe um capacete e acena sorridente para mim, com seus dentes brilhantes e olhos terrivelmente claros.

Anonyme some no horizonte, como um pássaro que viaja para o sul. O Quarto Branco havia finalmente quebrado. As correntes foram destruídas.

Eu ainda posso lembrar-me daquele dia, em que eu a vi, cair como uma pétala; mas eu não bloqueio mais isso, já faz parte de mim, e eu não posso esquecer, se não, qual seria minha motivação para seguir em frente? Nunca devemos esquecer essas coisas, devemos superar, ou algo assim... Eu não entendo muito bem, mas acho que no fim isso não leva a nada...

Eu seco a lágrima em meu rosto, e alguém abre a porta do quarto. A mãe de Jorge entra, e surpresa, pergunta se estou bem. Eu digo que sim, e sorrio para Jorge, que retribui.

Eu penso que seria isso que Anonyme me pediria para fazer: dizer que estou bem.


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