Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 9
Lâmina da Morte


Notas iniciais do capítulo

Eis aqui uma das melhores lutas do Torneio. Como será que os dois "rivais" se enfrentarão?



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Acho que você deve ter adivinhado qual será a próxima luta mesmo sem o anúncio oficial. A empolgação de certas pessoas já a denunciava.

"Cedo demais para uma luta dessas", não acha? Eu também achei. Acredite, eu preferiria que essa luta tivesse sido realizada no fim do torneio. Mas não dava para mudar o resultado daquele Telão. E essa luta, meu caro ouvinte... Essa luta foi histórica por causa de... Não, não. Você verá.

Ah, comentar sobre essa luta que passou? Juro que ainda não é necessário. Não porque ela "não foi importante", mas sim, porque Kula não mostrou nem metade do que era realmente capaz nessa luta. Já sua oponente, uma das únicas magas que controlavam aquele elemento — se é que podemos chamar "tecido", um elemento — também terá uma outra participação mais importante nos tempos futuros.

Por enquanto, voltamos para a empolgação geral da plateia.

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O barulho ainda não havia parado. Os gritos enchiam o Coliseu e mesmo quem estivesse fora dele, a alguns metros, ainda conseguiria ouvir. O barulho era de um nível tão alto, que era possível se sentir um tremor das paredes e do chão. Isso não era novidade. Sempre quando aconteciam os grandes Torneios ou Demonstrações aqui, o local ficava praticamente cheio.

Os espectadores mais clássicos, que sempre vinham nesses eventos, guardavam energias por meses inteiros antes de vir gritar com todas as forças aqui. Esse público era realmente muito variado. Crianças ocupavam muitos espaços mais ao alto achando que tudo aquilo era uma grande e divertida brincadeira. Senhores de idade que não tinham muito mais o que fazer em suas casas. Amigos dos próprios participantes que as vezes viajavam por dias só para torcerem pelo seu conhecido.

Mas principalmente, os viciados em combates. Esse tipo tinha de montes! Muitas pessoas que estavam ali assistindo, também já foram assistidas. Muitos guerreiros vem analisar estilos de combate e de estratégia variados, afim de refinarem suas próprias técnicas. Outros eram espiões de outros países, que vinham ver de perto quais seriam os possíveis perigos para seus próprios reinos.

Era o caso de duas pessoas muito em específico, que estavam no último degrau das escadas, na direção oposta da ala do Apresentador. Essas duas pessoas estavam com capas negras, usando capuz e máscaras inexpressivas para ficarem totalmente escondidos. Não era tão estranho usar máscaras aqui, já que muitos gladiadores gostavam de se manterem incógnitos para o público.

Mas esses dois em específico estavam muito suspeitos. Não haviam pessoas ao redor deles. E isso era realmente bizarro, vendo que o Coliseu inteiro estava quase lotado. Mas pelo fato de que ninguém os levava a sério e que não havia ninguém por perto, um poderia conversar com o outro tranquilamente. Mesmo assim, faziam tal coisa com voz muito baixa. Eles trocaram umas palavras quando a terceira roleta parou e mostrou os lutadores dos dois times.

— Ora, ora... — disse o que estava mais a direita. Ele tinha uma voz mais fina, e falar em tom baixo não estava ajudando na compreensão. — Essa batalha vai ser interessante.

— Conhece eles? — perguntou o outro. Era uma mulher, com tom de voz normal. Um tanto charmoso, na verdade. Mas nada fora do comum.

— Sim, bastante. Os dois são espiões e assassinos. O garoto da White Lotus você deveria conhecê-lo muito bem. Foi ele que roubou o "Papiro da Inconsciência" dos Magos de Taar. — um murmúrio da garota ao seu lado foi o suficiente para lhe dizer que, "sim, ela já ouviu falar". — E a mulher ali, é a Ex Líder do Setor das Sombras da Dead Blade. Você deve conhecê-la pelo Título Único de "Lâmina Sanguinária".

— Entendo o que você quer dizer com "uma luta interessante". Esses dois provavelmente já se cruzaram muitas vezes em seus próprios trabalhos. — disse a garota, cruzando as duas mãos sob o queixo.

— Provavelmente? Eles JÁ se encontraram! E não foi uma ou duas vezes. — disse o garoto. Ele estava sorrindo, mas não era possível perceber isso por causa da máscara em seu rosto.

— Eles são importantes para nossa "pesquisa"? — perguntou ela, com um tom um pouco mais sério, perdendo o charme de segundos atrás.

— Sim. Os dois são importantes. Fique atenta a cada movimento e anote tudo sobre as magias ou técnicas que eles usarem no combate!

Lá embaixo, ao lado do ringue na parte da White Lotus, Shiro não parava quieto. Estava fazendo flexões e esticando os braços de um lado para o outro. Ele estava reluzentemente contente. Não que isso fosse difícil de ver.

White apareceu um pouco depois que ele comemorou quando viu o Telão. O líder da Guilda tinha ido até a enfermaria com Blanc, que permanecia desacordada. Os médicos falaram que ela não corria risco nenhum de vida, mas precisava descansar e só acordaria muito tarde da noite.

— Shiro, você acha que pode ganhar? — perguntou o Líder, quando se aproximou do ninja hiperativo.

— Se eu "acho"? Oh! Com quem você pensa que ta falando, velho?

— Estamos a um passo de perder e sair do Torneio, Shiro. Leve isso mais a sério!

— Eu estou levando a sério! Eu estou animado porque não consigo acreditar na minha própria sorte. Eu sempre quis aproveitar um sério duelo contra ela. Mas eu não esqueci que tenho entrar nesse ringue pra ganhar. Não esquenta a cabeça. — Shiro colocou sua mão no ombro tenso de seu amigo. — Não vou fazer a sua luta e a luta da gatona da Blanc serem em vão.

White não disse mais nada. Shiro sempre tinha sido daquele jeito. Ria o tempo todo, brincava com todo mundo, fazia suas palhaçadas e dava em cima de quase todas as mulheres que via. Mas quando a coisa era pra ser séria, ele sabia ir lá e fazer o seu trabalho direitinho.

Além disso, poucos lutadores de sua Guilda conseguiam sequer se igualar ao ninja branco. Quando White precisou montar o time para vir para esse Torneio, Shiro foi o primeiro a ser escolhido. Agora a vitória deles estava nas mãos dele e de seu outro companheiro que permanecia ali, de braços cruzados e olhar fixo do outro lado do campo de batalha.

Desse outro lado, estava Mana se preparando. Verificou as lâminas das adagas e apertou as bolsas em suas pernas. Ajeitou as luvas negras, que estavam suadas de tanto se preocupar com as duas lutas anteriores.

Então ela sentiu um puxão leve em suas costas. Ela se virou e encarou Kula se esforçando para dar um sorriso pra ela. A maga não completou o ato. Ela desmaiou logo em seguida, o que fez o médico avisar que não iria mais deixar a paciente dele naquele local. A maca começou a ser empurrada e Mulkior quase que foi junto. Deu três passos atrás do médico, mas parou e baixou a cabeça. Do que adiantaria ir junto se ele não poderia ficar próximo a ela enquanto o tratamento fosse realizado?

Além disso, ele tinha que torcer para Mana. Sua parceira estava bem. Ele sabia disso. Era preocupante... Mas ele iria aguentar a vontade de vê-la... Por pelo menos uma luta.

— Mana, dê tudo de si! — disse o mago. — Se você ganhar essa luta, nós já seremos classificados para a próxima etapa de amanhã!

— Deixa comigo.

Mana não tinha mais o olhar calmo e expressão tranquila no rosto. Era outra pessoa. Mumu quase se assustou quando viu a seriedade e a sede de sangue que ela exalava. Afinal de contas, ela era uma assassina. Por alguns segundos, o mago de ferro tinha se esquecido desse detalhe. Ela era tão boa com Kuchiki e tão preocupada que parecia ser mais uma mãe do que uma colega. E como toda mãe, ela tinha ficado com raiva quando viu um de seus filhos machucados por alguém.

Mulkior engoliu saliva e olhou para San. Eles estavam juntos há mais tempo, então ele queria perguntar ao garoto se aquele rosto de Mana era normal. Mas San estava com a mesma expressão de sempre. Então sim, aquilo era normal.

E por falar em San, ele não disse absolutamente nada. Nada MESMO. Ele permanecia de braços cruzados e virado para o ringue. Ele tinha se virado logo depois que a maca de Kula tinha começado a ser empurrada. Já Mana, nem se deu ao trabalho de encarar seu "parceiro". Ela sabia que ele estava com a mesma cara de pau de sempre, e isso nunca tinha sido encorajador.

Próximo combate será entre Mana, do time Immortal Star contra Shiro, do time White Lotus. Participantes! Ao ringue!

Tinha sido como anunciar a aparição de um Herói. A gritaria aumentou ainda mais e o barulho de pés batendo no chão, instrumentos sendo tocados e nomes sendo pronunciados fez do Coliseu uma completa orquestra mal conduzida.

Shiro deu mais um grito de alegria e pulou para o ringue no momento seguinte. Seu sangue fervia de emoção. Era a hora da verdade. Ele não podia esperar mais. Chegou a hora de provar para todo o mundo, quem era o melhor entre os dois. Mas melhor do que provar ao mundo, seria provar a Mana! Vê-la caída e derrotada sempre foi o seu desejo mais forte.

Por outro lado, Mana entrou mais tranquilamente no ringue e caminhou lentamente até o centro. Percebeu que Shiro estava a mil por hora e que pra ele, a batalha já tinha começado. Era impossível não perceber a empolgação do ninja.

A assassina desembainhou a sua kodachi e ficou em posição de combate. Ela sabia que essa luta seria perigosa. Shiro era um completo panaca, mas não fraco. Pra começar, ele já era um ninja muito mais poderoso do que o traidor do Raou. Ela não poderia usar a mesma estratégia que usou daquela vez.

Enquanto os dois se aproximavam um do outro, o Apresentador Pablo mandava ver em seus comentários e explicações. Mas ele falava coisas importantes também. Falou que essa era a última chance da White Lotus de recuperar o seu orgulho perdido nas duas batalhas anteriores. Também disse que se caso eles ganhassem esse combate e o próximo depois desse, haveria o desempate com um membro aleatório de cada time. Esse membro era obrigado a lutar, mesmo se não estivesse em condições.

— Finalmente... Não acha, Mana? — disse Shiro, se aproximando devagar do centro do ringue e pegando suas duas armas nas mãos . As duas foices brilhavam e pareciam emanar uma aura quase tão brilhosa quanto a do seu usuário.

— Você estava esperando por essa batalha? — perguntou a assassina, sem dar nenhum passo.

— Por MUITO tempo! Você não sabe os dias que eu passava torcendo para que aparecesse outra missão de investigação lá pela minha Guilda. Uma missão que me levaria a te encontrar de novo!

— Não entendo o porque você tem esse desejo.

— Porque só assim as coisas ficavam divertidas! — o ninja falou abrindo os braços, tentando se expressar melhor. — Não ter contra quem competir deixava meu trabalho sem graça! Mas quando você precisava roubar a mesma coisa que eu... Ou que tinha que matar a mesma pessoa... Cacete, daí sim! Correr contra o tempo pra ver quem chegaria primeiro era emocionante pra caralho! E quando trocávamos golpes, então? CARA! Aquilo sim era vida!

— Até um segundo atrás eu tinha dúvidas sobre sua alto proclamação de rivalidade comigo. Achava que você era maluco. Mas depois de ouvir você dizendo isso, eu acabei de concluir que você é realmente maluco.

— Ah vamos lá Mana! Não me diga que você não se sentia excitada quando atirava aquelas suas adagas na minha cabeça?

— Claro que não. Aquilo era trabalho, Shiro. Não temos espaço e nem tempo para diversões quando estamos no meio de uma missão.

— Tsc. Você é mais chata do que eu imaginei. — Shiro girou a foice na mão direita duas vezes e afastou as pernas. — Tudo bem, não importa o que você ache. Eu vou aproveitar cada segundo desse duelo. Aqui, "eu" sou sua missão. Então eu sei que você vai usar tudo o que tem pra me matar!

— Que bom que sabe disso. — Mana apertou o olhar e já planejou o primeiro passo. Assim que se desse início do combate, ela partiria com tudo e iria acabar com a vida dele em menos de dois segundos. Só assim ele aprenderia a dar mais seriedade na vida. Não que ele teria tempo para tal.

— Ah Mana! Deixe-me só dizer uma última coisa: eu tenho uma vantagem sobre você. — disse ele, esperando uma reação qualquer de sua oponente. Mana levantou a sobrancelha direita e tentou entender sobre o que ele dizia. Shiro riu novamente. — Eu já conheço algumas das suas técnicas, mas você não conhece nenhuma minha!

Combatentes, preparados? — gritou o Apresentador. Parecia que ele estava esperando que a conversa dos dois terminasse, mesmo que ele e nem ninguém nas arquibancadas conseguisse ouvi-los. — COMECEM!

O Telão mudou para uma imagem grande de "LUTEM" e o público gritou o nome dos dois participantes com um "VAI" incluído. E foi isso que Mana fez. Jogou o corpo para frente, colocou força na perna direita e deu o primeiro impulso avante. Mana era conhecida por ser extremamente rápida para avançar e atacar ao mesmo tempo. Shiro já sabia disso. Sabia bem até demais.

A assassina levou a mão direita no bolso de sua cintura e pegou duas adagas envenenadas. Um corte feito por essas armas e em segundos o oponente estaria no chão, babando sangue e morrendo. Ela mirou no pescoço do ninja e atirou as duas ao mesmo tempo. Ele já sabia que isso aconteceria. Era a estratégia mais clássica de Mana. Ele sabia tudo sobre o jeito dela distrair o oponente atirando armas letais contra eles para depois pegá-los desprevenidos em um golpe mortal de sua kodachi. Era uma tática simples e eficaz.

Mas isso não iria funcionar nele. Shiro se abaixou colocando a palma da mão direita no chão. Concentrou energia mágica ali naquele ponto e, sem olhar para frente, invocou sua magia:

MERGULHO DAS SOMBRAS!

A energia dele criou um círculo negro ao redor de todo o seu corpo e no chão, depois fez a parte interna do círculo ficar completamente escurecida. O que aconteceu depois foi o que impressionou todos os torcedores: Shiro foi "engolido" por aquele círculo no chão.

Mana não acreditou no que viu. Ela parou a corrida e ficou olhando aquele circulo desaparecer do mesmo jeito que apareceu. Ela olhou para os dois lados procurando o seu oponente, mas Shiro não estava ali naquele ringue. Não havia nem sinais de sua energia e de sua sede de sangue. Ele havia desaparecido por completo.

O Apresentador começou a dizer que também não encontrava o participante Shiro, mas Bart não disse uma palavra. Parece que ele sabia o que aconteceria em seguida.

Bom... Ele realmente sabia. Mas Mana não. Shiro apareceu saindo das sombras feitas pelo corpo de Mana. Sim, das sombras. Ele veio de baixo e de trás da assassina, que não esperava a repentina aparição dele.

O ninja impulsionou os dois braços para trás e veio com tudo para frente, acertando um golpe vertical duplo nas costas de Mana. A garota por sua vez deu um grito oco, caminhou desajeitadamente para frente por uns cinco ou seis passos, perdeu o equilíbrio e caiu de cara no chão.

E o povão gritava. O sangue quente pingava das duas foices de Shiro, e esse mesmo sangue tinha criado um rastro daquele ponto até o corpo estendido da assassina. Tinha sido um golpe direto, certeiro e mortal. O primeiro golpe do combate. E já tinha sido algo daquela magnitude.

A garota não conseguia se levantar. A dor estava corroendo seu cérebro naquele momento. Ela precisava se levantar. Tentou usar os braços para levantar o corpo, mas quando os forçou, os dois cortes falaram mais alto. Dor. Sangue escorrendo rápido.

Da onde ele tinha vindo? Como ele chegou atrás dela? Ele sumiu? Ficou invisível? Não, não era isso. Ela teria ouvido os passos dele, mesmo que fosse algo quase impossível de se fazer. Ele "surgiu" nas costas dela de alguma forma.

A combatente da Immortal Star tentou se levantar de novo. Doía demais. Mordeu os lábios e forçou os braços mais uma vez, conseguindo ficar pelo menos em pé. Não "ereta", mas em pé. Shiro deixou escapar mais um sorriso. Ele estava vendo Mana tremendo só de ficar em pé. Ela estava fingindo ser forte, mas o corpo não mentia. Era óbvio que estava sentindo muita dor.

— To de cara com o fato de você conseguir se levantar depois desse golpe direto. Mas isso é bom! Não ia ter graça nenhuma te derrotar com um golpe só!

Shiro se preparou para um novo golpe. Ele sabia que Mana precisaria de muito tempo pra recobrar o fôlego e fazer seu corpo obedecer novamente. Ou seja, ela não teria tempo de se defender ou de se esquivar de outro golpe naquele momento. Então o ninja deu cinco passos grandes para frente e levantou as duas foices, apontando as lâminas diretamente para a cabeça de sua oponente.

Mana ainda estava ofegante e sua visão estava turva. O maldito tinha realmente lhe acertado um golpe e tanto. Ela viu Shiro levantando as duas armas e se preparando para dar outro golpe vertical vindo de cima. A força desse golpe estava muito além das atuais capacidades defensivas de Mana. Ela SABIA disso. Mas mesmo assim, levantou a kodachi, se preparando para receber o impacto.

E antes de dar o golpe em si, Shiro sorriu mais uma vez. Era aquilo! Aquela vontade de ferro da Assassina! Ela não ia desistir! Ia lutar até um deles parasse de respirar! Era isso que ele queria! Uma luta até o fim com o oponente mais perfeito que ele poderia querer!

Shiro apertou o cabo das duas armas e desceu as foices em uma velocidade e força absurdas. Ela não ia conseguir aguentar o impacto das duas armas ao mesmo tempo estando com dor e sem fôlego. E ela não recebeu. Quando Mana percebeu que os golpes viriam direto para a cabeça dela, ela levantou a kodachi... Mas era só fingimento.

Quando Shiro desceu as duas armas, ela baixou a sua kodachi e girou o corpo uns quatro centímetros para o lado, se esquivando do golpe. As duas foices encontraram o chão majestosamente, fazendo um tilintar sonoro que ecoou por muitos cantos do Coliseu. Por sorte do Ninja, as armas não se quebraram com o impacto.

Mas nem tudo na sua vida era feito de sorte. Agora ele estava indefeso e com o equilíbrio quebrado. Mana deu um passo com a perna esquerda para frente, a forçou e jogou a perna direita contra o estômago de Shiro.

O chute foi certeiro. Shiro caiu no chão rolando. Quando parou de rolar, ele começou a tossir fortemente, quase vomitando tudo o que tinha comido no almoço há algumas horas atrás. Ele estava de quatro e limpava a boca com o braço. Olhou para sua oponente e viu que ela estava de joelhos, com os olhos ardendo em chamas. Shiro era um alvo. Ele sentiu um arrepio pelo corpo e pela primeira vez há muito tempo, ele encarou a face do "medo".

Mana estava exalando uma aura negra que não parecia parar de crescer. Aquela era a verdadeira Assassina conhecida como "Lâmina Sanguinária". A luta começaria a partir de agora!

Mana levou a mão esquerda na bolsa em sua perna e retirou três alfinetes grossos e logo em seguida, os atirou contra o pescoço de Shiro. O ninja por sua vez, ignorou a dor no estômago e se levantou, colocando as duas foices na frente do corpo e defendendo os três alfinetes. Era muito difícil de vê-los, mas os olhos de Shiro eram bem treinados. Ele admite que essas pequenas armas eram mortais contra qualquer pessoa distraída. Mas elas não iriam acertá-lo.

Ele não esperou mais. Correu com os braços para trás e deu um pulo pequeno, dando um outro corte mirando o ombro de Mana. Dessa vez, Mana realmente se defendeu com a kodachi, recebendo todo o impacto de uma vez. Seu braço veio para trás por causa da força, mas ela aguentou e não foi cortada de novo.

Agora no chão e na frente de sua oponente, Shiro tentou acertá-la com um corte horizontal na perna desprotegida da assassina. Sem sucesso. Mana tinha virado o corpo noventa graus, se esquivando do golpe por muito pouco. Ela desvencilha sua arma da foice de Shiro e tenta acertá-lo com um golpe rápido no pescoço. Esse golpe é defendido pelo cabo da foice da mão direita do ninja.

Mas Mana ainda é mais rápida e acerta um soco frontal no peito do garoto. Shiro deu um passo para trás, mas não iria deixar isso sair barato. Ele fez uma sequência de quatro golpes com as foices. Os dois primeiros miraram os braços direito e esquerdo, simultaneamente. A garota se abaixou, se esquivando dos golpes. Os outros dois, foram mirando o topo de sua cabeça e depois o rosto. A assassina, vendo que não conseguiria defender daquela posição, joga o corpo para o lado, rolando e se esquivando dos golpes.

O que se seguiu depois foi impressionante. Shiro, perdendo o típico sorriso em seu rosto, partiu para cima mais uma vez. Ele sabia que ele iria ter muito mais fôlego do que Mana, então atacá-la sem parar seria a chave de seu sucesso.

O ninja de foice atacou a garota mais três vezes. O primeiro golpe foi facilmente defletido por Mana e sua kodachi. Os dois outros fizeram ela recuar mais uma vez para poder se esquivar. Ela estava respirando rápido e não estava conseguindo recobrar as energias gastas nas esquivas feitas pelo seu corpo. Ela percebeu qual era a estratégia de Shiro quando viu que ele partiu mais uma vez para cima dela, não dando espaço e nem tempo para ela recuperar o fôlego.

Shiro tentou atingir as pernas dela de novo nessa nova investida. Fez duas fintas, fingindo que atacaria o peito de sua oponente, mas foi tentar atingir mais em baixo. Um corte bem dado nas coxas da assassina faria ela perder metade de sua velocidade de ação.

Mana não podia recuar. Ela não poderia ficar caindo nessa armadilha para sempre. Então nos dois primeiros golpes de Shiro, ela movimentou as pernas para trás, fazendo Shiro cortar só o vento.

O ninja ainda não desistiu. Levantou a mão esquerda e tentou acertá-la no rosto mais uma vez. Mana foi mais rápida e tinha calculado mil vezes a mais. Assim que a mão de Shiro estava ao seu alcance, Mana jogou a kodachi para a sua própria mão esquerda e apara o golpe do ninja no ar, batendo com o cabo de sua kodachi nos dedos dele. Shiro sentiu uma dor intensa e acabou soltando a foice no chão. Hora do contra ataque.

A assassina pulou para cima dele e tentou acertá-lo com um golpe em diagonal na cabeça. Shiro jogou o corpo para trás, vendo a lâmina passando a centímetros de sua cabeça. Mana se abaixou e tentou passar uma rasteira nele, mas o ninja, prevendo o golpe, deu um grande salto para trás, se afastando muito da assassina.

Agora os dois estavam ofegantes. Mana parecia claramente mais cansada, mas nem por isso parecia estar perdendo a luta. Já Shiro...

— Como você conseguiu me acompanhar com esses dois cortes em suas costas? — perguntou o ninja gritando, indignado.

— Eu te disse antes. Você que escolheu perder a vida aqui, hoje. Não vá se arrepender agora.

Dizendo isso, Mana deixou sua energia fluir mais uma vez. Aquela aura negra continuava a crescer, fazendo muitos lutadores ficarem impressionados. Mulkior era um deles. Ele não imaginava que Mana conseguiria atingir tamanha potência em energia sendo uma Assassina.

Outra pessoa impressionada era Bart. Mas ele permanecia calado e nem o Apresentador, estando no lado dele, percebeu o olhar sério do comentarista e convidado especial.

Não que isso fazia a menor diferença para Mana. Para ela, não importava quantas pessoas estavam assistindo ou para quem elas estavam torcendo. No ringue, só existia ela e o seu oponente.

Ela olhou para baixo e viu a foice que Shiro tinha derrubado. Ela não era burra. Desarmar o inimigo era básico em qualquer combate. Então ela chutou a foice para longe, fazendo ela cair do ringue. Se Shiro quisesse pegá-la, teria que ir até lá. Mas ele nunca iria sair do ringue por livre e espontânea vontade. E nem teria chances para isso.

Mana começou a juntar energia mágica em todo o corpo, se preparando para um golpe maior. Shiro arregalou os olhos e ficou em posição defensiva. Seja lá o que iria vir, era grande. E ele estava longe demais para interrompê-la. Foi ele mesmo que quis se afastar, para começo de conversa. Então ele só observou.

A mulher combatente levou a mão mais uma vez na bolsa dos alfinetes e retirou cinco deles. Ainda com toda aquela energia emanando, a garota começa a se concentrar e passar tudo aquilo para os alfinetes. Depois ela olha diretamente para Shiro, que teve mais um calafrio. Estava na hora de pagar por toda aquela dor.

ACUPUNTURA DO PRIMEIRO INFERNO!

Mana atira os cinco objetos para cima, mas na direção de Shiro. Os cincos alfinetes, banhados em energia mágica, voaram até estarem exatamente em cima da cabeça dele, a uns três metros de altura, então pararam e se viraram para baixo.

O ninja previu o que aconteceria depois. Ele se deixou levar. Não imaginava que Mana poderia ter uma magia assim. "Merda", pensou ele.

Os cinco alfinetes se multiplicaram magicamente. Dez. Vinte. Cinquenta. Cem. E depois todos, ao mesmo tempo, caíram na cabeça do ninja. Shiro não tinha tempo para se esquivar, então cruzou os dois braços em cima da cabeça e recebeu os s ali mesmo. Era como estar debaixo de uma chuva de agulhas. Os grossos alfinetes foram caindo e fazendo Shiro sentir cada picada em seus braços, nos ombros, no corpo e alguns até mesmo nos pés. Agora ele sabia como sentia alguém que acabou mexendo em um ninho de abelhas raivosas.

Shiro caiu de joelhos, sangrando por todos os lugares possíveis. Eram dezenas de pequenos furos por todo o corpo, mas principalmente em seus braços. Ele não gritou de dor nenhuma vez, mas estava a sentindo. Era uma magia terrível. Mas ainda era uma magia.

Depois de atingir o alvo, os alfinetes desaparecem do mesmo jeito que apareceram. Mas os furos e a dor permaneceram. O ninja tentou se erguer, mas viu que qualquer músculo que ele mexia fazia mais sangue jorrar de seu corpo. Ele apertou os dentes e olhou para frente, para sua oponente. Não dava pra desgrudar os olhos dela nem por um segundo.

A assassina decidiu acabar com a luta. Vendo Shiro sem reação e de joelhos no chão fez ela recuperar a vontade e o fôlego. Ela correu com a kodachi em mãos e mirou na nuca do ninja. Isso acabaria ali mesmo. Pensou ela. Shiro, mesmo de joelhos, colocou a palma de sua mão no chão mais uma vez, abrindo aquele circulo negro que o engoliu da primeira vez.

MERGULHO DAS SOMBRAS!

Mais uma vez, o ninja sumiu diante os olhos da multidão, que não tinha parado de gritar depois que viram o golpe de Mana. A assassina, por sua vez, sabia que aquilo não era bom. Mas dessa vez, ela estava mais atenta. Ela tinha entendido o truque barato de seu "rival".

Shiro saiu de trás dela, surgindo das sombras mais uma vez. Ele teve forças para balançar sua foice mais uma vez. Mas não esperava o resultado. Mana deu um giro com o corpo, ficando frente a frente com o adversário. Depois, levantou a kodachi e defendeu o golpe dele ainda em movimento. A manobra salvou Mana de um outro golpe nas costas, mas o giro fez ela se desequilibrar.

Shiro levou a mão para trás e abriu sua bolsa na cintura nas costas. Pegou alguma coisa e concentrou energia nessa coisa. Não demorou nem um segundo e ele tinha atacado a tal coisa na assassina ainda desequilibrada.

SHURIKEN DAS SOMBRAS!

Saíram três shurikens da mão de Shiro... Todas invisíveis. Mana se assustou por ver uma silhueta das estrelas ninjas vindo em sua direção e logo após sumirem de repente. Ela levantou a kodachi para frente, imaginando que as estrelas estavam vindo daquela direção.

Uma realmente estava. O barulho de metal que sua arma fez tinha dito para ela que uma das estrelas havia sido defendida. Mas era só essa. As outras duas passaram por seus dois braços, a cortando e jorrando sangue no chão.

Dessa vez, foi Mana que deu um salto grande para trás quando Shiro colocou a mão na bolsa mais uma vez. Mais uma vez, eles estavam afastados um do outro e arfavam rapidamente. A garota colocou a mão esquerda sobre no novo corte no braço direito, mas tinha visto que o corte não tinha sido profundo. Além disso, a dor em suas costas ainda fazia toda a atenção de seu cérebro se virar para aquela área.

O mesmo não valia para Shiro. Ele estava sentindo dores em todos os lugares do corpo, mas sabia que não estava machucado o suficiente para se preocupar. Não ainda.

— Aha! Ficou com medo do meu último golpe, não é? — pergunta Shiro, se vangloriando. Ele fez isso pra esconder o fato de que ainda sentia seu corpo ficando fraco pela falta de sangue.

— Medo? Longe disso. Não preciso ter medo de uma magia que eu já entendi como funciona.

— MAS O QUÊ? Ta querendo me dizer que sabe como minha técnica funciona? Te desafio a tentar me dizer, então!

— Você é um exímio Manipular de Sombras. Isso já está óbvio para todos no Coliseu. É impressionante como você consegue fazer sua presença desaparecer por uns segundos e reaparecer em um ponto cego do oponente. E suas shurikens são escondidas com energia negra e fazem elas parecerem invisíveis assim que saem da sua mão. Se não tomado o devido cuidado por parte de quem irá se defender dela, ela pode se tornar uma técnica assassina.

— Boa análise. Agora você sabe o porque eu sou chamado de "Sombra da Morte", hahaha! — essa risada fez ele revigorar um pouco de sua força de vontade. Ele não podia ser ele mesmo sem rir para se acalmar. — Mas entender como minhas técnicas funcionam não vai fazer você se esquivar delas!

Shiro tinha razão. Sua técnica era perigosa demais. Um passo em falso, e Mana não estaria mais nesse mundo. Os golpes rápidos e armas arremessáveis que ele tinha fazia ele ser um lutador tanto de curta quanto de longa distância. Logo, ficar perto ou longe dele não iria fazer tanta diferença, principalmente por causa dessa magia de desaparecer nas sombras.

Mana precisava envenená-lo. Um golpe bem dado com suas adagas envenenadas faria ela virar o jogo de uma só vez. Mas atirá-las não iria funcionar. Shiro não iria deixar essas adagas atingirem seu corpo de maneira alguma. Ele parecia entender bastante das técnicas de luta da assassina. Provavelmente andou pesquisando mais do que deveria para sempre estar um passo a frente dela. Isso era irritante.

— Agora vamos levar essa luta para outro patamar, Mana! — gritou Shiro. — INVENTÁRIO DAS TREVAS!

O ninja fez um pequeno círculo negro em sua frente. Não era a mesma magia de antes. Em vez de ser totalmente engolido pela magia, ele colocou só a mão esquerda em cima do círculo, que foi afundando como se estivesse um buraco no meio do nada. Mana se preparou, mas não sabia se avançava ou esperava.

Shiro não deixou ela se decidir. Logo depois que seu braço entrou naquele círculo, ela o viu puxando novamente. O braço saiu com algo em mãos: uma corrente. Ele foi puxando aquela corrente negra do buraco mágico, até acabar em uma esfera de ferro na ponta. Depois, o pequeno círculo simplesmente desapareceu. Não tinha ataque nenhum. Nada estava voando em direção de Mana. Então o que ele tinha feito?

Era uma corrente que ele segurava. Mas era só uma corrente! Espera. Ele estava encaixando a uma das pontas no cabo de sua foice. Não era a parte com a esfera de ferro. Okay. Agora era uma foice com uma longa corrente e uma bola na ponta... E ele estava girando a foice pela corrente. E sorrindo. Essa cena. Não, não. Essa ARMA. Essa junção da corrente com a foice. Onde mais ela já tinha visto algo parecido?

E foi então que Shiro parou de rodar a foice acima de sua cabeça e a atacou contra Mana. A assassina estava de prontidão, mesmo perdida em seus próprios pensamentos. A foice veio voando rapidamente contra sua cabeça, mas foi rebatida de volta pela sua kodachi. Shiro puxou e girou a corrente, e a foice que estava no ar desceu de ponta na cabeça de Mana. A assassina levou um susto, mas ainda conseguiu dar um salto para o lado e se esquivar do golpe.

E agora Shiro corria em sua direção, puxando a foice de volta para ele. Mana levou a mão em duas adagas e as atirou contra ele. Shiro, agora com a foice de volta em sua mão, jogou só a parte da corrente para frente, defendendo as duas adagas. Ele já estava acostumado com a velocidade de arremesso de Mana, então ela nunca iria conseguir acertá-lo de frente.

Mas aí ele parou de correr. Sentiu duas picadas no estômago, como se fossem ferrões de insetos. Olhou e viu que tinha dois alfinetes, daqueles que Mana tem no bolso, enfiados em seu estômago. Ele tremeu. Tinha entendido o que havia acontecido. Mana jogou os dois alfinetes junto com as duas adagas. Como as adagas são mais grossas e muito mais perigosas, os alfinetes acabam se tornando invisíveis aos olhos do ninja. Técnica maldita! Ele precisava ficar mais atento!

Então ele levou a mão esquerda até os alfinetes e os puxou com força, fazendo ele sentir mais um pouco da maldita dor. Quantos furos ele já tinha?

Não era hora de tentar contá-los. Mana já estava no ar, descendo com sua kodachi em direção à sua cabeça. Shiro ainda teve tempo de esticar a corrente para cima, defendendo a lâmina um pouco antes do golpe fatal. A moça, ainda no ar, fez uma manobra com o corpo e acertou Shiro com um chute na cara. O ninja caiu para trás, rolando uma vez. Quase tinha arrancado um dente dele.

As coisas não podiam ficar assim. O combatente da White Lotus deu um salto para trás e começou a concentrar energia mágica. Mana viu a aura do seu oponente se fortalecer e sabia que ele estava preparando outra magia. Mas ela não iria deixar assim. Partiu para cima dele mais uma vez. Pegou impulso e deu um corte lateral com sua kodachi, na altura do queixo. O usuário de sombras levantou a foice e defendeu o golpe, ficando cara a cara com sua oponente. Olho no olho. Agora cada um via a determinação e a vontade de derramar o sangue do outro no ringue. Shiro sorriu de novo.

— Vai perder esse sorriso pra sempre. — disse Mana, ainda forçando a kodachi contra a foice do oponente.

— Será? TÚNEL NEGRO!

Shiro não soltou a foice e a manteve pressionando contra a kodachi de Mana. Mas sua magia não necessitava disso. Ele jogou a esfera de ferro para trás, que segurava com a mão esquerda. Essa esfera viaja até a sombra criada pelo próprio corpo de Shiro, mas em vez de bater no chão como imaginado, ela "entra" nas trevas de sua sombra, assim como Shiro faz com sua magia de desaparecimento repentino.

Mana olhou para os dois lados, sem se mexer. Ela não podia afrouxar o braço que estava segurando a sua arma, se não Shiro a atacaria com a foice. Mas o que ele tinha feito, então? Ela não viu ele jogando a esfera para trás, pois estava focada nos olhos do oponente. Então, naturalmente, ela não viu o pequeno portal das trevas abrindo em suas sombras.

Dali, a esfera saiu do jeito contrário de como entrou. Voou de baixo para cima, acertando as costelas de Mana. A garota perdeu o ar imediatamente, amolecendo o braço e desvencilhando a foice de Shiro. Essa era a hora dele.

O ninja levou o braço para trás e o voltou em um ataque único, cortando sua oponente do ombro até o umbigo. Mana deu dois passos para trás e caiu de costas no chão gelado, tremendo. E depois veio o barulho. A plateia gritava ao mesmo tempo em que o Apresentador falava em como o golpe tinha sido bem planejado. Quase ninguém o ouvia, na verdade.

— E esse é o temível poder da minha Kusari-Gama! — gritou Shiro para todo o público pudesse aplaudi-lo, o que realmente aconteceu.

Ao ver a companheira de time caindo no chão, Mulkior deu um berro, gritando seu nome. Ele estava novamente na borda do ringue, querendo subir o mais rápido possível para ajudá-la. Ele não podia, e sabia disso. Baixou a cabeça. Se lamentou por não ser o oponente desse tal de Shiro. Ele não iria conseguir atingi-lo diretamente! "Saco!", pensou ele. Levantou a cabeça de novo.

Era difícil olhar aquela cena, mas ele era o Líder do Time. Precisava manter o foco. Mana estava tossindo e estava com uma expressão horrível de dor no seu rosto. Mumu olhou para o lado, para ver como San, que teoricamente era o parceiro dela, estava reagindo a situação. E daí ele se assustou. San estava parado no mesmo lugar, desde o começo da luta, com os braços cruzados e olhando para o ringue. Sem expressão nenhuma.

— Como você consegue ficar calmo nessa situação? Você não é o parceiro dela? — questionou o mago, em um tom forte e nervoso.

— Não. O parceiro dela morreu há uns dias atrás. — respondeu o garoto em questão, prontamente. — Somos só "conhecidos com a mesma causa".

— Mas o quê? — o mago realmente não tinha entendido nada do que San disse. Quem tinha morrido? Mesma causa? — Mas mesmo assim, você poderia demonstrar alguma preocupação!

— Isso não é necessário. Principalmente agora que eu acho que a luta vai acabar.

— Mas é claro que vai! Ela não pode continuar lutando! Provavelmente quebrou algumas costelas com aquela bolada nas costas!

— Ela? — San sorriu. E Mumu estranhou. — Quem disse que eu estava falando que ela perdeu? Olhe. — San apontou para o ringue. — É agora que a verdadeira batalha vai começar.

O líder do time não conseguiu fechar a boca, mas não falou mais nada. Se virou, tentando acompanhar o dedo de San. Ele apontava para Mana, que nesse exato momento se levantava lentamente, como alguém que acabou de acordar de um sono bem pesado. Mumu ficou claramente impressionado, mas nem tanto quanto Shiro. Não era possível. Para o ninja, aquilo só poderia ser um sonho. Ou melhor: um terrível pesadelo.

Mana estava se levantando e sua aura estava ficando AINDA mais forte. Agora era possível ver um tipo de fumaça vermelha emanando de seu corpo e espalhando por todo o ringue. Quando essa fumaça atingiu as pernas de Shiro, os pelos das suas pernas se enrijeceram. O que diabos era aquilo?

Shiro hesitou pela primeira vez na luta. Aquilo... Era sede de sangue! Era tão poderoso que fez até quem estava assistindo das arquibancadas sentirem arrepios. Como ela conseguia ter tanta energia escondida ainda? Shiro sabia bem que o seu último golpe nas costas dela havia sido direto e mortal. Então além de estar com dois imensos e profundos cortes nas costas, ela ainda estava com duas ou três costelas quebradas! Então por que ela estava se levantando? Da onde ela estava tirando tanta força de vontade?

Ele olhou para o lado e viu Mulkior e San na borda do ringue. Não, não eram eles. Mana não era do tipo que lutava pelos seus companheiros. Ele sabia muito bem disso. Então como? Por quê? Shiro deu mais um passo para trás e estava suando frio.

— Eu tenho que admitir, Shiro... — começou Mana, com uma voz muito mais sinistra que o normal. — Eu te subestimei. Não pensava que teria que usar isso contra alguém como você. Mas você que pediu para ter um duelo comigo. Então vai ter. Quis me ver lutando com tudo... Então vai ver.

— Ahah... — a risada dele foi curta e sem graça, até para ele mesmo. — Vai me dizer que até agora, não estava lutando com tudo? Não tente me amedrontar!

Mana não precisou responder. Ela ficou ereta, olhou para o lado e encarou Mulkior e San. O mago de ferro continuava com a boca aberta, não acreditando que Mana tinha conseguido se levantar depois daquilo. Ele não sabia, mas Mana estava se esforçando só para continuar consciente. Ela já tinha se acostumado com as dores nas costas, mas ainda sim, se movimentar era complicado.

Mas ela teria que superar isso. Como ela mesma disse, agora seria a hora que ela iria mostrar de uma vez por todas para Shiro, que ele nunca deveria tê-la seguido como uma rival.

A assassina começa a retirar as longas luvas negras das mãos. A plateia conseguiu até ficar mais calada, tentando ver o que ela estava fazendo. Por que ela se despiria no meio da luta? O povo não fazia ideia... Mas todos os combatentes que assistiam sabiam bem o que isso significava.

Para um nobre, retirar as luvas era sinal de respeito, dizendo ao oponente que estava disposto a sujar as mãos no combate. Para uma assassina, retirar as luvas significava que havia algo escondido embaixo delas. E realmente tinha.

Depois de retiradas e jogadas no chão, as luvas começaram a voar com o vento. Shiro não estava prestando atenção nelas. O que lhe chamava a atenção era as mãos de sua oponente. Mana apertou as duas mãos ao mesmo tempo e revelou uma Katar em cada braço. A arma era reluzente e chamativa. Negra como a noite mais silenciosa e sem estrelas no céu.

Era uma katar de duas lâminas, com uma forma bem diferente. Por fora, nos extremos da arma, era uma lâmina fina e curvada. Mas por dentro, onde as duas lâminas se viam, era ondulado. Nunca na vida alguém daquele Coliseu tinha visto uma arma tão diferente quanto aquela. Katar era uma arma que quase todos os assassinos usavam. Até existia um templo que criou uma arte marcial baseada totalmente nela. Mas não naquela forma.

E ainda havia outro detalhe, que era o MAIS chamativo: a arma tinha uma aura própria. Ela exalava uma grande quantidade de poder mágico, que era claramente diferente da energia negra de sua usuária. Mumu foi um dos primeiros no Coliseu inteiro a perceber esse fato.

— O que é aquilo? Não pode ser o que eu estou pensando... — dizia o mago, sem tirar os olhos da lâmina.

— Mas é. — completou San, mesmo não sendo perguntado diretamente. — Se você pensou nos "Tesouros do Olimpo", então acertou. Mana a chama de "Jur", o mesmo nome da katar do "Assassino de Reis" das lendas do Leste.

— Eu não posso acreditar nisso! Esses tesouros são armas lendárias usadas por heróis de centenas de anos atrás! Dizem que elas eram inquebráveis e não envelheciam nunca... Mas são só lendas! Não pode ser!

— Eu entendo o que você quer dizer, Mulkior. Eu também não acreditei quando ela me mostrou anteontem. Perguntei como ela tinha conseguido, mas ela não quis me dizer. Mas é claramente um dos Tesouros. O fato dela ter uma aura própria comprova isso.

E era exatamente o que fez Mulkior pensar naquilo. Ele conhecia esses tesouros melhor do que ninguém, porque eles estavam relacionados com sua família desde sua criação! Era apenas um mito, mas parece que sua família tem participação na criação desses tesouros.

Mumu sempre se interessou por esse conto e passou muitos anos pesquisando para encontrar pistas. Mas a única coisa que ele tinha encontrado, era que o Rei dessa cidade, de Riven mesmo, era dono de um dos Tesouros. Mas ninguém sabia o que era e como ele tinha conseguido. E obviamente, não era mostrado pra ninguém. Mas Mana tinha um! E estava bem a sua frente! Era incrível!

Pablo, o Apresentador, não fazia a mínima ideia do que era aquilo, mas com certeza era algo impressionante. Ele dizia que Mana tinha revelado suas armas mágicas e que provavelmente esse era um dos maiores segredos da assassina. Bom... Ele tinha razão. Já Bart sabia muito bem o que era aquilo. Pablo não viu, mas o soldado do Planetarium havia ficado com um olhar sério quando viu a arma. Aquilo era realmente surpreendente.

Shiro queria ter tempo para pensar em quão incrível era a arma de sua oponente, mas Mana avançou em uma velocidade triplicada na direção dele. Se ela já era rápida antes, imagine agora. Shiro piscou e viu Mana bem a sua frente, dando um golpe duplo na altura de suas pernas. O ninja não ia ter tempo para se defender, então deu um passo para trás. Ele evitou ser cortado profundamente, mas sentiu o corte da katar de Mana passando por suas pernas.

Não era só a velocidade de avanço dela que tinha aumentado. Seu ataque estava quase indefensável! Mais uma vez, ele achou que aquilo só podia ser um pesadelo. Agora Mana estava com uma aura gigantesca, estava usando uma arma mágica da puta que o pariu e estava rápida pra cacete. O que poderia vir depois?

IMPULSO SÔNICO!

Se os pensamentos de Shiro pudessem ser respondidos, eles diriam algo como: "É ISSO que vem depois". Mana concentrou energia mágica nas duas armas, jogou os braços para trás, deu um passo para frente para tomar força e depois fez um corte no ar com as duas armas ao mesmo tempo. Das armas, um impulso mágico saiu rápido e foi na direção de Shiro.

O ninja não tinha nenhuma magia para combater aquilo, então só cruzou os braços na frente do corpo e recebeu o impacto. E que impacto. O impulso bateu nos braços do ninja, que tentou se manter naquela mesma posição, mostrando sua superioridade. Não adiantou. Shiro voou alto e para longe. Para ser mais preciso, ele voou exatamente sete metros. Caiu no chão em pé, perdendo o equilíbrio e ficando de joelhos.

Agora Mana tinha velocidade de movimento, velocidade de ataque E poder de impacto! Essa era a verdadeira assassina conhecida como "Lâmina Sanguinária"? Era isso que Shiro sempre quis enfrentar? Como ela conseguia ser tão forte? Dor. Os braços de Shiro estavam tremendo e ele não conseguia manter as mãos firmes. E lá vinha a assassina mais uma vez.

Mana não ia dar mais chances para ele. Ela iria fazer exatamente como ele fez no começo da luta, não deixando Shiro se recuperar. Mas não era tão simples. O ninja girou a esfera na extremidade da corrente e a atirou contra a cabeça de sua rival. Ele ainda não ia se dar por vencido. A esfera voou rápido e reto. Mana colocou a cabeça para o lado e ela passou raspando seu rosto.

Estava na hora de acabar com aquela maldita arma. Com a corrente esticada ao seu lado, Mana levantou uma das katars e a colocou no meio das duas lâminas. Parecia um fio no meio de uma tesoura. E era exatamente isso que a assassina de aura negra estava querendo fazer.

DECLÍNIO DO GUERREIRO!

Pouca energia mágica era necessária para a utilização dessa magia. Mana fez as duas lâminas da sua katar do braço esquerdo brilharem uma luz roxa e depois girou o braço noventa graus, forçando as lâminas contra a corrente esticada. Tinha sido como passar uma faca no pão. Foi ouvido o barulho de ferro sendo destruído, e a corrente de Shiro caiu esmigalhada no chão branco do ringue. A esfera na ponta sumiu da visão do ninja. Não dava pra usar uma kusari-gama sem corrente! A arma tinha sido inutilizada! E Mana havia sumido!

Não, ninguém desparece assim! Onde? Lado! Mana estava no lado de Shiro, preparando um golpe de ponta com o braço esquerdo. Shiro se virou e levantou a foice com o resto de corrente que ainda estava presa a ela. Defendeu o golpe de sua oponente... Mas era uma finta.

A assassina tinha dado um outro golpe com a katar do braço direito vindo rápido contra a cabeça do ninja. Shiro percebeu no último segundo e se jogou para trás, mas não evitou de ser cortado no rosto. Ainda no chão de joelhos, Shiro colocou as mãos no bolso e retirou mais três Shurikens. A ideia era atira-los contra a sua rival e fazer ela se afastar como fez antes...

Mas Mana não tinha dado nem tempo pra isso. Assim que ele apareceu com as shurikens em mão, Mana deu um corte rápido em seu pulso, fazendo Shiro largar as estrelas ninja imediatamente.

MERGULHO DAS SOMBRAS!

Shiro desistiu de ser pressionado. Ao ver o machucado no pulso, ele levou a palma da mão até o chão e abriu mais um de seus portais, entrando nele no mesmo instante. Mana já estava esperando o próximo ataque dele. Ela sabia que ele surgiria da sombra feita pelo seu próprio corpo, então em vez de ficar parada, ela pulou para cima o mais alto que pode. A sombra ainda existia debaixo dela, e foi onde Shiro apareceu. Bingo.

O ninja não esperava tal manobra, então ficou procurando a oponente olhando para os lados. Não, ela estava em cima! Mana desceu com um corte vertical duplo, querendo fatiar Shiro em dois. O ninja vestido de branco levantou a foice para se defender, e foi o que salvou sua vida. O impacto das duas armas foi grande, mas como Mana estava vindo de cima, sua força tinha sido ainda maior, empurrando o braço de Shiro para baixo, fazendo-o largar a foice a seus pés.

Agora Mana estava no chão, mas não tinha parado de querer atacar. "Dane-se a porra da foice!", pensou Shiro. Ele deu um salto grande para trás, querendo manter distância de sua oponente. E por graças a sua sorte, Mana não foi atrás dele imediatamente. Não que ela não queria: ela não conseguiu.

Depois de cair no chão e mandar todo o impacto do pulo para seu corpo, a dor nas costelas falaram mais alto. Agora ela estava arcada e respirava rapidamente. Havia sangue escorrendo de sua boca. A dor não ia passar. Ela colocou a mão na testa, limpando o suor acumulado. Ela já estava chegando no seu limite. Sua fadiga não iria aguentar mais tantas investidas e esquivas.

Por outro lado, Shiro ainda tinha uma boa quantidade de energia para gastar... Mas não tinha sangue o suficiente para aguentar. Ele estava desarmado, machucado e com medo. Eram três coisas que combinadas, só resultariam em uma total derrota.

Mas ele sorriu. Conseguiu sorrir até mesmo naquele momento. Ele olhou para Mana e se certificou que ela estava de fato em seu limite. Em se tratando de danos, ele tinha levado mais. Mas Mana já não tinha muita força sobrando depois de tantos ataques contínuos.

Ele ficou de pé e limpou o sangue que escorria de seu rosto. Tudo doía. Seu pulso era preocupante, porque mesmo que o corte tenha sido leve, o sangue não parava de escorrer ali. Ele forçou o braço contra a blusa, na esperança de que o tecido sugasse e estancasse o vazamento de sangue. Shiro já parecia mais um "ninja vermelho" do que um "branco". Havia sangue em todo o seu corpo e ele odiaria se olhar no espelho naquela situação.

— Parece que estamos chegando no nosso limite, não acha? — disse Shiro, em um tom bem alto para que Mana pudesse ouvir. E ela ouviu, mas não respondeu. Ela respirou fundo e ficou novamente em pose de combate. — Ah, sem comentários? Ok... Você nunca foi de falar muito mesmo. Então eu vou falar por você! Essa luta... Está o máximo! — ele tinha aumentando o tom de voz. Agora a ideia era que todos ouvissem. — Eu nunca lutei com alguém tão forte na minha vida! E era isso que eu queria, Mana! Esse duelo era tudo o que eu sempre quis! Vamos mostrar para todos nesse Coliseu nosso poder máximo! E vamos ver, de uma vez por todas, quem de nós é mais forte!

A plateia tinha reagido positivamente com o comentário de Shiro. Era isso que eles queriam. Ver dois guerreiros lutando com tudo, usando todas as técnicas, magias, artes, estratégias... Tudo! Quanto mais impressionante, melhor!

Na parte dos membros restantes do time da White Lotus, White continuava inquieto. Aquela luta já tinha passado do limite há muito tempo atrás. Nenhum dos dois queria se dar por vencido, mesmo eles sabendo que seus corpos não aguentariam por muito tempo a mais. Para White, a vitória era bem vinda. Mas perder a vida do seu melhor espião não valia esse tanto! Mas quem poderia parar aquilo? Quando Shiro se decide com uma coisa, ele leva até o fim.

Já do outro lado do Ringue, Mulkior tinha conseguido se acalmar um pouco. Ele ainda estava preocupado com Mana, claro. Mas a vontade de ver aquela katar em ação tinha tomado toda sua atenção. Já San continuava com a mesma expressão, mas seus dedos dançavam desengonçadamente pelos seus braços cruzados. Ele olhava fixadamente para a assassina que não parava de arfar. Ele estava pensando no mesmo que White.

— Está na hora do final. — continuou Shiro. — Eu vou mostrar o meu maior segredo pra você, Mana. É algo que eu não queria usar nesse combate porque eu não me acostumei com ela ainda. Mas depois que vi suas armas, eu sabia que o único jeito de lutar contra você seria utilizando isso. Eu tenho que ariscar tudo nessa luta! Só assim essa tensão no meu sangue irá se acalmar! Bem... VAMOS LÁ! INVENTÁRIO DAS TREVAS!

Shiro concentra uma rápida quantidade de energia mágica a sua frente e cria aquele já característico círculo negro no chão. Ele se agacha e enfia a mão e o braço quase inteiro dentro daquele círculo dimensional. Foi do mesmo jeito que ele retirou a corrente para combinar com sua foice, mas havia um grande diferencial dessa vez. No momento em que seu braço começou a ser puxado de volta, uma energia negra e sinistra começou e exalar do buraco.

Era uma grande energia. Shiro parecia puxar algo extremamente pesado, e quanto mais seu braço saía, mais daquela energia negra era soltada no ringue. Mana sentiu o poder daquilo de longe. Ela não sabia o que era, mas já tinha total certeza que era perigoso.

E então seus braços começaram a tremer. Não era medo. E na verdade, essa tremedeira não vinha dela, e sim, das armas em seus braços. As katars estavam resoando. Pareciam gritar ao sentirem aquela energia sinistra que saia do buraco negro criado pelo ninja. Isso não poderia ser algo bom.

Enfim, Shiro retirou o braço de uma vez só, gritando. O buraco se fechou imediatamente depois que o seu braço e aquilo que ele puxava saíram de lá. O que ele segurava era mediamente cumprido. Era uma lâmina muito pouco curvada, com a ponta reta, na cor cinza e brilhosa, com uma empunhadura grossa e negra. Era uma katana. Ou não?

Mana olhou atentamente para a arma que estava envolta de uma aura poderosa. Parecia uma katana... Mas sem o protetor de mão que separa a empunhadura da lâmina. Ah, e as katanas não tem aquela ponta reta e são mais curvadas.

— Eheheh... — começou Shiro, dando uma risada bem baixinha. Mana não precisou ouvir pra saber que ele estava rindo. A expressão dele já dizia tudo. — Impressionada? Você deve estar! — o ninja esperou um segundo e olhou para sua adversária, achando que ela falasse algo. Como não abriu a boca e continuou parada, ele continuou falando. — Eu a chamo de "Izayoi" e é uma das únicas "Ninja Blade's" que existem no mundo! Ela junta as duas maiores vantagens de uma katana e de uma ninja-to, tendo uma lâmina curvada e uma ponta afiada e ereta. Corte e perfuração ao mesmo tempo. O que achou?

— É realmente uma arma impressionante. Pena que está nas mãos erradas. — respondeu a assassina prontamente.

— Ahahahahahah! Era o que eu esperava que você falasse! Agora... — Shiro segurou a arma com as duas mãos na frente de seu corpo, tentando ignorar ao máximo a dor em seu pulso. — Vamos acabar com isso!

Os dois, ao mesmo tempo, avançaram para frente. Eles iriam com tudo. Iriam um para cima do outro. Nenhum dos dois tinha muita energia sobrando, então provavelmente teriam uma luta corpo-a-corpo. Era o que White, Mumu e até mesmo Bart estavam pensando.

Mana foi a primeira a atacar. Deu um golpe horizontal baixo, mirando as pernas de Shiro. O ninja pulou para cima se esquivando, e caiu com um golpe forte vindo de lá. Mana levantou as duas katars em forma cruzada acima da cabeça e levou o impacto. Foi impressionante.

Quando as duas armas se tocaram, o barulho de metal foi tão alto que criou zunidos em muitos ouvidos da plateia. Além disso, as duas energias explodiram no impacto, varrendo todo o pó acumulado no ringue. A explosão fez os membros restantes dos dois times levarem seus braços aos olhos para não ficarem cegos. Tinha sido um impacto e tanto. E era só o começo.

CORTE DA PENUMBRA!

Shiro deu um passo para trás, ganhando uma distância específica e logo em seguida, concentrou energia mágica em sua nova arma. A lâmina vibrou com a aura juntada a sua, parecendo que a arma se "alimentava" da energia que Shiro lhe mandava. E então veio o golpe.

Shiro levantou a arma e fez um corte diagonal, mirando o ombro da assassina. Foi um golpe rápido e parecia ser potente. Mana levantou o braço esquerdo para se defender, mas então se assustou. A lâmina da arma havia sumido! Shiro abaixou o braço como se tivesse dado o golpe que ela tinha previsto, mas ao invés de ser no ombro, suas duas pernas foram cortadas horizontalmente. O que tinha acontecido? Como a lâmina havia sumido do nada? E como isso acabou em um golpe na perna?

Não havia tempo para isso. Shiro girou o corpo e deu um golpe de ponta mirando o coração de Mana. A garota, vendo que a dor nas pernas por causa do novo corte a impediriam de se esquivar do golpe, levou-a colocar a katar na frente do peito, defletindo o golpe por muito pouco.

Mana deu um pequeno salto para trás e levou a mão em mais uma adaga, atirando contra o peito de Shiro. O ninja contra atacou atirando uma kunai contra a adaga. As duas pequenas armas se encontraram no ar e foram ao chão.

Shiro decidiu aumentar a velocidade dos golpes. Forçou toda a energia que tinha e concentrou em seu corpo. Mana percebeu a quantidade absurda de energia e já tinha entendido qual era o plano dele. Com isso, ela também fez sua energia correr por seu corpo.

O ninja foi quem avançou dessa vez. O pessoal gritou quando Shiro desapareceu por um segundo e apareceu na frente de Mana, já defendendo um golpe do ninja. Foi tudo tão rápido, que aqueles que não tinham olhos bem treinados, não conseguiam ver o que tinha acontecido. Mas os guerreiros sabiam que os dois tinham concentrado energia em seus corpos para aumentar a própria velocidade.

Uma série de efeitos ocorreu no segundo seguinte. Tudo o que o pessoal das arquibancadas e Pablo conseguiam ver eram vultos correndo pelo meio do ringue, estalidos, barulho de metal e flashes. A luta estava intensa demais. Os únicos que conseguiam ver perfeitamente o que estava acontecendo eram alguns membros dos times mais fortes.

Assim que Shiro "reapareceu" já na frente da assassina, Mana contra atacou com uma combinação rápida de três cortes na altura do peito e um na altura da cabeça. Shiro defendeu os três e se esquivou do último jogando a cabeça para trás. E rindo. Ele estava amando aquilo. Ela estava conseguindo acompanhar ele! Era incrível! Ninguém mais conseguia acompanhá-lo quando ele ficava sério!

Ele retribuiu os golpes da oponente fazendo uma combinação forte de dois cortes verticais mirando o meio do corpo dela. O primeiro golpe foi esquivado e o segundo aparado pela katar do braço direito de Mana. Ela, aproveitando a chance, deu um corte rápido no braço dele utilizando seu braço que estava livre.

Shiro sentiu a dor, mas não recuou. Levantou a perna e deu um chute mirando o baço da oponente. Mana se virou e se esquivou do golpe. Deu outro passo para frente para tomar força e deu um golpe de ponta com sua katar da mão direita no peito de Shiro. O ninja aparou colocando sua lâmina entre as duas lâminas da katar dela. E era exatamente isso que ela queria.

DECLÍNIO DO GUERREIRO!

Mana passou energia para a katar e depois girou o braço, visando quebrar a arma que Shiro tanto se orgulhava. Mas não aconteceu isso. Houve o barulho dos ferros se encontrando, mas a arma não havia sido destruída. A assassina perdeu a compostura quando viu que não tinha quebrado a arma... O que deu uma abertura para Shiro.

O ninja, vendo que sua adversária estava muito perto dele, soltou uma das mãos de sua arma, fechou o punho e aplicou um soco reto no rosto de Mana. Ela, por sua vez, cambaleou uns quatro passos para trás, cuspindo sangue. Como aquilo poderia ser possível? Sua magia era feita para quebrar qualquer tipo de arma! Como essa coisa não estava em pedaços? Espere... A não ser que...

A aura de Izayoi continuava sugando a energia mágica de Shiro, mesmo ele não usando nenhuma magia. Era isso! A espada estava consumindo todo o poder mágico do ninja pouco a pouco! Era por isso que ele tinha dito que "não tinha se acostumado com ela ainda"! Agora fazia sentido! Era uma maldita arma mágica sem nenhuma gema de energia! Não ia dar pra quebrá-la enquanto Shiro continuasse alimentando aquela porcaria.

Mas talvez isso não iria demorar muito. Ele já estava arfando rápido e seus movimentos pareciam mais lentos. Talvez a dor e o cansaço finalmente tomaram conta de seu espírito de luta.

KUNAI DA IMOBILIZAÇÃO!

Shiro pegou mais uma kunai que guardava na bolsa em sua cintura, colocou energia mágica nela e depois deu um pequeno salto para cima, em direção de sua oponente. Quando estava no alto, atirou a kunai contra Mana. Mas havia algo de errado. A velocidade do arremesso dele estava ridiculamente baixa. A kunai voou tão lentamente que a garota, mesmo machucada e cansada, não teve dificuldades nenhuma para girar o corpo para o lado e deixar a kunai passar, batendo no chão logo atrás dela.

Shiro caiu no chão de joelhos, se levantou, olhou para Mana e... Riu. De novo. Mana já estava de saco cheio daquele rosto abobado que só ria o tempo inteiro. Ele conseguia deixá-la mais irritada do que a cara sem expressão de San! Era hora de acabar com isso. Ela iria dar um de seus melhores golpes contra aquele ninja chato e ganhar esse combate. Ela tentou concentrar energia e ir na direção de Shiro. Não conseguiu.

A energia foi sim concentrada, mas ela não tinha conseguido se mexer. Suas pernas estavam paralisadas. Ela estava sentindo uma dormência total delas. Não havia dor alguma... Mas elas não respondiam mais. Será que era o efeito do golpe mais cedo? Mana olhou para a arma de Shiro. Não. Não havia veneno nela. Então como?

— Atrás de você. — disse Shiro, como se lendo a mente dela.

E daí ela olhou para trás. Não tinha nada lá além de sua própria sombra e a kunai enterrada no chão, bem onde sua sombra estava. Não... Era "exatamente" onde a sombra dela estava. Não! Ele não poderia ter feito isso! Uma magia para prender os movimentos pelas sombras! Shiro gargalhou.

— Agora que você percebeu que está presa, não pode mais se esquivar dos meus golpes, não importa quais sejam. Então minha cara rival... Vamos terminar essa luta agora!

Shiro levantou Izayoi com a mão direita e fez toda a sua energia restante ir pra arma. Era agora. O golpe supremo. Esse golpe não estava treinado ainda... Mas dane-se! Ele já tinha se ariscado demais trazendo a espada para esse combate.

Mana tinha razão. A espada era mágica e absorvia a energia mágica do usuário para ficar ainda mais forte. Era possível treinar para que ela absorvesse MENOS energia... Mas ele não tinha feito isso ainda. E esse golpe de agora também seria complicado de usar. Se ele errasse o golpe ou se não conseguisse se concentrar o suficiente para usá-lo, ele iria desmaiar imediatamente pela falta de energia em seu próprio corpo.

Pra que se preocupar com o "depois"? Ele precisava terminar isso em grande estilo! Ele não iria falhar! Seu time precisava dele! Essa vitória tinha que ser obrigatória! Shiro não se preocupava com as lutas futuras se pudesse vencer essa! Só essa lhe interessava. E só essa iria mostrar todo o seu potencial Ele queria gritar para o público para que eles prestassem muita atenção nesse último golpe. Esse seria o "gran finale"!

CAPA DA INVISIBILIDADE!

Mana sumiu. Shiro estava com os olhos atentos nela. Ele viu que ela se mexia o quanto podia para tentar se desvencilhar da paralisia. Ele sabia que era inútil. Ela não. Mas mesmo assim, ele não deixou de olhá-la. Mas então ela tinha parado de se mexer e começou a concentrar energia em seu corpo.

Shiro quis rir também, porque aquilo não ajudaria ela a se soltar. Mas então, do nada, ela some. Era uma magia de invisibilidade padrão. O ninja sabia disso MUITO bem. Magias de refração de luz usando energia mágica era o básico em classes como assassinos e ninjas. Mas mesmo assim, aquilo não iria adiantar.

— Não adianta, Mana! Você acha que sua sombra vai sumir também só porque vo---

Shiro parou de falar. Dor. Dor intensa. Dor no peito. Sua boca quis vomitar sangue. Dor demais. O que aconteceu? Era no peito. Ele olhou para baixo, sem abaixar a sua arma. Haviam duas... Não. Três. Sua visão estava ficando turva. Haviam três facas enterradas no seu peito. Facas? Não. Shiro piscou duas vezes. Olhou de novo. Adagas. Três adagas em seu peito.

Ele olhou para frente e lá estava Mana, parada no mesmo lugar. Ela tinha atirado as adagas? Mas ele não viu nada! Não viu... Shiro cambaleou para trás e quase caiu. Ele não viu! Ela estava invisível!

— Você achou que eu fiquei invisível para fugir da sua técnica. Mas eu fiz isso pra esconder meu ataque. Você caiu direitinho.

Shiro estava perdendo a consciência. Mas a dor estava indo embora e seus olhos estavam fechando. Era algo bom, não é? A dor estava desaparecendo! Era bom! A sensação de não sentir nada... NÃO!

Shiro ia cair de frente, mas colocou o peso na perna direita e se manteve ali, em pé. Não! Ele não podia se render! A vitória estava ali! Estava muito próxima! Izayoi continuava sugando sua energia. Era isso! Ele ainda tinha que usar seu melhor golpe! Não dava pra acabar sem antes ele ter usado toda a sua energia! Nem a pau!

Mana se viu livre da técnica de aprisionamento de Shiro. Como ele tinha perdido a concentração, todas as magias dele perdem o efeito. Mesmo livre, eles ainda estavam longe um do outro.

Mas a garota sabia que a batalha tinha terminado. Suas adagas eram envenenadas com um tipo raro de seiva de uma planta encontrada só em uma caverna marítima dos mares de Teorker. O veneno lentamente se mistura com o sangue e o impossibilita de correr pelo corpo, fazendo o coração parar. Era algo que matava qualquer coisa depois de alguns minutos. Era o fim do ninja chamado Shiro. Era o fim daquela luta.

— FO... DA... QUE SE FODAAAAAAAAAAAAA!!!

Shiro gritou o mais alto que pode. Levantou de novo sua arma e continuou alimentando-a de sua própria energia. Ele estava enlouquecido. Mana deu um passo para trás e não acreditou no que via. Ele estava querendo sofrer mais antes de morrer? Só pode! Aquilo precisava terminar.

Mana não estava mais aguentando as dores das costelas e não tinha mais sangue para se manter em pé. Ela ia acabar como Kula. Mas Shiro IA atacar. Ela podia ver nos olhos dele. Ele iria morrer, mas ia atacar. Sua teimosia era quase admirável.

Atirar outra adaga? Mana levou a mão no bolso e viu que já tinha atirado todas. Ainda haviam agulhas. Mas elas parariam os movimentos dele? Não. Ele já estava cheio de furos e continuava se movendo. Não dava para atirar nada. Correr até ele? Impossível. Os cortes nas pernas estavam impedindo que ela se movimentasse rápido o suficiente para chegar nele ANTES do golpe. O que ela tinha sobrando? Tinha energia mágica. Era pouco... Mas era a única coisa que tinha. Então ela se concentrou também.

Não dava pra saber o que viria contra ela, mas ariscou se concentrar em uma magia dela que ela mesmo quase não a usava. E era preciso torcer muito para que ela ainda tivesse energia sobrando para utilizar tal coisa.

Ela olhou para Shiro, que incrivelmente se levantava e se preparava para o golpe. Ele jogou a espada para trás, e toda a aquela energia começou a puxar o ar em volta. Se alguém estivesse perto dele, acabaria sufocado. Era algo perigoso. Demais.

Mana forçou a concentração. Aí vinha algo grande. De novo. Shiro, que estava com os olhos fechados, os abriu. Passou o resto de sua energia para a arma e mirou. Mana ainda estava lá, parada no mesmo lutar. Ótimo! Ela deveria estar paralisada ainda, pensou ele. Era hora! Era agora! Tudo o que ele tinha seria utilizado agora. Sua vitória estava ali! Seu nome seria gritado como vencedor!

Ele cuspiu sangue. Seu corpo estava mole. Estava difícil de respirar. VITÓRIA! Ele tinha que alcançar a vitória! Contra sua rival! Sua perna estremeceu. Não aguentava mais o peso do corpo. VITÓRIA! Falta de sangue. VITÓRIA! Um de seus olhos se fecharam. Sono. VITÓRIA! Dor. Sono. Dor. VITÓRIA!

— GOLPE SUPREMO!

Shiro usou o que lhe restava de suas forças para gritar e fazer toda aquela energia concentrada se manter na lâmina da espada. O chão queria tremer. O ar estava denso. Faíscas mágicas saiam ao seu redor. Aura negra emanava de seu corpo. Era seu golpe mais poderoso. Era tudo que ele tinha.

CAMINHO DO SUBMUNDO!

O ninja deu um corte de cima para baixo, batendo a espada com tudo no chão branco. Dali, uma gigantesca onda de energia negra e roxa foi criada e depois começou a correr na direção de Mana, deixando um rastro de impureza e trevas pelo caminho. Era realmente como uma estrada que levava direto para o Inferno. E estava vindo direto para a assassina.

Era uma onda gigantesca mesmo. Iria a engolir totalmente e continuaria seu caminho até bater com tudo na parede de proteção, muito atrás dela. Tinha energia demais ali. Mana não ia conseguir se defender. E ela não era louca de tentar. Ela não estava em condições para isso, mas mesmo que tivesse com toda sua energia, ainda não tentaria. Era loucura.

A garota não parou de concentrar. Mandou toda a energia que tinha concentrado para a lâmina da katar em seu braço direito. Aquilo era a única coisa que ela poderia fazer naquela situação. Ela tinha escolhido certo. Era a única técnica que iria lhe ajudar agora. Não era seu "golpe supremo". Infelizmente, ela não tinha condições para utilizá-lo. Mas ainda sim, era uma de suas melhores magias.

Ela nunca tinha usado ela em público. E só tinha usado duas vezes em toda a sua vida. Mas ao contrário de Shiro, ela havia treinado essa técnica muito bem. E ela iria provar isso agora. Chega dessa rivalidade sem sentido! Chega de risos! Chegar de discursos bonitos para se parecer forte! Ela iria mostrar o que era a VERDADEIRA força! Com isso!

MISERICÓRDIA DE ÉRIS!

Mana esperou até aquela onda enorme chegasse perto dela. Quando ela estava bem a sua frente, a assassina "golpeou" a onda usando a ponta da katar. Toda a energia concentrada na lâmina se chocou com a onda, criando uma visão espetacular de pequenas faíscas de várias cores voando por todo o ringue. Mana não conseguia contemplar a bonita visão. Ela estava sendo empurrada pela força da onda. Seus pés não iam aguentar mais. Ela estava longe da borda do ringue, mas isso não fazia diferença alguma. Ela precisava "cortar".

Levou a mão esquerda até seu braço direito e o forçou para baixo. Sua energia estava entrando dentro da onda. Seus dedos haviam encostado na onda e haviam sido queimados quase que imediatamente. Estar próximo demais daquela magia estava fazendo todo o seu braço pegar fogo. Mas a lâmina já estava em posição. Era agora.

Mana usou toda a força que tinha para empurrar a katar para baixo, cortando a onda ao meio. Feito isso, a onda se dividiu em dois e continuou correndo pelo ringue, deixando a assassina para trás. Continuou criando um caminho de trevas até o fim do ringue. Aliás! Um não. Dois caminhos.

A magia foi tão forte que ela ainda saiu do ringue e continuou correndo até bater com tudo na barreira de proteção que ficava na frente da arquibancada. No impacto, todos as pessoas que estavam ali naquela região tomaram um susto, pois a barreira estremeceu e mudou de cor, se tornando negra e escura. Um segundo depois, ela tinha voltado a ficar invisível, não atrapalhando a visão dos torcedores. Como dito antes, o sistema de proteção dali era incrível.

Shiro caiu de joelhos no chão e largou a espada. Incrível. Ele estava impressionado. Era sua melhor magia. Nada poderia parar aquilo. Claro, ainda estava incompleta porque ele precisava se acostumar mais com a Izayoi. Mas ainda sim... Ainda sim era um golpe poderoso! E ELA o cortou em dois! Não foi uma tarefa simples. Mas ela tinha conseguido. Incrível mesmo. Mas satisfatório.

Vitória! Seus olhos se fecharam. Vitória? Pra quê? Ele estava satisfeito. Tinha sido o melhor combate de sua vida. Ele estava contente de lutar até o último suspiro. Todo mundo aqui tinha contemplado sua força. E era gente pra caralho! Imagine agora o que eles iriam contar para seus amigos, filhos ou outros familiares? "Eu vi uma luta FODA! Tinha um ninja de branco e ele arrebentou!". É! É isso que eles diriam. Shiro sorriu uma última vez. Não tinha mais forças.

Mas ele não queria morrer. Não ali. Ele levou a mão no bolso traseiro de sua calça e tirou uma pequena capsula de vidro. Tinha um líquido laranja esquisito. Ele abriu a capsula e tomou o líquido. Seu corpo estava com tantas dores, que ele nem sentiu o gosto amargo correndo pela sua garganta.

Ele soltou o frasco que se quebrou quando atingiu o chão. Então ele sorriu de novo. Ele SABIA que Mana usava venenos em suas adagas. Então ele veio para a luta preparado. Aquilo que ele bebeu era um soro estimulante de glóbulos brancos misturado com um ácido rúnico usado em antibióticos. Não iria eliminar o veneno, mas iria impedi-lo de se espalhar por todo o corpo. Agora o resto era com os médicos. E então caiu de cara no chão.

A comemoração foi geral. Pablo gritou algo como "E ELE VAI AO CHÃO!" e o público foi a loucura. White estava na borda no ringue, gritando o nome do amigo. Ele quase chorava de preocupação. Não poderia perder Shiro! Foda-se o Torneio! Shiro era seu amigo! Ele não queria perder um amigo por causa de um Torneio idiota! E ele gritou o nome dele de novo. Shiro não respondeu nada.

Em seu lugar, o Telão Informativo começou uma contagem. Mostrou o número "10" e começou a diminuir. Essa era a contagem para quem caia no ringue, desmaiado ou para quem saía do mesmo. Quando chegou ao "5", o público começou a contar junto com o telão, gritando os números. Uns levantavam as mãos, contando nos dedos.

A empolgação era total. A vibração era tamanha que Mana conseguia sentir o tremor ali do centro do ringue. Shiro permanecia desmaiado no chão sujo. Já sua oponente não estava mais se aguentando em pé. Mas agora não faltava muito. Ela iria ficar ali até essa contagem regressiva terminar. E quando finalmente o contador chegou a zero, o Apresentador decidiu anunciar o óbvio.

Combatente Shiro, fora de combate! A vitória é de Mana, do time Immortal Star!

E daí mesmo que o povo foi ao delírio. A torcida não parecia querer diminuir o tom de voz nem por um segundo. White foi o primeiro a agir. Pulou para o ringue e correu na direção de seu companheiro. Mana, sem responder os vivas da torcida, deu as costas e começou a caminhar lentamente para o lado de seu time. Ela nem viu o paladino do time adversário passar correndo pelo seu lado e levantando Shiro pelos braços.

Quando White passou o braço de Shiro por seu pescoço, o ninja abriu os olhos. Olhou para o lado e viu o líder da guilda com uma expressão preocupada. Dessa vez, ele não riu.

— E aí... White... — a voz dele saiu tão baixa que o paladino quase não ouviu, mesmo estando encostado ao amigo. A gritaria generalizada do público também atrapalhava.

— Não fale nada, Shiro! Conserve suas energias o máximo que conseguir! — disse White, em tom de ordem.

— Malz cara... Não deu pra... — ele tossiu duas vezes, mas continuou. — Ganhar dessa vez.

E então desmaiou de novo. White queria ter dito pra ele que tinha sido uma grande luta. Ele sabia que o ninja havia dado tudo de si para ganhar o combate e não deixar o time perder logo no começo do Torneio. Mas quem ligava? Ele era o Líder! Se ele falasse que estava tudo bem, então é porque estava tudo bem!

A recompensa do vencedor final do torneio era ótima, mas se isso significava sacrifícios, então ele preferia voltar para casa e continuar o seu trabalho com uma das Guildas mais poderosas do mundo! O orgulho deles não seria ferido por causa de uma derrota aqui! E foi aí que ele ficou chocado. O público havia parado de gritar o nome de Mana e do time dela. Ao invés disso, todos, sem exceção, começaram uma salva de palmas. As palmas eram para a incrível batalha. Era para Shiro também.

— Consegue ouvir, Shiro? — disse ele, levantando a cabeça com orgulho. — Esse é o seu prêmio. Agora vamos pra casa. Temos muito trabalho pra fazer ainda.

Do outro lado da arena, Mana estava descendo do ringue. Ela tropeçou e caiu de joelhos. Sentiu uma forte pontada nas costas e quase gritou de dor. San correu para ajudá-la, mas quando ia pegar no braço dela, Mana o empurrou com a força que lhe restava, dizendo que conseguia se levantar sozinha.

Uma maca já tinha chegado para ela, junto com um médico. Era o mesmo que tinha levado a maga de fogo mais cedo. Mana se arrastou até a maca e se jogou nela, sentindo mais dor ainda. O médico viu ela se contorcendo e já estava ciente das condições da paciente. Ela precisava ser tratada imediatamente.

— Excelente luta, Mana! — disse Mulkior, extremamente empolgado. — Fiquei verdadeiramente impressionado com sua força! Acho que nem eu, na hora de encarar aquele último golpe, teria a coragem que você teve!

Mana queria ter respondido, mas não conseguiu. Ela levantou o polegar e depois desmaiou. Pra falar a verdade, ela não tinha ouvido o que seu colega tinha dito. Mas pela expressão de felicidade dele, com certeza era algo bom. Ela havia ganhado. Agora estava na hora de se juntar a Kuchiki e descansar. Deixe o resto com San. Ele vai saber se virar. E então a consciência dela se foi e ela entrou em um profundo sono. Nem sabia ela que San não iria precisar fazer mais nada.

E com as três vitórias, o time Immortal Star está classificado para a próxima fase do Torneio, que acontecerá amanhã! Foi uma surpresa e tanto, senhoras e senhores. Um time feito com pessoas de diferentes grupos conseguiu derrotar um time de uma grande guilda, que era um dos favoritos para ganhar o Torneio! — foi o que o Apresentador disse logo após os aplausos terminarem. — O que tem a nos dizer, Bart?

Bart não ouviu. Ele estava totalmente vidrado com o combate. Nem tinha percebido Pablo falando ao seu lado. Tinha sido uma luta incrível! As habilidades... As magias... As estratégias... Era isso que ele veio fazer aqui! Esse era o objetivo dele estar nesse Coliseu! Sua missão era secreta e ele não tinha gostado muito dela de início. Mas depois desse combate... Ah! Tudo tinha ficado mais interessante! Agora ele queria ver mais! Muito mais! E então Pablo o chamou de novo, retirando-o de seu transe.

Ah sim, desculpe. A batalha foi tão interessante que eu acabei me perdendo em pensamentos. — disse ele, tentando disfarçar sua empolgação. — Foi incrível ver a força de vontade dos dois competidores. Eles estavam claramente feridos e sem energias, mas continuavam lutando. E foi muito impressionante o duelo de armas mágicas! Espero ver mais disso lá no ringue!

Eu tenho que concordar com você, Bart! E não é só nós que espera ver mais dessas batalhas incríveis! E por isso que vamos continuar o Torneio! A segunda luta começa daqui a cinco minutos, senhoras e senhores!

Com o anúncio feito, os dois times começam a se retirar da arena. San e Mulkior acompanham a maca de Mana. Ela estava sendo levada para a mesma ala médica de Kula, e depois que as duas estiverem bem, irão todos para o quarto preparado exclusivamente para os times descansarem para o próximo dia.

Antes de sumirem da vista dos torcedores, San olhou para trás e viu os dois próximos times que iriam se enfrentar. Ele prestou atenção em um em específico, e viu que um membro daquele time também lhe encarava com profundeza. San virou as costas e continuou seguindo Mumu.

— Mana tinha razão... — disse ele, mas ninguém o ouvia. — O destino está mesmo pregando uma peça em nós.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, uma conversa importante com uma recém chegada.



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