"Começar o maior torneio do mundo com dois líderes de equipe foi quase uma jogada ensaiada. O público já tinha ido ao delírio na primeira luta. E quem poderia culpá-los? Não se esqueça que estávamos falando de uma Guilda como a White Lotus. Claro, hoje em dia ela não é como antes.

Ah, é uma pena que você é novo demais. Naquela época, reinos inteiros tremiam quando viam a bandeira branca com aquela flor bordada. Chegava a ser até engraçado. Geralmente, uma bandeira branca significava rendição ou até mesmo paz. Se você fosse perguntar diretamente para qualquer um dos membros, eles te responderiam que a bandeira significa que eram ELES que traziam a paz. Como eles faziam isso? Eliminando toda a resistência inimiga. Sim, eles eram MUITO poderosos.

Eu ainda vou lhe contar uma outra coisa que eles eram capazes, mas agora você precisa prestar atenção em outro assunto. Agora as coisas irão esquentar. Literalmente.

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— É isso mesmo senhoras e senhores! — o Apresentador continuava com a corda toda. Era o trabalho dele, como já dito antes, nunca deixar a plateia entediada. Até agora, ele estava fazendo isso magnificamente bem. O fato do torneio ter começado daquele nível ajudou muito a manter o pessoal animado. Mesmo só tendo uma luta, Pablo sabia que esse torneio seria histórico. — Foi uma grande reviravolta! Quem é que pensava que um dos cinco times favoritos nesse Torneio acabaria perdendo logo na primeira luta? E o pior: o próprio Líder, o Paladino White, acabou sendo derrotado em um duelo de habilidades. Seu time poderá sofrer uma grande baixa de moral, dando ainda mais chances de vitória para o time adversário!

Ele estava errado. O resto do time da White Lotus não parecia nem um pouco abalado com a derrota de seu líder. White tinha voltado e se sentado no chão mesmo, ao lado de Shiro e um outro membro da equipe. Shiro continuava com um sorriso no rosto, demonstrando total falta de preocupação com o andamento da batalha.

E isso contava para Blanc, a mulher alta que subia no ringue naquele instante. Ela tinha uma expressão suave no rosto. E parecia estar passando mal, de tão branca que estava sua pele. Aquilo era, sem sombra de dúvidas, algum tipo de maquiagem. Mas Mana e Kula concordariam que aquilo tinha sido exagero. Sua cara estava tão branca, que parecia que ela mesma tinha colocado a cabeça dentro de um saco de farinha e depois tirado só um pouco a concentração.

Analisando um pouco mais a adversária: Blanc tinha um cabelo bem liso, curto e bem penteado para trás, deixando a testa bem a amostra. Seu cabelo era de uma rara cor loira muito claro, o que em conjunto com o rosto branco, fazia a parecer quase um fantasma. TUDO nela era branco. Sua vestimenta, um gigantesco casaco de peles, começava no ombro e quase batia no chão. Ele estava fechado, então era impossível ver o que ela vestia por baixo, mas as botas eram de salto alto... E brancas também.

A moça poderia ter uma aparência estranha, mas Kuchiki, que estava se aproximando muito lentamente, sabia que não poderia subestimá-la. O ar de superioridade que a mulher emanava era algo inovador para a maga de fogo. Jamais ela tinha ficado cara a cara com alguém assim. Parecia que estava tendo um encontro com uma Rainha com poder total sobre a vida do mundo inteiro. Era uma sensação nada prazerosa.

— Vimos uma incrível batalha de curto alcance há um segundo atrás, agora esperamos ansiosos para ver o que essa luta nos aguarda. — e o Apresentador não parava. — De fato, Bart... O que você pode nos dizer sobre a luta passada?

— Que bom que perguntou, Pablo. — era a voz do Membro da Guarda do Planetarium. — Foi uma excelente troca de golpes entre os dois participantes. O golpe direto que o participante White usou contra o participante Mulkior era pra ser algo definitivo, mas parece que eu subestimei a força vital do mago controlador de metais. Além disso, ele nos surpreendeu com o seu golpe final, transformando sua arma e a arma de seu oponente novamente em uma pequena esfera. Eu acredito que enquanto Mulkior estiver tocando em algum metal, mesmo que esteja com uma arma onde sua energia possa correr, ele poderá transformá-lo. É uma técnica assustadoramente poderosa e imagino que deve consumir uma grande quantidade de energia mágica.

Mulkior apertou os dentes. Era exatamente como Bart tinha dito. Ele tinha analisado perfeitamente a batalha. Isso tinha tirado qualquer dúvida que ele tinha sobre esse cara ser ou não ser realmente um membro do Planetarium. O que o Coliseu estava planejando? Se fosse existir algum tipo de promoção onde o time inteiro receberia um convite para serem membros dessa Guarda, então porque só teria apenas um membro presente? Ou será que mais membros apareceriam conforme o Torneio fosse progredindo?

Mulkior tinha pensando naquilo agora e tinha entendido o porque San parecia tão inquieto há alguns minutos atrás. Ele provavelmente tinha pensando no mesmo ou em algo muito parecido. Havia algo estranho ali.

— E as próximas lutadoras já estão em posição! Estamos prontos para iniciar a segunda batalha do dia! Lutadores, em posição! — isso fez Kula e Blanc fecharem sua atenção para o mundo a fora e se focarem uma à outra. — COMECEM!

Kuchiki concentrou energia mágica e a reuniu em volta do seu corpo, criando um espaço de mais de três metros de diâmetro em volta dela com uma temperatura elevada. Era apenas um retrato de seu poder. Era assim que se mostrava que você estava pronta para tudo. Mas parecia que Blanc entendia bem isso.

A oponente tinha feito a mesma coisa. O espaço mágico da mulher de branco cresceu rápido e se chocou com o da maga de fogo, criando faíscas mágicas que pulavam do chão e sumiam no ar. Com o choque, as duas conseguiriam medir por cima a quantidade de energia mágica de cada uma. Mas também era possível se definir outras coisas.

— Você também é uma Maga! — gritou Kula, quando percebeu que a energia usada pela sua oponente era idêntica a sua. Um mago sempre vai conseguir diferenciar outro. Era algo normal no mundo da magia. O que não dava pra saber só pela energia, era de que TIPO era o mago... E o quão poderoso ele é.

— Ohhhhhh... Você tem uma boa quantidade de energia mágica, garotinha! Mas será que pode aguentar isso?

Blanc forçou sua energia para fora e aquele espaço que ela tinha criado anteriormente havia crescido. Muito. Ela começou a empurrar a maga da Immortal Star. Parecia que a maga de fogo estava lutando contra um vendaval.

Kuchiki deu três passos para trás e cruzou os braços na frente do rosto para tentar se manter em pé e não recuar mais. Era muita energia. Não era a maior quantidade de energia mágica que a garota já havia visto, mas ainda sim, era algo que estava a fazendo ter calafrios. Bizarro uma maga de fogo sofrer calafrios, mas era o que estava acontecendo naquele momento.

— Não... Me... Subestime!!

Agora foi a vez de Kula fazer sua energia mágica aparecer, aumentando o espaço que ela havia criado anteriormente. O espaço foi empurrando de volta a energia de sua oponente, parando com aquela lufada de vento sobrenatural que quase a tirava do chão. Blanc sorriu e cancelou o espaço, dando um basta naquela mini competição de energias. Kuchiki aperta os olhos e continua a encarar Blanc, esperando pela desculpa que ela daria pra desistir do duelo de "empurra-empurra".

— Chega de brincadeiras de criança. Não tenho tempo pra ficar perdendo jogando minha energia em você. Vamos acabar logo com isso. Eu não sou fã de lutar contra crianças, então vou acabar com isso em um só golpe! LÃ ENGOLIDORA!

Blanc faz um movimento reto com o seu braço direito em direção a sua oponente e de sua manga, comprida até a mão, um tipo de corda grossa e vermelha aparece. Essa corda voa rápido em direção à maga de fogo, que por não conseguir ser rápida o suficiente, acaba sendo enrolada. A "corda" vermelha fez inúmeras voltas ao redor dela, prendendo seus braços juntos ao corpo. A ideia não era tirar o movimento de seus braços. Era estraçalhá-los.

Blanc segurou na corda e a puxou com toda força que tinha. Nisso, Kuchiki começou a gritar. A corda estava apertando seus braços contra seu corpo, tentando esmagá-los. A garota de fogo se mexeu violentamente para os lados, mas não conseguiu se livrar da corda. E ela gritava.

Mana correu para a borda da arena e começou a gritar o nome da amiga. Ela sabia que o golpe poderia acabar quebrando seus dois braços, e isso faria ela ficar fora dos combates por um longo tempo, mesmo que o seu time acabasse ganhando ali. Mana gritou, mas sabia que era o máximo que podia fazer.

Além disso, Kuchi estava gritando mais do que a assassina e não parecia ouvir o apelo da companheira do mesmo time. Blanc queria poder sorrir, mas isso tiraria sua concentração e afrouxaria seus músculos. Então ela continuou apertando a pobre oponente.

— KUCHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mana tinha levado um susto tão grande, que ela chegou a dar um pulo para trás. Ela olhou para o lado e viu que Mumu tinha se levantado e corrido até a borda da arena também. E daí sim chamou pela companheira. Mas por mais que tivesse sido um grito alto, era do mesmo nível que Mana.

Mas o impacto era diferente. O tom era diferente. O sentimento era diferente. Kula parou de gritar. Mas as cordas ainda lhe apertavam. Ela tinha ouvido "ele" chamar por seu nome. Era ele, com certeza. Fazia pouco tempo que os dois estavam juntos, mas ela nunca iria confundir a voz dele.

Ela se esforçou para virar a cabeça e olhar para trás... Onde estava Mumu e Mana, um do lado do outro, olhando para ela com uma expressão de claro desespero. NÃO! Ela não queria ver aquilo! Era mais doloroso olhar para as faces tristes de seus amigos do que ser apertada até a morte por uma mulher com farinha na cara! Não ia ficar assim!

— CORPO DE CHAMAS!

Kuchi concentrou energia em volta de todo o corpo e o colocou em chamas. O fogo acendeu rápido e começou a comer a corda, como se fosse um cigarro sendo desgastado e virando cinzas. A corda vermelha tinha sumido e a maga de fogo tinha caído de joelhos no chão com os braços cruzados, rezando para que aquela dor sumisse.

Blanc estava com uma expressão de tanta surpresa, que San começou a rir do nada quando a encarou. Ela não esperava que sua oponente conseguisse concentrar energia naquela posição, sofrendo tanta dor. O básico da magia era que você precisava estar absolutamente concentrado para poder invocar qualquer magia, não importava o tipo e nem o poder ou o nível. Conseguir utilizar uma magia enquanto seu cérebro está ocupado com uma dor intensa era algo realmente espetacular.

Mas Blanc não tinha tempo para se preocupar com aquilo. Os olhos de sua oponente haviam mudado. Ela estava se levantando e olhando fixamente para ela, como se tivesse olhando para o próprio Demônio. O contra-ataque viria agora.

— ESFERA DE FOGO!

Kuchiki criou uma esfera de energia na mão direita e logo em seguida, começou a correr na direção de sua oponente. Enquanto corria, ela atirou a esfera que se incendiou ainda no ar e voou na direção de Blanc.

Essa, por sua vez, jogou o corpo para o lado, se esquivando perfeitamente do golpe. Agora Kula estava se aproximando. Qual era a ideia dela? Combate corpo-a-corpo? Um Mago Elemental não poderia ter força o suficiente para sequer dar um soco preocupante.

Mas Blanc não era idiota o suficiente para deixar sua oponente se aproximar mais. Ela deu dois pulos para trás, e concentrando energia mais uma vez, levantou o braço direito e começou a criar uma coisa comprida e pontiaguda.

— LANÇA DE JEANS!

No fim, o que estava sendo criado tomou a forma de uma lança de cor azul desfocado. Blanc segurou a lança e a atirou perigosamente contra a cabeça de Kuchiki. A maga de fogo, por sua vez, já estava preparada para um contra ataque.

— MÍSSIL DE FOGO!

A contra medida foi feita quase que imediatamente. Kula levantou a mão esquerda e começou a criar um retângulo de fogo, que logo tomou a forma de um míssil. Um segundo depois, o míssil já estava voando contra a lança atirada por sua inimiga.

As duas magias se chocam no ar, criando uma explosão mágica não muito grande. Mas foi o suficiente para fazer a maga que corria contra a sua oponente parar e respirar rápido. Blanc continuava afastada e não tinha uma expressão muito boa no rosto. Dessa vez, ela estava impressionada com a velocidade de reação da garotinha que lhe enfrentava. Definitivamente, ela não poderia ser subestimada. A luta não iria ser como ela tinha imaginado inicialmente. As coisas estavam começando a ficar problemáticas.

— Uma Maga Controladora de Tecidos. — disse Bart, sendo ouvido por todo o Coliseu. — Esse é um tipo muito raro de mago. Conheço somente três pessoas, contando com a própria participante Blanc, que tem esse poder exótico. Estou realmente agradecido de poder ver uma em ação depois de tanto tempo.

— E essa é a opinião do nosso ilustre convidado especial, senhoras e senhores! O que você tem a nos dizer sobre a oponente dela? — o Apresentador falou em alto e bom tom. Sua voz não estava nem um pouco alterada. Por mais engraçado que parecia, ele tinha "treinado" muitos anos pra isso. Claro, não existia nenhuma escola pra isso. Mas desde pequeno, ele é bom em discursos longos. Sua personalidade amigável ajudou ele a usar suas habilidades da melhor forma possível.

— Ao contrário de sua oponente, a Combatente Kula controla um dos Quatro Elementos Básicos, o que não é nada novo. Mas devo dizer que não é por isso que eu me impressionei. E sim, por sua concentração na luta, que mudou de uma hora para outra. O seu rápido avanço contra Blanc demonstrava que ela tinha alguma ideia em mente, mas decidiu não arriscar quando houve essa última troca de golpes. Isso prova que ela tem experiências em análise de combate. Acredito que ainda veremos muitas surpresas durante essa luta.

As duas magas continuavam a se encarar enquanto o Apresentador e o Comentarista falavam e explicavam para o povo o que estava acontecendo no ringue. Nenhuma das duas teve tempo pra prestar atenção nele. Principalmente Blanc.

A maga de tecidos cruzou os braços em um "x", bem encostado ao peito e concentrou uma grande quantidade de energia. Ela sabia que essa luta poderia ser desvantajosa pra ela se fosse longa. Kuchiki percebeu que sua oponente estava se preparando para algo grande. Mas ela não ia deixar. Quem disse que ela era obrigada a esperar quieta para receber um ataque poderoso na cara?

— ESFERA DE FOGO!

Mais uma vez, Kuchi concentra energia em forma de esfera em sua mão direita e logo a atira, formando uma bola de fogo que voou perigosamente na direção de sua oponente. Blanc viu o golpe claramente, mas ela não poderia se esquivar. Ela estava concentrando energia demais para se dar ao luxo de perder tudo em uma falha em sua evasão.

Então sobrou uma opção para ela: levar o golpe em cheio. Ela levantou os braços que estavam presos ao corpo e fez a esfera de chamas acertar os dois membros, levando um impacto que fez ela dar três passos para trás. Mas ela não perdeu a pose e nem a concentração. Sua energia aumentava ainda mais, a ponto de fazer Kula arregalar os olhos.

Blanc fez algo que sua oponente não esperava. Depois de concentrar toda aquela energia mágica, ela rapidamente começa a desabotoar o casaco de peles que estava vestindo. Isso não levou nem dois segundos. Depois, abrindo o casaco e ao mesmo tempo estendendo as duas mãos para a direção de Kuchi, ela citou:

— INFERNO DE SEDA!

Dessa fez, Kula não foi pega desprevenida. Mas não era por isso que ela não tinha se desviado desse golpe. Do casaco agora aberto da maga de tecidos surgiram muitas lâminas compridas de um tipo de tecido reluzente. As lâminas balançaram e serpentearam na frente da maga invocadora, mas logo em seguida, mais ou menos dois segundos depois, essas lâminas que pareciam finas e até mesmo moles, cresceram num piscar de olhos e atacaram Kula sem o menor sinal de hesitação.

O problema não era nem o número de lâminas que voaram contra a maga de fogo, mas sim, o fato delas terem uma velocidade perto de a do som. Kuchi percebeu o ataque e pulou para trás... O que lhe salvou a vida, mas não da dor. Todas as lâminas passaram raspando o seu corpo, fazendo de dez a onze cortes ao redor dos braços, pernas e no peito. O único lugar que ela não tinha sido atingida era a cabeça.

O golpe fez a maga de vermelho cair no chão de costas, sangrando por todos os ferimentos ao mesmo tempo. Ela não gritava. Mas isso não significava que ela não sentia dor. O público foi ao delírio mais uma vez. Toda vez que eles viam um golpe novo, eles gritavam. Eram um bando de loucos que sorriam ao ver alguém sangrar. O Apresentador ajudava eles a se manifestarem.

— KUCHI!!!!!!!!!!!!!! NÃO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Foi um dueto incrível feito com um misturado das vozes de Mana e de Mulkior. Eles permaneciam na borda da arena e não tinham perdido a expressão de preocupação em seus rostos. Eles agora estavam vendo sua companheira sangrar, tentando se mexer para os lados.

Tinha sido um golpe e tanto. Blanc, ainda no mesmo lugar, caiu de joelhos respirando rapidamente. Essa magia tinha consumido muito de sua energia mágica, mas tinha valido a pena. Ela percebeu que sua oponente ainda estava consciente, mas não sabia que isso a faria perceber a diferença de força entre as duas. Para Blanc, a melhor coisa que Kuchiki poderia fazer agora, era desistir e se poupar de mais dor.

Ela olhou para trás, tentando ver seus companheiros. Ela viu que Shiro estava sorrindo e White balançava sua cabeça positivamente, mostrando a ela que tinha feito um bom trabalho.

Do outro lado da arena, Mulkior não conseguia mais assistir aquela cena. Kuchiki não estava se levantando e não dava um "Ai" sequer. Mas continuava derramando o líquido vermelho da vida pelo chão branco. Já era o bastante. Ela não precisava se matar para ganhar uma luta. Isso não era o fim! Ele iria subir no ringue e retirá-la dessa luta imediatamente.

Foi então que, antes de colocar a perna para cima pra poder subir, ele sentiu seu braço ser segurado firmemente. Ele olhou para trás e viu San com uma expressão séria. Era ele que estava segurando o seu braço e não parecia que iria largar tão fácil.

— Me solta! Eu vou lá buscá-la! — disse Mulkior, puxando o braço para si duas vezes seguidas, mas não conseguindo se desvencilhar.

— Se você subir no Ringue, ela perde automaticamente. Estava nas regras, lembra? — respondeu o garoto que o segurava.

— Fodam-se as regras! Não tas vendo que essa luta já acabou!?

— Ah é? Então por que você não olha para trás e diz isso de novo?

Ele se virou. Ele viu. E ele se espantou. Sua parceira maga estava em pé. Arcada, mas em pé. Ela também respirava fundo, e continuava encarando a sua oponente com fogo nos olhos.

Ela tinha ouvido tudo. Tinha visto Mumu pronto pra subir ao ringue e encerrar a luta. Tinha visto preocupação verdadeira nos olhos de Mana. E tinha visto o apoio de San. Os três contavam com ela. Decepcioná-los não era uma opção válida. Decepcionar Mulkior... Não, isso não vai acontecer! Ela tinha se decidido! Iria entrar nesse ringue e iria ganhar cada uma de suas lutas. Iria voltar para seus companheiros com um largo sorriso. E iria receber as palavras "Bom trabalho" de cada um deles! Ela não ia voltar atrás de sua própria palavra!

— Kuchi! Não precisa mais continuar lutando! Tem eu e o San ainda! — essa era Mana, que Kula reconheceu só pela voz, pois não tinha tirado a visão do inimigo ainda. — Nós podemos dar conta dos dois outros!

— Você já lutou o bastante, Kuchi! Não precisa exagerar! — e agora era a voz de Mumu. Dessa vez, ela queria se virar e encará-lo nos olhos... Mas não o fez.

— Eu estou... Bem! — disse ela, sem se virar para eles. — Já passei... Por coisas piores! Não se preocupem comigo! Eu tenho... — ela parou de falar aqui por causa da dor. Ela baixou a cabeça e tentou se concentrar ao máximo para esquecer da maldita dor dos inúmeros cortes em seu corpo. — Eu tenho um plano!

Os dois companheiros de time não conseguiram falar mais nada. Pela voz de Kuchiki, já era possível ver que ela estava em seu limite ou muito perto disso. Mas ela disse que tinha um plano. Ela não queria desistir.

Mana ficou impressionada em saber que ela tinha toda aquela força de vontade. Ela não se lembrava de Kula ser tão "objetiva" assim. Claro, elas não se conhecem por tanto tempo assim e nunca passaram muito tempo juntas, mas tinha sido o suficiente para entender bem como ela pensava e agia. O que será que tinha a mudado? Ela não tinha entrado para nenhuma guilda.

A assassina olhou para o lado e viu que Mulkior também estava sentindo o mesmo que ela. Ele havia apoiado os dois braços na borda da arena e estava com total atenção em sua parceira. Será que ele sabia de alguma coisa que ela não sabia? Ela virou ainda mais o rosto e viu que San não tinha mudado a expressão.

Mana se irritou. San não tinha outra cara. Era irritante ver que ele nunca se preocupa com nada. Desde quando ele a salvou naquele castelo ele era assim! Saco! Ela se virou, agora irritada, para Kuchiki e viu que ela estava dando passos em direção de Blanc. O ataque iria continuar.

— Desista, Maga de Fogo! — gritou Blanc. — Você não tem mais chances de ganhar de mim! Você está machucada e se deixar assim, corre risco de vida! Desista e vá se tratar!

— Sua preocupação comigo... É tocante, Blanc. — Kuchiki estava tendo dificuldades de andar e falar ao mesmo tempo. A dor não ia embora. Mas ela PRECISAVA ir. Para o plano dela dar certo, toda a dor teria que sumir. — Não me subestime! Eu não ganhei o meu Título Único por nada!

Blanc queria abrir a boca e fazer uma cara de abismada, mas não o fez. Isso acabaria dando confiança para sua oponente. No mundo da magia, confiança era algo que te dava mais poder do que sua energia mágica. Blanc não daria esse luxo para sua oponente.

E também não daria mais chances. Ela TENTOU ser boazinha. Tentou avisá-la que ela poderia correr perigo. Mas não adiantou. Pessoas com cabeça dura. Ela já conhecia bem o tipo, já que sua Guilda estava cheia deles. Blanc se preparou novamente para atacar e daí viu o que não queria: sua oponente começou a correr na sua direção. Como? Ela estava quase morta! Como estava conseguindo correr?

E Kula estava correndo rápido, considerando as circunstâncias. Ela concentrou energia na mão direita... Enquanto corria! Agora Blanc não conseguiu segurar a expressão. Não era possível! Mas não tinha tempo! Ela não podia se preocupar agora e acabar recebendo um golpe direto. Estava na hora de acabar com aquela luta. O time dela que lhe perdoe. Se a garota de fogo acabasse morrendo, eles teriam que saber que foi por culpa da própria maga cabeça dura!

Blanc deu um grande salto para trás, ficando muito próxima a borda da arena, e concentrou energia com o braço direito levantado. Kuchiki sabia que ela faria isso.

— ESFERA DE FOGO!

Em vez de usar aquela energia concentrada em sua mão direita, Kuchiki apontou a mão esquerda para a oponente e disparou uma rápida esfera de chamas. Essa magia era a mais básica dela por dois motivos: ela não consumia muita energia mágica e ainda poderia ser disparada em menos de um segundo.

Blanc viu que não conseguiria deter a bola de fogo com a magia que estava concentrando a um segundo atrás, então ela baixou os braços e se ajoelhou. No próximo segundo, ela tinha passado a energia concentrada para o chão a sua frente e:

— PAREDE DE BRIM!

Bem à sua frente, uma parede de mais ou menos dois metros de diâmetro por dois metros de altura se levantou. A cor azulada desfocada não dava a impressão de que era algo tão poderoso assim, mas foi o suficiente para que ela detivesse a esfera de fogo de sua oponente.

E Kuchiki continuou correndo. Isso não estava no "plano" dela, mas serviria de qualquer forma. Ela correu e pulou por cima da parede, tirando um "WOW" de todos os que ali assistiam. O vento fez sua capa esvoaçar e pela primeira vez, muitas pessoas entenderam o porquê ela tinha o título de "Anjo de Fogo".

Uma dessas pessoas era a própria Blanc. Sua oponente tinha dado um pulo magnífico e parecia que não tinha parado de concentrar energia na sua mão direita. Mas ela também não! Não era agora que ela seria pega desprevenida! Blanc apontou a mão que estava brilhando de tanta energia concentrada e mirou para a cabeça da oponente. Seria o golpe final.

— TRIDENTE DE OXFORD!

Essa magia era muito parecida com uma que ela já tinha usado anteriormente. De sua mão, um fino tubo de tecido foi criado. Tomando forma, apareceram três pontas e ganhando uma cor mais fosca. Era a mesma base do que sua Lança de Jeans, mas as duas tinham características diferentes. A lança servia como força. O tridente servia como velocidade. E isso foi prontamente provado, pois logo que o tridente se formou, ele disparou para cima, onde estava Kuchiki sobrevoando a parede.

Mas mais uma vez, Kuchi não desistiu de sua concentração na mão direita. Aquele era o seu plano. Não estava na hora de usá-lo. Ela apontou a mão esquerda contra o tridente e, quase sem se concentrar:

— ESFERA DE FOGO!

Mais uma vez, ela disparou a rápida esfera de fogo. Ela torcia para que ela tivesse feito a tempo de parar a magia de Blanc ainda no ar. Bem... Não foi exatamente o que aconteceu. O tridente concentrado de Blanc era muito mais rápido, então tudo o que a esfera de fogo da maga de vermelho fez, foi mudar a trajetória da magia. Isso também significava que sua vida seria poupada. Mas também significava que seu corpo estava preste a sofrer mais um tanto.

O tridente foi desviado e a atingiu em cheio no braço esquerdo de Kula. A garota gritou com a boca fechada, e depois caiu no chão ainda em pé, a menos de cinquenta centímetros de sua oponente. No encontro com o chão, mais sangue foi derramado e mais dor tentou tirar a concentração da garota.

Não! Não iria acabar assim! Kula conseguiu olhar Blanc nos olhos e percebeu que ela não tinha pra onde recuar. A maga da Immortal Star abriu a mão direita e apontou para o peito de sua oponente, liberando toda aquela energia concentrada de uma vez só.

— TORPEDO DA DESTRUIÇÃO!

Essa magia era uma evolução do Míssil de Fogo dela. Então o início da magia era praticamente igual. Na frente de sua mão, uma coisa retangular e muito comprida ganhou forma, entrando em combustão instantânea logo em seguida. E dai ele foi disparado para frente.

Mas nesse nosso caso em questão, "frente" significava "Blanc". A magia acertou Blanc no estômago e a empurrou para fora do ringue, voando com a garota até um dos pilares de proteção entre o ringue e a plateia. Esse não era o fim do golpe.

A maga dos tecidos estava sem fôlego e pregada no alto de um dos pilares, encarando seus companheiros mais abaixo. Ela viu Shiro parando de sorrir e White pronto para gritar o seu nome. Quando ela ouviu o "BLAAAAAAAANC!", houve uma explosão. ESSE era o plano de Kuchiki.

O torpedo explodiu encostado no estômago da maga, fazendo a barreira de proteção ligar e assustar mais da metade da plateia. Uma fumaça mística envolveu toda aquela área, criando um suspense ainda maior sob a situação. Mas eles estavam olhando para o lugar errado. A plateia achava que a pobre Blanc tinha sido feito em pedaços com a explosão, mas isso não era verdade. Foi então que eles viram White correndo para o pilar onde ela havia sido pregada.

Blanc estava no chão, com o rosto virado para baixo e imóvel. Inteira, pelo menos. Ela esfumaçava como uma tocha viva, mas não estava em chamas. O casaco de peles dela havia sumido também. Provavelmente consumido pelas chamas ou desfragmentado pela explosão.

O paladino da White Lotus se agachou para examiná-la e soltou um suspiro de alívio quando viu que ela ainda respirava. Mas a maga estava de fato inconsciente. Whte se levantou e cruzou os dois braços em cima da cabeça, dizendo que sua companheira não estava mais em condições de lutar.

— Fim da luta, senhora e senhores! — Pablo, o Apresentador, foi pego desprevenido com a ação de White, mas ele não podia deixar que o público percebesse tal coisa. Sua reação ao dar o "ultimato" do combate foi incrivelmente rápida. — O Líder do time deu o sinal de que sua companheira não pode mais lutar! Vitória de Kula, do Time Immortal Star!

Os gritos de viva começaram quase que no mesmo segundo em que Pablo tinha falado "Star". Aplausos encheram os ouvidos de Kuchiki, que estava de joelhos no meio da arena. Sua cabeça estava baixa e ela não conseguia manter o foco. Sua visão estava ficando escurecida.

Ela estava cansada. Ela poderia dormir agora, não é? A luta estava encerrada. Ela tinha ganhado. Os gritos do público... Eles gritavam por seu nome. Ela havia vencido! Então ela podia descansar agora. Era a recompensa. Não havia mais dor. Será que a sensação de ter vencido tinha feito ela ficar mais resistente? Não, isso não fazia o menor sentido.

Os pensamentos dela estavam embaralhados. Sua mente falava que ela não tinha que fazer mais nada. Ela se sentiu caindo. Ou estava subindo? Não dava pra saber. E então ela sentiu calor. Não de fogo vivo. Calor humano. Ela não estava mais caindo. Estava subindo e... Andando?

A garota machucada não sentia mais o tato. Não tinha mais dor, mas também não tinha mais nenhum outro sentido. Seus olhos não queriam abrir. Ela ainda ouvia os vivas. Sua audição era a única coisa ativa naquele momento. Isso era bom, porque ela ouviu exatamente o que ela queria:

— Bom trabalho, parceira.

Seus olhos abriram. O calor! Só podia ser! Kula percebeu que estava sendo carregada pelos braços por alguém. Ou seriam mais de uma pessoa? Não importava! Ela forçou a cabeça para poder olhar para o lado. Só um pouquinho. Ela só precisa se mexer um pouquinho para vê-lo. E daí, quando Mumu percebeu o esforço de sua companheira para sequer olhar para ele, tudo o que ele conseguiu fazer foi abrir o sorriso. Aquele sorriso que Kuchiki gostava tanto de apreciar. Era ele!

A maga machucada entendeu que estava sendo carregada pelos braços por ele e por... Ela se virou para o outro lado e viu o sorriso de uma colega... Por Mana. Os dois tinham corrido para o ringue assim que o Apresentador finalizou a luta. Kuchiki não estava tão machucada assim, mas ela mesma não percebeu que estava sofrendo por causa da falta de sangue.

Ela foi levada calmamente para fora do ringue e antes de ser colocada em uma maca trazida pelos médicos do Coliseu, ela pode ver San mostrando seu polegar vitorioso para ela. "Joia, Kuchi!". Ela sabia que era isso que San iria falar se ela estivesse apta a ouvir algo.

A maga foi deitada na maca ao mesmo tempo em que Blanc, do outro lado do ringue, era levada para uma das alas médicas, aos fundos do Coliseu. A ideia era levar Kula também, claro. Mas ela mesma segurou a blusa de seu parceiro assim que a maca começou a se mexer.

— Não... — disse ela, com a voz mais baixa e fraca que podia. Na verdade, o certo era dizer: com toda a força que ela ainda tinha.

— Calma, Kuchi. — disse Mana, colocando a mão suavemente sobre a testa da maga. — Eles vão te levar para uma ala médica e tratar de você.

— Não... — insistiu a maga. — Eu quero... Ver a próxima... Luta.

— Você está machucada demais. — disse Mulkior, ficando bem próximo da maca. — Precisa descansar e receber um tratamento para recuperar o sangue perdido no combate.

— Mas a luta... — a voz dela tinha voltado a falhar.

— Não posso deixar você aqui nesse estado, senhorita. — era o médico que estava fazendo os Primeiros Socorros nela que disse isso. Ele parecia ser muito jovem, mas tinha uma voz grossa e potente. — Sua consciência estava se apagando no final da luta e sua pele está tão branca quanto a de sua oponente, o que significa que você já chegou próximo do limite de sangue que seu corpo pode perder. Se não receber uma bolsa de sangue na veia nos próximos quinze minutos, vai acabar dando "oi" para a Dona Morte.

— Então me deixe... Ver quem vai... Lutar!

Os quatro, San, Mana, Mumu e o médico, se olharam ao mesmo tempo. Os olhos dos três membros perguntavam para o médico algo como "Será que tem como?". E o balançar rápido da cabeça dele mostrava que a resposta era "Acho que sim".

Por sorte de todos, o Telão Informativo já tinha sido atualizado. Immortal Star, "2". White Lotus, "0". E os dois retratos começaram a mostrar as imagens distorcidas dos membros restantes dos dois times. O sorteio já havia começado.

— Mais uma virada e tanto, senhoras e senhores! — iniciou o Apresentador. Os gritos da plateia ainda não haviam cessado. — Quem imaginaria que a famosa White Lotus acabaria sofrendo duas derrotas seguidas para um time feito com membros sem Guildas? Agora eu ouço gritos e vivas sobre o nome da Immortal Star! É nisso que nosso Coliseu é feito, meus caros espectadores! Coisas impressionantes só podem acontecer em cima desse ringue! Bart, por favor, nos dê seus sábios comentários dessa reviravolta espetacular!

— Eu estou realmente impressionado, Pablo. — começou Bart. — Quem imaginaria que, mesmo depois de receber aquele golpe direto, a participante Kula conseguiria ter uma recuperação tão triunfante assim? Eu admito que depois que ela caiu no chão de costas e sangrando, já havia declarado Blanc como vencedora. Mas a força de vontade que a maga de fogo nos mostrou fez eu engolir meus próprios resultados.

–— Foi incrível ver a participante Kula correndo para a frente de sua oponente mesmo tão machucada, você não concorda?

— Mas esse foi o ponto principal da vitória dela. Quase todos os magos são treinados especificamente para se manterem longe dos oponentes, já que muitas magias levam tempo para serem concentradas e usadas. O que Kula fez foi tirar essa vantagem de Blanc, que sempre se afastava antes de usar uma magia. Então ela correu enquanto concentrava uma magia nas mãos, encurralando a oponente na borda da arena. Essa estratégia não é nova, mas ver ela distraindo Blanc usando magias fracas e de baixo consumo foi realmente brilhante.

Ouvir os "parabéns" de Bart fizeram os três membros do time de Kuchiki ficarem orgulhosos com a maga que continuava lutando para se manter acordada naquela maca. Mulkior foi o único que olhou para trás e a encarou nos olhos. Ela estava sorrindo agora. Quase desmaiando, claro. Mas sorrindo.

Foi então que a roleta parou. E a plateia reagiu ao ver os dois próximos combatentes. Como já dito antes, eles gritariam por qualquer um que fosse. Mas parecia diferente dessa vez. Os gritos pareciam estranhamente maiores.

O mago dos metais olhou para trás e para cima. Viu os dois retratos e arregalou os olhos. San olhou para trás, encarando Mana, que não tinha expressão nenhuma no rosto. Talvez ela mesma não acreditava no que estava vendo. Coincidência? Era mesmo uma roleta aleatória, isso?

— É ISSO AÍIIIII!!!!! PORRAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!

Era o grito de Shiro, vindo do outro lado do ringue. Sim, o grito dele realmente atravessou todo o ringue e chegou aos ouvidos dos oponentes. E não só isso! Era provável que quase todo a plateia tivesse ouvido também, se eles mesmos não estivem gritando.

A voz do ninja fez Mana colocar a mão sobre a testa e baixar a cabeça. Não era brincadeira. Ela olhou novamente para o Telão, com a esperança de que estava vendo coisas. Não estava. Lá estava os retratos, mais vívidos do que uma pintura a óleo. Ela baixou mais um pouco a cabeça e encarou San e sua falta total de preocupação mais uma vez. Ele levantou só uma sobrancelha, mas não disse nenhuma palavra. Já Mana descruzou os braços e disse:

— Realmente... O Destino pregou mesmo uma peça na gente.