Immortal Star escrita por Sandaishiro


Capítulo 10
Calmaria


Notas iniciais do capítulo

Algum descanso para nossos guerreiros, e a introdução de um personagem "da família".



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Sinceramente, essa foi uma das melhores lutas que o torneio teve. Claro, ainda há muitas outras empolgantes, mas é bem possível que na história daquele Coliseu, nunca tinha tido um início tão glorioso. E assustador, em certa parte. O time White Lotus era sim, um dos cinco times favoritos para chegar ao final do torneio, e eles foram os primeiros a saírem. O ditado "No ringue, tudo pode acontecer" se encaixa mais do que perfeitamente aqui.

Eu realmente rezo para que você já esteja empolgado. Depois dessa luta, eu imagino que sua sede por combate deve estar em alta. Isso é bom. Por muitos motivos, que eu não vou contar agora para que esse seu fogo não seja apagado. Mas uma dica: batalhas ainda mais intensas virão. E muita coisa ainda está para acontecer, até mesmo "fora" do ringue.

~~~~~~~~~~~~xXx~~~~~~~~~~~~

— Foi realmente espetacular.

A pessoa vestindo o capuz e a máscara falou de forma impulsiva. Se sua companheira pudesse ver seu rosto, saberia que ele estava sorrindo e com os olhos brilhando. Estava mais emocionado do que de costume. Seus dedos suavam e ele mal conseguia parar de girar a pena que usava para escrever.

Ela, por sua vez, estava fazendo inúmeras anotações na caderneta que tinha trazido consigo. Todos os membros deveriam ter uma consigo. Seu companheiro, que continuava vibrando sentado ao seu lado, não parecia estar com a dele. Mas então porque a pena? Isso deixou ela um pouco chateada, o que a fez levantar o assunto.

— Eu tenho memória fotográfica. — respondeu ele, diminuindo um pouco o tom da voz. — Tudo que eu vejo, eu guardo na mente. Principalmente as coisas que me fazem ficar arrepiado!

— Ainda sim, você sabe que é nossa missão entregar um relatório completo dos lutadores para Katherina. E ninguém a conhece melhor que você...

— É sim. Ela vai tentar arrancar o meu couro se eu não entregar essa porcaria pra ela. Mas não se preocupe. Pelo que eu pude ver, se as lutas continuarem desse nível, nosso "projeto" vai poder ser finalizado na metade desse Torneio. Se isso não deixar aquela mulher satisfeita, então nada mais vai!

A moça ao lado balançou a cabeça afirmativamente. Era verdade. Ela também não esperava que guerreiros tão poderosos apareceriam por ali. Tudo bem que aqui era sim, o local onde os melhores guerreiros surgiam. Mas ver alguém com poder o suficiente para fazer a Barreira de Proteção vibrar... Isso era raro.

Talvez tenha sido por causa disso que esse "projeto" estava em andamento. Seu Líder parecia apressado com esse assunto, e isso provavelmente deveria ser por causa das "ordens de cima". Esses nobres só sabiam criar problemas para eles.

Mas o que ela poderia fazer? Ela tinha assinado um contrato que era claro como o raiar do sol. Seu alistamento foi complicado e o treinamento tinha sido um inferno. Mas olhe onde ela estava agora? Sua posição era quase uma Lenda! Ninguém mais poderia lhe dizer o que quisesse na cara novamente! Ela sorriu. Era um trabalho chato de se fazer e as vezes irritante... Mas fazia ela ser uma das pessoas que colocava ordem no mundo.

Kula se remexeu na cama. Ela estava sonhando... Com o que mesmo? Ela já não lembrava. Era algo bonito? Ou era um pesadelo? Não, não. Se fosse um pesadelo, ela teria acordado antes. Abriu os olhos e encarou algo que lhe deu mais energias do que seu café da manhã. Mulkior estava sentado ao lado de sua cama, e quando viu sua parceira acordando, se alegrou imediatamente.

Ela tinha tido um sono profundo e bem pesado. Já haviam passado sete horas desde que ela havia desmaiado, ainda na arena. Ela não tinha visto a luta de Mana, o que era uma pena. A garota controladora de chamas se sentiu mal por não estar lá torcendo por alguém que fez o mesmo por ela. Espera... MANA!

Onde ela estava? O que tinha acontecido em sua luta? Kuchiki começou a procurar a amiga pelo quarto... Aliás... Quarto? Quando que ela tinha chegado aqui? Onde ela estava, exatamente?

— Kuchi, calma! — disse Mumu, quando percebeu a mudança de expressão nítida de sua colega. — O que houve? Sente alguma dor?

— Ah! Não, eu me sinto... — ela verificou o próprio corpo. Ainda doía em algumas partes, mas não era absolutamente nada demais. — Me sinto bem melhor. AH MANA!!!

Ela finalmente tinha a encontrado. Mana repousava em sua cama no quarto, a poucos metros de distância da sua. Quando ouviu seu nome ser chamado, a assassina abriu os olhos lentamente e virou a cabeça. Kuchi tinha acordado! Isso fez ela se levantar, mas bem devagar.

— Mana, fique na cama. Você ainda está em recuperação. — disse San, que estava sentado em um canto bem ao fundo do quarto. Havia uma mesa de madeira e quatro cadeiras em volta dela. Ele estava sentado em uma delas.

— Cuide da sua vida, San! — disse ela, e se levantou mesmo assim. Sentiu uma fisgada na costela. As magias de cura faziam milagres... Mas nem todas as vezes elas eram cem por cento efetivas. Os piores machucados dela haviam sido curados, mas suas costas ainda doíam. — Como você está se sentindo, Kuchi?

— Ah bem melhor! E você parece muito machucada! — Kula tinha dito aquilo porque Mana continuava enfaixada, e ao sentir a dor nas costas, ela levou a mão no local machucado. Não tinha dado para disfarçar aquilo. — Como foi a sua luta? Ele era tão forte assim?

— Era sim. Eu o subestimei demais. Mas não se preocupe, eu ganhei. Agora nosso time está classificado para a próxima fase.

— Waaaaaaa! Que ótimo! Parabéns Mana! — foi como tirar um peso das costas para Kula. Saber que eles tinham vencido era bom, mas melhor ainda era ver que Mana estava bem. — Mas se você venceu e fomos classificados... Isso significa que San não lutou?

— Felizmente não. — respondeu o garoto, ainda sentado. Ele estava descascando uma laranja e nem olhou para a garota.

— Felizmente? — perguntou Mumu, levantando a sobrancelha direita. Ele se virou para encarar o companheiro de time. — Você acha bonito o fato da gente arriscar as nossas vidas no ringue e você não?

Esse era o assunto que Mana estava preste a abordar. Mulkior tinha lido a mente dela e tinha perguntado antes, mas não importava. Ela queria é saber da parte dele, de seu colega xarope. Se sentou na sua própria cama porque estava ruim de se manter em pé e logo em seguida se virou para San, esperando a resposta. Kuchiki também seguiu o exemplo de Mulkior e olhou fixadamente para o canto do quarto, para o garoto sentado.

San tirou um pedaço da laranja e comeu. Daí percebeu os três olhares incriminadores contra ele. Colocou a faca na mesa, respirou fundo e disse:

— Sim, felizmente. Ser o primeiro time a lutar não foi uma vantagem. Todos os outros times estavam nos observando. Qualquer um daqueles times pode ser nosso próximo desafio... E eles já iriam entrar no ringue sabendo do que vocês podem fazer. Eles analisaram suas lutas e provavelmente iriam criar estratégias para lutar com cada um de vocês. Menos contra mim.

— Então o que você quer dizer é... — disse Mana, analisando o fato. — Que temos uma vantagem por eles não saberem nada sobre você e seu estilo de luta?

— Exatamente. Não esqueçam que eu não lutei porque não quis. A seleção foi aleatória. Eu não lutei porque VOCÊS mostraram que ninguém pode subestimá-los.

O elogio de San fez os três se acalmarem. Realmente ter lutado em primeiro era muito desvantajoso. Os mais espertos já tinham analisado cada movimento deles para poder contra-atacar futuramente. Se essa luta foi difícil, imagine as futuras?

Mana se deitou e pensou em sua própria situação. Além de não poder ir ver as lutas dos outros times, ela estava machucada o suficiente para não poder lutar com tudo tão rápido. Seu corpo poderia estar quase totalmente curado, mas ela ainda precisava recuperar sua energia espiritual. Sua última magia tinha lhe consumido muito. Mas não havia o que fazer agora. Ela fechou os olhos e tentou não pensar em nada.

Já Kula tinha pedido para que lhe contassem como tinha sido a luta que ela não viu. Mulkior foi quem começou a contar imediatamente depois do pedido. Ele detalhou todo o andamento do combate. Foi tão bem explicado que a ouvinte se sentiu como se estivesse vendo a luta em si. Ela inclusive tinha ficado preocupada nas partes em que Mana tinha levado dano.

— E então ela empurrou San dizendo que não precisava da ajuda dele, foi até a maca e se jogou nela. Depois disso saímos do ringue e fomos até a enfermaria onde você já estava sendo medicada. Ficamos esperando até que vocês duas fossem liberadas e lhe trazemos até o nosso quarto.

— Incrível! Mana, desculpa não poder ver sua luta! Eu queria ter visto suas armas especiais! — disse Kuchi, empolgada.

— Não se preocupe com isso. Você ainda vai vê-las. — respondeu a assassina, balançando a mão. Ela estava começando a perder a consciência. O sono lhe atacava cruelmente. Cansaço e dores musculares não estavam ajudando. Ela ouviu Mumu dizer algo... Mas não tinha entendido nada. Sua cabeça pendeu para o lado e ela entrou em um sono profundo. Era a primeira vez que ela "desmaiava" de sono.

— Deixa ela, Mumu. — disse Kuchi, puxando o braço do amigo. — Amanhã você pergunta isso de novo. Aliás, você pode me ajudar a levantar? Estou com muita fome e ver San comer essa laranja está me tirando do sério.

O mago de ferro não a ajudou. Ao invés disso, disse para a garota ficar deitada que ele mesmo iria trazer sua janta. A maga ficou mais vermelha do que seu manto. Ser alimentada na cama por ele? ISSO sim era um sonho! Ela tentou se beliscar para ver se não estava dormindo, e ao sentir a dor, percebeu o óbvio.

Mulkior voltou poucos minutos depois de sair do quarto, com uma bandeja de madeira com algo que cheirava muito bem. O estômago da garota gritou quando o cheiro de carne assada chegou às suas narinas. Mumu carregou a bandeja até sua cama e pediu para que ela ficasse sentada. Ela estava com uma vergonha tão grande que queria enfiar a cabeça debaixo do travesseiro.

O mago de ferro estava exagerando. Não foi o suficiente ele ter trazido a comida, ele ainda estava cortando a carne em pedaços para poupar as forças de sua colega. Era a primeira vez que ele tinha feito algo assim na vida. Então ele também tinha ficado vermelho quando se tocou. Nem conseguiu a olhar nos olhos depois disso.

San, sentindo o clima tenso entre os dois, foi para a sua cama que também ficava no canto do quarto, se deitou, puxou a coberta e tentou dormir. Se sentindo sozinhos, os dois não conseguiam mais nem abrir a boca para ditar palavras.

Kuchiki estava comendo tudo relativamente rápido. Sua fome era enorme, mas tinha sido por culpa da sua perda de sangue. Mulkior, quando conseguiu falar algo, disse que aquele jantar tinha sido preparado especificamente para ela. Havia todos os nutrientes necessários para ela recuperar a perda de sangue e fadiga.

Ele ainda comentou com ela sobre como o Coliseu em si tratava os combatentes como divindades. Os médicos eram rápidos e havia uma cozinha vinte e quatro horas por dia aberta, para atender qualquer pedido dos combatentes. Talvez era por isso que ele se chamava "Coliseu dos Deuses".

Depois de limpar o prato, Mumu pediu para ela voltar a dormir, pois precisava descansar mais para as lutas que aconteceriam no dia seguinte. Kuchiki não queria. Ela queria ficar mais um tempo com ele. Só mais uns minutos estava bom.

Então ela começou a enrolá-lo. Perguntou sobre o interesse dele na arma de Mana. O mago, como sempre adorava falar sobre isso, começou a contar sobre as lendas passadas pela sua família de geração à geração. Por mais que tinha sido de desejo da maga de puxar algum assunto diverso, ela teve que admitir que a história sobre as armas eram impressionantes mesmo.

Pela empolgação de Mulkior, os dois conversaram por um pouco mais de uma hora. Depois, mesmo contra a sua vontade, Kula se deitou e fechou os olhos. Ela não percebeu, mas estava com um sorriso no rosto que não queria ir embora. Ela estava começando a não sentir mais dores e nem cansaço. A voz dele tinha lhe ajudado muito mais que as magias de cura dos médicos.

Mumu, por sua vez, conseguiu sentir um alívio tremendo vendo sua companheira finalmente descansando calmamente, e então foi para a cama do lado e se deitou. Ficou de costas, olhando para o teto branco do quarto. Tinha acontecido muita coisa em um dia só. Nem ele sabia o que mais tinha lhe impressionado.

Mas esse não era o problema. Havia algo de estranho nesse Torneio. San tinha comentado isso, e Mulkior tinha que concordar. Ele odiava ficar com isso na cabeça. Fazer suspeitas não era do feitio dele. Se existia um problema, ele dava um passo pra frente e resolvia. Mas o que fazer nessa situação? Era estranho sim, mas eles não tinham nenhuma prova de que algo estava acontecendo... Ou que estivesse para acontecer ainda. Então pra quê ficar com isso na cabeça?

Mulkior tentou não pensar mais nisso. Se virou e encarou o rosto angelical de Kula, que dormia tranquilamente. Sim, ele não precisava pensar em mais nada. Se houvesse um problema mais tarde, ele ficaria na frente pra não ver sua parceira correr nenhum perigo. Esse era o verdadeiro Mulkior!

Na manhã do dia seguinte, San e Kula acordaram ao mesmo tempo. O garoto foi até a janela do quarto e a abriu. O sol o banhou, ao mesmo tempo que iluminou todo o quarto, trazendo também um pouco de sua temperatura. O garoto inexpressivo olhou para baixo, para ver as milhares de pessoas andando aleatoriamente nas ruas da cidade.

O quarto deles ficava no segundo andar do Coliseu, e dali já era possível ter uma boa visão daquela área. Haviam muitas casas gigantes e altas, então no fim, a visão era barrada em alguns pontos específicos.

Kuchiki deu bom dia e tentou se levantar. Estava se sentindo bem melhor que ontem e as dores haviam diminuído drasticamente. Ela continuava sentindo muita fome ainda, mas nada que pudesse atrapalhar. Ficou de pé e percebeu sua fraqueza imediata nas pernas. ISSO sim poderia atrapalhar. Ainda havia a falta de sangue nela, e ela precisaria descansar mais um dia inteiro para ficar perfeita. Isso era impossível.

A próxima luta de seu time começaria dali a algumas horas. Não dava pra ficar parada. Ela olhou para as camas e percebeu duas coisas: Mumu não estava ali e Mana ainda dormia pesadamente. Ela comentou as duas coisas com San, que automaticamente olhou para a assassina dorminhoca. Ele sabia que ela tinha se machucado demais, mas era orgulhosa e não iria admitir nunca.

Mas era manhã, e por mais que ele queira que ela descanse, ela deveria acordar para tomar um café forte. San se aproximou da cama dela e a balançou de leve, tentando acordá-la. Mana abriu os olhos lentamente, então se levantou na cama e disse algo como:

— Ver a sua cara ao acordar não é a melhor coisa que pode me acontecer, San.

O garoto estava pronto para responder algo para ela, mas então a porta do seu quarto se abriu. Era Mulkior... E ele parecia um tanto contente. Ao ver Kuchiki em pé, ele correu para o lado da maga, perguntando se ela estava bem. Tendo uma resposta positiva, ele não precisou esconder o crescimento de sua felicidade.

Mana se levantou da cama e tentou não levar a mão nas costas quando sentiu a fisgada na costela. Ainda doía, mas tinha diminuído bastante de ontem para hoje. Para ninguém perceber sua dor, ela abriu a boca e disse:

— Você parece contente, Mumu. O que aconteceu?

— Ah! Ainda bem que você perguntou! — respondeu o mago bem animado. Ele voltou para a porta e colocou a cabeça para fora. — Entra aqui!

Quando Mulkior se virou de novo, uma garota estava entrando pela porta de seu quarto. Era do tamanho de Mumu e tinha um ar relativamente parecido com o do mago. Tinha cabelos lisos, cumpridos e negros, brilhosos que poderiam refletir até a luz da lua. Seus olhos negros faziam uma boa combinação com o seu cabelo solto, e junto com o seu rosto delicado, a deixavam com uma beleza estonteante.

Sua vestimenta não era a das mais raras. Usava um top preto, luvas de couro pesadas também na cor negra, shorts longos que passavam dos joelhos, um pouco largos e na cor cinza escuro. Ah sim, e usava botas negras, bem pregadas ao pé. Não havia nada estranho em sua vestimenta... Estranho era ela estar carregando uma marreta de cabo longo no ombro, como se fosse a coisa mais leve do mundo.

Ela entrou no quarto e deu um sorriso que faria qualquer homem se encantar imediatamente.

— Deixe-me apresentá-la. Essa é...

— Oi Regi. — disse San.

— Oi Regi, quanto tempo. — disse Mana.

— MAS O QUÊEEEEE? — gritou Mulkior, claramente melindrado por ter sido cortado no meio de sua apresentação. O garoto tinha se preparado para fazer uma surpresa e toda aquela empolgação sumiu, o deixando só com uma cara engraçada. — Vocês dois a conhecem???

— Claro que sim. Eu ia chamá-la aqui hoje, para falar a verdade. — respondeu Mana, sem se alterar. Ela estava quase rindo da cara de bobo do amigo. — Só ela pode reparar a minha Katar.

Exatamente isso. O nome dela era Asakaria Musubi e era a mais habilidosa ferreira de todo o reino. Sua genialidade, habilidades e ideias para construção lhe fizeram ser conhecida por quase todos os ferreiros do mundo, e muitos deles chegaram a vir para essa cidade para saber se ela realmente existia ou não. Sua fama cresceu tão rápido que sua pequena área de trabalho, ao norte da cidade, acabou se tornando uma das maiores lojas de equipamentos do reino inteiro.

Além disso, por causa de suas criações surpreendentes e de qualidade altíssima, ela foi apelidada de "Regi", que tinha sido a primeira ferreira na história do mundo a trabalhar para um Rei condecorado. Por ser fácil de se lembrar e ter uma boa tonalidade na voz, a ferreira gênio adorou o apelido e até hoje se apresenta daquele jeito.

— Desculpa, mas... Quem é ela? — perguntou Kuchiki, que era a única totalmente perdida naquela situação. A única coisa que ela estava pensando era que Mulkior estava ao lado de uma garota bonita e sorrindo. Não era necessário muito mais do que isso para ela querer perguntar tal coisa.

— Ah! — disse Mumu, ao se virar para a companheira. — Essa é Asakaria. Ela é minha sobrinha, filha do meu irmão mais velho. Ao contrário de mim, ela seguiu os passos da nossa família e se tornou uma ferreira. A melhor do mundo, para deixar bem claro.

— Não exagere, tio. — a voz dela era suave, assim como seus lábios. Ela andou até a frente da maga e lhe estendeu a mão. — Você deve ser a Kula, não é? Meu tio não parou de falar de você desde que saímos da minha loja. — isso fez Kuchiki trazer o pouco sangue que tinha para o seu rosto, a deixando vermelha como um pimentão. Sem nem olhar direito para frente, ela apertou a mão da ferreira, a cumprimentando. — Pode me chamar de Regi também.

O que fazer naquela situação? Kula não iria conseguir encarar Mulkior o resto do dia. E nem ele! O mago agora estava virado para a porta, coçando a cabeça e disfarçando o máximo que podia.

Para a maga, aquilo tinha sido o maior dos alívios. Então ela era da família dele! Agora fazia sentido o porque ela a achar muito parecida com seu companheiro. Além de terem um rosto relativamente parecidos, os dois carregavam um ar um tanto nobre. Agora que ela estava pensando... Mumu realmente tinha falado alguma coisa sobre ter membros da sua família que trabalhavam por aqui. Então era de Regi que ele falava...

— Ainda carregas essa marreta por aí, Regi? — perguntou San, se sentando na mesma cadeira da noite anterior e puxando um saco de papel para cima da mesa. Eram frutas. Ele retirou uma maçã verde e começou a mordê-la.

— Uma garota precisa de algo para se defender, principalmente nesses dias turbulentos. — respondeu Regi, se virando para o garoto sentado e sorrindo.

— Aliás! — gritou Mumu outra vez. — Como vocês dois a conhecem? Eu sei que ela é famosa e tudo... Mas foi um choque pra mim não poder surpreendê-los da forma que eu planejei!

— Bom... — começou San, engolindo o pedaço da maçã. — Foi ela que criou minhas "Zhi Máng". — o garoto mostra os dois punhos e os aperta, demonstrando que ele estava falando das suas meia luvas.

— E foi ela que concertou e aperfeiçoou minha Jur. — responde Mana, se sentando na própria cama novamente.

— Que por falar nisso... — Regi vai até a frente da assassina. — Mostre-me elas.

Mana retirou as luvas e mostrou a katar, exalando a já vista energia negra pelo quarto. Kula era a única que não tinha visto ainda, então ficou de boca aberta quando a viu. Ela tinha uma beleza única e parecia ser extremamente poderosa. E ela sentiu a quantidade de energia que aquilo exalava. Era extraordinário, assim como Mumu havia comentado.

Regi aproximou os olhos das lâminas que pareciam sugar a alma de todos os seres vivos do mundo. Ela tocou nas lâminas, passando os dedos pelas extremidades. Olhou cada uma das katar pacientemente, criando um silêncio mortal no quarto.

— Eu não posso acreditar nisso. A lâmina da direita está trincada! — disse a ferreira, demonstrando real susto.

— Se o golpe de Shiro foi tão poderoso assim como Mumu descreveu, então eu não vejo o porque ficar espantada com esse fato... — disse Kuchiki.

— É mais ou menos isso Kuchi. — começou Mulkior, mas sem olhar para a amiga. Ele ainda estava tentando evitar o olhar dela, então se manteve concentrando na arma da assassina. — Essas armas são lendárias e deveriam ser inquebráveis. Se aquele ninja conseguiu marcar um trinco nessa lâmina, então eu não quero nem ver o que aquela magia poderia fazer se atingisse um ser humano!

— Deixando isso de lado... Quanto tempo você precisa pra concertar, Regi? — perguntou Mana.

— Trabalhando o mais rápido que eu posso, eu levaria doze horas para deixá-la em perfeito estado. O trinco foi no meio da lâmina e isso faz com que seja mais complicado de restaurar, sem contar que essa lâmina necessita de um ferro especial. Além disso, ela está desfiada e suja. Seu último combate com ela deve ter sido realmente mortal.

Mana não gostou de ouvir aquilo. Doze horas para ser reformada significaria que ela não poderia utilizar nas batalhas de hoje. Isso era horrível. Julgando pela sua última luta, ela não poderia entrar no ringue tranquilamente sem as suas armas especiais.

O que se podia fazer? A ferreira disse que seriam necessários todas essas horas, então ela não podia falar nada contra. E não é como se Mana fosse "mansa" sem suas katars. Pensando nisso, ela retirou as armas do braço e as entregou para Regi, dizendo que ela mesma iria buscá-las na loja no dia seguinte. Regi sorriu mais uma vez e disse para deixar tudo com ela.

Antes de poder sair do quarto, Mulkior perguntou se ela poderia se juntar a eles para o café da manhã. Regi não via seu tio faz muito tempo, então passar mais um tempinho com ele faria a saudade diminuir um pouquinho. Ela aceitou o convite e todos os cinco foram em direção a cozinha do Coliseu.

SENHORAAAAAAAAAAAAAS E SENHOOOOOOOOOOORES!

A voz de Pablo, o Apresentador Principal do Coliseu acordou o espírito de torcida do publico. As bandeiras estavam sendo erguidas, junto com os cartazes com nomes e fotos dos combatentes que lutariam ainda naquele dia. Alguns lutadores eram tão conhecidos que já tinham se tornado verdadeiras celebridades no Reino. A maioria dos torcedores nem conheciam os combatentes e achavam melhor desse jeito, pois se alguém morrer, eles não ficam tristes ou magoados. É por isso que muitos deles não gostam de apostar.

O dia anterior foi realmente surpreendente! Tivemos lutas dignas de finais de torneio! Os combates entre forças iguais, os mistérios, as magias, as estratégias... Tudo foi o suficiente para nos fazer perder o fôlego, mas eu tenho certeza que vocês já estão com as energias recuperadas para uma outra gama de gritos e torcidas, não é mesmo? — O pessoal voltou a gritar. Aquilo era um "sim". Pablo sorriu, sentindo a emoção de que tanto gostava. A luta dele era ali, tentando fazer aquele pessoal ter um entretenimento especial. Ele olhou para o lado e viu que Bart também sorria. O soldado tinha ficado muito empolgado com as lutas de ontem, e provavelmente estava esperando que os combates fossem MAIS épicos que aqueles que já passaram. — Vamos começar ditando as novas regras para hoje! Como já dito, a cada dia do torneio haverá um tipo específico de regra que todos os combates terão que seguir. Hoje não será muito diferente de ontem. Continuaremos com a Seleção Aleatória que acontecerá no Telão Informativo, mas com uma grande diferença: o combatente que GANHAR a luta, poderá escolher se quer continuar lutando contra o próximo oponente, que será escolhido aleatoriamente também. É aqui que veremos os verdadeiros guerreiros corajosos o suficiente para aguentar mais de uma luta, assim dando uma vantagem enorme para seu time. Em caso de empate, os dois próximos lutadores também serão escolhidos aleatoriamente. Só será dito um vencedor quando todos os membros da equipe adversária estiverem derrotados. Quais estratégias veremos hoje? Quais combates nos deixarão mais emocionados? Quais serão as surpresas? Eu nem posso esperar. E vocês? Estão todos prontos?

Em meio a uma gritaria generalizada, os dois primeiros times começam a adentrar na arena, saindo de duas saídas diferentes. Não era novidade para ninguém que a Immortal Star seria a primeira a lutar sempre, já que eram o time de número "1" da lista.

Enquanto caminhavam para seu lugar, os torcedores já os animavam gritando seus nomes. Os três que lutaram ontem nunca tinham sido tão chamados na vida, principalmente Mana. Parecia que ela tinha ganhado um grande número de fãs só por causa da sua primeira luta. Havia cartazes com o seu nome e por mais incrível que pareça, tinha uns com um desenho dela.

Mana abaixou a cabeça para disfarçar a vergonha óbvia. Quando chegaram no local específico onde esperariam as lutas, San se virou para os três e fez uma expressão séria. Era a primeira vez que ele mudava a forma boba de seu rosto. Ele encheu o peito e disse:

— Eu vou ser sincero com vocês: Mana e Kula, vocês não estão em condições de fazer uma luta longa. Vocês estão machucadas e cansadas. — as duas garotas engoliram seco. Elas estavam disfarçando tão perfeitamente que não imaginaram os dois homens de seu time acabariam se preocupando com elas. — Por sorte, essas regras vão nos ajudar muito. Se eu ou Mulkior fomos os primeiros a lutar, vamos fazer o máximo para nos mantermos duas lutas inteiras para diminuir o trabalho de vocês.

— Eu já disse pra você cuidar da sua vida, San. — disse Mana, prontamente.

— Não Mana, ele tem razão. — disse Mumu, dando um passo a frente. — Somos um time. Precisamos cooperar para ganhar esse torneio. Além disso, San tem razão. Vocês não tiveram tempo o suficiente para ficarem em seus melhores estados. — ele bateu com o punho fechado no próprio peito. — Eu vou vencer duas lutas e vou lutar até o limite na terceira, para nós ficarmos um passo a frente deles! Não se preocupem!

— Mas Mumu, a seleção vai continuar aleatória! Talvez eu e Mana sejamos as primeiras a lutar! — disse Kuchiki, lembrando o mago desse fato que poderia vir a lhes prejudicar.

— É exatamente por isso que eu devo dizer a vocês duas para não exagerarem novamente. — disse San, e depois continuou. — Se caso vocês sejam as primeiras a lutar, façam uma luta equilibrada, sem chegarem ao seu limite. Não se importem se acabarem perdendo, pois eu e Mulkior damos conta do resto. Se vocês se machucarem muito DE NOVO, o acúmulo de desgaste de vocês fará com que fiquem em total recuperação amanhã o dia inteiro... Isso se não ocorrer algo pior.

As duas, ao mesmo tempo, apertaram os punhos. Era ruim de admitir, mas San tinha razão. Os efeitos das magias de cura hospitalar diminuíam se usadas mais de uma vez em pouco tempo. As duas eram guerreiras com muita experiência, então já tinham passado por isso mais de uma vez.

Kula estava mais tranquila porque confiava totalmente em Mulkior. Se ele tinha dito que faria três lutas por eles, então é porque ele faria mesmo. Agora ela só precisaria torcer para que ele fosse o primeiro a entrar no ringue novamente.

Já Mana, por outro lado, não queria ter que depender de ninguém. Ta, San poderia ter razão sim... Mas quem disse que ela iria obedecê-lo?

E agora os dois times estão na Arena, encarando um ao outro e esperando para que os combates se iniciem. Do lado esquerdo, o time Immortal Star, que nos mostrou um duelo de tirar o fôlego ontem, abrindo nosso Torneio com maestria. E do lado direito o time Bella's Revenge, que ganhou os três rounds na luta de ontem quase sem sofrerem grandes danos. Os dois times não mostraram todos os seus membros e esperamos ver esses dois pisarem no ringue hoje!

Os times finalmente trocaram olhares. O outro time, o Bella's Revenge, era um time feito totalmente de mulheres. Eram quatro guerreiras vestindo roupas muito diferentes umas da outras, demonstrando que não eram de nenhuma Guilda específica e muito menos de um único reino.

Mana analisou bem as vestimentas e tinha a conclusão que NENHUMA delas, era de fato, de alguma Guilda, já que não havia nenhum brasão ou marca que demonstrasse tal fato. Kula estava analisando outra coisa. Por algum motivo desconhecido, ela estava reconhecendo uma das combatentes do time adversário... Mas quem era mesmo? Parecia que ela a viu a pouco tempo atrás... Onde?

Mumu nunca na vida tinha visto sequer uma das quatro mulheres. Não que isso importasse. Elas eram suas próximas inimigas no campo de batalha, e pelo bem de Kuchi... Não. Pelo bem de seu time, ele iria derrotá-las!

San foi o último a dar bola para o time adversário. Na verdade, ele já sabia bem quem iria ter que enfrentar. Se virou e viu que uma das guerreiras daquele time tinha os olhos travados nele. Era tão obvio que ele estava se sentindo até mal, já que ela parecia exalar uma aura da mais profunda trevas e que estava mandando tudo pra ele.

Foi então que o Telão Informativo ligou e começou a fazer a já conhecida seleção. Mulkior olhou para cima e começou a torcer para ser o primeiro mais uma vez. Agora, além dele realmente ser o primeiro a demonstrar o seu poder, ele tinha a vontade de proteger seus amigos, o que lhe dava ainda mais força em sua torcida.

O povo gritava os nomes ainda. Eles queriam ver Mana entrar no ringue novamente. E outro nome também era gritado junto com o da assassina. A própria Mana não conseguia distinguir, pois eram muitos gritos ao mesmo tempo.

Kula olhou para o telão e depois olhou de volta para as garotas do outro time. Havia uma garota que não parou de olhar para eles... Não, não... Ela estava olhando para alguém específico... Ela tentou acompanhar o olhar dela, e viu que era alguém que estava mais a sua frente. Era San? San... Ela olhou de novo. San! Era isso!

— É o time daquela guria que disse que ia te matar, San! — gritou ela, totalmente ignorando o Telão Informativo ou os gritos dos torcedores. Isso fez Mana olhar para o time adversário novamente e Mumu ficar com cara de desentendido.

— É sim... É o time da Momo. Ela não está nem disfarçando, mandando uma aura sinistra contra mim.

— Sua ex namorada parece mesmo ter raiva de você. O que você fez pra ela? — perguntou Mana, tentando disfarçar o sorriso sarcástico.

— Eu já disse que el-...

O Telão parou e mostrou os dois primeiros combatentes. Mais uma vez, não importava quem iria lutar, pois os torcedores estavam ali para gritar. E eles gritaram. Foi bastante alto, pois uma das pessoas que tinha o nome gritado desesperadamente foi realmente escolhido para entrar no ringue.

Mana e Kuchiki olharam de volta para o Telão e viram que não se tratavam delas.

O primeiro combate do dia será entre San, da Immortal Star contra Geovanna, da Bella's Revenge. Combatentes, em suas marcas!


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, veremos o poder do único membro do time que ainda não lutou.



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